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Em Portugal assiste-se a uma trilogia negativista do sector de construção composto pela retração, regressão e reconversão na orientação do sector. Retração massiva da atividade de construção e os mais diversos subsectores que lhe dão suporte, a regressão em procedimentos construtivos para que as obras existentes se situem e posicionem num carácter de preço ainda mais acessível e, por oposição às anteriores, a oportunidade de reorganização e readaptação de todo o tecido empresarial ligado à atividade.

Neste âmbito é comum o surgimento de legislação com o intuito de simplificar os processos administrativos ou readaptar a legislação vigente com vista à revisão processual de todas as operações urbanísticas face à evolução tecnológica. Esta procura evolutiva aplica-se quer sejam processos de caráter privado ou de iniciativa pública.

No passado verificou-se que os investimentos estruturais públicos tiveram um forte impacto na economia do país, tendo impacto direto e indireto em vários sectores da indústria da construção, para tentativa de dinamização empresarial e criação de emprego. Por detrás deste motor económico podem surgir dinamismos associados noutras áreas, na hotelaria, restauração, comércio, que de uma forma geral beneficiam as comunidades locais.

Muitas vezes a aplicabilidade da legislação e a sua abrangência não se coaduna com o ritmo real da atividade de construção, e que por muito que a legislação procure simplificar procedimentos e enquadrar todas as variantes num só diploma, a regulamentação ainda não consegue corresponder ao imperativo imediato de iniciar um qualquer investimento, de qualquer natureza, com a liberdade de ação que a lei procura dar a um qualquer promotor ou agente, ou que se pensa que se está a dar, dando a ilusão de que tudo é rápido e na realidade estará longe de cumprir a missão para que são redigidos.

Será de esperar que num futuro cada vez mais próximo o legislador (estado) atribua ainda mais a iniciativa e responsabilidade de investimento aos privados, dados os escassos recursos de investimento que atualmente possui, com o exemplo recente das unidades hospitalares privadas que nasceram nos últimos 3 anos, a fim de suprir necessidades do país a este nível. O mesmo sucedeu por exemplo com as autoestradas de que tanto se fala como ruinoso para os contribuintes.

O setor da construção envolve obrigatoriamente vários agentes, entre os quais os técnicos, que possuirão necessariamente responsabilidade acrescida no atual modelo.

A evolução que a legislação urbanística sofreu deixa antever, a breve trecho, que se procure um modelo base que sirva os interesses público e privado, contribuindo para a diminuição dos impactos negativos da existência de pesada carga legislativa. Deve ser caminhar-se para maior flexibilização quanto ao início de uma qualquer operação urbanística.

Esta legislação pode e deve ser flexibilizada sob vários mecanismos, um deles será através da cuidada atribuição de responsabilidade repartida entre agentes, ou ainda com fiscalização efetiva de toda a atividade de construção. As associações profissionais terão certamente um papel importante para esta transposição de responsabilidades.

É reconhecido o papel das associações profissionais para que se encontre um modelo base de supervisão das entidades e cujos atos a praticar sejam coniventes com a formação académica e técnica dos profissionais da atividade.

Assim, é chegado o momento de atuar em todo o processo de responsabilização dos agentes presentes no setor, o dono de obra, os promotores imobiliários, os técnicos, as entidades licenciadoras locais e regionais. Atuar será necessariamente refletir e repensar o futuro da atividade económica deste setor em Portugal.

A origem de qualquer investimento surge sempre com o propósito de lucro, sendo o lucro indexado ao risco que o promotor assume como seu. Este proveito muitas vezes limita-se a uma parcela irrisória do que poderia efetivamente ter sido. Certo será que a morosidade do processo de investimento tem influência direta na margem de risco ou ainda, no pior dos cenários, pode até anular o investimento.

Esta morosidade precisa ser compreendida para ser atacada, combatida, mitigada e minimizada, ou eliminada se possível. Exemplos de reflexão são do conhecimento de todos os profissionais, qualquer um terá casos para refletir e necessitam de ser abordados com imparcialidade.

O procedimento previsto no RJUE é meramente burocrático, e por si só potenciador de atraso, de desmotivação, de custos iniciais desnecessários, de revisões sucessivas de projeto, de alterações e de tempo, para não falar que uma boa percentagem dos projetos é abandonada durante a sujeição de apreciação, o que é ainda mais gravoso para a economia local em tempos de crise como a que atualmente se vive.

A crise que se instala a cada dia é motivo suficiente para que se reestruture todo o sistema, com ajuda primordial de todos os agentes nacionais, muitos deles com larga experiência internacional e conhecedores das melhores práticas nacionais e internacionais.

Os atrasos são objeto dos maiores constrangimentos e embaraços que são conhecidos em Portugal, a constante e sistemática leviandade com que se encaram os atrasos nas obras, e como consequência os litígios que daí advêm, originando quase sempre avultados encargos adicionais para todos os agentes. Pelo exposto, qualquer que seja a natureza ou complexidade de uma operação urbanística, são vários os focos de análise que poderão estar indexados ao fator tempo ou fator prazo.

Como definição, tempo ou perceção do tempo não é comum a todos os agentes na atividade de construção. Para o promotor serão os custos, para o técnico autor de projeto será a execução do que é pedido, com a melhor qualidade possível, no prazo previamente estabelecido e acordado com o promotor, salvaguardando os interesses de todos os intervenientes na operação, públicos e privados, o ambiente, as normas do território, as normas de projeto, a compatibilidade dos interesses do promotor com as normas legais de nível local, regional e nacional, o enquadramento legislativo de toda a operação, a interação de todos os agentes que poderão intervir no processo, entre outros.

