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PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Capítulo 5. A formação de palavras e a linguagem figurada

5.1. Neologia e neologismo

Neologia é um processo de criação lexical, enquanto neologismo é o elemento

que resulta do processo neológico (Alves, 1990, p. 5) ou, conforme Lapa (1998, p. 44), neologismos são os novos meios de expressão criados para atender às necessidades constantes da língua de se exprimir de forma inovadora e criativa. Lapa frisa, porém, que muito raramente se consegue criar uma palavra nova; geralmente essa criação se processa por meio da transformação do “material já existente ou sua utilização para outros fins expressivos” (op. cit., p. 81). As formações neológicas, além de curiosas, expressivas, instigantes, imaginosas, inteligentes, muitas vezes são, juntamente com o conteúdo da obra, um dos esteios artísticos do texto literário. Cabe às obras literárias e aos meios de comunicação de massa divulgar essas novas criações. Entre os literatos, Alves cita os poetas simbolistas, os modernistas Cassiano Ricardo e Carlos Drummond de Andrade e o romancista Guimarães Rosa. Acrescentamos Fialho de Almeida, lembrado por Lapa, e os autores de poesia concreta, que brincam com as palavras, descontruindo-as e criando novas combinações que resultam em neologismos; além deles, incluímos José Cândido de Carvalho cuja capacidade de inovar o léxico revela-se prodigiosa.

A língua não permanece fixa e imutável por múltiplas razões (dentre as quais as atividades diárias, a evolução cultural, científica, tecnológica e outras); há necessidade da renovação do acervo lexical das línguas vivas. Assim, são criadas pelos falantes de uma comunidade lingüística, palavras novas, os neologismos, que podem ou não permanecer no léxico. Alves (op. cit, p. 11) acrescenta que “sendo de caráter social, há uma resistência coletiva a toda inovação lingüística, pois a língua constitui um patrimônio comum a todos os falantes de uma comunidade lingüística”. Isto não impede a evolução da língua e, aos poucos, as inovações vão sendo absorvidas e algumas passam a integrar o léxico. Para que um significante integre o léxico de uma determinada língua, é primordial que ele esteja de acordo com o sistema dessa língua, pois, se ele não o estiver, não será decodificado pelo interlocutor e, portanto, não haverá comunicação entre os participantes da conversação.

Vilela, em Estudos de lexicologia do português (1994), aponta a metassemia, o alargamento do campo de uso, os empréstimos como formas de criação de palavras. Ele acrescenta, ainda, que o modelo derivacional está ligado diretamente à motivação ou à transparência e acrescenta, ainda que, nos neologismos, existe sempre algo de novo e algo de conhecido. Martins (1997, p. 77) cita Tatiana Slama-Cazacu, segundo a qual existe em cada palavra um núcleo convencional ou significativo fundamental que é a base do agrupamento semântico e que assegura a estabilidade relativa do léxico de uma língua. É graças a esse núcleo que se processa a compreensão mútua. Os novos significados se desenvolvem a partir desse significado fundamental.

Da mesma forma, Saussure (1973, p. 193), ao tratar da analogia, julga que os elementos que produzem uma nova palavra já existem no momento de sua criação. Para ele, a “analogia em si mesma, não passa de um aspecto do fenômeno de interpretação, uma manifestação da atividade geral que distingue as unidades para utilizá-las em seguida.” O autor afirma que a “inovação analógica”, antes de entrar na língua, é sempre experimentada pela fala e, portanto, cabe ao indivíduo um importante papel: o de criar, repetir e usar os novos vocábulos, contribuindo para que eles passem a fazer parte do léxico de seu grupo social. Falando sobre as questões analógicas, Câmara Jr. (1972, p. 236-238) chama a atenção para que não se confunda a analogia com a evolução fonética propriamente dita. A evolução fonética se processa por meio de uma mudança de natureza articulatória, gradual que culmina em outro fonema já existente no sistema, ou acaba criando um novo fonema.

Com relação ao léxico, ocorre uma analogia quando a forma fonológica de um vocábulo se altera “para aproximá-lo de outro ou outros, genética e estruturalmente distintos”. Assim, considera-se a criação analógica como uma forma lingüística nova que coexiste com a forma tradicional e não como a “evolução mórfico-fonética de uma forma”.

