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A dramaturga na sala de ensaio e a elaboração do texto

4.2 O processo de criação de um novo espetáculo

4.2.4 A dramaturga na sala de ensaio e a elaboração do texto

Ficou combinado que, a princípio, a dramaturga acompanharia todos os ensaios. O período inicial de pesquisa e criação é bastante rico e o material precisa ser registrado e analisado para que as propostas evoluam. Tanto a diretora quanto a dramaturga sugeriam propostas a serem desenvolvidas pelos atores que, além de improvisações, tinham um período inicial de preparação corporal e vocal – que também ia sendo registrado. Foram criadas cenas a partir de músicas, fotos, depoimentos, fatos históricos, notícias, etc.

Em 16 de março de 2001 foi feita a seguinte proposta: Atores: Cássio, Alê, Emerson, Diógenes, Renata e Roger Tema: Morte de um amigo

Quando: virada da década 89/90.

Personagens a serem retomados: Emerson (o contestador, eterno descontente), Diógenes (o Profeta, eterno hippie). 109

Utilizando-se da estrutura do jogo teatral, os atores propuseram como cena:

O que: grupo de amigos que se encontra depois de 7 anos de formados. Um deles – talvez o mais esperado - se comunica pelo telefone dizendo que vai chegar, mas não chega. As transformações de cada um e o contato depois de tanto tempo.

Quem: o carente (Roger) dono do ap., que convoca a reunião e que teve um namoro com a personagem da Ale na juventude; um yuppie (Cássio) mais preocupado com o telefone e os

108 Entrevista concedida à autora em 21 de outubro de 2004. 109 Registro do Diário de Dramaturgia.

negócios do que com os amigos; a dona de casa (Ale) que se casou com um amigo do grupo que não quis vir, preferiu ficar em casa vendo futebol; um professor contestador (Emerson); um hippie.

Onde: ap. da personagem do Roger 110

A cena elaborada e avaliada em 23 de março gerou o que, mais tarde, viria a se tornar a espinha dorsal da peça: um grupo de amigos que se forma e decide marcar um encontro para anos depois, mas o destino (no caso da peça, a aids) subtrai uma importante figura desse encontro.

Nesse mesmo ensaio, diretora e dramaturga chegaram à conclusão de que era preciso dar continuidade às cenas, retomar algumas delas e aprofundar, pra que não ficassem soltas a cada dia e para que se sentisse a evolução e o aproveitamento das idéias. Decidiu-se também que a dramaturga desenvolveria um roteiro de ações para a reelaboração da cena apresentada naquele dia. O roteiro proposto, e registrado no diário, foi:

ROTEIRO DE AÇÕES – FORMATURA / MORTE DE UM AMIGO

Quando: 1980

Onde: bar/restaurante

Quem: formandos do 3o colegial de uma escola estadual

O que: quase fim de festa, últimos pares ainda dançam as musiquinhas tocadas pelo conjunto exausto. Todos cansados, meio zonzos da festa e da bebida, cantam, recapitulam “melhores momentos” do colégio. Algumas idas ao banheiro (sós ou acompanhados para fumar/fofocar), pares que dançam para conversarem em particular, etc. 111

Juntamente ao roteiro foi proposta uma relação de temas para diálogos e uma lista descritiva de personagens. A cena mostrou-se, como já foi dito, um elemento estruturador e unificador do espetáculo. Quanto às personagens sugeridas (nove), mantiveram-se todas como condutores da peça, sendo acrescentada apenas uma, Cássia, mais tarde. Nesta cena inicial ficaria já atestada a amizade do grupo, o que tornaria a perda de um dos elementos algo marcante. Registre-se, a título de exemplo, a descrição de duas personagens, que se manteriam até o final do processo – aqui identificadas com o nome de seu intérprete:

Roger – Apesar de simpático, animado, é enigmático, parece disfarçar um lado que não gostaria que ninguém conhecesse. O pai, alcoólatra, morreu. Quem sustenta a casa e os irmãos menores é a mãe, costureira. Sempre quis ter roupas e acessórios da moda e nunca pôde. Não sabe o que quer da vida, não vai prestar vestibular e nem tem emprego em vista. É o típico zoeiro/porra

