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CAPÍTULO V – ESTUDO 2: REFORMULAÇÃO E VALIDAÇÃO DA ESCALA DE

5.4.5. Validade Convergente

No que diz respeito à relação entre os instrumentos de medida de Empatia (Escala de

Empatia focada em Grupos e Interpersonal Reactivity Index), conforme pode ser observado na Tabela 6, verificou-se correlações significativas entre as sub-escalas do IRI e os fatores da EEG; assim como correlações significativas entre as sub-escalas do IRI (já apresentada na Tabela 6) e correlações significativas entre os fatores da EEG.

Note-se, também, na Tabela 6, que:

(1) a sub-escala Consideração Empática apresenta correlações acima de ,30 com dois dos quatro fatores, a saber Empatia com grupos minoritários (0,43) e

Empatia com o trabalhador (0,39); no caso dos fatores Empatia com animais e

Empatia com “apenados” a correlação é fraca;

(2) a sub-escala Tomada de Perspectiva só apresenta correlação acima de ,30 em relação ao fator Empatia com grupos minoritários (0,33);

(3) a sub-escala Angústia Pessoal não apresenta correlação acima de ,30 em relação a nenhum dos fatores da EEG;

Tabela 6 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as sub-escalas do Interpersonal Reactivity Index (IR) e os Fatores da Escala de Empatia focada em Grupos (EEG)

Consid. Empática Tomada de Perspec. Angústia Pessoal Emp c/ grup. min. Emp c/ animais Empatia c/ trabalh. Emp c/ apenados Consideração Empática 1 Tomada de Perspectiva 0,43** 1 Angústia Pessoal 0,39** 0,19** 1 Empatia c/ grupos min. 0,43** 0,33** 0,29** 1 Empatia com animais 0,23** 0,15* 0,17** 0,35** 1 Empatia com trabalhadores 0,34** 0,25** 0,23** 0,38** 0,27** 1 Empatia com apenados 0,24** 0,16* 0,16* 0,27** 0,22** 0,39** 1

** A correlação é significativa a um nível de 0,01 (unilateral) * A correlação é significativa a um nível de 0,05 (unilateral)

Quanto à relação entre os instrumentos de medida de julgamento moral (Dilemas da

Vida Real e Defining Issues Test), conforme pode ser observado na Tabela 7, verificaram-se correlações positivas entre o DIT e o Dilema de Sadam Hussein (neste caso, a correlação revelou-se fraca: 0,16); e entre o Dilema de Sadam Hussein e o Dilema de João Hélio.

Tabela 7 – Coeficientes de correlação de Pearson entre o DIT e os Dilemas da Vida Real

** A correlação é significativa a um nível de 0,01 (unilateral) * A correlação é significativa a um nível de 0,05 (unilateral)

No que se refere às correlações entre os instrumentos de desenvolvimento moral e os de empatia, se encontrou correlações em relação ao DIT e as sub-escalas CE e TP. Conforme pode ser observado na Tabela 8, também se constatou que as respostas dos participantes ao Dilema de Sadam Hussein se correlacionaram com o fator Empatia com “apenados” da EEG; de forma semelhante, as respostas dos participantes ao Dilema de João Hélio se correlacionaram com o fator Empatia com “apenados”. Note-se, que os valores dessas correlações são menores que 0,30.

Tabela 8 – Coeficientes de correlação de Pearson entre os instrumentos de desenvolvimento moral (DIT e Dilemas da Vida Real) e os de empatia (IRI e EEG-27)

DIT Caso S. Hussein Caso João Hélio

Consideração Empática 0,13* 0,09 -0,02

Tomada de Perspectiva 0,13* 0,01 0,06

Angústia Pessoal -0,01 0,04 -0,13

Empatia c/ g. minoritários -0,03 0,01 0,01

Empatia com animais 0,05 0,05 0,08

Empatia c/ trabalhadores 0,06 0,02 -0,06

Empatia com “apenados” 0,07 0,10* 0,12*

* A correlação é significativa a um nível de 0,05 (bilateral)

DIT Dilema S. Hussein Dilema João Hélio

DIT 1

Dilema S. Hussein 0,16* 1

5.5. Discussão parcial

Sobre os resultados da EEG (27 itens), a escala apresentou uma estrutura multifatorial, com quatro componentes: Empatia com grupos minoritários, Empatia com trabalhadores,

Empatia com “apenados”, Empatia com animais, conforme esperado (hipótese a1). Estrutura esta que se mostrou psicometricamente adequada, segundo o que foi constatado nos resultados de uma análise fatorial confirmatória realizada com uma outra amostra de estudantes adolescentes. Ainda é relevante comentar que, em consonância com o que foi hipotetizado em b2, a maior média atribuída pelos participantes foi ao fator relacionado à Empatia com grupos

minoritários; e, em conformidade com o que foi hipotetizado em b3, a menor média foi atribuída ao fator Empatia com “apenados” (ex: pessoas condenadas a pena de morte por crime que cometeram).

