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A avaliação no campo da moralidade e estudos empíricos

CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO MORAL

1.5. A avaliação no campo da moralidade e estudos empíricos

A psicologia moral, graças à preocupação com a verificação empírica dos fenômenos, tem contribuído para a elaboração de uma série de instrumentos de avaliação, o que permite, na análise de Cronbach (1996), que a psicologia moral não seja apenas uma filosofia introspectiva do componente psicológico do fenômeno moral.

O primeiro estudo da moralidade foi atribuído a Osborne (1894, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991), que, com o objetivo de descobrir o conhecimento ético de crianças, utilizou um questionário semi-estruturado que pedia aos participantes que indicassem que ações deveriam ter uma criança com a finalidade de ser chamada boa ou má. Os resultados indicaram que as normas eram mais importantes para avaliar o bem e o mal do que qualquer outro critério específico e a obediência e a verdade eram os aspectos mais salientes do sistema ético das crianças.

Quatro anos depois, Sharp (1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991) publicou um estudo que tinha por finalidade introduzir um método objetivo para estudar os problemas morais. O instrumento proposto por Sharp era composto por dez situações hipotéticas que buscavam avaliar crenças morais, conforme a exemplificada a seguir:

Há alguns anos, em um descarrilamento de trem, uma senhora caiu entre os escombros de modo que foi impossível escapar. Seu marido, que podia ter saído com um certo esforço, decidiu deliberadamente permanecer junto a sua esposa e morreu com ela, para ajudá-la e dar- lhe consolo mediante sua presença nos seus últimos momentos. Ela, como supomos, não era consciente da possibilidade de seu marido poder escapar, de outro modo não teria aceitado a sua presença (Sharp, 1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991).

Neste instrumento, Sharp (1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991) manipulava os determinantes motivacionais da ação, mediante proposições, e pedia que os participantes contestassem os problemas morais implicados e justificassem seus posicionamentos. No caso exemplificado, eram apresentadas proposições do tipo: “Se o

marido fosse um cientista, consciente de que estava a ponto de solucionar o problema do telégrafo elétrico”; “Se o marido fosse um artista de talento excepcional”.

Após a apresentação desses dois estudos clássicos que antecederam 1900, pode-se organizar, segundo Escrivã, Pérez-Delgado e Brotons (1991), os estudos acerca do fenômeno moral em três grandes períodos, de acordo com o uso predominante de um tipo de instrumento.

O primeiro período, que vai de 1900 a 1930, se caracteriza pelo predomínio do uso de instrumentos do tipo lápis e papel, voltados para diferenciar crianças e adolescentes “normais” de crianças e adolescentes com tendências delitivas (Brotemarkle, 1922; Fernald, 1912; Kohs, 1922; Lowe & Shimberg, 1925; Maller, 1944; Pressey & Pressey, 1919).

O segundo período, que vai de 1930 a 1950, se caracteriza por um debate mais teórico acerca do tema e, de forma paralela, ressalta uma mudança no tipo de instrumento utilizado nas pesquisas. A publicação do livro O juízo moral da criança (Piaget, 1932/1994) reflete bem este período de teorização acerca das questões morais e de ascensão de novos instrumentos de pesquisa: enquanto os instrumentos do tipo lápis e papel se fixavam no conteúdo dos pensamentos morais, Piaget se focou em como se forma este pensamento e, para tanto, fez uso de entrevistas clínicas. Tem-se também, nesta fase, a introdução do tema moralidade no contexto dos modelos psicanalíticos e neoconductivistas, que não buscavam diferenças, como no período anterior, entre delinqüentes e não delinqüentes, procuravam, na verdade, estudar e avaliar a personalidade dos sujeitos “normais” (Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991).