110 Idem. 111 Idem.

louca que se tranca no banheiro pra chorar (lembrar da improvisação do Toninho baseada na foto). Namorou um tempo com Alê que, apesar de apaixonada, parece ter se assustado com algum comportamento/mania/postura dele e rompeu o namoro. Desconfia, ou até sabe, da paixão que Marcelo tem por ele – não incentiva mas também não se sente incomodado com o fato. Já experimentou droga pesada e, no futuro, vai se envolver tanto a ponto de morrer. 112

Marcelo – o mais tímido. Super inteligente, politizado, elegante. Homossexual enrustido, sente- se mais à vontade em companhia das amigas. Apaixonado por Roger nunca teve coragem de se declarar abertamente. Roger desconfia (ou até sabe) mas disfarça. Quando é tirado pra dançar por alguma garota, recusa, dando uma desculpa. Não joga truco, detesta futebol. Seu barato são as artes plásticas, e ele tem um talento para a pintura e o desenho reconhecido por todos, e vai prestar Publicidade e Propaganda na Metodista, está fazendo cursinho. Está comprando um carro no consórcio. É totalmente a favor da abertura pois detesta preconceito de qualquer espécie: todos têm o direito de pensar e agir como bem entender, desde que não prejudique os outros. 113

A descrição das personagens foi desenvolvida a partir das improvisações dos atores nos ensaios e das avaliações do grupo. Porém, esta não é a única maneira de o ator contribuir com a dramaturgia. No processo de Geração 80, os atores foram estimulados desde o princípio a criar textos referentes a si mesmos e às personagens. Descrições, narrações, cenas, cartas, diários relatando como foram sua infância e adolescência, seu relacionamento familiar, como se deu determinado fato, etc. Esses textos não seriam necessariamente utilizados no espetáculo, mas se constituiriam subtextos para a personagem e elementos para dramaturgia e direção encaminharem parte dos trabalhos.

Um dos atores que mais investiram nesse recurso de composição foi Marcelo Monthesi. Eduardo, sua personagem, surgiu no terceiro ensaio. Era um jovem apreensivo ante a abertura do exame de HIV. A partir daquela situação, foi sendo desenvolvida toda a trajetória de Edu. Em vários ensaios aquela cena primeira foi retomada; a personagem, por sua vez, foi colocada nas mais diversas situações, até se desenhar em sua relação com o todo.

Depois de alguns meses de pesquisa cênica e teórica, Marcelo entregou à dramaturga um dossiê de sua personagem, que agora tinha nome e sobrenome: Eduardo Almeida de Castro. O material constava de narrativas escritas pelo ator a respeito de cada fase vivida por Edu – tudo em primeira pessoa. Havia também notícias de jornais e revistas referentes à aids e às artes visuais; letras de música, principalmente de Cazuza; textos da internet, catálogos de exposições (Edu tornara-se artista plástico). Constituiu-se, assim, uma espécie de dramaturgia paralela: narrativas de infância, descoberta da homossexualidade, paixões, dúvidas quanto à carreira, relacionamento com cada um dos amigos, transas perigosas.

112 Roger viria a se tornar o personagem Teco. 113 Registros do Diário de Dramaturgia.

A rigor, esse material não foi utilizado diretamente na elaboração do texto verbal do espetáculo. O público não fica sabendo dos casos amorosos da personagem, nem de sua família, ou de sua passagem pela Europa. Porém, tendo alimentado de forma permanente as cenas sugeridas por Marcelo, o dossiê acabou interferindo na dramaturgia propriamente dita na medida em que embasou as improvisações.

Para se ter uma idéia da pesquisa do ator e de sua dramaturgia paralela, seguem logo abaixo alguns fragmentos de uma de suas narrativas. No relato inicial, o momento em que a personagem recebe a notícia da morte de Felipe, seu antigo parceiro. Na seqüência, a angústia ante a possibilidade de estar infectado com o HIV. O terceiro trecho se refere à entrega do resultado do exame e, finalmente, no trecho final, o que passava na cabeça da personagem no momento de abrir o envelope – na verdade, o subtexto da primeira cena criada pelo ator.

Estava no centro de São Paulo, matando as saudades e andando pela avenida Paulista, quando dei de cara com Antônio. Perguntei pelo pessoal e ele me disse que estavam todos bem, exceto Felipe, que falecera há três meses, vítima da aids. Ouvi tudo meio sem acreditar.

Felipe e eu vivemos juntos por três anos até que, em dado momento, a relação se desgastou, e não foi mais possível continuar, o que fez com que eu passasse um ano em Portugal.

