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Capítulo II Envelhecimento

3.3. Perfil do Animador Sociocultural para os Seniores

Antes de partirmos para as características fundamentais de que um animador sociocultural deve estar munido para o âmbito da Terceira Idade, devemos ter sempre presente a definição de qualquer animador Sociocultural, como nos revela Ventosa (2009, p.338) que,

“(…)é um profissional socioeducativo que planifica, coordena e gere projectos, eventos, equipamentos socioculturais, adaptando-os ao colectivo destinatário e às características e condições da empresa ou instituição em que

se vão desenvolver, contando com a implicação activa dos seus destinatários.”

E é apologista que o animador tem no mínimo três campos de trabalho muito concretos, sendo eles, o “Cultural”, onde fundamentalmente trabalha em torno da criatividade; o Social, onde o essencial se centra no trabalho com o grupo/comunidade e onde as pessoas são chamadas a participar e a fazer parte do grupo em que está integrado; e “Educativo”, centra-se na pessoa e para que a mesma se desenvolva e transforme tendo em consideração as capacidades individuais de cada um.

Ventosa (2002, p.31)

Em todas as profissões existem especificidades relativas a cada uma e a ASC é um exemplo disso, bem como os animadores. Devem ter sempre em consideração o âmbito em que trabalham pois as caraterísticas que devem possuir são diferentes, apesar de determinadas caraterísticas serem transversais.

As definições das caraterísticas dos animadores socioculturais são coincidentes na maioria dos autores, apesar das mesmas estarem descritas em Pérez e Puya (2007:18-

95 19), que nos referem cinco como sendo fundamentais para os animadores, “Educador, Agente de Mudança Social, Interlocutor, Mediador Social e Dinamizador Intercultural”; desta forma, podemos afirmar que o Animador deve ser educador, para que as pessoas não vivam isoladas e que o trabalho que vão promover junto das mesmas seja o mais adequado possível e corresponda as expectativas das mesmas,

“- Educador. La educación es un instrumento para el cambio y el desarrollo personal y social. Pretende modificar actitudes desde la pasividad a la actividad. Estimula para la acción, sacando del aislamiento a las personas. El animador sociocultural tiene que llegar a una compensión real das necesidades y aspiraciones de los grupos y personas, que éstos, en ocasiones,

no son capaces de expresar.”

Pérez e Puya (2007, p.18)

Deve ser um agente de mudança, uma vez que trabalha públicos que podem possuir caraterísticas diversificadas e deve promover o trabalho comunitário, sem nunca descurar o que cada um pensa ou sente para que possa modificar ou simplesmente atuar na realidade em que cada um está inserido.

“ - Agente de cambio social. Ejerce la animación con grupos o colectivos de muy diversa índole. Su objectivo es implicarles en una acción conjunta. Por tanto, el animador sociocultural es un técnico en contacto con la realidad social, dinamizador de su entorno y experto en el funcionamiento de los grupos. Fomenta actitudes comunitarias, teniendo en cuenta los valores, formas de pensamiento y posibilidades de las personas a las que guía e ayuda.

Valora, siente y actúa en la realidad social para transformala.”

Pérez e Puya (2007, p.18)

Para que não existam quebras de diálogo e relação entre as instituições e as pessoas com quem se trabalha, o animador deve ser um bom interlocutor para que promova o empreendedorismo e que o público com quem trabalha se relacione entre si,

“– Relacionador. Capaz de estimular y suscitar las relaciones y establecer una comunicación positiva entre personas, grupos y comunidades, que a su vez conexiona con instituciones sociales y los organismos públicos. Debe ser capz de ecliparse para favorecer la interrelación entre los miembros de un grupo y dar prueba de iniciativa y espíritu emprendedor.”

