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Capítulo II Envelhecimento

3.1. O que é a Animação Sociocultural

3.1.2. Proposição e Aceções de Animação Sociocultural

Portugal assume a matriz francófona quer no que respeita ao adotar do termo quer ainda pela evolução histórica manifestada pelos inúmeros contributos formativos aos Animadores Socioculturais Portugueses conferidos pelo INEP - Institut National D’Education Populaire e CEMEA - Centres D’Entrainement aux Méthodes D’Education Active.

Importa, numa retrospetiva às principais referências do século XX, trazer à discussão os elementos fundamentais que cada um dos autores considera ser os atributos desta pedagogia da participação.

Assim, num quadro clarificador de eixos fundamentais procuramos aferir uma proposição síntese das diferentes classificações feitas pelos principais investigadores na área da Animação Sociocultural e assim encontramos a seguinte definição: É uma metodologia assente numa participação com implicações sociopolíticas que visa um processo de consciencialização com vista a um desenvolvimento pessoal, rumo à transformação da sociedade.

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Marcos concetuais de Animação Sociocultural

Processo de Consciencialização Participação Implicações Sociopolíticas Metodologias Comunicação e Dinamização P Prática Social C Conjunto de acções Método de Intervenção Qualidade de Vida Transformação da Sociedade Desenvolvimento Pessoal

Garcia H. de Varine Jean Nazet Unesco J.P. Imhof

A Ander-

Egg

C

Caride La-Hoz Ander-Egg Ander-Egg De Castro

Luis Martins Mario Viché M. Hicter Vítor Ventosa Gloria Pérez Serrano Q Quintana D De Castro Marzo e

Figueras Caride Caride

Gloria Perez Serrano

Francisco

Albuquerque Sindro Froufe L. Trichaud

Marcelino

Lopes P. Waisgerberf

D

Del Valle Puig Ricart Quintana Del Valle Martim

Esaú Dinis André Raillet José Mª Barrado

Fernando de la

Riva R. Torraille Simonot Hicter Simonot

Américo Peres Henry Thery Francis Jeason Pillar Crespo Avelino

Hernández Izquierdo Viché

Caride E. Grosjean J. Charpentreau Iñaki López de Aguileta

H. Ingeberg M. Simonot José Mª Lama

María A.

sásnchez R. Labourié F. Cembranos

Ander-Egg D. Montesinos

Caride M. Bustelo

Gloria Perez Serrano

Quadro 17 – Marcos Concetuais de Animação Sociocultural - Fonte: Ander-Egg, E. (2000); Badesa, S. (2008, 2ª edição); Lopes, M. (2008, 2ª edição). Adaptação

própria (2011).

Tendo em conta o quadro anterior, podemos aferir que a animação sociocultural se entende por um código genético onde se configura uma intervenção assente numa metodologia participativa com implicações sociopolíticas, rumo a um processo de consciencialização que passa por levar o ser humano à autonomia e a ser protagonista do seu próprio desenvolvimento.

Por isso, como base nestes pressupostos, afirmamos que não há Animação Sociocultural sem uma participação comprometida numa procura incessante de uma qualidade vida que projeta o ser humano num cidadão com plena cidadania comprometida com o bem-estar coletivo.

É este agir e interagir intencional e tridimensional (Social, Cultural e Educativo) que vai provocar o aparecimento dos convencionais âmbitos ou espaços interventivos como muito bem nos assinala Quintana (1993, p.10 - 15) ao remeter-nos para as seguintes questões:

77 1- Os destinatários, ou grupos sociais aos quais se dirige a animação:

Crianças, Jovens, adultos, Idosos..

2- Os Territórios, os lugares onde se pretende levar a cabo a Animação: bairros, municípios, associações, escolas, centros cívicos, casas de juventude...

3- Os habitantes humanos: meio rural, urbano, centros de férias, locais de trabalho...

4- As actividades: Artísticas, culturais, sociais, políticas, reivindicativas, comerciais, desportivas.