Para todos eles, o prazo terá a importância que cada interveniente lhe atribui, e a legislação vigente e os agentes que concedem todas as autorizações necessárias à realização das operações de construção não estarão ainda preparados para considerar na mesma ordem de importância, o significado da palavra tempo. Por exemplo, o tempo em construção nova ou em reabilitação terá significados diferentes e podia assumir especial relevância dado o decréscimo acentuado nos últimos anos nos índices de novos fogos ou nova área edificada para qualquer fim.

No atual contexto, existe um elevado número de edifícios com necessidades de reabilitação, logo surge uma grande oportunidade para a indústria nesta vertente (Pires et al., C.M; Bragança L., 2011).

A palavra tempo aqui terá o significado que o dono lhe atribuir, e que na atualidade, face à variabilidade de circunstâncias económicas a que está submetido, a urgência que dá à operação a executar está sempre limitada pelos prazos legais atribuídos pelo RJUE às entidades licenciadoras, entidades essas que possuirão consulta obrigatória a outras entidades mas que se pretende célere, mas que nem sempre corresponde ao desejado.

Os técnicos aqui surgem como interlocutores devidamente preparados e tecnicamente habilitados a que tudo decorra com a maior brevidade possível, com vista à eliminação de dúvidas de projeto e que são origem de correção, pois a transparência e imparcialidade por vezes não se verifica e desde cedo interferem diretamente na rapidez de aprovação dos projetos, levando ao constante incumprimento dos prazos legais máximos de resposta.

Figura 1 - Incidência dos diferentes tipos de erros de projeto no total de erros (Brito, 2005)

Dada a relevância de uma das conclusões do trabalho efetuado por Brito (2005), deve dar-se atenção redobrada para os 90 % de casos que apontam a erros de projeto. Embora a conceção possa ter várias leituras no contexto do trabalho, a pormenorização deficiente representa mais de metade dos casos em que verificaram erros, o que é incompreensível com as tecnologias atualmente disponíveis.

suportam as exigências para operações urbanísticas promovidas por promotores particulares. Por exemplo, se for analisado apenas e só o caso de projetos de índole particular, o prazo de execução de projeto é inscrito em contrato estabelecido entre dono de obra e técnicos de projeto, sejam projetistas ou arquitetos, engenheiros técnicos ou civis, passível sempre de divergência mas que possui como ultimo recurso os tribunais.

É relativamente comum ou consensual que nos casos de quebras contratuais por uma ou ambas as partes, que daqui o prejuízo não deverá insurgir-se com grande visibilidade no erário público, a não ser nos casos em que exista execução de obra e manifesta violação de parâmetros urbanísticos e que promovam insegurança pública.

Os prazos legais vigentes visam limitar os prazos de respostas das entidades, o que foi um dos grandes passos evolutivos do RJUE, assim como a maior responsabilização dos técnicos subscritores dos vários projetos que sustentam a operação urbanística a realizar (Leitão, 2011). Segundo este autor, no caso de procedimentos de iniciativa pública, o Código de Contratos Públicos (CCP), introduzido através do decreto-lei 18/2008, de 29 de janeiro, veio produzir alterações significativas nos procedimentos existentes à data e que se encontravam vigentes desde a década de setenta.

Neste sentido, após introdução de nova legislação, de aplicação de novas metodologias de abordagem a projetos e obras de carácter privado e público, de fornecimentos de bens e serviços ao setor público, e conjugados com a grave crise económica. Seria de esperar uma maior capacidade na atração de investimentos por parte dos municípios portugueses, através de uma maior rapidez na obtenção de um qualquer licenciamento.

Para tal, o papel dos técnicos nunca foi tão importante, veja-se por exemplo em casos de pequenos investimentos como a implementação de pequenos negócios de comércio e serviços, com simples comunicação ao município para sua instalação mas com total responsabilização do técnico na sua implantação, ao nível técnico e legal.

Os prazos estabelecidos no RJUE dizem apenas respeito à manutenção de aprovação de determinadas decisões durante tempo máximo, prorrogável mas que terá um fim, devido a possíveis alterações de pressupostos urbanísticos que estão na origem da aprovação inicial.

Deu-se ainda importância muito relevante à questão das acessibilidades e ao cumprimento mínimo de normas de segurança em edifícios residenciais.

Na atualidade, torna-se comum o abandono de projetos aprovados por dificuldades económicas ou de financiamento, e que necessariamente deverão reunir novos pressupostos aquando da sua reabertura. Muitas vezes é origem de atraso o simples facto de, àquela data, o mesmo técnico não assumir novamente o processo. Isto causará novos prejuízos ao dono de obra por exemplo pelos direitos de autor dos projetos iniciais. Este é apenas um dos exemplos mais frequentes, pelo que o atraso se soma aos encargos não previstos pelo dono de obra.

Através da evolução da tecnologia ao nível do software em finais do séc. XX e introdução do desenho assistido por computador, deu-se uma revolução na produção de projeto por parte dos projetistas. Nos dias de hoje, o que se verifica como evolução natural de toda a indústria da construção está na capacidade de evolução constante de um projeto em execução. O controlo absoluto sobre todas as atividades em curso, no futuro, irá distinguir os bons profissionais dos melhores.