96 É um mediador na medida em que respeita a individualidade de cada um, e no seio da diferença promove o diálogo e a comunicação para que todos se capacitem das suas responsabilidades e que tenham consciência do papel e da capacidade de cada um,

“- Mediador social. La mediación como metodología de intervención tiene sus pilares en la comunicación y las diferencias sociales. Permite una mejora personal y social. Tiene que observar y comprender las características y capacidades que influyen en el conflicto, ser un mero intermediario para, poco a poco, devolver el protagonismo a las personas implicadas. Facilitar la comunicación ayudará a reflexionar sobre la responsabilidad, el protagonismo y la capacitación, y potenciará los intereses comunes y posibles acuerdos.”

Pérez e Puya (2007, p.19)

Enquanto dinamizador intercultural, pois o objetivo é que cada um se aceite como é perante si e perante os outros. o animador promove o diálogo e faz com que todos, mas mesmo todos tenham a mesma igualdade de oportunidades dentro do grupo ou comunidade,

“ – Dinamizador intercultural. Previene los conflictos culturales, mejora la comprensión recíproca entre comunidades de origen diferente, conoce profundamente otras culturas y transforma la realidad para que todos experimenten la igualdad de opurtonidades. Favorece la assunción de actitudes positivas con referencia a otras culturas, estimula el desarrollo de habilidades sociales y la toma de decisiones. Fomenta el entendimiento de la interdependencia transcultural mediante la colaboración en la perspectiva de verse a uno mismo desde los otros.”

Pérez e Puya (2007, p.19)

Todos somos diferentes e ninguém é igual a ninguém e o mesmo se passa no que se refere aos animadores, pois todos eles são diferentes, mas existem competências que acabam por ser básicas no que se refere ao exercício da sua atividade, e as acima referidas são um exemplo disso e por isso corroboramos da opinião de Pérez e Puya (2007:31-32), o Animador Sociocultural, em cômputo geral, deve ter quatro características que nos parecem ser fundamentais, o saber, o saber fazer, o saber estar e o saber ser.

Partindo do geral para o particular, ou seja, partindo da definição geral do que deve ser um animador sociocultural e quais as suas características fundamentais,

97 segundo Ventosa (2009, p. 340) existem algumas funções que afetam particularmente os animadores gerontogeriátricos e que devem ser tidas em linha de conta para que a intervenção junto dos seniores seja realizada da melhor forma, sendo elas,

“- Função integradora, que ajude os idosos a enfrentar as mudanças e as perdas que devem sofrer nesta etapa da vida;

- Função lúdica ou recreativa, de educação no uso e desfrute activo do tempo livre como meio de diversão, ocupação e desenvolvimento pessoal e social;

- Função relacional, fomentando a comunicação, a convivência e o estabelecimento de relações interpessoais e grupais;

- Função crítica, exercitando e mantendo o sentido critico e a capacidade de análises da realidade circundante, necessária para compreender e situar os acontecimentos e fenómenos quotidianos da sociedade actual;

- Função criativa, orientada a despoletar, recuperar e desenvolver todas as potencialidades expressivas de cada um através de diferentes suportes e recursos (dramáticos, musicais, plásticos, manuais, psicomotores…);

- Função formativa, articulando e reforçando os processos de motivação para a aprendizagem, a recuperação de vivências, o treino e manutenção intelectual e a actualização de conhecimentos.”

Todas estas funções permitem que o sénior seja visto como pessoa e como objeto de intervenção, e permite ao animador ser bem-sucedido na sua intervenção enquanto animador e enquanto elemento potenciador de mudança e melhoria na vida dos seniores, mas também é necessário alertar para o facto de que muitas das vezes quem está no terreno é quem de facto sente quais as necessidades que existem nos seniores e que as funções exigidas pelos mesmos são mais do que as aqui descritas.

Não podemos contudo descurar o facto de que o sénior precisa de estar motivado para participar, para viver ativamente, pois sem isso o sénior não tem alento na vida, nem participa nas atividades propostas.

