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O planeamento e a administração pública

O Tribunal de Contas (2009) afirma que a falta de planificação tem como consequência a imprecisão de prazos de execução, bem como a inadequada previsão dos custos. Em determinados casos não foi sequer apresentada estimativa de custo ou de prazo de execução. Isto é manifestamente lesivo ao cidadão português. Mesmo tecnicamente é de uma irresponsabilidade incompreensível, e provavelmente mais exemplos deverão proliferar por todo o país.

Segundo Couto (2006), a deficiente elaboração dos projetos levará inevitavelmente a atrasos pela forte suscetibilidade de incoerências e falta de rigor que apresentam. Por sua vez, Silva e Soares (2003) acrescentam que a qualidade de projeto é essencial para a redução dos custos de ciclo de vida do edifício. Com esta afirmação, deduz-se que existia à data já uma preocupação real entre fazer corresponder a qualidade de projeto e os custos de construção e manutenção dos edifícios. Para que isto se torne efetivo é uma das propostas do presente trabalho a introdução obrigatório da análise LCA de todas as soluções construtivas a propor para as operações urbanísticas, sob formal apresentação de projeto de sustentabilidade, como se proporá no capítulo seguinte.

Poderá explicar-se que o peso relativo da conceção do projeto é demasiado curto para que se possa investir mais nesta fase, pois não trará grandes benefícios para a construção e gestão da construção. O que se verifica muitas vezes é que nem existe um projeto de execução em obra ou sequer para orçamentação.

Segundo o anterior bastonário da Ordem dos Engenheiros, Eng.º Fernando Santo (2010), era investido um tempo mínimo na preparação de um projeto para concurso, sem qualquer preocupação na definição da obra a executar. Será então com naturalidade que dúvidas surgirão e por sua vez exigirão tempo. Essas dúvidas traduzem-se em pedidos de informação perfeitamente desnecessários, quando planeamento inicial adequado provavelmente diminuiria a necessidade dos mesmos. Perante esta temática, julga-se útil a introdução da nova metodologia BIM, em que vários autores nacionais já abordaram as suas vantagens. Também no capítulo seguinte se introduzirão medidas para uma maior dinâmica de comunicação entre todos os agentes, em todas as fases de projeto.

Será portanto incrementar o empenho dos DO, para que estes exijam maior qualidade dos projetos, maior pormenorização e mais adequada à complexidade dos mesmos, para que se privilegie o rigor nas soluções e opções tomadas. Se isto for cumprido, apoia-se melhor a descrição das especificações de projeto e dará origem a quantificações mais rigorosas. Esta recomendação foi feita em 2009 pelo Tribunal de Contas.

Além desta, foi também abordada a falta de previsão de custos com a manutenção e exploração das obras. A falta de conhecimentos sobre ciclo de vida de produtos e soluções origina esta lacuna. Procura-se inverter esta situação com a aquisição de conhecimento nesta área, por exemplo através de simulações de custos com consumos energéticos dos edifícios, mas que possui a variável de utilização que será sempre imprevisível. Mesmo assim foi um bom princípio, incutido pelo RCCTE. Encontrando-se este diploma com alguma maturidade, julga-se necessário a avaliação do próximo passo, daí a necessidade de introdução de LCA nos projetos, ainda que faseada numa fase inicial do processo.

Com os avanços conhecidos em matéria de tecnologia de hardware e software, com o know- how que os técnicos mais jovens obtêm nas faculdades nacionais e internacionais, perante inúmera atenção internacional dada à normalização para industrialização dos materiais de construção, casos de estudo que começam a ser conhecidos, será possível implementar uma nova corrente tecnológica no setor da construção?

