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ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS estratégias de Sherlock Holmes:

D) O DESEMPREGO ATACA

3.2.2. O equilíbrio económico global

3.2.2.5. A Economia com moeda

O passo seguinte é o de introduzir a moeda, cuja teoria analisámos atrás. Podemos resumir a questão no gráfico que se segue que define o equilíbrio no mercado monetário.

Como vimos no estudo da teoria monetária, se houver alterações na estratégia do Banco Central ou na actuação dos bancos de forma a modificar o montante de moeda em circulação (moedas, notas, depósitos, etc.), altera-se a oferta de moeda. Se variar o produto (Y), os preços (P) ou a taxa de juro nominal (i=r+

π

)43, varia

a procura de moeda.

Vamos agora tratar de um dos problemas mais complexos e difíceis da Economia: a ligação entre o mundo monetário e o resto da Economia. É um tema muito profundo, no qual há ainda muito poucas certezas.

A restrição orçamental do agente fica:

(1+r) x b0 + m0 + pR1 = p.c1 + b1 + m1

ou onde agora a riqueza que ele tem é o que produziu este período (p x R1) mais o que guardou do período anterior [(1+r) xb0+m0].

Agora, ao agregar fica:

(1+r) x B0/p + M0/p + Y1 = C1 + B1/p + M1/p

onde B0/p, M0/p e Y1 são a oferta respectivamente de títulos,

moeda e bens, enquanto a procura vem B1/p + M1/p + C1, em

cada um dos mercados. As

condições de consistência agregativa são agora três:

— O total de títulos disponíveis é zero (para cada pessoa que empresta há uma que pede emprestado): B=0.

— No mercado dos bens, como antes, Y1 = C1. Não se podem

guardar bens para o ano seguinte e só se pode comer o que existe.

— E agora, como a moeda não cai do céu, temos de supor que M0=M1. Claro que cada pessoa pode aumentar o seu stock de

moeda de um período para o seguinte, mas o total de moeda mantém-se constante44.

Portanto, a lei de Walras fica:

(C1d – Y1s) + (B1d/p – (1+r)B0s/p) + (M1d/p – M0s/p) = 0

Nós sabemos que cada um dos parênteses tem de ser zero, pois assim o exigem as condições de consistência agregativa, mas o- ________________________________

43 Nesta análise, e para simplificar, vamos admitir que a inflação é nula, pelo que i = r.

44 Claro que o Estado pode aumentar o stock de moeda. Não consideramos esse caso aqui, mas

mesmo então isso implica, como vimos, diminuição no stock de títulos, que compensa e mantém a lei de Walras.

P

Ms

Md=PxY/V(i)

lhando para esta equação vemos que basta que dois desses parênteses sejam nulos, para que o terceiro seja também nulo. Assim, introduzindo a moeda no nosso modelo, temos incluídos os dois primeiros aspectos essenciais da economia: o funcionamento

do mercado dos bens (lado real) e o funcionamento do mercado monetário (lado monetário).

3.2.2.5.1. Choque na produção

Relembrando os casos que estudámos atrás (choque do

petróleo e mau ano agrícola), cada perturbação pode ser

decomposta em efeitos substituição e efeito rendimento em cada período. No caso do choque temporário, verifica-se ainda efeito riqueza e efeitos substituição intertemporal.

Pela descida do produto (e, no caso do choque temporário, da subida da taxa de juro) isso tem o efeito de descer a

procura de moeda. No gráfico vê-se que isso dá o resultado

final de uma subida de preços.

Essa é a história dos choques de petróleo, ligados à inflação.

3.2.2.5.2. Choque na oferta de moeda

Se o Banco Central aumentasse a moeda, o efeito, como se pode ver no gráfico, seria um aumento proporcional dos preços. M = PxY/V(i).

Um aumento da moeda vai fazer com que as pessoas tenham mais dinheiro do que queriam. Como não querem guardar esse dinheiro tentam gastá-lo. Mas como não há variação na produção, o único efeito é a subida do preço.