Corroboramos da opinião de Jacob (2007, p.33) que nos revela que,

“ A especificidade do trabalho com o idoso carece de técnicos especialistas na área e só quem trabalha todos os dias no terreno com idosos,

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se apercebe que ao animador (e aos funcionários e técnicos) lhes é exigido (pelos próprios idosos) muito mais que actividades.” Pois “O animador é muitas vezes o confidente, o conselheiro, o amigo e com o decorrer do tempo, alguém muito próximo do idoso.”

Todas as entrevistas se encontram nos anexos, contudo pareceu-nos importante sistematizar a informação recolhida com as mesmas, para que possamos fazer uma análise mais detalhada no que se refere às características do Animador Sociocultural para e com os Seniores.

Perfil do Animador Sociocultural para e com os seniores Victor Ventosa Gloria Perez

Serrano Luis Gomes Garcia Maria Conceição Antunes

Avelino Bento Manuel Vieites

- Deve reunir as características comuns a todos os animadores: - O Saber Ser, Saber Fazer e o Saber da Formação; - Devem ser possuidores de um saber específico relativo à área da gerontologia; - Saber quais as atividades mais indicadas para esta faixa etária. - Qualidades humanas (sáude, resistência física, tolerância; dimensão afetiva e competência técnica e participativa; -Deve ser educador; -Agente de mudança; - Mediador Social; - Dinamizador intercultural. -Formacão em ASC; -Formação específica em Gerontologia Social e Educativa; -Conhecimentos básicos de geriatria e psicologia da velhice; -Conhecimentos básicos de recursos sociais públicos para a 3ª Idade. - Dar ânimo; - Dar vida às pessoas e atividades; -“Vocação” e aptidão para a promoção de atividades, programas e projetos com a 3ª Idade. -Gostar das pessoas; -Respeitar as pessoas; -Construir com as pessoas um percurso onde se tenha em consideração: -Necessidades e interesses das mesmas. -Completo; -Complexo; -Bom comunicador; -Empatia; -Capacidade de escuta; -Formação antropológica para conhecer o valor da cultura; -Grande capacidade de adequação ao meio.

Quadro 19 – Perfil do Animador Sociocultural para e com os seniores – Elaboração Própria (2012). Fonte: Ventosa , Pérez,

99 Após análise das entrevistas e confrontando com a bibliografia consultada, podemos verificar que a definição do que deve ser o Animador Sociocultural na Terceira Idade está longe de ser consensual, assim como nos afirma Avelino Bento,

“ (…) da mesma forma que a polissemia do conceito de ASC diverge em função das práticas, dos lugares, dos conteúdos, das politicas, dos princípios, também o perfil do animador é interferido por essa polissemia.”

Bento (Entrevista 5)

É consensual que o perfil do Animador Sociocultural no âmbito dos seniores deve ter as mesmas características que todos os animadores têm, deve ser capaz de animar e propiciar a participação de todos, e o fato de possuir conhecimentos específicos na área da geriatria e gerontologia permite aos animadores terem uma maior sensibilidade e um melhor desempenho no seu trabalho com os seniores.

O perfil de Animador Sociocultural para intervir junto dos seniores deve ser portador de um espirito aberto, flexível, tolerante e sobretudo ter o condão de possuir uma abertura à vivência e à convivência.

Deste modo, importa ao animador Sociocultural olhar os seniores como uma fonte inesgotável de saberes adquiridos ao longo da sua vida e projeta-los através de dinâmicas que promovam a autoestima do idoso.

Como afirmou o grande sénior Ander-Egg (1987, p.37),

“não pode animar quem não está animado, não pode animar quem não acredita que o outro pode ser animado.”

Com base nas palavras deste sábio testemunhamos e defendemos o animador

sociocultural como um agente de desenvolvimento para dar vida, às vidas feitas, tem que ser alguém que deve ser capaz de animar, de cativar, de motivar e de proporcionar aos seniores momentos de partilha, de convívio e atividades que façam com que os seniores participem de uma forma descomprometida.

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Capítulo IV – A Animação Sociocultural