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A definição de construção sustentável tem sofrido várias alterações com o decorrer do tempo, contudo importa transcrever o Relatório Brundtland: ”Por desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazerem as suas próprias necessidades”. Uma afirmação com este cariz pressupõe muito mais que uma definição de proteção ambiental. Implica grande preocupação com gerações futuras e ainda a tentativa de manutenção ou possível melhoria efetiva do meio ambiente geral no longo prazo.

De momento e com a visão atual, o que prevalece em primeiro plano será a perspectiva económica, seguida da componente social e por último será o ambiente. Será portanto esta assimetria de pensamento que coloca em risco a própria definição de desenvolvimento sustentável, porque estamos a ter boas intenções no papel mas a produzir precisamente em sentido contrário, colocando em risco as gerações futuras e a qualidade de vida que deverão atingir com este ritmo.

Figura 9 - Princípios base da construção sustentável (Mateus, 2009)

Durabilidade Segurança Estética

A indústria da construção apresenta ainda uma grande dependência da mão-de-obra não qualificada, consome matérias-primas em excesso e produz grandes quantidades de resíduos. Contudo, pode afirmar-se também que existem já tecnologias que se assumem capazes de superar a sustentabilidade das soluções convencionais (Mateus, 2009). Acrescenta também que a falta de informação de construtores e utilizadores leva ao julgamento imediato de que se trata de construção dispendiosa e cujos benefícios no ciclo de vida do edifício não se coadunam com o investimento inicial.

Esta situação pode já estar em vias de alteração em virtude da atenção das instâncias europeias, dado que se estão a implementar ações de sensibilização e informação sobre as vantagens da construção sustentável no longo prazo, bem como intervir ao nível de normas, códigos e regulamentação no setor da construção com vista à incorporação de medidas de sustentabilidade em todas as operações urbanísticas.

As principais razões para que não estejam implementadas prendem-se com a falta de conhecimento dos objetivos para a sustentabilidade, e a falta de critérios na identificação de soluções sustentáveis e equilibradas, quanto aos níveis ambiental, social e económico.

Nos países mais desenvolvidos, as preocupações ambientais e ecológicas revelaram que tecnologias utilizadas, conjuntamente com certos materiais, provocam grandes disparidades no meio ambiente, pois a quantidade de recursos naturais necessários produção das mesmas. Ora, sendo o betão armado um desses materiais, e por ser dos materiais de construção mais usados em Portugal e no mundo, a preocupação em torno da ecologia é cada vez mais acentuada. A isto, adiciona-se o facto de que os recursos envolvidos não têm a mesma capacidade de autorregeneração com que são consumidos, provocando assim um défice enorme em prejuízo do ambiente.

Acresce ainda que, segundo a ONU, a população atual superior a 7,2 bilhões de pessoas passará para 9,6 bilhões em 2050, envolvendo assim a crescente subida do nível de vida com base no crescimento do direito à qualidade de vida por parte de cada vez mais pessoas. O exercício simples seria de tentar colocar um cenário possível em que toda a população chinesa (1341 milhões em 2010) tivesse o mesmo nível de vida do cidadão europeu. Poderemos ser radicais e afirmar que o nível de recursos disponíveis no planeta decrescerá ao mesmo ritmo, então facilmente se conclui que é com alarme que deve ser encarada a questão.

A procura de energia a nível mundial devido à evolução dos países emergentes é seguramente umas razões para o desenvolvimento não sustentável. Esta subida do nível de vida da população nesses países incrementa no sector da construção uma pressão cada vez maior, quer ao nível da criação de infraestruturas quer ao nível de oferta de novos fogos de habitação, e que se estima já ser responsável por 40% do consumo de energia total produzida, logo é visto como potencial mercado a área da poupança energética com vista à inversão nas emissões de GEE (Torgal et al, 2011).

Exige-se por isso uma crescente sensibilização ambiental, assim como da introdução em regulamentação dos princípios base em regulamentos do sectores mais poluentes e de grande consumo de recursos naturais, tentando ao mesmo obter diferentes alternativas e ainda a manutenção da qualidade de vida para todos. Assim, o desenvolvimento sustentável apresentará três dimensões, a económica, a social e a ambiental. Não deverão ser analisadas separadamente ou em diferentes patamares, mas sim num cenário de interdependência natural que todas possuirão, agora e no futuro.

Figura 10 - Princípios da construção sustentável (Mateus, 2009)

No seu trabalho, Mateus abrange uma lista de prioridades enquadráveis nos princípios gerais elencados na imagem anterior, prioridades essas que interligam as referidas dimensões formando assim a base para a construção sustentável. As prioridades são:

- Maximizar a durabilidade dos edifícios - Utilizar materiais eco eficientes

- Planear a conservação e a manutenção dos edifícios - Utilizar materiais eco eficientes

- Apresentar baixa massa de construção - Minimizar a produção de resíduos - Ser económica

- Garantir as condições dignas de higiene e segurança nos trabalhos de construção.

Todas estas medidas são potenciadoras de sustentabilidade, com a sua abrangência individual no ciclo de vida dos edifícios. Numa visão global e teórica, o ciclo de vida dos edifícios possuirão todos o mesmo quadro, começando-se pelo projeto, a sua construção e posterior utilização, a sua manutenção ao longo da vida útil proposta, e por fim, com as devidas exceções, a última fase de demolição/deposição de resíduos e planos de reciclagem ou reutilização dos mesmos.

No âmbito da engenharia civil e do seu poder de intervenção, as prioridades enunciadas estão subjacentes a cada uma das fases do ciclo de vida. Desde cedo, o projetista estará consciente de que todas as suas escolhas deverão ser ponderadas para que todas as dimensões estejam bem presentes nas suas opções.

Não é porém correto afirmar-se que o maior impacto se situa nestas fases iniciais, pois quando comparadas, a construção dá-se em meses, enquanto a utilização dos edifícios dura décadas. Ainda, é na fase de utilização que se atribuem os maiores benefícios para os utilizadores, daí que um impacto muito significativo advém também da utilização dos edifícios, bem como dos próprios utilizadores e dos seus hábitos.

Figura 11 - Impactes LCA (Mateus, 2009 - fonte CICA, 2002)

Mateus (2009) indica que a construção sustentável é vista como a respostas da indústria do sector para que sejam atingidas as metas e objectivos do desenvolvimento sustentável. O CIB (International Council for Research and Innovation in Building and Construction) define-a como a base da utilização eficiente de recursos e em princípios ecológicos, definindo 7 princípios basilares para o feito:

- Reduzir o consumo de recursos - Reutilizar recursos

- Proteger a natureza

- Eliminar os produtos tóxicos - Analisar os custos de ciclo de vida - Assegurar a qualidade

Estes princípios aplicam-se aos recursos necessários para criar e manter o ambiente construído no seu ciclo de vida, como sendo, terreno, materiais, água, energia e ecossistemas (Kilbert, 2005). Mateus (2009) promove um modelo de implementação de medidas de promoção à construção sustentável, em que o caminho que os intervenientes percorrem até ao projeto de execução deverá cumprir uma série de medidas que se apontam no quadro seguinte.

Figura 12 – Medidas para implementação de projeto de sustentabilidade (Mateus, 2009)

Com base nestas propostas apresenta mesmo alguns dos caminhos possíveis para que se atinjam tais objectivos, por exemplo através de estudos avaliação do ciclo de vida e dos respectivos custos através de metodologias de apoio à CS.

Ora, tratando-se de obras públicas, serão os DO institucionais os primeiros a ter interesse (imposições ambientais) em dar o exemplo, na qualidade de gestores de recursos vários de manutenção de serviços públicos (escolas, hospitais, vias, equipamentos diversos, etc), também quererão servir de exemplo à passagem desta ideologia “verde” para os DO privados.

• Incorporação da sustentabilidade nos códigos e normas para uma regulamentação adequada

• Promoção de metodologias consensuais de apoio à concepção de construções

sustentaveis

• Promoção de CS nas obras públicas como exemplo de boas práticas ambientais • Formação de equipas de projeto

multidisciplicares

• Atribuição de prémios a projetos piloto • Planeamento do uso do solo

• Zonamento adequado do território

Na regulamentação e face à mentalidade existente, deverá haver uma alteração profunda quanto à construção sustentável e à sua relevância no futuro. Deverá por isso ser introduzida em legislação nacional e introduzir-se mecanismos punitivos eficazes. Julga-se no entanto sensato consolidar uma estratégia de prevenção e ação direta nas soluções de projeto, ao invés da punição, pelo menos numa fase inicial do processo de implementação.

As áreas como planeamento, energia, recursos hídricos, extração de minerais, resíduos, conforto, entre outros, devem incorporar-se progressivamente e sensibilizar-se toda a comunidade para o seu objectivo fulcral, salvaguardar a qualidade de vida das gerações futuras. Dai que se toma por urgente a submissão prévia de todas as operações urbanísticas à sua viabilidade ambiental, seja ao nível físico do local (planeamento, recursos hídricos, infraestruturas, etc), seja ao nível das soluções construtivas a estudar.

Desta forma e para a fundamentação adequada, apura-se o estabelecimento de critérios apertados para o cumprimento de metas estabelecidas no protocolo de Quioto, através do compromisso de redução de GEE que a indústria da construção é um dos principais responsáveis (cerca de 1/3 dos gases de efeito de estufa), e a produção de resíduos na atividade de construção e demolição (proporcionalmente reciclados). Incumbirá por isso ao governo central o impulso inicial para que alterações relativas ao escalonamento dos processos de construção sejam propostas.

Está também em curso a normalização desta metodologia de análise ambiental das operações urbanísticas (edifícios), através a ISO/TS 21929:2006, que introduz já os princípios gerais para a sustentabilidade em edifícios, a estrutura de avaliação dos impactos económicos, ambiental e social dos edifícios, estabelece indicadores de base, indicadores de sustentabilidade e ao processo de escolha destes, serve de suporte ao desenvolvimento de ferramentas de avaliação, e ainda define a conformidade desta especificação para a tornar vinculativa.

A introdução deste projeto designado de avaliação de sustentabilidade não pode ser entendida como imposição, numa primeira fase deverá existir uma flexibilização para implementação da medida, tornando-a prática ao longo do tempo, daí a proposta faseada e construtiva de Taborda. Repare-se que ao se impor uma medida deste tipo, terá enormes repercussões a

Talvez o próximo quadro europeu de apoios financeiros possa contribuir decisivamente com um forte impulso ao sector. Será ainda para a experiência dos parceiros europeus e globais que a nossa atenção deve ser apontada. O sucesso com que implementaram deve ser alvo de estudo, mais ainda os fatores que apontaram como condicionantes ao longo do processo. Caberá pois ao Governo estudar o impacto da introdução de novas metodologias à legislação vigente, adaptar todos os procedimentos face ao avanço tecnológico, cujas principais vantagens forçam a sua implementação, apesar das dificuldades que são reconhecidas.

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CAPITULO III