Alves (2003, p. 262) acrescenta que se deve levar em conta que a delimitação do caráter neológico de uma unidade lexical apresenta dificuldades, considerando-se como diferentes parâmetros, “aspectos de natureza temporal, lexicográfica, psicológica e de instabilidade. Desse modo, uma unidade lexical é neológica se foi criada em período recente, ou se não está registrada nos dicionários de língua; ou se é percebida como nova pelos falantes; ou, ainda, se apresenta instabilidade em aspectos morfológicos, gráficos ou fonéticos”.

Martins discorre sobre a importância da expressividade dos aspectos morfológicos da língua, porque contribuem para a renovação do léxico e dos seus elementos integrantes, que são os lexemas e os morfemas.

Câmara Jr. (1978) lembra que outro motivo para que se criem novos vocábulos está na falta de precisão no significado das palavras, especialmente nas palavras abstratas:

O caráter vago e difuso de muitos significados permite certa liberdade no entendê-los. Especialmente em se tratando de palavras abstratas, isto é, designativas de conceitos abstraídos das coisas concretas, não há a rigor coincidência semântica nas múltiplas línguas individuais de uma comunidade lingüística. (p. 49, 50)

Essas criações de novos vocábulos e expressões, além de aumentar e enriquecer o léxico, podem caracterizar e, muitas vezes, tornar típica a fala de um indivíduo, de um grupo, de uma região, transformando-se em um recurso disponível de que o autor lança mão, na criação de personagens para sua narrativa. Como exemplo, pode-se citar as gírias que são criações neológicas típicas de um grupo, ou de uma determinada classe social; da mesma forma, os falares regionais, outra fonte de criações lexicais de regiões determinadas, são freqüentemente utilizados por diversos literatos (vide Guimarães Rosa, por exemplo).

Tanto o regionalismo como a gíria são abordados neste trabalho, no Capítulo 4, itens 4.2.1. e 4.2.2., respectivamente.

Lapa (1998, p. 36) ressalta a importância dos estrangeirismos na renovação de palavras do léxico de uma nação, recordando a história da evolução lingüística na Península Ibérica desde o latim vulgar que sofreu a influência da língua dos bárbaros germânicos, dos árabes, dos franceses e, acrescentamos, recentemente, a dos ingleses. São os estrangeirismos que devem ser adotados somente quando corresponderem às necessidades reais de expressão. Ele cita como estrangeirismo, a palavra gôche (do francês gauche), com o sentido de canhestro, desajeitado, acanhado, azambrado, esquerdo etc, usada por Eça de Queiroz em Os Maias e, lembramos também, no Modernismo, por Carlos Drummond de Andrade que em Alguma poesia, escreveu o "Poema de sete faces", do qual se transcreve a primeira estrofe:

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

Interessa-nos, neste trabalho, estudar de perto as criações lexicais no texto escrito literário que surgem com um objetivo específico, ou seja, aquelas que são válidas para aquele determinado momento ou personagem, podendo, hipoteticamente, fazer parte do dicionário da língua. Analisamos, ademais, as criações lexicais literárias com objetivo estilístico, estudando os processos envolvidos nos vários momentos da criação e, sobretudo, o efeito estilístico obtido, no texto, com essa nova criação. Os neologismos que surgem como resultado de uma necessidade de expressão pessoal, ou seja, criados por poetas e escritores em geral merecem uma especial atenção e é importante que se estude a maneira particular com que o autor utiliza a língua e cria um estilo próprio, um léxico individual, como cremos, com Proença, acontece na obra de José Cândido de Carvalho:

Não é preciso muito para que essa busca de expressão marque os seus rumos. A denotação corresponde à palavra em “estado de dicionário” e de pouco valor estético, enquanto a conotação é, às vezes, sinônimo de carga sugestiva; em outros termos, extensão e intensão, já agora considerados sob o aspecto de níveis de abstração.

