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Capítulo IV – A Animação Sociocultural nos Seniores, Intervenção Social,

4.3. A ASC, o Voluntariado, a Cidadania e a Participação

Tendo como ponto de partida que o aumento da esperança de vida é cada vez maior e que a promoção de um envelhecimento ativo tem na sua essência a promoção de iniciativas que vão de encontro às necessidades dos seniores, e que os nossos seniores cada vez vão ter mais tendência para viver mais anos na situação de reforma, urge que os mesmos sejam chamados a participar na sociedade e não se demitam do papel ativo de participação na mesma, como nos refere Viveiros (2011.p.86),

“A participação cívica nas atividades de voluntariado expressa o exercício consciente e livre da cidadania solidária que se constrói com o próximo.”

Existe o estigma, junto dos seniores, de que trabalharam uma vida toda e ao passarem para o estado de reformado não pretendem mais participar na sociedade e quase que só exercem a sua cidadania através do direito ao voto e mesmo assim alguns seniores nem mesmo isso já mostram interesse em fazer,

“ O fato de se ouvir por parte de alguns “já fiz muito, quero descansar, plantei, agora quero colher os frutos” não deixa de ser um direito adquirido, mas não é uma atitude saudável. Principalmente quando as pessoas se limitam a permanecer só com essas respostas (…) o descansar é importante, o colher os frutos também, mas só isso não basta para esse período da vida em que o individuo adquiriu toda uma experiência, uma vivência; ele tem ainda muito a dar e a receber e principalmente a trocar, precisa continuar vivendo, lutando, crescendo.”

113 Desta forma, é importante que a pessoa idosa conheça a importância que tem a sua participação social.

“São os idosos os que desenvolveram a sociedade que agora temos e, da mesma

maneira que têm direito a gozar os logros alcançados, é também sua obrigação continuar a dar a sociedade conhecimentos, experiências e sobretudo valores e atitudes.”

García (2009, p.37)

Tendo por base o conceito de ASC e parafraseando Lopes (2011, p.21) “(…) é uma prática que deve gerar vida associativa, implicar pessoas, promover a interação e como é óbvio motivar a ação voluntária.” Por isso nos parece importante referir que a ASC e os animadores “desempenham um papel primordial na promoção e dinamização do voluntariado. Há princípios e valores que são comuns à Animação e ao voluntariado (…)” Viveiros (2011, p.81).

Há autores que interligam o voluntariado, participação e cidadania a projetos de programas Intergeracionais e na realidade faz todo o sentido na medida em que os seniores podem participar ativamente nas escolas, nos ATL, nas creches e de uma forma voluntária contar histórias, partilhar experiências com as crianças, ensinar e partilhar os jogos de tempos idos e esta pode também ser uma forma de voluntariado.

Sendo este o ano Europeu do Envelhecimento Ativo (2012) e no ano transato ter sido o Ano Europeu do Voluntariado (2011), porque não, então, juntar sinergias e promover a participação dos seniores em projetos de voluntariado e de cidadania ativa

“As medidas de promoção do envelhecimento produtivo/activo pretendem uma participação mais activa dos idosos na sociedade, através da continuidade da prestação dos seus serviços,

contribuindo para o desenvolvimento económico e social” AA.VV. (2007,p.170) aqui apresenta-

se o voluntariado como uma forma de manter os seniores ocupados e que os mesmos se sintam úteis para com a sociedade onde estão inseridos, e que o tempo livre não seja um tempo morto, mas um tempo útil e que pode ter um valor acrescentado para os mesmos. O voluntariado é transversal a todas as idades, mas é verdade que existem tipos de voluntariado que são mais adequados às crianças e jovens, outros há para adultos e para seniores, e citando AA.VV. (2007, p.171) podemos versar sobre os seguintes:

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“a)Partilha de experiências em grupos de jovens, colocando-se os conhecimentos e capacidades dos seniores à disposição de grupos infantis e juvenis (Ex. os voluntários seniores que vão partilhar diferentes experiências às escolas).

