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Capítulo II Envelhecimento

3.2. Animação Sociocultural com e para os Seniores

Tendo como ponto de partida o conceito de animação que tem como eixos norteadores dar vida e movimento, também o conceito sociocultural se apresenta como polissémico e admite múltiplas definições, Requejo (2008, p.210), afirma que,

“ (…) pode ser considerado como uma intervenção, uma actividade da

prática social, uma técnica ou um instrumento, como um processo, como um projecto no sentido do desenho de actividades para um grupo especifico da sociedade.”

Partindo como referência da expressão caída no domínio público, A animação não serve para dar mais anos à vida, mas sim para dar mais vida aos anos, partimos para uma noção de animação sociocultural assente em premissas do envelhecimento ativo, reforçamos ainda esta perspetiva com a visão do grande pedagogo Ezequiel Ander-Egg, que afirmou, durante o I Congresso Internacional As Fronteiras da Animação Sociocultural, que podemos envelhecer sem ser velho, e que também a ASC preconiza que os seniores devem usufruir de um envelhecimento ativo,

“La promoción de un envejecimiento activo ha de ser el eje central de los programas de animación sociocultural dirigidos a las personas de edad avanzada.”

García (2008, p.9)

Partindo desta premissa avançamos para um âmbito da Animação Sociocultural que é a Animação na Terceira Idade.

Como em qualquer âmbito da animação sociocultural, também ao nível desta faixa etária o sujeito deve ser tido como o principal ator do seu próprio processo de desenvolvimento e também na intervenção a ser realizada.

88 Apesar da animação sociocultural na terceira idade ser recente, e tendo em conta que devido ao aumento da esperança média de vida e ao progressivo aumento da população idosa nas sociedades, a promoção de um envelhecimento ativo é cada vez mais importante,

“ Esta especialidade surge nos últimos anos ante um dos desafios mais importantes das sociedades do século XXI (…)”

Ventosa (2009, p.333)

Devemos potenciá-la, pois, na perspetiva do mesmo autor, (2009,p.333)

“A animação de pessoas idosas constitui uma especialidade da Animação Sociocultural e este por sua vez, é uma modalidade de intervenção socioeducativa cuja finalidade é aumentar a qualidade de vida das pessoas mediante a sua implicação activa, participativa e grupal na realização de projectos e actividades socioculturais que respondam aos seus interesses e necessidades de ócio e desenvolvimento pessoal e social.”

Por este motivo, é necessário realizar atividades de animação sociocultural com os Seniores e não para os Seniores, uma vez que urge transformar a passividade em ação, o ser dependente em ser autónomo e o ser ator em vez de espectador,

“A Terceira idade procura na actividade de animação poder sentir-se útil, dar um novo sentido à sua vida. Digamo-lo em quatro palavras, o que o idoso necessita é de:

- participar; - mover-se; -actuar; -sentir-se vivo.

Sobretudo o sentido último, por razões mais que evidentes para quem observa no horizonte o ocaso da vida.”

Cubero, citado por Lopes (2008, p.335)

É com este princípio que uma intervenção em animação sociocultural para a Terceira Idade deve valorizar a pessoa e consequentemente valorizar a sua história de vida, as suas experiências, os seus saberes e sobretudo a sua memória.

Como já afirmámos ninguém vive sozinho. O ato de viver é sobretudo conviver, daí a animação sociocultural constituir um imperativo de vida no sentido de levar o

89 sénior a uma cidadania plasmada numa participação comprometida com o seu próprio desenvolvimento.

A ASC assume hoje um papel de relevo no que diz respeito à preservação da sua qualidade de vida no sentido de criar, proporcionar e realizar atividades que permitam manter esta faixa etária da população cada vez mais inserida nas suas comunidades por forma a combater os fenómenos de solidão, abandono e exclusão social.

Devido a este paradigma torna-se urgente aprofundar e criar políticas de intervenção junto da Terceira Idade para que esta não seja tida como o fim de vida, mas sim como uma nova etapa do ciclo de vida, uma vez que,

“O século XXI traz-nos a assunção da Terceira Idade (…), ainda não

vimos por parte do poder político a adopção de medidas que permitam a valorização dos Idosos através do incremento das suas práticas, das suas vivências, experiências e saberes.”

Pereira e Lopes (2009, p.9)

Tendo como base este pensamento a Animação Sociocultural constitui para a os Seniores a tal didática da participação social denominada por Ventosa, pois estamos certos que esta pedagogia, ao ser exercida, permitiria aos seniores uma cidadania maior alicerçada num humanismo vivencial. Também defendemos que um programa de animação sociocultural pode servir para combater dependências várias (p.ex. Fármacos) pois a ação constitui em si um meio terapêutico de extrema eficácia.

Com base em autores que estudam o fenómeno da Animação Sociocultural na Terceira Idade passamos a eleger aquelas que em nosso entender respondem a estes desafios por nós colocados.

A Animação Sociocultural é uma metodologia de intervenção e, no âmbito dos Seniores, não é diferente por isso referimos a autora Martins (2009, p.349-350),

“A Animação Sociocultura tem um papel importante e fundamental. É assumida como uma metodologia de intervenção sociopedagógica nos mais diversos contextos socioculturais e educativos. É um instrumento ao serviço de um conjunto de actores sociais no quadro da acção, potenciando as pessoas, os grupos e as comunidades. A Animação sociocultural, conectada à terceira idade, pretende ser um instrumento de minimização de factores traumáticos, de

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valorização pessoal e comunitária do idoso, conferindo-lhe um envelhecimento saudável.”