Tanta teoria se vai tornando longa, sem melhoria de luminosidade, fácil de ser dada com exemplos comentados.O erotismo de Ponciano se recorta com força: “De noite, por desgraça, o luar da varanda de Dona Branca dos Anjos liberou tudo que foi cheiro de bogari. Sabia eu que não tinha mais trança de moça no detrás daquelas paredes, que também olho meu podia dizer adeus para sempre ao andar de cobra da menina.” Não será preciso muito para que se perceba o valorizar daquilo que, em verdade, constitui o centro da mensagem. É o “cheiro”; não são os bogaris; é a “trança”, sugerindo mais especificidades que moça; “no detrás”, substantivando-se muito mais forte que paredes; “olho” personalizado, dizendo adeus; e o “andar de cobra”, encanto caracterizador da menina. (CL, p. xiv, 5ª ed.)

Os neologismos estilísticos baseiam-se na expressividade da palavra ou da frase, procurando expressar idéias, emoções opiniões, de modo inédito e pessoal. Essas lexias podem ser fabricadas a partir de uma outra já existente que recebe uma nova conotação ou, às vezes (raras), surgem de forma inédita e única sem se calcar em qualquer outra lexia. Pode-se, dessa forma, exprimir-se com uma liberdade de expressão ou de criação muito grande, valorizando a livre manifestação de expressões sentimentais, emotivas. Na literatura em que se costuma dar asas á imaginação, observam-se muitas criações lexicais literárias ou estilísticas que, por não surgirem espontaneamente nas camadas sociais populares, mas por serem criações de uso exclusivo do léxico de um autor em determinada obra, são de curta existência. Lapa (op. cit., p. 45) cita nuvezinhado, nevrostizar, chafra-

nafra, transfazer-se, independentizar, vortilhões, emotival etc, como criações literárias de

Fialho de Almeida com base na linguagem técnica e na linguagem da província. Cardoso afirma com propriedade:

Assim, diz-se que as criações lexicais literárias ou estilísticas se comportam de maneira diferente das demais criações. Apresentam apenas um valor expressivo naquele momento e naquele texto. Cumprido o seu papel expressivo, tendem ao esquecimento. Movem-se a cada leitura. Dificilmente

passam a integrar o léxico da língua. Entretanto, têm um valor enorme porque vêm mostrar que além da criação ter um fundo prático e necessário, ela também pode surgir como um simples valor expressivo ou lúdico. (2000, p. 45)

Da mesma forma que as criações lexicais literárias, muitos neologismos de uso comum permanecem em uso apenas por um determinado momento (como o tempo de duração do sucesso de vendas de um produto), ou enquanto estiverem em moda.

O léxico é formado por um conjunto de palavras de uma língua. Alguns autores falam em unidades formadoras de palavras que podem ser palavras gramaticais e palavras lexicais.

As palavras gramaticais pertencem a um conjunto fechado e não sofrem quase nenhum tipo de ampliação. A significação dessas palavras só é apreendida no contexto lingüístico. São pouco numerosas, porém sua freqüência é altíssima; constituem-se em artigos, pronomes, preposições, conjuntos numerais e alguns advérbios que têm função definida. Exercem as seguintes funções:

− relacionam o enunciado com a situação de enunciação, indicando os participantes da conversação, o espaço e o tempo da comunicação. São os dêiticos “eu”, “aqui”, “agora”, os pronomes possessivos, e demonstrativos relacionados à primeira e segunda pessoas etc.;

− substituem ou fazem referência a algum elemento presente no enunciado, por meio dos anafóricos ou referentes, tais como “ele”, “ela”, demonstrativos não relacionados à primeira e segunda pessoas etc.;

− indicam quantidade ou intensificação no caso de numerais, pronomes indefinidos quantitativos, advérbios quantitativos;

− relacionam palavras no sintagma (preposições) e orações (conjunções e pronomes relativos);

− estabelecem coesão textual dentro da frase ou entre frases diversas (anafóricos e conjunções).