b)Captação de outros seniores, transmitindo-lhes um modelo a seguir, o que torna mais fácil o seu compromisso como voluntário (ex. divulgação realizada pelos voluntários seniores nos Centros de Dia).

c)Actividades nos Centros de Pessoas Idosas, promovendo a participação dos membros destes centros em actividades que dinamizem esta população, fomentando a solidariedade (ex. Voluntários seniores com a função de realizar a animação sociocultural dos lares de idosos).

d)Projectos com pessoas da mesma faixa etária, organizando, mediante a cooperação de voluntários, uma rede de oferta de pequenas cooperações domésticas (ex., apoio ao domicilio a outros idosos, etc.)

e) Avós substitutos, promovendo a recuperação do espaço relacional próprio das pessoas idosas, que é a relação avô-neto, mediante o cuidado das crianças cujos pais trabalham fora de casa, e que ficariam sozinhos durante algum tempo (ex.,Voluntários que fazem de baby-sitteres).

f)Centro de informação e atenção às pessoas idosas, atendendo grupos de pessoas idosas de um determinado bairro ou zona, informando-os acerca de qualquer tema de interesse, facilitando o seu acesso a recursos disponíveis.”

A palavra cidadania, com o acréscimo da palavra ativa, faz todo o sentido pois todos os cidadãos o são de pleno direito e são chamados a participar ativamente na sociedade, todos temos o direito e o dever de o fazer, Viveiros (2011, p.85), afirma,

“ A cidadania ativa é um elemento chave para a consolidação da democracia e para a participação cívica dos cidadãos na construção de uma sociedade mais igualitária e solidária. (…) A cidadania é uma praxis que se reinventa e anima com o envolvimento participativo da sociedade civil para dar sentido à democracia. (…) A cidadania ativa é um «status cívico» em construção na pluralidade dos desafios da democracia.”

115 Desta forma, concluimos que

“El objetivo general de todo proyecto de voluntariado de mayores consiste

principalmente en fomentar la participación activa de estas personas, en actividades de interés general, que repercutan positivamente en la sociedad.

Cano, V, Herrera e Ochoa (2007,p.33)

O voluntariado sénior faz sentido e deve ser promovido, mas para que exista participação social,

“La participación social activa de los mayores es la que atañe a su capacidad de intervenir, con decisión y responsabilidad, en todos los acontecimientos de la vida comunitaria, desde el gobierno de la Nación, (en el que puede actuar mediante el derecho al voto), hasta los asuntos que le son más cercanos, tales como los referentes al barrio en que habita, los de la seguridad ciudadana, la construcción de viviendas apropiadas, etc.”

Carrajo (1999, p.193)

Na entrevista de Pérez (Entrevista 2) podemos verificar que existe uma reciprocidade no que se refere ao voluntariado na terceira idade, a entrevistada refere que tanto é importante promover o voluntariado junto dos seniores, para que os mesmos possam ser voluntários uma vez que dispõe de muitas potencialidades, como também é importante que existam pessoas que sejam voluntárias junto dos seniores.

Conforme nos refere uma das nossas entrevistadas

“Uma das melhores formas de combate ao isolamento, combate à exclusão e solidão, pois dessa forma os seniores ficam inseridos na esfera social e cultural, fazendo com que se sintam cidadãos de pleno direito (…)”

Antunes (Entrevista 4)

É importante que os seniores se sintam integrados na comunidade à qual pertencem e através do voluntariado, da cidadania e da participação, é possível dado que tudo faz parte de uma vida em comum e desta forma,

“A Animação Sociocultural constitui assim o âmago para uma ação pedagógica ativa no seio do voluntariado pois confere sentido a ação solidária junto de pessoas e

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grupos em vez de uma perspetiva simplesmente assistencialista, paternalista, meramente redutora e acrítica.”

Lopes (2011, p.19)

O voluntariado deve permitir às pessoas que o praticam um apreço solidário para com o próximo.

Palavras como solidariedade e amor pelo próximo fazem todo o sentido,

“(…) as grandes motivações para o voluntariado residem no facto de as pessoas serem úteis às outras pessoas. É este valor de gratuitidade que implica a solidariedade e o compromisso expressos numa participação comprometida com uma cidadania plena, em direção à felicidade e ao bem-estar comunitário.”