O terceiro período (1950 a 1960) é caracterizado pelo uso de técnicas projetivas, especificamente criadas para medir dimensões morais relevantes para a compreensão do desenvolvimento do superego e da internalização das normas. Para ilustrar esta técnica, tem- se o estudo de Allinsmith e Greening (1955), no qual se pedia aos participantes que

terminassem uma história que incluía a violação de proibições sociais contra a agressão. Outra técnica para medir o superego é o IES (Id, Ego e Superego), que inclui quatro sub-testes semi- projetivos.

Nas décadas de 60 e 70 houve, segundo Camino (1979), o predomínio de enfoques teóricos e estudos empíricos vinculados as visões behavioristas e da teoria da aprendizagem, destacando-se aqui Eysenck (1960, citado por Camino, 1979), Aronfreid (1965, 1968, citado por Camino, 1979), Bandura (1969/1979) e Ross (1975, citado por Camino, 1979), que utilizavam para avaliar a moral, sobretudo, observações em situação de laboratório.

Apenas a partir da década de 80, com a maior divulgação da teoria kohlberguiana que havia, na verdade, iniciado na década de 50, que começaram a ganhar relevo os instrumentos de medida do desenvolvimento do raciocínio moral. De acordo com um levantamento realizado por Díez-Calatrava (1989, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991), no período de 1981-1985, destacaram-se o Defining Issues Test (DIT) de Rest (utilizado em 31 dos 103 estudos analisados) e o Moral Judgment Interview (MJI) de Kohlberg (utilizado em 16 dos 103 estudos analisados). Ainda se destacou, nesse período, entre os instrumentos de avaliação do raciocínio moral, o Sociomoral Reflection Objective Measure (SROM) de Gibbs et al. (1984).

O MJI é um instrumento criado para avaliar a estrutura do pensamento moral e é apresentado por Colby e Kohlberg (1987) de três formas paralelas: A, B e C. Cada uma dessas formas é constituída por três dilemas hipotéticos que colocam o entrevistado frente à escolha de valores conflitantes. Os dilemas são seguidos por nove a doze questões que procuram obter justificativas morais aos dilemas. No Brasil, esses dilemas foram adaptados por Biaggio (1975, citado por Biaggio, 2002).

O DIT, um dos instrumentos que será utilizado na presente tese, é um instrumento objetivo, que operacionaliza os estágios 2, 3, 4, 5 e 6 da tipologia kohlberguiana. Ele é

composto por seis dilemas, sendo três retirados do MJI: O dilema de Heinz, o do Médico e o do Prisioneiro Foragido, e três retirados da dissertação de mestrado de Lockwood (1970, citado por Rest 1983): A ocupação pelos estudantes, O proprietários da oficina e O jornalzinho. Para cada dilema, o participante deve: (1) emitir um juízo geral sobre o que deveria ser feito em relação ao dilema avaliado; (2) assinalar a importância que concede a cada uma das 12 proposições que são apresentas para resolução do problema; e (3) eleger as quatro proposições que ele considera mais importante das 12 avaliadas anteriormente. É importante dizer que o DIT não é um instrumento para avaliar a estrutura do pensamento moral, mas sim seu conteúdo – mais precisamente, a preferência das pessoas por determinados pensamentos. Rest (1975) justificou a importância de seu instrumento dizendo que as pessoas, quando estão diante de um dilema moral, procuram a opinião do outro, em lugar de atuarem com base em seus próprios julgamentos.

A validade e fidedignidade do DIT foram calculadas com uma amostra de 45856 participantes entre 1986 e 1993, sendo constatado, de acordo com o que pontuaram Rest e cols. (1999): confiabilidade comprovada, mediante a observância dos índices de consistência interna apropriados e dos resultados de teste-reteste e dos resultados no Guttman; diferenciação de grupos em relação a medidas mais altas ou mais baixas de julgamento moral, merecendo destaque as diferenças encontradas em função da variável nível educacional; uma mudança significativa ascendente em estudos longitudinais; sensibilidade em intervenções direcionadas à Educação moral, com pré e pós testes; correlações positivas entre os escores do DIT com outras medidas de julgamento moral; correlações entre os escores do DIT com medidas de comportamento pró-social ou anti-social e com atitudes de escolhas políticas. No Brasil, o DIT foi traduzido e adaptado por Bulzneck (1975) e reformulado por Camino e Luna (1989). Na atualidade já existe uma versão mais atualizada do DIT, denominada DIT-2, de Rest e Navaez (1998), cuja adaptação para o contexto brasileiro foi realizada por Biaggio,

Shimizu e Martinez (2001), mas que ainda é pouco utilizada quando comparada a versão original do DIT.

O SROM, de John Gibbs, apresenta dois dilemas retirados do MJI, seguidos de perguntas de múltipla escolha, em que cada alternativa corresponde a um estágio de julgamento moral (1-5, pois Gibbs não propôs alternativas relacionadas ao estágio 6, por ser raramente encontrado na população). Este instrumento foi adaptado para o contexto brasileiro por Biaggio (1989, citado por Biaggio, 2002). Biaggio e Barreto (1991), por sua vez, criaram uma versão visual do SROM, tendo em vista atender as necessidades das pessoas mais jovens e com um grau de escolaridade menor.

Ao comparar esses três instrumentos (MJI, DIT e SROM), Biaggio (2002) comenta que o DIT é o instrumento que produz os maiores escores, tendo em vista que sua estrutura favorece essa superioridade em relação aos demais: não existem itens de estágio 1, há duas possibilidades de estágio 5 e uma possibilidade de estágio 6 (que inexiste no SROM e é difícil de ser encontrado por meio do MJI). E, o MJI é o instrumento que apresenta menores escores, uma vez que parece ser mais fácil reconhecer um estágio como mais adequado, como se faz no DIT e no SROM, do que produzi-lo por intermédio de uma resposta aberta, como é feito no MJI.

Apesar da inegável importância desses três instrumentos (MJI, DIT e SROM) para a avaliação do raciocínio moral, eles são criticados por Yussen (1977) e por Lickona (1978) pelo fato de se centrarem em dilemas hipotéticos ou em situações demasiadamente abstratas. Particularmente Yussen afirma que os dilemas hipotéticos pouco descrevem problemas que as pessoas julgam importantes. Lickona, por sua vez, argumenta que o dilema hipotético é um recurso limitado e superficial, que tem pouca relação com a vida real. Em função dessas e de outras críticas, na presente tese, além de se utilizar o DIT, serão elaborados e utilizados dois dilemas que tratam de temas veiculados pela mídia com personagens reais e conhecidos da

população, a saber: o dilema de Sadam Hussein, em que se ressalta a questão da pena de morte e o dilema de João Hélio, em que se problematiza a questão da redução da maioridade penal.

A pena de morte foi escolhida por ser um tema moral que tem gerado importantes debates filosóficos (Kant, Hegel e Schopenhauer) e sociopolíticos (Beccaria, 1764/2003; Bobbio, 2004) e por tratar-se de uma medida punitiva cuja aplicabilidade tem sido cogitada pelos poderes legislativos do Brasil. A redução da maioridade penal, apesar de não ter suscitado discussões filosóficas, nem sociopolíticas, é um tema que, no cenário brasileiro, tem despertado a atenção de juristas, políticos e acadêmicos: de um lado, existem aqueles que apóiam a redução da maioridade penal e argumentam, como por exemplo, que é a impunidade que aumenta a criminalidade e, neste sentido, buscam e lutam pela mudança na lei penal brasileira (Campos & Souza, 2007); do outro, existem aqueles que se posicionam contrário à redução e afirmam, por exemplo, que a redução da maioridade penal não diminuirá a violência, pois o problema é social e não jurídico (Monteiro, 2003). Além disso, diante do posicionamento de algumas autoridades brasileiras frente à adoção da pena de morte e da redução da maioridade penal e frente a alguns dados empíricos que mostram uma tendência de parte da população brasileira a se manifestar de forma favorável a adesão dessas medidas (Datafolha, 2006; Galvão, Feitosa, Santos & Camino, 2007; Laranjeiras, 2007; Menin, 2005), julga-se relevante saber como os jovens se posicionam a este respeito.

A seguir serão apresentadas pesquisas realizadas com o MJI, com o DIT e com o SROM que procuram demonstrar a validade de alguns dos pressupostos de Kohlberg (1969), como o da universalidade e o da seqüencialidade dos estágios; bem como pesquisas realizadas sobre a pena de morte e redução da maioridade penal; e, finalmente pesquisas que apresentam a relação entre a moral e outras variáveis psicossociais. A maioria dessas pesquisas foi extraída de um levantamento realizado na base de dados do Periódicos Capes, em Junho de

2010, tendo como palavra-chave “moral”. Do número significativo de trabalhos encontrados (PsycINFO = 29235, BIREME = 21164 e Scielo Brasil = 523), apenas serão apresentados àqueles que se relacionam de alguma forma com a presente tese; ademais, serão excluídos os estudos que já foram citados ou serão citados em um outro contexto mais pertinente; e, serão incluídos os estudos que se relacionem com este trabalho, mesmo que não estejam indexados na base de dados pesquisada.

Kohlberg (1984) realizou uma pesquisa longitudinal, em que os participantes foram testados com 10, 13 e 16 anos, por meio do MJI, entre os anos de 1956 e 1977. Os resultados indicaram que, com exceção de um participante, todos avançaram em seus raciocínios morais, sempre para o estágio adjacente, não havendo pulo de estágios, o que apoiou a idéia de Kohlberg de seqüencialidade.

Kohlberg (1967, citado por Kohlberg, 1969) realizou um estudo transversal com jovens do sexo masculino de três faixas etárias, 10, 13 e 16 anos de diferentes culturas (Taiwan, Grã-Bretanha, México, Yucatán, Turquia e Estados Unidos), utilizando como instrumento o MJI. Os resultados indicaram que as freqüências de respostas aos estágios 3 e 4 aumentaram dos 10 aos 16 anos, havendo, entretanto, algumas nuances em função do país: no México e em Taiwan as freqüências do estágio 3 foram mais elevadas; na Turquia e em Yucatán as do estágio 1, e apenas nos EUA, as freqüências do estágio 5 foram mais altas aos 16 anos.

Kohlberg, Snarey e Reimer (1984) relataram uma pesquisa longitudinal com 92 participantes, de 12 a 26 anos, tanto do sexo masculino, quanto do sexo feminino, residentes em um kibutz em Israel, utilizando o MJI. Os resultados dessa pesquisa revelaram que, com a idade, houve avanço em 65,6% dos casos, nenhuma mudança em 28,1% dos casos e regressão em apenas 6,3% dos casos; além disso, os autores também mencionaram que constataram consistência nas respostas dos sujeitos: 94% dos participantes raciocinaram em um só estágio

ou em dois adjacentes e 6% incluíram em seus raciocínios três estágios adjacentes. Além disso, esses autores compararam os resultados dessa pesquisa com aqueles obtidos em dois outros kibutz (um nos Estados Unidos e outro na Turquia) por Colby e Kohlberg (1978, citado por Kohlberg et al., 1984) e por Nisan e Kohlberg (1982, citado por Kohlberg et al., 1984), utilizando o MJI. Dessa comparação os autores concluíram que: as freqüências de respostas do estágio 1, 1/2 e 2 desapareciam com o avanço da idade; as freqüências de respostas do estágio 2/3 prevaleciam entre os 13 e 18 anos e diminuíam nas idades mais avançadas; as freqüências de respostas do estágio 3/4 predominavam nas idades dos 16 aos 26 anos; as freqüências de respostas ao estágios 4 e 4/5 aumentavam com a idade, porém foram inferiores as do estágio 3/4; não apareciam freqüência aos estágios 5 e 6.

Em um estudo longitudinal, utilizando o MJI, Walker, Gustafson e Hennig (2001) investigaram a transição de um estágio para o outro. Os resultados encontrados comprovaram a existência dos estágios propostos por Kohlberg e sua hierarquização, o que já tinha sido apontado por Snarey (1985), quando ele realizou uma meta-análise com 45 estudos que utilizaram a abordagem teórica de Kohlberg.

No Brasil, Biaggio (1975, citado por Biaggio, 2002) realizou um estudo em que comparou os escores médios de maturidade moral de estudantes universitários brasileiros e norte-americanos, verificados por intermédio do MJI. Os resultados revelaram que não houve diferença entre as médias dos dois grupos, mas, ao analisar as freqüências de respostas por estágio, a autora verificou diferenças em função da cultura: enquanto os brasileiros concentraram suas respostas nos estágios 2, 3 e 5, os norte-americanos concentraram suas respostas no estágio 4.

Em um outro estudo com o MJI, Biaggio (1976) comparou o raciocínio moral de crianças e adolescentes brasileiros de 10, 13 e 18 anos com o de crianças e adolescentes norte- americanos de uma pesquisa realizada por Kohlberg (1969). Os resultados demonstraram que

tanto na amostra brasileira quando na norte-americana as respostas de estágios 1 e 2 diminuíram com o avanço da idade e as respostas de estágios 4 e 5 aumentaram com a idade. Porém, na amostra brasileira prevaleceu o estágio 3 nas três faixas etárias e na amostra norte- americana prevaleceu, a partir dos 16 anos, o estágio 5.

Rest e outros pesquisadores (McColgan, Rest & Pruitt, 1983), utilizando o DIT e o MJI, compararam o julgamento moral de adolescentes presos por cometerem crimes e o de adolescentes não delinqüentes. Os resultados do DIT revelaram diferenças entre os grupos de adolescentes não revelados pelo MJI.

Em um estudo longitudinal que durou 10 anos, Rest (1994), utilizando o DIT como instrumento de medida, constatou que a seqüência dos estágios morais evolui em função da idade, mas principalmente em função do grau de escolaridade. Conforme comentou Rest (1994, p. 15): “ao longo da educação formal, os escores dos sujeitos no DIT aumentam, e, quando os sujeitos interrompem a sua educação formal, os seus escores de julgamento moral também estacionam”.

Bzuneck (1975, 1979), no Brasil, utilizando o DIT como instrumento de pesquisa, realizou duas pesquisas de corte transversal, com jovens delinqüentes e não delinqüentes, constatando igualmente que o nível convencional prevalece nesse grupo. Os resultados desses estudos revelaram que os escores médios dos não delinqüentes ao estágio 4 foram significativamente superiores ao dos delinqüentes.

Para testar a seqüencialidade dos estágios morais, utilizando o DIT, Camino, Luna, Alves, Silva e Rique (1988), realizaram uma pesquisa com estudantes secundaristas (ou seja, de ensino médio) e universitários. Os resultados revelaram que, com o avanço da escolaridade, houve uma diminuição significativa das médias dos estágios 2, 3 e 4 e o aumento significativo dos estágios 5 e 6.

Camino, Rique e Araújo (1993), por sua vez, em um estudo longitudinal, constataram, utilizando o DIT como medida de avaliação, que com o avanço da idade, não houve mudança na freqüência das respostas do estágio 2, mas houve um aumento significativo na média das respostas do estágio 3 e um decréscimo na média do estágio 4.

Também para verificar a seqüencialidade dos estágios, Ribeiro (1996), utilizando o DIT, em uma pesquisa com adolescentes entre 11 e 19 anos, constatou uma diminuição significativa dos escores médios dos participantes nos estágios 3 e 4 e aumento significativo dos escores médios dos estágios 5 e 6.

