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Capítulo V – Técnicas e Recursos para a Animação Sociocultural para e com

5.3. Técnicas de Animação Musical para e com os seniores

Se fizermos uma retrospetiva da vida de cada um de nós, podemos constatar que a música sempre nos acompanhou, até mesmo dentro da barriga da nossa mãe. Os especialistas defendem que o primeiro sentido que o bebé consegue desenvolver é a audição e quer através dos estímulos que a mãe transmite ao bebé (a sua respiração e mesmo o normal funcionamento do corpo) quer como, através da mãe, ter momentos de audição de música calma e tranquila para o bebé relaxar.

Após o nascimento, se pensarmos sempre que o nosso bebe precisa de relaxar ou de sentir boas vibrações coloca-se uma música ou canta-se alguma música para que o mesmo possa adormecer e ser embalado.

Na criança também se assiste a uma presença bem vincada da música, com projetos nas aulas de educação musical ou outros em que as crianças aprendem a trautear e cantar várias e diversas musicalidades.

Os jovens e adultos assistem a concertos de música para descomprimir, relaxar ou simplesmente para usufruir de um bom som durante algumas horas; bem se vê o êxito dos festivais de verão, em que o público é do mais variado em termos de idades.

Na idade sénior, obviamente que também não podia faltar a música, pois a música como nos refere Souza (1997, p.1217),

anteriormente a qualquer definição, é um produto da inteligência do Homem.”

A música pode ser utilizada de diversas formas e em diferentes espaços e por isso Gomes (2009, p.169)

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“ Na actualidade, a música faz parte de muitos quotidianos desde os dos profissionais da música, aos ambientes hoteleiros, aos âmbitos comerciais, aos gingles publicitários, aos programas televisivos, etc., e também do quotidiano das associações onde os participantes, de uma forma amadora, desenvolvem as suas performances musicais em grupos vocais, instrumentais ou mistos.”

Como referem vários autores a música sempre esteve presente nas nossas vidas, desde o nascimento até à morte, tese esta defendida por autores como Gomes (2009, p.169)

“ A música é a mais antiga de todas as artes e desenvolveu-se a partir dos principais ritmos e vibrações do nosso planeta: dos sons do vento, da água, do ar e do fogo.”

Para Souza (1997, p.1217), a música também tem ligação com as relações intergeracionais,

Nunca houve nem haverá um povo sem música (…) A canção que

pertence à infância de uma pessoa de 90 anos pode ser a ponte que liga as infâncias de diferentes gerações. Não é maravilhoso saber que a canção com a qual fomos ninados também embalou nossos avós, pais, filhos, irmãos e pessoas que não amamos, que conhecemos e que nunca vimos.”

Podem ser realizadas várias atividades com recurso à animação musical, tal como o canto, os instrumentos e os jogos musicais, em que a música está sempre presente mas utilizada de formas distintas, segundo afirma Jacob(2008, p.95):

“- Canto – é a forma mais simples de expressar as emoções através da música. O Canto pode ser espontâneo ou organizado, individual ou em grupo, com ou sem música. O animador deve adaptar as letras e as vozes ao grupo que tem disponível.

- Instrumentos – aprender a tocar um instrumento é um exercício que demora muito tempo e necessita de muita prática. No entanto, a utilização de instrumentos mais simples e que requerem menos tempo de aprendizagem, como os ferrinhos, pandeireta, sinos, caixas-de-ressonância, guizos, apitos, pratos, recos-recos, maracas, cavaquinho, pode proporcionar igualmente excelentes momentos de diversão e convívio.

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- Jogos musicais – existe uma grande possibilidade de realizar jogos a partir da música, como passar músicas e perguntar o nome do cantor e/ou da música ou que acontecimento está relacionado com esta; pôr som de um instrumento e perguntar qual é; associar uma música ou canção a um período da história (anos 20, 50 ou 80); Tocar vários instrumentos perguntar quais são os mais graves ou mais agudos e outros.”

Se por um lado podemos com os seniores trabalhar as aptidões vocais e formar coros como o exemplo da JFR, (um grupo de cerca de 20 seniores, formou o Coro Sénior de Ramalde, que tem ensaios duas vezes por semana das 14h30 às 16h) onde é possível verificar momentos de convívio, de partilha e aprendizagem de técnicas vocais com as maestrinas do mesmo e conforme afirma Ander-Egg (2003, p.53)

“Los coros son una forma de expresión cultural no muy difícil de constituir, pero que tiene una particular incidencia sociocultural. Como canto compartido, es una forma de comunicación social, un ejercicio para aprender a compartir y un modo de alentar la vida asociativa y fortalecer el tejido social. Desde la perspectiva de un trabajo cultural que pretende generar procesos de participación, no basta con que existan grupos corales: es menester propiciar el canto coral como forma de expresión colectiva que, por otra parte, permita la divulgación de la música popular y folclórica al difundir y realizar nuevos arreglos.”

