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Capítulo II Envelhecimento

3.1. O que é a Animação Sociocultural

3.1.1. Origem e Evolução

Nascida na segunda metade do século XX em França com o propósito de responder à devastação ocorrida em duas guerras mundiais e como estratégia para motivar as pessoas a erguer os países dos escombros, depressa se ramificou, por toda a Europa embora com diferentes designações, Alemanha (pedagogia social) Inglaterra (desenvolvimento comunitário) e em Espanha (educação social).

“Segundo os historiadores, foi André Malraux quem trouxe, nos longínquos anos cinquenta, o termo Animação Sociocultural para o léxico social, cultural e educativo. Estávamos então à porta do erguer da Europa dos escombros deixados pelas duas guerras mundiais.

Malraux sabia que a cultura transporta um protagonismo e uma dinâmica social consideráveis e nada melhor do que colocá-la ao serviço de causas e, a partir dela, mobilizar a França, uma vez que este país necessitava de todos os recursos para a emergente e necessária tarefa reconstrução.

Nos anos 60, os países mais industrializados e urbanizados da Europa, desenvolvem, a partir da matriz francófona, uma forma de intervenção social, cultural, educativa e politica que se denomina Animação Sociocultural e que vai permitir criar dinâmicas junto das populações no sentido de estas gerarem processos organizativos e de auto-desenvolvimento.”

Lopes (2008, p.143)

O seu código genético liga-se a dimensões assentes na tríade do social, cultural e educativo o que implica uma intervenção que cruza as dimensões descritas e projeta um interagir permanente numa didática da participação procurando levar os cidadãos à autonomia, ao autodesenvolvimento e à auto-realização.

72 A sua natureza etimológica segundo Ventosa (2002, p. 19-20) apresenta uma perspetiva dualista anima e animus. Assim no anima a Animação remete-nos para, sentido e vida, já no Animus encontramos uma visão de ação aferida pelas noções de movimento e dinamismo.

Ainda apoiados por Ventosa (2002, p.21), podemos encontrar uma nova dialética inspirada em Moulinier e que igualmente projeta uma dupla dimensão da Animação.

a) Animar como “donner la vie”: Dar vida ou fazer reviver a quem a perde. Moulinier alude á relação do médico com o doente para exemplificar o carácter externo e vertical da ação de animar dentro desta perspetiva fala-se de um “l’agir sur” , “um atuar sobre” que outorga a este tipo de animação uma perspetiva diretiva e paternalista

b) Animar como “mettre en relation”: Supõe, entender a animação não tanto como a acção de dar vida ou sentido. Ressalta desta perspetiva o carácter dinâmico e instrumental da animação, independentemente dos fins para o que se utiliza. A imagem do animador aqui já não é a do médico mas sim a do “mediador” um mero intermediário que possibilita a implicação da gente no seu próprio desenvolvimento... Não se “atua sobre” , se “atua em” – “l’agir dans”- a partir de dentro a partir de uma relação horizontal a respeito dos participantes. Encontramo-nos, em ultima instância, com a outra dimensão mencionada da animação, que corresponde ao “animus” como movimento.

A Animação Sociocultural assume-se e projeta-se, através de designações afins, na procura de um bem-estar alicerçado em valores de um humanismo que procura no cidadão um sentido de vida ditado pela autonomia, confiança, protagonismo, sentido crítico, participação e desenvolvimento.

Para reforçar este princípio trazemos à colação a perspetiva diacrónica da Animação Sociocultural projetada por Ventosa (2002) que nos confere uma visão fundamentada dos seus alicerces e dos respetivos valores:

“A partir de uma análise histórico-filosófica do fenómeno animação, pode-se dizer que o ponto de arranque do mesmo se situa na profunda crise atual de uma sociedade post-industrial caracterizada por uma sobre abundância de meios (ciência, técnica, informação) perante uma progressiva escassez e indeterminação de fins (crise de identidade e de valores). Situação desencadeante de um vazio vital que se manifesta no duplo plano do subjetivo – perda de sentido – no objetivo – atonia social – o primeiro coloca a necessidade de procura de fins e valores capazes de darem sentido á existência

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pessoal. O segundo supõe uma conquista do protagonismo social que deve chegar a possuir todo o indivíduo, capaz de vencer o ceticismo, a uniformidade empobrecedora e a impotência gerada por toda uma eficaz maquinaria de meios de comunicação de massas. Perante este panorama, cuja analise já iniciara Max Weber (1987), a Animação sociocultural surgiu na Europa não como uma moda mais mas sim como uma resposta necessária a esta precária situação do homem post-industrial....