Lamentei a perda de Felipe e Antonio, com um tom de voz preocupado e meio sem jeito, disse que seria bom que eu fizesse o teste, pois eu poderia estar infectado. Ao ouvir essas palavras foi como se uma descarga elétrica de 220 volts tivesse percorrido meu corpo em poucos segundos. Tentei disfarçar e disse a Antônio que já tinha feito o exame e estava tudo bem. Me despedi, e ainda em choque, saí perambulando pelas ruas sem direção certa, desejando sumir, desaparecer e esquecer aquele encontro com Antonio.

(...) Para espairecer um pouco, às vezes ligava a TV, para tentar pensar em outra coisa que não fosse doença, mas lá estavam as campanhas contra a aids nos intervalos comerciais: “Aids mata” ou “Eu tenho aids, não tenho cura”. Pareciam filmes de terror e eu não queria ser personagem daqueles filmes, não queria que as pessoas ao me olhar se assustassem, se afastassem, como se eu fosse um portador da morte ou um cadáver que atrapalha, porque não morre logo.

Desliguei a TV, e começaram a passar coisas por minha cabeça que eu ainda não havia parado para pensar: “e se fui eu que infectei o Felipe? E quantas pessoas mais eu posso ter infectado? Quantos eu posso, mesmo que involuntariamente, ter assassinado?” Me senti a pior das criaturas, pior ainda, porque eu nunca ficaria sabendo.

(...) Cheguei em frente ao laboratório, o coração disparou, a boca secou, comecei a suar frio e a tremer. Respirei fundo e entrei. No balcão, a atendente pediu o protocolo para retirada de sangue. Tirei a carteira do bolso e as minhas mãos tremiam. Tentei disfarçar a ansiedade até que encontrei e entreguei a ela, que em troca me entregou o envelope com o resultado do exame, minha sentença de morte.

(...) Cheguei em casa exausto, parecia que havia andado o dia inteiro. Sentei, esperei, tirei o envelope do bolso, minhas mãos começaram a tremer, meu coração a disparar, minha boca secou, comecei a suar, minha respiração se tornou ofegante. Coloquei o envelope na escrivaninha e respirei fundo tentando me acalmar. Os pensamentos começaram novamente a se

embaralhar em minha cabeça: as coisas que eu não fiz e que jamais iria fazer, as coisas que não disse, os beijos e abraços que não dei, as pessoas que não amei, as músicas que eu não ouvi, as viagens que não fiz, enfim, a vida que não viverei. Todos os sonhos destruídos, o pior é que eu poderia ficar meses sofrendo, contemplando tudo isso, porque não se morre de aids como se morre de enfarto. 114

Não sem razão, a solução dramatúrgica da cena da abertura do exame permaneceu praticamente a mesma daquele primeiro ensaio. As modificações ficaram por conta do trabalho interno do ator, sua movimentação no espaço cênico e uma melhor contextualização da cena no espetáculo. Sendo assim, duas cenas antes, Eduardo recebe um conselho da amiga Bia para que faça o exame, pois Teco, o amigo em comum, por quem Edu fora apaixonado desde os tempos de colégio, está com o vírus. Embora nunca tenham tido qualquer tipo de relacionamento íntimo, entra em pânico ao se lembrar do ex-namorado Felipe e ao perceber que a doença está cada vez mais próxima - notar que a lembrança de Felipe foi subtexto utilizado pelo ator na hora dessa cena. Edu faz o exame e, para que não reste dúvida sobre o conteúdo do papel retirado do envelope, compartilha com o público, do murmúrio ao grito, a palavra ansiada: “Negativo” – única palavra em toda a cena.

Um outro exemplo da colaboração do ator na dramaturgia é o de Neusa Dessordi. Desde os primeiros ensaios ela vinha compondo a mãe de uma personagem vítima da aids. À atriz foi pedido, então, que criasse uma narrativa a ser feita no reveillon da década de 90, relatando a tristeza daquela migrante do interior de São Paulo pela perda do filho. Da cena, apresentada em 4 de abril, podem ser destacados trechos em que a personagem fala do momento presente, lembra dos tempos felizes e a transformação do filho.

Tão sentindo o cheiro? Carne assada, pernil, lombo. Tem também muitas risada. Ta tudo mundo se confraternizando. Tão escutando eles tilintano os copo? É porque hoje é um dia especial. É Ano Novo.