3.2.2.5.3. Choque na procura de moeda

Se subir a procura de moeda, ou seja, se descer a velocidade, vemos que isso vai fazer descer os preços, pelo gráfico do costume:

M = PxY/V(i)

3.2.2.6. A Economia com Estado

Até agora considerámos que a procura total era feita pelos consumidores. Vamos agora considerar que há Estado. O Estado não é igual às outras entidades (supor isso seria cair na falácia da

composição). Então como é a restrição orçamental do Estado ?

Se não trabalha, obtém o dinheiro para o seu consumo (G, gastos públicos) de três formas diferentes:

— pode ter uma dívida;

— pode cobrar impostos;

P

M Ms

M2d M1d

— pode emitir moeda.

Assim, a restrição do Estado pode ser escrita do seguinte modo: G = T + dB/p + dBM/p

onde G representa o consumo do Estado, T o nível de impostos, B a dívida pública (logo dB/p é a variação real do nível da dívida) e BM, a base monetária (dBM/P representa a variação real do montante de moeda emitida pelo Banco Central).

Ao aumentar os gastos (política expansionista) é preciso saber

como eles foram pagos. Assim, não há almoços grátis, nem para o Estado. Uma despesa tem de ser paga de qualquer forma. Este facto, que foi já discutido com detalhe levanta algumas questões importantes. Como vimos nessa altura, as três formas de financiamento do Estado são sempre formas de retirar meios do sector privado (empresas e famílias), ou seja, são sempre formas de tributação.

O total de recursos que a sociedade dispõe antes e depois dos impostos é igual. Mesmo que o dinheiro seja desperdiçado ou gasto em corrupção, ele continua a circular na economia e não chega a sair da sociedade.

No entanto, o controlo desse dinheiro é retirado às pessoas e às empresas, para ser entregue ao Estado. É a reacção das empresas e das pessoas que gera a flutuação económica que queremos estudar.

Mas não se deverá entrar em conta com a utilidade que as pessoas tiram dos gastos do Estado na nossa análise? A resposta é, simplesmente, não. O que nos interessa aqui, como dissemos, é estudar o ciclo económico, ou seja, a reacção da economia aos choques que vai sofrendo. Quando o Estado tira dinheiro à sociedade, ela vai reagir, pois agora tem menos dinheiro do que antes. É essa reacção que nos interessa estudar.

O Estado pode usar o dinheiro em coisas muito úteis (escolas, estradas, hospitais, etc.) ou em coisas inúteis (luxos, excesso de armas, etc.). É claro que o bem-estar social será muito diferente em ambos os casos. Assim, para a evolução da actividade económica, o que interessa é que a sociedade tem menos dinheiro. Se as despesas do Estado forem gastas em subsídios ou outras transferências para a sociedade, o dinheiro passa de umas mãos na economia (do contribuinte), para outras mãos (a de quem recebe o subsídio), mas a sociedade como um todo fica com o mesmo montante de dinheiro para gastar. É claro que haverá efeitos sobre a economia, mas meramente distributivos, o que não é visível a este nível global a que estamos a fazer a análise.

Isso quer dizer que as despesas do Estado em bens e serviços é que têm os efeitos que vamos estudar. No consumo de bens e serviços (que deve incluir o investimento público), o Estado desvia produto para um uso próprio. Só essas despesas é que nos interessam nesta análise, porque as outras despesas limitam-se a tirar dinheiro a uns cidadãos e a entregá-lo a ourtros.

Vamos, portanto, analisar o efeito sobre o equilíbrio económico de uma subida nos gastos públicos, financiada por várias formas. Apesar de elas serem sempre impostos, têm impactes distintos.

3.2.2.6.1. Choque nos gastos com financiamento

com impostos

Os gastos públicos, mesmo que sejam para bem dos consumidores, não são controláveis pelos consumidores; por isso, na prática, o efeito que conta é apenas o dos impostos. E os impostos são como que uma subtracção ao produto (descida paralela da função de produção). O que é produzido é o mesmo que antes, mas agora uma parte é retirada, e vai para o Estado (o facto de tirar dinheiro a uns para com isso comprar a outros é o mesmo que tirar directamente os bens à economia). Vamos ver: