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Considerações sobre a análise do romance

PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Capítulo 7. Contextualizando o romance

7.1. Considerações sobre a análise do romance

Na INTRODUÇÃO, dissemos que o romance O coronel e o lobisomem está dividido em 13 episódios, sem títulos, apenas encabeçados pelos números, escritos em algarismos arábicos. Em virtude de a obra tratar de temas ligados a crendices e a aspectos do folclore, essa divisão remete-nos à crença popular de que esse número 13 apresenta uma conotação negativa, trazendo azar às pessoas35. Aliás, o romance, conforme o próprio título

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O número 13 é, para muitos, o símbolo de desgraça, já que 13 eram os convivas da última ceia de Cristo, e dentre eles, Jesus que morreu na sexta-feira.(www.quediaehoje.net © Copyright 2001-2005 by 8 Arroba Web & Multimídia.). Consta no Dicionário do folclore brasileiro, de Câmara Cascudo, que esse é um “número fatídico, pressagiador de infelicidades. As pessoas nascidas no dia 13, por ambivalência serão venturosas.” (p. 697 e 698) Também esse autor fala da superstição de evitar treze convidados á mesa, por associar o fato à Santa Ceia.

já anuncia o que constatamos, em capítulos anteriores, trata de figuras mitológicas do imaginário brasileiro (lobisomem, sereia, ururau, fantasmas e outros); acreditamos, assim, que essa divisão em treze partes, não seja casual, mas sim proposital, o que nos leva a crer que a própria estrutura narrativa apresenta um formato coerentemente voltado ao seu conteúdo.

Com relação à análise propriamente dita, nessa PARTE II, faz-se a observação dos fenômenos lingüístico-discursivos, na medida em que produzem os efeitos de sentido socioestilisticamente falando. Procuram-se observar e constatar, sobretudo, os fenômenos particularizados em relação à linguagem dos personagens que mais se destacam no romance.

Preti (2005:258) nos ensina que, ao se analisar um diálogo de ficção deve-se levar em conta o contexto histórico, o contexto geográfico, as características socioculturais ou psico-biológicas das personagens. Trata-se da “macroanálise da conversação literária”, à qual nos referimos anteriormente. Essa mesma visão é explicitada por Fernandes (1999, p. 11), um profundo conhecedor de O coronel e o lobisomem, que foi objeto de análise em sua dissertação de Mestrado, baseando-se, sobretudo, em Goffman, além do apoio em estudos lingüísticos pós-saussureanos e em Coelho, conforme afirma:

Firmando-nos em estudos lingüísticos pós-saussureanos, podemos afirmar, conforme discute Coelho (1985), que toda e qualquer língua existe concretamente como esforço histórico-cultural de um povo determinado e é falada por esse povo, não se separa, portanto, da história da cultura da sociedade que a produziu e é produzida por ela. Uma língua determinada, numa amplitude maior e mais genérica, apresenta aspectos e dimensões que lhe são próprios e oriundos de uma complexa realidade caracterizada pelas diferenças apresentadas em seus falantes – seres sociais e únicos – que, juntos, possibilitam a existência de um todo, que é uma língua.

A esse enfoque, aliamos a análise das estratégias conversacionais empregadas, que visam a finalidades predeterminadas pelos interlocutores (“microanálise

da conversação literária”), além de outros aspectos relacionados às informações fornecidas pela análise da situação de interação, ou seja:

(...) são os elementos pragmáticos que precedem e acompanham as falas, mas também os traços de interatividade durante o diálogo, como tratamentos gramaticais, expressões formulaicas, repetições, seqüências, interrupções sintáticas, sucessão dos turnos, marcadores conversacionais, silêncios etc. utilizados pelos “falantes” e que podem indicar proximidade/afastamento, clareza/ocultação/dissimulação, poder, conhecimentos partilhados etc. (...)” (Preti, 2004: 169).