No que se refere às características psicométricas da EEG, de um modo geral, pode-se dizer que a EEG, elaborada com vistas à mensuração da Empatia relacionada a problemas sociais (último estágio de desenvolvimento empático da teoria de Hoffman), apresentou parâmetros psicométricos adequados na amostra de adolescentes, podendo ser considerada um instrumento válido para identificar quatro componentes claramente discerníveis em relação aos grupos aos quais se destina o sentimento empático: grupos minoritários, trabalhadores, animais e “apenados”.

Sobre a retirada de sete dos 27 itens da escala (Pessoas que têm parentes seqüestrados, Pessoas que trabalham em condições desumanas, Índios sendo menosprezados, Adolescentes presos por cometerem crimes, Crianças passando fome, Pessoas que perdem parentes queridos, Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção), consideram-se os itens retirados adequadamente associados aos fatores da escala, o que leva a autora dessa tese e sua orientadora a sugerirem que em trabalhos futuros seja verificado se,

com amostras de outras faixas etárias, tal exclusão se comprova. Por outro lado, com a eliminação dos sete itens supramencionados, apresenta-se, neste estudo, um instrumento mais parcimonioso e breve (com vinte itens apenas), com as mesmas dimensões que a versão inicial (com vinte e sete itens). A versão nova favorece o seu uso em pesquisas, sobretudo quando se consideram múltiplas medidas ou se procura realizar um levantamento rápido da Empatia.

Sobre a consistência interna da EEG, considerando os critérios de Nunnally (1991) que indicam como satisfatório um índice de precisão maior ou igual a 0,70, pode-se afirmar que a EEG apresenta alguns coeficientes de precisão abaixo do esperado, mas que, dada à natureza polimorfa do construto, não devem ser descartados (Clark & Watson, 1995; Mueller, 1986); por outro lado, considerando os parâmetros de Cronbach (1996) e Churchil Jr. (1999), que afirmam que valores entre 0,60 e 0,80 são considerados bons para uma pesquisa exploratória, pode-se afirmar que os índices encontrados são satisfatórios, sobretudo quando se considera a interpretação teórica e empírica dos itens nos fatores da EEG. Adicionalmente, foi computado, no primeiro estudo, um alfa médio de 0,73, e no segundo um alfa médio de 0,70, que podem ser considerados índices de precisão aceitáveis (Tabachnick & Fidell, 2001). Ainda deve-se comentar que os dois fatores que apresentaram alfas menores que 0,70 possuem um número reduzido de itens (4 itens cada), o que pode ser uma explicação a respeito, já que o alfa de Cronbach é fortemente influenciado pelo número de itens que compõem um componente, aumentando segundo este seja aumentado (Nunnally, 1991).

Quanto à análise fatorial confirmatória da EEG, os resultados apóiam a coerência do modelo teórico que pressupõe uma multidimensionalidade do construto empatia, mostrando- se, neste caso, como sendo mais adequado um modelo tretrafatorial; e os índices de ajuste observados atendem ao que tem sido considerado apropriado na literatura (Byrne, 2001; Tabachnick & Fidell, 2001; Van de Vijver & Leung, 1997).

De uma maneira geral, considera-se que a construção e a validação da EEG trazem contribuições práticas significativas para a compreensão acerca da dimensionalidade do construto da Empatia. Contudo, é bom lembrar que os dados aqui apresentados foram colhidos a partir de uma amostra de conveniência, que talvez não represente adequadamente a população brasileira, devendo, neste sentido, ser ampliado para amostras que incluam outros contextos, no sentido de considerar as dimensões locais, específicas ou exclusivas (emics) da orientação de cada cultura, bem como, e não menos importante, as dimensões universais (etics) da cultura, com o objetivo de comparar os construtos estudados aqui para outro espaço geo-político e social (Muenjohn & Armstrong, 2007; Triandis et al., 1993; Van de Vijver & Leung, 1997). Além disso, considera-se pertinente conhecer a validade preditiva da EEG, considerando grupos-controle, definidos como pessoas com tendência a ter ausência de empatia (como por exemplo, os Psicopatas) e pessoas com empatia, ou mesmo comprovar sua estabilidade temporal por meio de teste-reteste.

Em relação aos estágios de desenvolvimento moral dos participantes adolescentes, os resultados, verificados mediante a aplicação dos Dilemas da Vida Real, revelaram o predomínio dos participantes nos estágios 1 e 2, o que correspondeu ao esperado (hipótese b1) e corroboram os resultados encontrados no Estudo 1. Já os resultados, verificados mediante a aplicação do DIT, revelaram o predomínio do estágio 4 (60,8%), o que diverge, em certo sentido, da hipótese b2 que, em consonância com diferentes estudos empíricos (Snarey, 1985), previa que os adolescentes teriam respostas predominantemente dos estágios 3 e 4, quando verificadas mediante o DIT. Acredita-se que o predomínio do estágio 4 deva-se a história do DIT escolhida para este estudo – O prisioneiro foragido –, que tem como conflito central a questão da lei (obedecer a lei ou burlá-la em função da mudança de atitude do prisioneiro), tema característico do estágio 4. Esta diferença de estágios de desenvolvimento moral em função do instrumento utilizado já foi comentada na Discussão do Capítulo IV.