O autor Mínguez (2004, pp. 144-149) defende que a animação sociocultural com a terceira idade, sustentada na educação, assenta em 2 dimensões e 2 níveis bastante distintos, sendo elas a dimensão intelectual e a dimensão biológica e os níveis psicológico e social.

No que se refere á dimensão intelectual, ressalta a importância de os seniores se conhecerem a si próprios e também explorem todas as questões ligadas à sua vida e cultura.

“Como estrategia de funcionamiento de la mente y la memoria la educación mantiene y mejora la calidad de vida, principalmente a través, en lo posible, de un trabajo de descubrimiento autónomo (…) En definitiva se trata de explorar el mundo de la mente en las diversas manifestaciones culturales (música, arte, literatura), sino al descubrimiento de las “musas” inspiradoras de la vida y la cultura.”

Mínguez (2004, p. 144)

Segundo o mesmo autor (p. 144) a dimensão biológica, através da prática educativa, provoca uma melhoria nas condições de saúde,

“También la prática educativa extiende sus efectos sobre los niveles biológicos. En general puede assegurarse que mejora y contribuye al mantenimiento de la salud física permitiendo a los indivíduos una capacidad de movilidad suelta e indipendiente.”

No que se refere ao nível Psicológico, (pp. 145 – 146), para que as questões ligadas à depressão possam ser combatidas e dessa forma os seniores desenvolvam uma maior autoestima, o que leva a uma diminuição da ansiedade.

Por último o autor refere o nível Social (pp. 146 – 147), onde salienta a questão da convivência com outras pessoas, criação de redes de contactos, promoção de laços de proximidade com a comunidade onde está inserido, pois desta forma os seniores assumem um papel e entendem que podem ser sociáveis e fazer parte do desenvolvimento da sociedade que os rodeia.

91 A ASC coloca-se à disposição dos seniores para facilitar, aos mesmos, um envelhecimento ativo e na promoção de atividades de interesse que os façam estar ativos quer física quer psiquicamente, para que a perda das faculdades não seja abrupta e que os mesmos possam usufruir de um tempo livre animado e com atividades que os façam sentir uteis, apesar dos efeitos que o envelhecimento acarreta,

Em jeito de conclusão e segundo, Requejo (2008, p.217),

“Os processos de animação sociocultural, alimentados pelas diferentes intervenções socioeducativas como uma oferta de programas variados e em diferentes contextos (centros de dia, residências, instituições formativas especificas como as Aulas/Universidades, etc.) supõem um apoio importante que pode servir de instrumento à oportunidade global de assegurar às pessoas de idade viver mais anos, com saúde e participando activamente na sociedade.”

Podemos concluir que na ASC para e com os seniores se torna muito importante para conseguir que eles se sintam motivados, acompanhados e ativos; que a mesma traz um valor acrescentado no que se refere às relações intergeracionais e que o mesmo pode ser a forma de os seniores participarem na comunidade.

Todas as atividades que são promovidas devem ter em primeiro lugar os interesses e motivações de cada sénior; Deve promover a autonomia no sénior e um envelhecimento ativo; entre outras e por isso elaboramos um quadro com as características fundamentais da ASC na e para os seniores na opinião dos entrevistados.

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ASC para e com os Seniores

Victor Ventosa Gloria Pérez Serrano Luis Gomez Garcia Maria Conceição Antunes Avelino Bento Manuel Vieites - Grupo de meios mais eficazes e idóneos para responder as necessidades, problemas e interesses dos seniores; - Metodologia eficaz para combater a solidão, a inatividade, a falta de autoestima; -Deve potenciar a convivência em detrimento da não convivência; - Ocupação positiva e gratificante do tempo livre. - Metodologia de trabalho de grande interesse; - Estimular os Seniores; - Desenvolver as potencialidades dos seniores; - Fazer com que os seniores participem; - Promover uma vivência cheia de vitalidade aos seniores. - Permite criar novas relações intergeracionais; - Promoção de uma reflexão aos seniores sobre a sua condição social e de que forma podem melhorá- la transmitindo os conhecimentos à comunidade; - É um processo transformador comunitário. -Estratégia e metodologia de intervenção social; - Implementação de atividades, programas e projetos adequados aos seniores; - Importância das relações intergeracionais; - ASC é um espaço de transmissão de saberes e experiências. - Procurar a interação entre gerações; - Organização de atividades para os seniores; - Atividades no âmbito do património cultural que cada sénior tem.

Quadro 18 – ASC para e com os Seniores – Elaboração Própria (2012). Fonte: Ventosa , Perez, Gomez, Antunes , Bento,

Vieites.

Tendo por base o quadro 2, onde optámos por colocar as ideias chave que os entrevistados nos revelaram no que se refere as características que deve ter a ASC para os Seniores. Podemos ressalvar que na realidade esta deve ser tida como uma ferramenta e um meio de combate ao isolamento, inatividade, desocupação, entre outros dos seniores, ou seja, através da ASC é possível criar atividades e programas que possam ir de encontro àquilo que os seniores pretendem e que os interessa, para que a “ocupação” não seja apenas o que a própria palavra indica, mas que seja sim um espaço em que os seniores se sintam integrados e que ocupem com animação o tempo, ou seja, que o tempo seja animado e seja gratificante para os seniores e para a comunidade.

93 Todos os entrevistados são unânimes em afirmar que todos os projetos devem integrar na sua essência a partilha de saberes e experiências com gerações mais novas e portanto todos referem a importância das relações Intergeracionais, para que os mais novos aprendam com o passado e os mais velhos apreendam com o futuro.

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“O Animador Sociocultural é um catalisador, dinamizador, assistente, técnico, mediador, transmissor (…) cujo comportamento e modo de agir vão interferir nos processos de participação dos outros.”

Ander-Egg (1999, p.27)