Eu tô fazendo cuscuz (...) Faço tudo ano que é pra lembrá. Aí eu faço de conta que eles estão em casa de novo. Que o Nerso está chegando da fábrica, cansado e com fome. E o Diguim chegando cansado de brincar lá na castanheira.

É. A castanheira. Quando a gente foi morar na vila, acho que já faz uns 40 anos. Faz tempo isso. Era tudo mato. Na nossa rua só tinha duas casa e tinha nosso terreno que dava de fundo pro córrego, bambuzá e a castanheira. Foi Nerso que construiu nossa casa. (...) Diguim só andava de pé no chão, passava o dia em baixo da castanheira, brincando, às vezes caçando lua até anoitecer. (...) Mas o tempo foi passando e umas coisa diferente começou acontecer. Chegou uns menino estranho para morar lá na rua. Que agora, quando eu olhava pela janela e, eles tava tudo sentado em rodinha e eu não conseguia ver direito o que eles fazia. Eu aqui comigo achava que eles

estava fazendo arte. Foi quando comecei a ficar com pensão dele. Só podia tá com os filho do tal do Pedrão. (...) Diziam que os filho dele tudo usava tóchico. Meu Diguim não era largado, não. Desde pequeno a gente ensinou ele a sê um rapaz de bem. Quando o pai falava com ele, dava bronca, Diguim nem olhava na cara do pai, falava sim sr de cabeça baixa. Mas eu não sei o que aconteceu, que às vezes ele começou a levantar a cabeça. O pai dava bronca e ele resmungava. E não é que o Diguim começou a cada vez mais levantar a cabeça quando o pai falava? Vocês precisavam ver a minha aflição quando Diguim começou a olhar no olho do pai dele. Eu não podia crê no que estava acontecendo, porque ele não enfrentava só com um olho não. Começou a falar arto com o pai. (...)

Nerso quis obrigar Diguim a seguir os passos dele lá na fábrica. Disse que ia arrumar para ele uma vaga no Senai, que era para ele fazer o curso de torneiro mecânico ou então de fresador, para ele entra na fábrica já com profissão. (...) Eu lembro que o Nerso tinha uma gaveta no quarto onde ele guardava umas caixinhas pretas forrada com veludo azul. Um dia ele chegou em casa todo pimpão. Foi quando ele ganhou a primeira caixinha. Dentro dela tinha uma medalhinha onde estava escrito “parabéns pelos dez anos de dedicação”. (...) Junto com a terceira ele ganhou uma caneta banhada a ouro com uma dedicatória: “pelos seus 30 anos de dedicação”. Nem usou direito essa caneta.

Diguim não entrou no Senai e foi se afastando cada vez mais do pai e de mim também. Nos últimos tempos já num reconhecia mais.

Mas hoje não é um dia de tristeza, não. Depois de tanto tempo fechada aqui eu resolvi sair para comemorar o Ano Novo (...). Hoje eu quero compartilhar. 115

Nessa narrativa, Neusa contemplou não só a tristeza da personagem como também o modo de vida num bairro de periferia quarenta anos atrás, a formação do operário e o orgulho de ter trabalhado trinta anos na mesma empresa – universo do ABC paulista retratado no espetáculo.

A dramaturga avaliou a cena e fez uma série de recomendações à atriz no sentido de aprimorar a narrativa - foi pedido que desse um tempo de mistério antes de ir à porta para sentir o cheiro e ouvir os sons – é interessante a expectativa e a descoberta da data. Embora essa recomendação esteja ligada à interpretação, o “mistério” solicitado implica na criação de um subtexto que é, sem dúvida, de caráter dramatúrgico. Outra sugestão cênica foi a de narrar para a platéia, mas também para si mesma, como uma recordação. Aqui a dramaturga olha a solução cênica sob o prisma da dramaturgia: como as lembranças podem ser melhor comunicadas pela atriz/personagem? Como adequar o texto, que estrutura utilizar, que termos escolher para denotar o devaneio, o fluxo das lembranças?