Mais recentemente, analisando a adequabilidade do DIT para o contexto brasileiro, Shimizu (2004), a partir de uma amostra de 621 estudantes do ensino fundamental e médio, constatou que, apesar dos índices estatísticos brasileiros serem inferiores a àqueles obtidos nas versões originais americanas do DIT, o teste é válido para o contexto brasileiro. A maior pontuação média dos jovens concentrou-se no Estágio 4, sendo que houve algumas variações em função das variáveis status socioeconômico, nível educacional e região de procedência.

No que tange ao uso do SROM, Gibbs, Basinger e Fuller (1992), constataram percentagens significativamente mais elevadas de delinqüentes ou jovens com conduta anti- social nos estágios 1 e 2, quando comparados a outros jovens.

No Brasil, utilizando o SROM, destaca-se aqui o estudo de Biaggio e Barreto (1991), com 40 crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, do sexo masculino, que freqüentavam as ruas. Dessas crianças e adolescentes, 20 dormiam em albergue. Os resultados revelaram escores elevados nos estágios 2 e 3 e nenhuma diferença significativa entre os dois grupos.

No que se refere às pesquisas realizadas acerca da pena de morte e redução da maioridade penal, constata-se sobretudo uma favorabilidade a essas medidas. Em uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em 2006, 84% dos brasileiros demonstraram apoiar a redução da maioridade penal e 51% disseram ser favoráveis à pena de morte. Especialmente

em relação à redução da maioridade penal, Menin (2005), em uma pesquisa realizada com adolescentes de escola pública e privada, constatou que 74% dos participantes da escola pública e 54% dos da escola privada mostraram-se favoráveis à redução da idade para punir infrações na lei. No que tange especificamente a pena de morte, Laranjeiras (2007) também encontrou um índice considerável de favorabilidade à pena de morte: 37% dos estudantes entrevistados concordou com a pena de morte e 27% afirmou que dependendo do crime eles eram favoráveis a pena de morte. Laranjeiras ainda verificou que 63% dos participantes se mostraram favoráveis a execução de Sadam Hussein, ao serem indagados particularmente a respeito da sua morte. Por outro lado, contrariando, de certa forma, os estudos apresentados neste parágrafo, Galvão, Feitosa, Santos e Camino (2007) verificaram, em uma pesquisa realizada com adolescentes em ressocialização e com meninos em condição de rua (população diretamente atingida caso ocorra uma mudança na lei), que a favorabilidade em relação à redução da maioridade penal e pena de morte é mínima: 15% dos em ressocialização e 26,3% daqueles em condição de rua mostraram-se favoráveis à redução da maioridade penal e apenas 18,8% dos adolescentes em ressocialização e 23,8% daqueles em condição de rua mostraram- se favoráveis à pena de morte.

Em todos os estudos supramencionados, com exceção do da Datafolha, os participantes foram solicitados a justificar suas respostas quanto à favorabilidade ou não em relação à pena de morte (Galvão et al., 2007; Laranjeiras, 2007) e a redução da maioridade penal (Galvão et al., 2007; Menin, 2005). Essas justificativas foram, por sua vez, categorizadas. No que tange especificamente a pena de morte, Laranjeiras (2007) organizou as respostas dos participantes em torno das seguintes categorias: Matou, tem que morrer, Solução para o crime, Prisão não resolve, Punição Justa, Segunda Chance, Crimes contra a humanidade, Penas alternativas e Direito à vida; enquanto Galvão et al. (2007) elencaram, a partir das justificativas dos participantes, as seguintes categorias: Punição retaliativa, Servir

de Exemplo, Amenizar sofrimento, Pagar na Cadeia, Justiça Divina, Direito à vida, Nova oportunidade e Morte de um inocente. No que concerne especialmente à redução da