Também é possível ensinar aos seniores a tocar instrumentos dos mais variados possíveis (desde os mais simples aos mais complexos) e permitir desta forma novas aprendizagens ou um relembrar as aptidões musicais que os seniores já possuem mas que podem já ter esquecido; por último a importância dos jogos musicais, que permite aos seniores recordarem músicas do seu tempo e perceber se ainda se lembram da letra e do autor da mesma ao colocar um som de determinado instrumento e ver se conseguem identificar qual é.

Podemos desta forma concluir que a música pode e deve intervir no campo da Terceira Idade, pois é uma arte extremamente completa,

“ Usando a música com prazer, fazendo dela uma linguagem, estamos de forma consciente, a contribuir para uma maior compreensão do mundo e de nós próprios.”

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5.3.1.Musicoterapia

Este termo reconhecido na Grécia, como afirma Gomes (2009, p.171) como poder de “catarse” que a música possuía, pois para este povo a música tinha fins terapêuticos, purificando o espírito e conciliando a alma através da dança e do canto (Mann, 1982, citado por Gomes 2009).

Recorremos a uma definição de musicoterapia que nos parece bastante clarificadora deste termo e que nos parece importante clarificar antes de aplicarmos este termo aos seniores. Desta forma, Souza (1997, p.1217), diz-nos que,

“A musicoterapia é a utilização, pelo profissional musicoterapeuta, do som, da música e de todo o tipo de manifestação sonoro-musical, sejam sons, silêncio ou a musicalidade das palavras.”

A aplicabilidade da musicoterapia em seniores tem vindo a ser desbravada por diferentes autores e profissionais no seu dia-a-dia. Agora mais que nunca, devido ao envelhecimento da população, torna-se fundamental utilizar os instrumentos todos disponíveis para que os seniores tirem partido e proveito de todas as iniciativas em que participam e que através das mesmas possam partilhar de uma forma intergeracional, os seus saberes, experiências e vivências e que neste sentido a música pode ter um papel fulcral que podemos constar, como nos refere Souza (1997, p.1216)

“Cada vez mais, o tratamento musicoterápico com pessoas na terceira idade estimula, a partir do prazer de cantar, tocar, improvisar, criar e recriar musicalmente, o redescobrir das canções que fizeram e fazem parte da sua vida sonoro-musical.”

Em doenças neurológicas também a musicoterapia se tem vindo a distinguir como uma ferramenta de trabalho útil e à qual os especialistas podem recorrer para trabalharem com os seniores a memória a longo e curto prazo e fazer com que os seniores possam melhorar a sua qualidade de vida, como nos refere a mesma autora,

“Com a terceira idade, o tratamento musicoterápico vem se mostrando de grande importância no que se refere aos resgates de memória, como tratamento coadjuvante de valor reconhecido mundialmente nos processos de demenciais (doença de Alzheimer), na doença de Parkinson e em indivíduos com sequela de acidente vascular encefálico.”

139 Claro que a música e a musicoterapia estão sempre juntas e caminham de mãos dadas, pois como nos refere Souza (1997, p.1217),

“A música e seus elementos constitutivos (harmonia, melodia e ritmo) implicam a musicoterapia, portanto, num veículo de estabelecimento de comunicação. A música é a ponte a partir da qual se estabelece a relação terapeuta-cliente, também por onde transita a memória do profundo ao superficial do ser, levando à busca do auto-conhecimento e do crescimento pessoal deste.”

A musicoterapia assenta em pilares bastante importantes e que são fundamentais quando se fala em qualquer tipo de intervenção com seniores, pois através dela os indivíduos podem devolver a si mesmo a autoestima perdida pelo passar dos anos e por pensarem que a “velhice” os retira de todo e qualquer envolvimento na sociedade, o que não deve acontecer. Através da música os seniores podem remontar a tempos idos e relembrar músicas do seu tempo, ensiná-las aos mais novos e dessa forma sentirem-se úteis e desejados dentro da sua comunidade.

E porque nunca se sabe tudo acerca de determinado assunto,

“Podemos constatar que a musicoterapia aplicada na terceira idade é um campo fértil de buscas e descobertas”

Souza (1997, p.1225)

Concluímos com o sinal vital da música e sobretudo da musicalidade expressa na dimensão terapêutica da vida. Na terceira idade a vida tem sonoridades e cores que nos remetem para o lado encantador da existência humana. Na terceira idade um entardecer tem música, há a memória do tempo e das músicas percorridas e ocorridas num outro tempo e há também as sonoridades aliadas ao trabalho feito e realizado num tempo em que tudo tinha musicalidade: uma ceifa, o mondar, uma vindima, o lavrar a terra, os jogos tradicionais, o cozer o pão, o lavar a roupa...isto é o tempo dos sons da vida.

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Capítulo VI – Práticas de ASC com e para