As palavras lexicais que, conforme Lapa, citado em 2.2., são os lexemas, pertencem a um universo aberto. Elas obedecem a um processo de formação já existente na língua. São os substantivos, os adjetivos e os advérbios deles derivados ou a eles correspondentes. São denominadas palavras lexicográficas, nocionais, plenas, reais. Além de terem um valor nocional, essas palavras têm uma função sintática e têm que ser acompanhadas por desinências flexionais de número, pessoa, tempo, modo. Algumas são formadas por afixos. Além disso, elas apresentam significação extralingüística, pois remetem a algo que faz parte do mundo físico, psíquico ou social. Constantemente formam- se novas palavras que podem ser emprestadas de outras línguas e, por isso, são numerosas.

Para se fazer a distinção entre a expressividade obtida com neologismos conceptuais e neologismos formais é necessário debruçar-se e apoiar-se nos ensinamentos da Estilística Léxica. A Estilística Léxica está associada à escolha e à intenção que se quer dar ao texto. Ela estuda e verifica a expressividade ligada aos componentes semânticos e gramaticais das palavras. Assim, fala-se em expressividade obtida com palavras gramaticais (valor de realce, substantivação e ampliação de sentidos) e com palavras lexicais que despertam na mente humana uma representação (de seres, de ações, de qualidades de seres ou modos de ações) por terem significação extralingüística, por sua afetividade

Tendo em vista que os neologismos são formados por diversos mecanismos da própria língua são diversos os processos de formação neológica:

• neologismos fonológicos em que há uma combinação inédita de fonemas. As criações fonológicas ocorrem quando alguns elementos fonológicos são suprimidos, acrescentados ou transformados, alterando o significante. O elemento resultante é, pois, um produto e não um processo. Segundo Guilbert (1975, p. 59-64), são dois os tipos de criações fonológica: a criação fonológica propriamente dita, ou específica e a criação fonológica complementar. O primeiro tipo é formado pela criação ex-nihilo que, na sua formação não toma como ponto de partida signos mínimos pertencentes a um código lingüístico qualquer como o exemplo de Barbosa (1981, p. 177) que cita o

signo lingüístico representado por “Omo”, nome de uma conhecida marca de sabão em pó; nesse caso, o falante procurou guiar-se pela impressão (agradável ou desagradável) que a palavra provoca fonicamente, palavra essa, formada por uma seqüência lingüística virtual, permitida pelo sistema da língua portuguesa. As formações onomatopaicas que reproduzem sons e gritos (buá, frufru, tchibum); são criações complementares, formadas como conseqüência de outro processo de criação, como a relação de analogia com “bebemorar”, que resulta da aglutinação entre os verbos “beber” e “comemorar”; outras formas podem ser utilizadas, tais como as manipulações gráficas, como em “Xou da Xuxa” em que o substantivo “show” é grafado como “xou” com vistas a associá-lo ao nome da apresentadora do programa (Alves, 1990, p. 12, 13). Além desses, diversos são os processos de criação lexical que resultam em neologismo fonológico, tais como: a formação de uma palavra por derivação ou por composição (deletar, rua-teatro); uma sigla que passa de uma seqüência gráfica a uma seqüência fonológica coesa (ONU – ônu); quando há uma abreviação ou redução (flagrante – flagra); na importação de um termo de língua estrangeira (abat-jour – abajur) (Cardoso, op. cit., p. 69). Por fim, todas as manipulações que aproximam o vocábulo escrito da maneira como ele é pronunciado, podem ser consideradas como neologias fonológicas.

• neologismos semânticos em que se atribui uma nova significação a um mesmo significante por meio de:

− polissemia – em que a uma só expressão atribuem-se dois ou mais conteúdos como, por exemplo, em “piloto” que, conforme o Dicionário Eletrônico

Houaiss, pode ter os seguintes significados (entre outros): “aquele que pilota

navio mercante, como oficial de náutica ou como prático de porto, subordinado ao comandante”; ”indivíduo que dirige uma aeronave”; “motorista de provas automobilísticas”; “capítulo inicial de um programa ou de uma série de TV, que tem como um dos principais objetivos sondar a reação do público”; “nos aquecedores a gás, bico de onde a chama se propaga aos demais bicos”.