Dentro desta perspetiva, a intencionalidade da animação não pode ser unicamente cultural, ou tão-somente educativa ou social. Há que assumir as três metas dentro de uma perspetiva integral... Esta seria a verdadeira dimensão transcendente da animação: provocar em cada pessoa “uma exigência de sentido que permita contribuir pessoalmente para a gestão da coletividade e a criação dos seus valores”. Segundo isto, um duplo fator desencadeia a animação: o fator subjetivo, transcendente, de uma existência humana necessitada de autorrealização e de fator objetivo, imanente, de uma sociedade que necessita de desenvolver-se mediante a implicação direta de seus membros. Ambas as dimensões são inseparáveis uma da outra. A resposta coerente da animação deve ser, portanto dupla: imanente –instrumental como facilitadora de meios e transcendente – finalista como cultivo de fins.”

Ventosa, V. (2002): A Animação Sociocultural no virar do século, Conferência proferida nas II Jornadas Internacionais de Animação Sociocultural, organizadas pela UTAD / Pólo de Chaves.

Desde o seu nascimento a Animação Sociocultural afirmou-se por uma intencionalidade interventiva junto das pessoas a partir de dimensões vitais como sejam a educação, a cultura, o social e ainda a procura de um ser participativo, autónomo e comprometido com o mundo em que vive.

“A Animação Sociocultural nasce assim com intenções pedagógicas, como muito bem enunciam as primitivas correntes como, por exemplo, as de J. Charpentreau, 1964, A Animação Sociocultural consiste essencialmente em oferecer possibilidades de cultura no mais amplo sector possível da vida do cidadão, fazendo-o participar e tornando-o protagonista. Outra voz que dá sentido às orientações da Animação Sociocultural é J.P. Imhof, 1966, que refere: A função da Animação Sociocultural define-se como uma função de adaptação às novas formas da vida social (…), com os aspectos complementares de bálsamo para as inadaptações e de elemento de desenvolvimento individual e colectivo. Registamos ainda a concepção trazida por um grupo de trabalho formado por responsáveis de associações culturais

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que, a pedido do Ministério da Juventude e Desportos Francês, propõe, em 1966, o seguinte: A Animação Sociocultural deveria converter-se em Pedagogia da compreensão e da intervenção, estabelecer relações de igualdade (…). Esta equipa defende, ainda, que a Animação Sociocultural deve estar veiculada à autonomia, à participação, ao desenvolvimento e à diversidade. “

Lopes (2008, p. 147-148)

A importância histórica conferida à Animação Sociocultural é aqui testemunhada pelo Conselho para a Cooperação Cultural - Conselho da Europa que num texto de grande significado procura articular uma política educativa que integre a Animação Sociocultural para assim suprimir um vazio existente na Europa.

Realçamos ainda o facto evidenciado pelo Conselho da Europa na recomendação feita aos estados membros no sentido de estes adotarem uma política que reforce a intervenção da Animação Sociocultural com vista a anular problemas relacionados com a problemática social, cultural e educativa e ainda o alerta para a necessidade de uma formação em Animação Sociocultural independentemente das profissões que cada pessoa possuía.

“Importa, neste contexto histórico, trazer à colação o projecto de Animação Sociocultural levado a cabo em 1972-1973 que sobre a égide do comité de educação extra-escolar e do desenvolvimento cultural, apresentado ao Conselho para a Cooperação Cultural – C.C.C., lança os fundamentos duma politica educativa integrada, em que a Animação Sociocultural aparece como uma estratégia para preencher o fosso cultural existente.

Neste sentido o Conselho da Europa elaborou uma declaração politica em matéria de Animação Sociocultural, onde proclama: A democracia traz em si a obrigação moral de trabalhar para a instauração duma sociedade na qual todo o cidadão sabe que dispõe duma voz que será respeitada nas decisões que afectam a sua vida e a da sua comunidade. É pois urgentemente recomendado:

- a) que os Governos elaborem e apliquem uma politica de Animação de Animação Sociocultural e lhe atribuam, na planificação nacional, uma importância igual à que atribuem às políticas em matéria de educação, alojamento, protecção social, etc;

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Atenuar, para finalmente eliminar, o handicap sociocultural e dar a todos oportunidades iguais nesse domínio;

Diminuir, para finalmente eliminar o fosso sociocultural entre as camadas sociais;

Criar condições próprias para incitar o maior número de pessoas possível a fazer valer plenamente as suas potencialidades próprias assim como os benefícios que elas podem encontrar na associação com outros... (…)

Exprimia-se ainda o seguinte desejo: que a primeira tarefa desta autoridade seja planificar e esboçar – ao nível dos programas e da organização – um sistema para a formação de animadores profissionais.

E também ministrar uma formação em animação sociocultural a todos que independentemente da sua profissão possam estar ao serviço da Animação Sociocultural. “

Lopes (2008, p.148-150)