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4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: DO CAPITAL

4.3.5 CONHECIMENTO, INOVAÇÃO, TRABALHO IMATERIAL E PRODUÇÃO

4.3.5.1 A INOVAÇÃO COMO MOTOR DA ECONOMIA

A reestruturação produtiva e o conceito de acumulação flexível introduziram a necessidade de inovação. A inovação permite que as organizações se revitalizem e reajam ao avanço da concorrência. A inovação significa desenvolver novas tecnologias e novas aplicações para produtos existentes, criar novas necessidades e produtos ou serviços que respondam a essas necessidades (SANDRONI, 1999).

Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) foi o primeiro, depois de Marx e de sua teoria das crises ,a dar conta da inovação como motor fundamental da economia (COCCO; SILVA; GALVÃO, 2003). Segundo Schumpeter (1961), a responsabilidade pela inovação cabia ao empresário. Cabia a ele revolucionar o sistema de produção por meio do uso de uma invenção ou de uma nova possibilidade tecnológica para a produção de uma nova mercadoria ou fabricação de uma antiga em forma moderna, através de novas fontes de suprimento de materiais, novos canais de distribuição, reorganização da indústria e assim por diante. Sendo que os lucros privados “constituem os prêmios oferecidos pela sociedade capitalista ao inovador vitorioso” (SCHUMPETER, 1961, p.130).

A preocupação com a inovação assume papel central, à medida que passa a ocorrer uma aproximação mais sistemática entre a ciência, a tecnologia e a produção. Schumpeter, apoiando-se na ideia da representação da atividade econômica em termos de movimentos cíclicos, desenvolve a ideia de que os ciclos longos da economia estão submetidos à lógica da destruição criadora embutida na inovação. Para Schumpeter, o capitalismo é por natureza uma forma ou um método de transformação econômica e o impulso fundamental que mantém em “funcionamento a máquina capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados e das novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista” (SCHUMPETER, 1961, p. 106).

Segundo Castilhos (2006), a criação de uma inovação que pode resultar, ou não, na introdução e comercialização de um novo produto o processo, tradicionalmente é resultado de uma série de etapas. Este processo, normalmente denominado de atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) é representado pelo esquema: pesquisa básica; pesquisa aplicada; desenvolvimento experimental; inovação; comercialização. Cada uma destas etapas possui uma autonomia relativa, sendo suas relações recursivas e interativas, situadas dentro de sistemas de inovação. Os sistemas de inovação são constituídos pelos departamentos de pesquisa e desenvolvimento industriais, pelas instituições de pesquisa do setor público e pelas universidades. O sistema de inovação é fortemente melhorado quando interage com os sistemas de produção e de consumo.

A inovação já existia no período fordista, mas era uma exceção, o valor repousava no tempo de reprodução de mercadorias padronizadas produzidas com tecnologias mecânicas. A organização do processo produtivo era baseada na disciplina do corpo e do gesto, na cooperação estática e muda inscrita na divisão técnica do trabalho, determinada segundo os códigos da organização científica do trabalho. A organização do trabalho repousava na especialização e hetoregeneidade de máquinas. As máquinas eram especializadas e seu uso era predeterminado segundo a natureza dos conhecimentos que incorporava. Diante destas máquinas, o trabalho, separado dos conhecimentos, esvaziava-se de qualquer especificidade singular (CORSANI, 2003).

Neste novo contexto, existe uma interdependência entre o processo de produção e o processo de inovação. As novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) apoiam-se em uma dissociação entre a máquina e seu programa. A flexibilidade da máquina é determinada pelo seu programa de funcionamento. A máquina é desespecializada ao passo que o trabalho se transforma em criação de usos. A máquina não tem função predeterminada. Ela é, literalmente, uma caixa vazia. Ela não tem função nem um valor ou utilidade em si. Apenas a maneira como programada e o uso que se faz dela é que lhe conferem utilidade e valor (CORSANI, 2003).

Segundo Corsani, o trabalho no pós-fordismo, passa a ser a criação de usos.

O que está envolvido na produção criativa não é mais a capacidade homogênea e abstrata de trabalho, mas sim a capacidade heterogênea, subjetiva para aquisição, para acumulação, para valorização dos conhecimentos, para articular os conhecimentos abstratos aos conhecimentos tácitos, para recontextualizar os saberes codificados (CORSANI, 2003, p.22).

No pós-fordismo, a exceção que era a inovação, torna-se regra. O valor repousa sobre o conhecimento e o tempo de sua produção, sua difusão e sua socialização. A passagem do fordismo para o pós-fordismo deve ser vista como a passagem de uma lógica de reprodução e repetição para uma lógica de inovação e invenção. No pós-fordismo, a inovação passa a ser concebida como um processo “não linear que se alimenta de inúmeros feedbacks e que implica uma multiplicidade de atores – ela é endógena à economia. (...) A inovação pode ser concebida como um processo de produção de conhecimentos por conhecimentos” (CORSANI, 2003, p. 17).

Pesquisas recentes (TAPSCOTT, 2007) têm reconhecido que muitas inovações surgem em instâncias distantes dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, sendo que a inovação se configura como um processo interativo de “redes, organizações, empresas e instituições que trocam conhecimentos e aprimoram aprendizados que são essenciais para que inovações possam se efetivar nas atividades produtivas” (COCCO; SILVA; GALVÃO, 2003, p. 13).

Desta forma, a inovação não deriva somente da ciência e da tecnologia, mas também de tarefas rotineiras da atividade econômica. A análise do processo criativo deve levar em conta a interação dos agentes econômicos direcionada na solução de problemas específicos (COCCO; SILVA; GALVÃO, 2003).

O transbordamento do processo inovador, para fora da órbita das empresas, é analisado por Corsani (2003) como um processo que envolve externalidades. Externalidades representam o que é exterior à firma e ao mercado. Segundo Tapscott (2007), o ritmo da mudança e a evolução das demandas dos clientes é tão rápido que as empresas já não podem contar apenas com sua capacidade interna para desenvolver inovações. Neste sentido, as empresas são obrigadas a interagir com parceiros, instituições de ensino e de pesquisa, governos e clientes, de forma a constituir redes colaborativas e potencializar sua capacidade de criar produtos e serviços inovadores.

4.3.5.2 A POTÊNCIA DO TRABALHO COLABORATIVO NUM MUNDO EM