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PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Capítulo 6. A linguagem do corpo

6.2. A cinésica

Às figuras verbais, visuais e sonoras, acrescentamos a linguagem do corpo, pois a expressividade, que é própria da oralidade, é também manifestada pelos movimentos corporais e pode ser representada por meio de imagens28.

Guiraud (1991) explica que foi Ray L. Birdwhistell, nascido nos Estados Unidos da América do Norte, que, nos anos 50, concebeu a “ciência” dos gestos corporais, a que chamou de” knesics (seguindo o modelo anglo-saxão, de phonetics)”. Suas teorias foram expostas principalmente em duas obras: Introduction to Knesics29 e Knesics and Context30. Esses fenômenos corporais, representados pelos gestos, têm “origem natural, espontânea e

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Esse assunto foi, também, abordado na dissertação de Mestrado de nossa autoria A representatividade da oralidade nas

histórias em quadrinhos.

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Louisville, Ky. University of Louisville Press, 1952.

inconsciente”, como o tremor das mãos, por exemplo, que independem de um comando consciente do cérebro.

Os gestos podem apresentar as funções descritiva e expressiva. Os gestos descritivos são classificados por Guiraud como:

descritores (propriamente ditos) como por exemplo, o da mímica gestual

que indica a “altura” de uma pessoa, esticando-se o braço, a mão com a palma para baixo, mostrando a distância do chão, em sentido vertical;

dêiticos são os movimentos dos dedos para indicar as três pessoas da

comunicação (eu, tu, ele); movimentos para frente, para trás, à direita, à esquerda, o lugar (aqui, ali, lá, acolá) etc.

modais usados para indicar, com os gestos que, por meio dos movimentos

dos dedos, exprimem a afirmação, a negação, a ordem, a interrogação.

Os gestos podem ser feitos por outras partes do corpo; assim. a cabeça, os ombros, as pernas podem expressar sentimentos, emoções, que transmitem toda a expressividade da comunicação, especialmente quando o ato de fala se realiza localmente. Eisner corrobora essas teorias, dando exemplos de como expressar emoções e/ou sentimentos por meio dos gestos e dos movimentos corporais com desenhos da figura de um homem gesticulando e em várias posições.

Guiraud explica que o corpo, ou suas partes servem de padrão de medidas de comprimento, como é o caso de pé, passo, polegada, palmos, braça, que aparece no texto de

O coronel e o lobisomem (60:15): “De repente, vi minha pessoa num brejal, a cem braças

do recinto da onça (...)” e que comentaremos ao fazer a análise da Fig. 11 de Poty, na PARTE III, Capítulo 10.

Paz (1982: 39-41), ao falar das hipóteses sobre a gênese e o desenvolvimento da linguagem, refere-se à hipótese da origem animal da linguagem e reproduz o pensamento de Wilbur Marshall Urban (1952), para quem as palavras apresentam uma função tripartida: “elas indicam ou designam, são nomes; também são respostas instintivas ou espontâneas a

um estímulo material ou psíquico, como no caso das interjeições e onomatopéias; são representações: signos e símbolos.” (p. 39). Para Paz, a hipótese da origem animal da linguagem, não se sustenta, pois a linguagem dos macacos, por exemplo, pode expressar apenas emoções e nunca podem descrever objetos; da mesma forma, nunca se comprovou nela a existência da função simbólica ou representativa. Entretanto, essa teoria apresenta um aspecto original ao incluir a “linguagem no campo dos movimentos expressivos”, um vez que, antes de falar, o homem utiliza os movimentos e os gestos como linguagem comunicativa: “Antes de falar, o homem gesticula. Gestos e movimentos possuem significação. E nela estão presentes os três elementos da linguagem: indicação, emoção e representação. Os homens falam com as mãos e o rosto.“ (op. cit., p.41)

O corpo humano com seus gestos, posturas, expressões e emoções é uma imagem armazenada em nossa memória e forma um vocabulário não-verbal de gestos que são importantes para a comunicação, facilitando a interação, ou, muitas vezes, complementando aquilo que se quis dizer com as palavras. (Eisner, 1995, p. 100).

Não necessariamente a comunicação se faz por meio de palavras enunciadas ou escritas. Ela pode ser constituída apenas de gestos e movimentos do corpo, estabelecendo a interação entre dois ou mais falantes, como é a linguagem específica utilizada pelos surdos e/ou mudos, a LIBRAS, Linguagem Brasileira de Sinais31. Da mesma forma, os recursos visuais, os quais detalharemos adiante, comunicam informando e/ou complementando o que se quer comunicar.

Ao lado desses signos naturais encontramos signos simbólicos cuja significação é convencionada e é arbitrária, já que pode variar conforme a cultura, os usos e costumes de cada país. Guiraud complementa com propriedade:

Inteiramente diverso (do signo natural32) é o status dos signos simbólicos, tais como a continência militar ou o escárnio, cuja significação é totalmente convencional e relativa à cultura, o que, aliás, não é incompatível com uma origem natural – mas em segundo grau e por motivos de valores metafóricos de que certos signos naturais possam ter sido investidos (op. cit., p. 65)

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Trata dessa questão, a dissertação de mestrado deAndrade, Wagner Teobaldo Lopes de. A relação entre a oralidade e

escrita em língua portuguesa no surdo. Recife, PUC/PE, 2007.

Conforme a cultura dos povos, a saudação é simbolizada de forma diversa: no Japão, cumprimenta-se abaixando-se a cabeça, com o corpo dobrado à altura da cintura, o braços apoiados sobre as coxas; os antigos romanos erguiam a mão direita, com a palma voltada para o interlocutor, enquanto saudavam: - Ave! O aperto de mãos é gesto que simboliza um cumprimento usual entre os povos de países ocidentais.

6.2.1. A expressão facial

A expressão facial revela os sentimentos e as emoções do personagem. Um olhar, um erguer das sobrancelhas, um franzir de testa deixam entrever uma porção de significações: se o interlocutor está triste, pensativo, se acredita no que está ouvindo ou não, uma surpresa, uma preocupação33. Um provérbio antigo diz que “o rosto é o espelho da alma”, dando a entender que todos os sentimentos, pensamentos, emoções são revelados pela expressão facial. Cremos ser óbvia e acertada essa assertiva de tal forma que nos parece difícil ou quase impossível refutá-la. Um aprofundamento dessa questão poderia ser efetuado, mas para o estudo que ora desenvolvemos, cremos serem suficientes essas referências.