Lopes (2011, p.20)

ASC liga-se então ao Voluntariado, na medida em que ambos apresentam uma relação intrínseca, pois se por um lado temos a animação como um conjunto de práticas sociais, o voluntariado faz parte dessas práticas e promove uma cidadania ativa e participativa,

“A Animação Sociocultural como conjunto de práticas sociais, culturais e educativas é uma mais-valia para a consolidação e expansão do voluntariado, rosto da cidadania ativa e dinâmica do associativismo através da promoção de atividades que favoreçam o desenvolvimento integral dos grupos e comunidades.”

Viveiros (2011, p.89)

Todos temos que fazer com que os seniores sintam a cidadania como sendo um direito seu, enquanto sénior,

“sentido de ciudadanía” del cual formen parte activa las personas mayores (…) procesos de transformación social positiva, encerrada en su próprio glossário de actividades de “envejecimiento activo” (mayores más sanos) y “ciudadanía pasiva” (ciudadanos menos sanos).

García (2008, p.7)

Parece-nos importante e relevante reunir num quadro as ideias chave que foram partilhadas pelos nossos entrevistados relativamente aos conceitos que neste subcapítulo trabalhamos.

117 Optamos por, neste capítulo, não dissociarmos o voluntariado da cidadania e da participação, pois os três devem estar sempre interligados e caminhar lado a lado, pois um não deve existir sem que os outros dois estejam presentes uma vez que só assim é possível fazer voluntariado e promove-lo, só assim a cidadania faz sentido e dessa forma conseguimos participar ativamente e de forma coerente em comunidade e totalmente comprometidos com os desígnios a que nos propomos.

Animação Sociocultural, Participação, Voluntariado e Cidadania Victor Ventosa Gloria

Pérez Serrano Luis Gomez Garcia Maria Conceição Antunes Avelino Bento Manuel Vieites - Existe um fio condutor que as une e relaciona; - A importância da atividade quer física, quer psíquica na manutenção da saúde e bem-estar dos seniores;

- Dá mais vida aos anos; - A ASC é uma didática de participação social e através dela desenvolve-se a cidadania ativa e através do voluntariado; - Mantêm as pessoas seniores ativas. - É necessário impulsionar o voluntariado para trabalhar com os seniores; - Fomentar junto dos seniores a importância de fazerem voluntariado; - Fazer com que os seniores percebam que têm muitas potencialidades e experiências que podem pô- las ao serviço do grupo em que estão inseridos e desta forma sentirem- se uteis ao colaborarem em sociedade. - Podem promover uma melhoria na qualidade de vida dos seniores; - Os seniores devem participar ativamente nos seus grupos, na comunidade em que estão inseridos; - Através de práticas Intergeraciona is pode-se também criar dinâmicas para que a cidadania seja um fato em todas as idades. - A participação, o voluntariado e a cidadania apresentam-se como excelentes formas de contribuir para um envelhecimento saudável; - Inserção dos seniores na esfera social e cultural onde estão inseridas; - Os seniores devem sentir que são cidadãos de pleno direito evitando a exclusão, o isolamento e a solidão. - São práticas relacionadas com pessoas; - Práticas de cidadania permanente. - O voluntariado é uma forma dos seniores se sentirem ativos e participativos; - Através das suas vivências, experiências e conhecimentos podem ajudar a comunidade em várias áreas; - os seniores são elementos uteis e capazes e devem sempre manter o seu trabalho cívico.

Quadro 21- Animação Sociocultural, Participação, Voluntariado e Cidadania - Elaboração Própria (2012). Fonte:

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“A acção autárquica nos últimos anos e os projectos/programas em Ramalde falam por si e representam aquilo que, de facto, pode e deve ser feito pelo Poder Local – uma junta de freguesia-, em prol do desenvolvimento humano, social e territorial, para o beneficio

de uma comunidade, sem omitir o sentido de partilha e cooperação à coesão territorial e social, como é o caso de Ramalde.”

Maio (2011)