• Metodologia específica para o levantamento e análise de dados do corpus

Dentro das hipóteses e expectativas teóricas e metodológicas expostas na PARTE I do presente trabalho, os dados foram observados no corpus da pesquisa conforme os procedimentos descritos adiante.

Salientamos que esses estudos foram objeto de um levantamento exaustivo; entretanto, não com base no aspecto quantitativo, mas sim, dando maior ênfase aos estudos qualitativos de fenômenos significativos dentro dos métodos da indução e da dedução.

Em uma primeira etapa, três trechos de textos foram selecionados, levando-se em conta as situações comunicativas, os diferentes aspectos discursivos, as diversas características próprias da oralidade neles apresentadas, além de outras marcas que constituem o estilo particular do autor, que adiante detalharemos. Esses fragmentos textuais, numerados de 1 a 3, foram reproduzidos e, em seguida, cada um deles foi analisado minuciosamente quanto às diferentes modalidades discursivas apresentadas.

Procedeu-se, em seguida, a um levantamento mais completo possível dos fenômenos lingüísticos, recursos e marcas de oralidade, descrevendo-os dentro de possíveis classificações, visando a observar esses fenômenos lingüístico-discursivos na medida em que produzem os efeitos de sentido socioestilisticamente falando.

Para esses estudos, os seguintes passos foram efetuados: a) Seleção, ordenação e classificação de:

− vocábulos, expressões e ditos populares, provérbios, termos gírios, modismos;

− construções que apresentam concordância e/ou regência nominal/verbal próprios da língua oral;

− neologismos, especialmente os de ordem semântica e de caráter estilístico;

− substantivações e outras formações de palavras que caracterizam o estilo do autor.

b) Seleção, ordenação e classificação de palavras, expressões e construções que denotam expressividade e efeitos de sentido da linguagem empregada, inclusive como caracterizadora do perfil social e psicológico do personagem Ponciano de Azeredo Furtado.

c) Especificamente para esse estudo, fez-se necessária a consulta a dicionários selecionados conforme o critério de data de publicação; explicando melhor, pareceu-nos apropriado efetuarmos consultas a dicionários publicados em época próxima à data de publicação do romance (1964), principalmente para verificarmos se os verbetes consultados constavam neles ou se eram (ou não) neologias. Nesse sentido, valemo-nos do Dicionário mor da língua portuguesa, (1967) e do Novo

Dicionário da Língua Portuguesa (1975), denominado, aqui, como Dicionário Aurélio.

Outros dicionários de publicação mais recente foram consultados para verificarmos se as palavras ou construções estão dicionarizadas na atualidade, ou, ainda, para termos a certeza de que as palavras foram (ou não foram) dicionarizadas. São eles: Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (1982),

MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa (1998) e o Dicionário Eletrônico Houaiss da língua portuguesa (2000).

Acrescentamos a esse rol, os dicionários específicos, de grande valia para levantarmos aspectos próprios do falar regionalista brasileiro e dos modismos lingüísticos: Dicionário do Brasil Central: subsídios à filologia; Dicionário de

gíria: o equipamento lingüístico falado do brasileiro; Dicionário de gíria gíria

policial – gíria humorística - gíria dos marginais (s/d); Dicionário da gíria

brasileira; Dicionário do folclore brasileiro; Dicionário de provérbios e outros,

elencados na Bibliografia, consultados sempre que se fez necessário.

E, para complementarmos as pesquisas, alguns sites da Internet foram consultados, os quais também estão arrolados na Bibliografia.

d) Ainda com base nas teorias expostas, efetuou-se um levantamento de alguns aspectos literários da obra pesquisada. Assim, observou-se e analisou-se o foco narrativo em primeira pessoa. O estudo dos personagens dá maior ênfase e atenção ao coronel Ponciano de Azeredo Furtado, eixo principal da tese. Tempo e espaço foram analisados quando apresentaram implicação direta com as hipóteses levantadas, demonstrando, dessa forma, sua importância para o trabalho.