Colocados os pressupostos principais nos atrasos de projetos e construção, deve-se ampliar o foco de atenção para os instrumentos legais como ponto de partida, para que se crie um ponto de inversão. Não havendo consenso na implementação de novas normas de projeto, terão de ser introduzidas por legislação, ou seja, por imposição, com as implicações que tal decisão acarreta para a comunidade técnica e profissional. Como sempre, a transcrição de normas europeias acabará por lançar o debate na comunidade científica, assim aconteceu com os eurocódigos e legislação de higiene e segurança, e acabará por acontecer a nível de requisitos de projeto para transcrição com normas ambientais, com todas as implicações que tal projeto tem nas restantes peças de instrução.

Com vista à aceleração e aumento do poder de decisão da administração, serão analisadas as vertentes legais atuais. A primeira e muito importante será a vertente do dono de obra público, através da análise de procedimentos do CCP, e a segunda será de introspeção sobre as

operações urbanísticas e respetivos procedimentos para a materialização e execução das operações urbanísticas. Ambas abrangem as operações urbanísticas realizadas em Portugal. Nos subcapítulos seguintes serão descritos os procedimentos correntes em ambas as dimensões de análise.

Procura dar-se enfâse ao importante poder que as entidades públicas já possuem para implementar medidas assertivas, principalmente no âmbito ambiental. As operações promovidas por organismos públicos deverão ser as principais dinamizadoras de práticas ambientais sustentáveis. Ora, se até aqui este papel era demonstrado por medidas pós construção, de gestão de espaços públicos ou edifícios com vista a poupanças significativas na fatura energética, ou seja, na terceira fase do ciclo de vida dos edifícios, são estas entidades que deverão caminhar largamente para que seja implementada a mesma vontade, ou talvez um pouco maior ainda nas fases anteriores.

Do outro lado encontram-se os promotores privados. Ora, se for seguido um caminho consistente por parte dos promotores públicos, poderá encarar-se com maior otimismo a implementação de metodologias de projeto mais sustentáveis.

Em ambos os casos referidos as vantagens terão impacto no imediato e no longo prazo. Sabe- se portanto que as apertadas metas da UE apontam para que toda a gestão urbanística seja redirecionada para novos objetivos ambientais, melhores índices energéticos, redução do consumo de energia proveniente de fontes não renováveis, melhoramentos de desempenho dos materiais e consequentemente da durabilidade dos mesmos. Foram ainda criados mecanismos para o Mercado de Carbono, cujo conceito internacional poderá ser adaptável à realidade nacional, sob forma de mercado intermunicipal de carbono.

O ciclo de intervenção não se esgota na componente ambiental. Seguindo a linha da certificação energética, será apontado o caminho administrativo para a criação de um mecanismo de certificação ambiental dos edifícios, quer de iniciativa pública ou privada. Benefícios vários são apontados para a inclusão deste mecanismo. Do lado público serão a otimização de recursos, poupanças significativas em todo o ciclo de vida do património público, mais ainda, se tentar introduzir-se este mercado intermunicipal de carbono, cujos índices de GEE e de carbono terão de ser quantificados e apurados com o maior rigor

Na componente particular será seguida a mesma sequência de abordagem, os meios legais existentes nos processos de licenciamento, e a discussão sobre os tópicos essenciais a implementar com vista à introdução da avaliação de sustentabilidade das operações urbanísticas. A TMU subjacente às operações urbanísticas também será alvo de estudo, e passível de análise neste campo está a grande diversidade de expressões apurada por Leitão, bem como a sua visão sobre a uniformização de uma só expressão para todo o país. Esta expressão vem refletir precisamente a preocupação na inexistência em parâmetros de cálculo da componente ambiental, para que sejam premiadas soluções sustentáveis.

Ultrapassada a fase de materialização de operações urbanísticas, e entrando na utilização das mesmas, existirá ainda a possibilidade de implementar parâmetros de sustentabilidade no mecanismo de avaliação imobiliária, por forma a dar maiores benefícios às opções mais favoráveis neste domínio. Assim, será analisada a expressão de cálculo vigente e ainda todos os parâmetros que a compõem, por forma a conseguir enquadrar um novo parâmetro de sustentabilidade, que incuta benefício visível aos promotores e proprietários com maior consciência neste âmbito.