Foi sugerido, pois, que a atriz reelaborasse a cena investigando “o fio da memória, imagens que levam umas às outras, metáforas, pois o narrador, às vezes, trabalha mais com o fluxo de imagens que com o raciocínio lógico”.116

Neusa continuou trabalhando na narrativa, mas a cena do reveillon acabou não sendo incluída no espetáculo. Ao longo do processo, Diguinho foi assimilado pela personagem Teco e a narrativa da mãe foi transferida para outra situação: o leito de morte do filho, vítima da aids. O texto base da atriz, fazendo parte da memória do processo, ajudou a dar suporte à sua interpretação, já que a narrativa foi modificada pela dramaturga, recuperando imagens que estavam sugeridas ao longo do espetáculo:

Em 1989, TECO em sua cama de doente. MÃE lhe faz companhia. Ao perceber que o filho tem sede, sai para buscar mais água.

MÃE (À PORTA) Às vezes eu peço pra Deus aliviar a dor dele. Mas como? Se isso vai tirar ele de mim? O meu menino magrelo brincando nos trilho do trem... correndo no

meio da feira, se escondendo debaixo das barracas pra me ouvir gritar: “Teco! Vamo pra casa, menino!” ...Teco, vamo pra casa, fio... Quando? Em que pedaço do caminho você soltou da minha mão e tomou a estrada torta, o desvio? Volta. Se for preciso, eu te arranco o braço com o meu puxão pra você num escapar de novo... Pega o teu violão, o Marcão trouxe ele de volta... Toca, de novo, a música de sempre, eu num reclamo mais!... Volta pro meu peito, fio, pra minha barriga. Vamo começá tudo de novo...

Cai o foco sobre TECO. Ele morreu.

Na encenação, a narrativa foi feita sob a forma de solilóquio, sem o olho-no-olho com o público. Quando fica-se sabendo da morte de Teco, oito amigos entram para se solidarizar com dona Eulália, no velório do amigo. A atriz sai, pois deve voltar, na cena seguinte, vestida como Cássia, para o reencontro.

Em 16 de abril de 2001, a dramaturga se encarregou de um chamado “esboço de uma possível geometria”, primeira tentativa de estruturar o material produzido até aquele momento e propor outras cenas e conexões, coreografias e números musicais, pois, naquele momento, o grupo ainda trabalhava com a hipótese de show. Ao todo foram ordenadas 17 cenas, apresentadas, primeiramente, à direção. A seguir alguns trechos da estrutura. Os comentários entre colchetes dão conta, hoje, do destino das cenas sugeridas: o espetáculo ou o descarte no decorrer do processo:

• Ordem não necessariamente cronológica 1. INÍCIO

116

Registros do Diário de Dramaturgia. Para esse tipo de interferência da dramaturgia, a respeito da figura do narrador, foi importante o estudo do texto O narrador : considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, de Walter Benjamin. In: BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Vol. 2: Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Uma banda meio jururu toca alguma balada romântica da d80 enquanto o público vem chegando. [Na versão final, o público entra ao som de músicas gravadas. Espaço cênico vazio. Os atores entram, ainda no escuro, e começam a cantar “Vira, virou” (Klayton e Kledir), na cena denominada Pré-formatura] 2. PRÓLOGO

(Panorama da década – com objetos) [Cena descartada] 3. Formatura por volta de 1980

(E cenas que se desdobram dessa e depois voltam para ela) [A cena do baile de formatura permaneceu, mas não se desdobrou em outros tempos, como na proposta, apenas em diferentes focos]

3.1– No banheiro

Maria Beatriz pergunta por que Tânia não transa de uma vez com Renivaldo. Tânia não quer, mas projeta a possibilidade, que realmente viria a acontecer Aqui podem haver duas cenas simultâneas, quando se mostra a maneira como M. Bia e Tânia se relacionam com a sexualidade. As tentativas de Teco, o negaceio, as cobranças. A ousadia de M. Bia, que se oferece ao namorado, etc [Na versão final, as meninas vão para o banheiro conversar, apenas. Embora se fale de sexo, a cena abarca somente narrativas e não desdobramentos. Foi incluída uma cena de Edu e Teco no outro banheiro.]

3.2– O grupo não marca uma data, mas diz que precisam se ver, se encontrar, os amigos prometem nunca se separar. [Ao final do baile, marcam, sim, a data do reencontro: o dia em que a peça estiver sendo encenada]

4. Geraldão - e sua mãe, provavelmente [personagens de história em quadrinhos nacional] [A cena nem chegou a ser improvisada pelos atores para ela designados]

5. O lixo da TV