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Choque nos gastos com financiamento com moeda

ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS estratégias de Sherlock Holmes:

B) Consideremos um aumento permanente da despesa,

3.2.2.6.3. Choque nos gastos com financiamento com moeda

No que toca às escolhas dos consumidores é igual aos casos anteriores. Mas como é que se processa essa subtracção? É que o aumento de moeda não desejado vai criar inflação, e a inflação é um imposto pois significa que o dinheiro que as pessoas têm no bolso fica menos valioso. As pessoas ficam sem o dinheiro, embora pareça que estão na mesma.

Inflação é um imposto. Logo é tudo igual, menos no

mercado monetário: aí, além de aumentar o produto (e de subir a taxa de juro no caso de aumento temporário), sobe a oferta de moeda, o que sobe os preços.

Por que razão é que, no exemplo que antes vimos de um aumentop simples do stock de moeda, não havia este efeito de imposto, que reduz o consumo? Nesse exemplo tratava- se de um caso em que o dinheiro era dado às pessoas sem lhes pedir nada em troca (este caso é conhecido como a «experiência do helicóptero», pois equivale a despejar dinheiro sobre as pessoas de forma gratuita). Nesse caso, os preços sobem, e o dinheiro que veio a mais foi compensado pela subida dos preços, pelo que as pessoas ficam na mesma. Agora, o dinheiro é dado às pessoas para comprar bens. As pessoas ficam sem os bens e, como os preços sobem, o dinheiro que foi recebido em troca perde o valor. Trata-se de um modelo muito simples, onde apenas é possível analisar um pequeno número de efeitos. Muitos outros aspectos poderiam ser considerados, como extensões, nesta estrutura base46, mas como «introdução» o

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46 Talvez o aspecto mais importante que ficou esquecido desta análise tenha sido o fenómeno do

investimento. Como atrás foi referido, o investimento relaciona-se com a possibilidade de «guardar» bens de um período para o seguinte, o que foi vedado, por hipótese, na nossa análise. A principal razão prende-se com a grande complexidade da «teoria do capital», que tem preocupado muitos autores ao longo da análise económica. Estando muito ligado ao fenómeno do desenvolvimento, o investimento voltará a ser referido quando esse fenómeno for estudado adiante.

modelo serviu perfeitamente os seus objectivos.

Podemos resumir as principais ideias que obtivemos neste longo capítulo, quer quanto ao funcionamento da economia global, quer acerca do fenómeno dos ciclos económicos:

i) equilíbrio geral

Relativamente ao equilíbrio geral, vimos que ele, numa economia perfeitamente competitiva, é obtido através da consideração simultânea de todas as condições marginalistas dos vários problemas individuais. Esta simultaneidade é muito importante, visto que mostra que nenhuma decisão individual está em equilíbrio enquanto não estiverem todas em equilíbrio. A fórmula de que resultam os preços relativos entre dois bens é a seguinte:

Umi

= pi = Pm

j

Umj pj Pmi

Taxa marginal de substituição social = Preços relativos = Taxa marginal de transformação social

Esta forma de olhar para o problema do equilíbrio geral só é possível pela utilização do «teorema da mão invisível» que vimos atrás e que afirma que a solução óptima social no sentido de Pareto é equivalente ao equilíbrio de uma economia competitiva. Consequentemente, este modelo walrasiano de

equilíbrio geral só existe numa economia em concorrência

perfeita.

Além disso, verificámos a existência de uma condição totalizante no sistema económico, a lei de Walras, que afirma que a totalidade das procuras é igual, sempre, à totalidade das ofertas. Isso implica que, se todos os mercados menos um estiverem equilibrados, então o último também tem de estar em equilíbrio. Este modelo, apesar de muito simples, inclui já todos os elementos essenciais, nomeadamente, em resposta a um choque, verificam-se:

— efeito substituição intratemporal

— efeito rendimento intratemporal

— efeito riqueza

— efeito substituição intertemporal

— efeito juro e efeito rendimento na procura de moeda.

É através destes efeitos que é possível estudar a reacção da economia a choques, que geram a evolução cíclica da economia.

ii) ciclos económicos

O fenómeno dos ciclos é causado pela contínua perturbação a que o sistema está sujeito. Os resultados que o nosso modelo gerou para essas reacções são semelhantes ao comportamento de recessões e expansões a que assistimos na economia.

Foram considerados três tipos principais de choques.

choques sobre o aparelho produtivo – este tipo de choque

é aquele que gera um tipo de evolução económico mais parecido com as flutuações cíclicas, de expansão e recessão, que estamos habituados a ver na economia. O efeito no salário é duvidoso e os movimentos na taxa de juro só se verificam em choques temporários, e são contrários aos do produto (chamados, por isso, «efeitos contracíclicos», subindo

a taxa de juro se o produto desce e vice-versa). O impacto no nível geral de preços é também contracíclico.

choques sobre a quantidade de moeda – o nosso modelo

deduziu que alterações na quantidade de moeda apenas têm impactos proporcionais no nível de preços, não afectando as variáveis reais. Assim, no nosso modelo, a moeda é considerada «neutra».

choques nas despesas públicas – a variação dos gastos do

Estado cria um efeito de variação semelhante sobre o produto, mas inverso sobre o consumo e sobre os salários reais. O efeito na taxa de juro só se verifica se o choque for temporário, e é no mesmo sentido da variação dos gastos, e existe efeito duvidoso sobre os preços, excepto no caso de financiamento monetário, onde os preços aumentam com a moeda.

Este modelo, como foi dito, é muito elementar, apenas captando aspectos muito simples. A grande omissão a notar, além das relações externas, é, como foi dito, a do investimento, que é uma componente essencial da actividade económica, mas que tornaria muito mais complexas as relações.