Também sobre questões atreladas ao desenvolvimento moral dos participantes, observou-se, assim como no Estudo 1, uma favorabilidade considerável a pena morte e um apoio maciço a mudança na lei penal brasileira, no sentido de reduzir a idade do adolescente cumprir medida de privação de liberdade. Resultado análogo a este foi encontrado em diferentes estudos já citados nesta tese (Datafolha, 2006; Galvão et al., 2007; Laranjeiras, 2007; Menin, 2005). No que tange aos argumentos utilizados a favor ou contra a pena de morte e redução da maioridade penal, eles foram agrupadas nas mesmas categorias elencadas no Estudo 1, tendo também o predomínio de respostas que foram guiadas pelo princípio da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente” (no caso Sadam Hussein) e de respostas que fizeram uso do slogan “tem consciência, deve ser punido” (no caso João Hélio).

Quanto à influência das variáveis sócio-demográficas sobre o desenvolvimento moral, apenas se constatou a influência da variável escolaridade em relação à proposta de redução da maioridade penal: o posicionamento contrário a tal idéia prevaleceu entre os estudantes do 2º ano do ensino médio quando comparados aos do 1 º ano, o que é teoricamente adequado, já que se esperava que o avanço da escolaridade favorecesse o desenvolvimento moral (hipótese d3). Sobre o fato da idade não ter diferenciado os participantes em relação ao desenvolvimento moral (o que contrariou a hipótese d4), acredita-se, como Rest (1976), que a idade não é um bom indicador do desenvolvimento moral, na medida em que este desenvolvimento depende do desenvolvimento cognitivo, que nem sempre caminha junto com o avanço da idade.

Em relação ao IRI, tem-se que a escala apresentou coeficientes de consistência interna satisfatórios (IRI – α de 0,75; CE – α de 0,67; TP – α de 0,60; AP – α de 0,53), quando comparados aos encontrados em estudos brasileiros (Ribeiro, Koller & Camino, 2002; Sampaio, 2007), porém baixos quando comparados ao trabalho original de Davis (1980) e quando se considera o que diz a psicometria (Nunnally, 1991). É relevante acrescentar que,

apesar de apresentar uma consistência interna abaixo do desejado, as sub-escalas mostraram- se correlacionadas entre si, com coeficiente de correlação positivo entre CE e TP (r=0,43; p<0,001) compatíveis com o previsto por Davis e com o encontrado por Ribeiro, Koller e Camino (2002) e por Sampaio (2007); e com coeficiente de correlação positivo entre a sub- escala Angústia Pessoal e as outras duas sub-escalas, o que difere do previsto teoricamente e do encontrado em pesquisas transculturais (Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz et al., 2003; Siu & Shek, 2005), mas assemelha-se aos achados de Ribeiro, Koller e Camino (2002) e Sampaio (2007) e é consonante com a hipótese b4. Diante desses dados, questiona-se se as divergências nos resultados encontrados em outros países e no Brasil são decorrentes de diferenças sócio-culturais e, em caso positivo, qual seria o significado teórico destas diferenças para a compreensão da empatia.

Quanto a influência das variáveis sócio-demográficas sobre o grau de sensibilidade empática, os resultados são congruentes com o que era esperado (hipóteses d2, d5 e d6) e com o que vem sendo observado em alguns estudos empíricos acerca da influência da variável sexo (Adams, Summers & Christopherson, 1993; Ittyerah & Mahindra, 1990; Santilli & Hudson, 1992) e acerca da influência das variáveis idade e escolaridade (Adams, Summers & Christopherson, 1993; Gnepp & Chilamkurti, 1988; Ittyerah & Mahindra, 1990; Klemchuk, Bond & Howell, 1990; Selman, 1974). Mas, de qualquer forma, não se pode falar que as hipóteses d2, d5 e d6 foram confirmadas, porque se esperava a influência dessas variáveis sócio-demográficas não apenas em relação a uma ou outra dimensão das escalas utilizadas, mas em relação a todas as dimensões da escala.

Quanto a relação encontrada entre desenvolvimento moral e empatia, julga-se congruente com o que foi encontrado na literatura pertinente (Camino, Camino & Leyens, 1996; Eisenberg-Berg & Mussen, 1978; Hogan & Dickstein, 1972; Sampaio, 2007) e ao que foi hipotetizado (c3). Contudo, é importante registrar que os valores das correlações são

baixos (menores que 0,30) e, neste sentido, passíveis de críticas; mas, por outro lado, conforme comenta Hemphill (2003), correlações acima de 0,30 na psicologia parecem ser mais uma exceção do que uma regra.