5- Os objectos que a actividade animadora pretende fomentar: promoção cultural, desenvolvimento social e económico, cultivo das tradições, mudança social, criatividade artística.

A Animação Sociocultural constitui-se assim como uma intervenção intencional, séria, consciente e com objetivos muito claros de promoção humana e social. Por isso podemos relacionar a Animação como práticas socializadoras como são a educação, a identidade cultural, a atitude democrática, a democracia cultural, a participação, a criatividade coletiva, a crítica e a mudança social numa abordagem a partir dos seguintes parâmetros:

1. Animação e Educação: Se considerarmos a educação, em sentido amplo, como a técnica de ajudar os indivíduos a autorrealizarem-se e a viver adequadamente em todos os aspetos da existência, resulta que a Animação implica umas componentes educativas. A animação, sem ser "educação" no sentido técnico contribui para a educação, constitui uma instância educativa. Por isso hoje em dia a Pedagogia Social se interessa pela animação, e os pedagogos consideram que tem muito que dizer e fazer nos projetos de animação e na formação de animadores. Isto sobretudo se pensarmos na educação permanente, dado que como refere Hicter - em termos de educação permanente os animadores, os agentes culturais, projetam a perspetiva de uma sociedade educativa. Quintana (1993, p.11-31) situa a ASC dentro do

78 marco da Educação Permanente, e relaciona-a com a educação de adultos, que também está comprometida na Educação Permanente;

2. Animação e Identidade Cultural: É dar uma dimensão viva à Animação. A animação cultural com efeito consegue ressuscitar as tradições, despertar a memória histórica, manter as tradições;

3. Animação e Atitude Democrática: A animação está vinculada à ideia de democracia desde as suas origens, dado que surge como uma via para impulsionar a educação popular. Atualmente falamos de animação somente nos países onde o povo tem a palavra e a iniciativa, isto é, nos países democráticos. Porque nos países totalitaristas é evitada a presença e a atuação de animadores no seio do povo, porque são agentes de uma mudança social que escapa ao controle de quem pretende governar o povo dentro de um quadro ideológico totalitário;

4. Animação e democracia cultural: A animação deve ser democrática em todos os campos, mas sobretudo no cultural. Ocorre que a cultura é um bem social, como outros bens, e está mal repartido e por vezes monopolizado pelo poder; 5. Animação e Participação: A participação é a um tempo fim e meio da animação. Isto é , faz-se animação para ensinar as pessoas a participarem, e se participa porque de outro modo não se animaria;

6. Animação e criação coletiva: A animação implica criação coletiva porque a interação consciente gera criatividade e inovação;

7. Animação e espírito crítico: Como resposta às tentativas de dominação do poder que procura pessoas conformistas e passivas.

8. Animação é a procura da permanente Mudança e transformação.

Acreditamos que a animação como prática social, dinamiza a sociedade e comunica atividade e entusiasmo no tecido social a partir das seguintes funções:

1- Funções ao nível da relação com os cidadãos: Desperta a consciência cívica.

79 Proporciona Educação Social.

Supera a passividade pessoal e natural. Promove o associativismo.

Incita a atuar de uma forma desinteressada. Cultiva capacidades pessoais.

Descobre vocações.

Fomenta a ocupação do tempo livre.

2- Funções na relação com os Animadores: Estimula impulsos solidários.

Cultiva atitudes pessoais.

Facilita o exercício de um serviço social. Oferece possibilidades profissionais.

3- Funções na relação com os grupos sociais: Proporcionar um sentimento coletivo. Manter os valores do Grupo.

Vitalizar as tradições.

Consciencializar perante situações injustas. Promover reivindicações.

80 4- Funções na relação com a dinâmica Social:

Fomentar a informação.

Aumentar a participação cidadã.

Garantir a promoção social (Cultural, comercial, desportiva...). Estimular a comunicação.

Potenciar a iniciativa individual e coletiva.