− migração de um universo do discurso para o outro, como a palavra “prego” que, conforme o Dicionário Eletrônico Houaiss é uma “haste roliça e fina de metal, com ponta numa extremidade e uma parte larga e achatada na outra (a cabeça), que se crava em algum objeto para uni-lo ou fixá-lo a outro, ou para nela se pendurar algo”, que é empregada pelos skatistas com o significado de “skatista ruim”; verifica-se uma migração do sentido geral da palavra, conhecida e usada em um universo geral, para um sentido de âmbito particular.

− conversão – em que há mudança de classe gramatical de uma palavra para outra classe gramatical; ela adquire, assim, um sentido inteiramente novo. É o que acontece com alguns nomes próprios (Recife, Campinas, Leite, Pires, Carvalho etc.), com formas verbais que se substantivam (quebra, vale, acórdão etc), com substantivos que passam a qualificativos (pedra gigante, coqueiro anão etc), palavras invariáveis que são substantivadas (sim, não, porque etc) e outros mais. Esse processo é, também, denominado derivação imprópria.

• neologismos alogenéticos em que há a adoção de um termo de outro universo lingüístico, como os empréstimos de palavras estrangeiras usados em contextos específicos. São criações estilísticas que dão cor local às frases. Esses empréstimos podem ser:

− denotativos, usados para denotar produtos criados em país estrangeiro, como em “software”, “hardware”;

− conotativos, criações que se desenvolvem pela necessidade de adaptação ao modo de vida da sociedade, geralmente em função do prestígio exercido por um determinado tipo de sociedade, como, por exemplo, pela sociedade de consumo em “hambúrguer”; pela moda; em “haute couture”.

• Neologismos sintagmáticos.

Alves (1990) utiliza a denominação “neologismos sintáticos” para designar as formações de novas unidades lexicais por derivação ou composição.

− A derivação pode ser prefixal (não-empregados, anti-governo, megaevento); sufixal (achismo, negociável, operacionalizar, invibializar, civilizadamente); parassintética, processo que consiste no acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo a uma base (apalhaçar, ensardinhar); regressiva, que consiste na transformação de verbo em substantivo, por redução (o amasso, o engasgo). Segundo Sandmann (1996, p. 11), “Os prefixos se unem a um radical como adjuntos adnominais (minissaia) ou adverbiais (retornar). Constituem o determinante da palavra complexa produzida e não mudam a classe de palavras da base”. A derivação sufixal “é um processo extremamente produtivo na formação de novos vocábulos, pois o sufixo atribui à palavra a que se associa uma idéia acessória e, com freqüência, altera-lhe a classe gramatical.” (Cardoso, op. cit., p. 126). Exemplo de formação em que se altera a palavra da base é a formação: adjetivo belo + sufixo –eza = substantivo beleza. Os sufixos aumentativos e diminutivos não mudam a classe das palavras de base.

− A composição pode ser formada por justaposição ou por aglutinação. Na aglutinação as palavras se aglutinam, formando uma outra, única e indivisível; são consideradas como uma composição perfeita, conforme Lapa (op. cit., p. 82). São exemplos desse tipo de composição: vinagre (=vinho-acre), aguardente (=água-ardente), passaporte (=passa-porte). A composição é imperfeita, ainda segundo esse autor, em palavras cuja coesão não se processa da mesma forma: em couve-flor, os termos conservam-se autônomos como dois substantivos; não há alteração nos dois substantivos que foram justapostos e interligados por meio de um hífen. Acrescentamos outros exemplos: azul-celeste (dois adjetivos), porta-bandeira (verbo e substantivo). Na literatura esse tipo de formação de palavras é empregado principalmente por escritores modernistas e

contemporâneos, como por exemplo, mil-vezes-mente (Guimarães Rosa);

prostitutriz (Martins); Eu, ela, elaeu/ trespassados eleu (Drummond).

Esse resumo apresenta um quadro geral das criações neológicas na perspectiva dos diversos teóricos citados. Entretanto, além dessas teorias, que utilizaremos em nossas análises, consideraremos o ponto de vista da Estilística, quanto às criações neológicas, visto termos observado uma grande incidência desses tipos de formações no corpus, justificando esse aprofundamento que se evidencia na análise dos textos selecionados e apresentados na Parte II desse trabalho.