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ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS estratégias de Sherlock Holmes:

2.2.2.4. Concorrência monopolística

Um último caso que vamos considerar é conhecido pelo nome de

concorrência monopolística. No seu produto particular, cada

empresa é um monopólio, mas como os outros produtos satisfazem necessidades quase iguais, existe uma intensa concorrência entre eles.

Mercados como o dos vinhos, das bombas de gasolina (onde a diferença está não no produto, mas na localização), remédios e apartamentos são, entre muitos outros, alguns exemplos desta situação. Claro que cada tipo de vinho ou de pasta dentífrica tem diferenças face aos seus congéneres, mas se o seu preço for muito distante do praticado pelos outros, os consumidores iriam mudar de escolha.

Como no bem que produz a empresa é um monopólio, ela vai comportar-se como tal. Na situação de lucro nulo, pára a entrada de novas empresas e o mercado está em equilíbrio de longo prazo. Na verdade, a situação objectiva é igual à de um monopolista, sendo a única empresa a produzir o seu tipo de produto. O que é radicalmente diferente é o facto de existirem outras empresas que, produzindo produtos diferentes, exercem, no entanto, pressão sobre o mercado deste bem.

Assim, só se está em equilíbrio de longo prazo numa situação de lucro nulo. O único ponto, numa estrutura de decisão monopolista, que dá lucro nulo é aquele em que a curva do custo médio é tangente à curva da procura. Apenas nessa situação o custo médio iguala o preço monopolista, esgotando o lucro anormal que é habitual na situação de monopólio.

Este modelo notável, que incorpora efeitos do monopólio e da concorrência perfeita de uma forma engenhosa e elegante, foi apresentado em 1933 por um economista americano, Edward Chamberlin.

EDWARD CHAMBERLIN (1899-1967)

Este é um caso raro de total dedicação de uma vida científica à defesa de uma ideia. Hoje, a popularidade do engenhoso modelo de Chamberlin indicia que o seu esforço foi coroado de êxito.

Segundo alguns, um dos principais defeitos da economia de mercado é a tendência que ela mostra para criar marcas e

variantes ligeiramente diferentes que, no fundo, representam a mesma coisa, mas que permitem criar artificialmente poder de monopólio. Esta tendência gera, segundo esses autores, uma grave ineficiência, ao criar desperdício na concepção, divulgação e distribuição de coisas diferentes que, no fundo, são as mesmas. Para um leigo, os vinhos, as pastas dentífricas ou as comidas para cães são todas iguais. É fácil, por exemplo, para um não fumador, considerar que é ineficiente e desnecessária a existência de uma enorme quantidade de marcas diferentes de tabaco; mas o fumador sabe bem distinguir as diferenças e gosta de poder escolher. O que verdadeiramente interessa não é a distinção física ou química do produto, mas económica: ou seja, a diferença de utilidade que o consumidor tira das variantes. E não há dúvida de que a diferença existe e é bem real (ou seja, há substituibilidade imperfeita entre os vários bens) porque se fosse igual, a situação seria de concorrência perfeita.

Para terminar este capítulo sobre as empresas e o mercado, tornamos a uma questão que foi levantada atrás: será que as

empresas maximizam sempre os lucros? A resposta pode ser

complexa, mas alguns elementos são claros.

Em primeiro lugar, há que notar que as empresas têm, necessariamente, de ter a rentabilidade em conta, e ela ocupa um lugar importante nos seus objectivos. Mas esse imperativo não obriga a que apenas a rentabilidade estrita seja tomada em conta. Muitos outros aspectos influenciam o comportamento da empresa que, afinal, é uma complexa unidade de relações humanas, sociais, culturais e sistémicas, muito mais vasta do que qualquer modelo que dela façamos.

Alguns elementos dessa complexidade, que não temos aqui qualquer intenção de esboçar, revestem-se de particular interesse para a nossa análise, e serão aqui referidos brevemente.

Em primeiro lugar, vale a pena falar no conceito de racionalidade

limitada.

Um exemplo deste comportamento é o que ficou conhecido pelo nome de mark-up. Este método de fixação de preço consiste em calcular o custo médio do produto, somar-lhe uma certa taxa de lucro e assim vender o bem:

p = CM x (1+m).

É claro que tal método tem pouco a ver com qualquer dos modelos que estudámos, que implicavam regras muito mais complexas de cálculo de preço (colocando-o igual ao custo marginal, por exemplo). No entanto, é muito caro estar sempre a maximizar (custo de informação, tempo, etc.) e, por isso, regras simples são mais razoáveis.

Será que estas constatações desqualificam os resultados apresentados atrás e, até, toda a teoria económica, ao desvalorizarem o conceito de racionalidade? A resposta parece ser negativa, e por várias razões.

É claro que, nos modelos de comportamento de empresas que estudámos, e para simplificar, foi sempre suposto que cada agente conhecia exactamente a de transacção ou de escolha entre as várias alternativas. Por essa razão, era fácil determinar e depois escolher o melhor de entre todos os pontos.

As curvas de custo e da procura não estão disponíveis exactamente para o decisor que apenas tem sobre elas uma impressão algo vaga e nebulosa. É portanto perfeitamente racional que, nestas condições, um agente se contente com uma decisão que, não sendo a óptima, é suficientemente próxima para não justificar mais esforço no sentido de identificar o melhor de entre os melhores.

O que se perde por se estar fora do óptimo ganha-se em rapidez e simplicidade de escolha. O que interessa é garantir se essa regra está orientada para os objectivos da empresa, e vários indícios mostram ser esse o caso no comportamento das empresas concretas.

Não se trata da aplicação exacta dos modelos que descrevemos, mas é claramente um comportamento que vai no sentido de obter o maior lucro e, por isso, tende para o resultado apresentado. Para que as conclusões que estudámos sejam válidas não é preciso que, no seu dia-a-dia, as empresas se situem exactamente no ponto (preço, quantidade) que definimos como óptimo. Esse não é fácil de obter devido às grandes incertezas, variações e desconhecimentos que caracterizam as situações concretas. O que sabemos, porém, é que, se uma empresa se afastar muito do ponto que lhe recomendámos, ela sentirá imediatamente os seus maus resultados (ou os concorrentes a obrigarão a senti-los) e terá que se ajustar. Uma coisa é seguir o modelo à risca, outra é ser obrigado a não o ignorar. Não é um problema de forma, mas de conteúdo.

Uma outra causa de afastamento entre os nossos resultados e o comportamento real das empresas vem da constatação que estas têm outros objectivos para além do lucro. Este facto não é surpreendente, como vimos, e não se opõe ao nosso modelo desde que o lucro, mesmo não sendo o único, se mantenha como um dos principais objectivos da empresa. Entre os objectivos empresariais alternativos que têm sido observados, vale a pena referir um fenómeno particular, muito referido, e que influencia a vida de boa parte das empresas actuais.

Verifica-se que, mesmo que os accionistas queiram a maximização dos lucros das empresas, que se reflectem nos dividendos que lhes são entregues, a administração das empresas tem outros objectivos. A utilidade desta está ligada às condições de trabalho (estabilidade do emprego, qualidade das instalações, pretendendo um gabinete luxuoso e um carro caro, etc.).

É claro que os accionistas podem sempre despedir a administração, mas é fácil, sobretudo quando aqueles são muitos, perpetuar uma gestão ineficiente, com objectivos estranhos à vida económica da empresa. Se o sistema não promove a concorrência e conserva situações adquiridas não é de admirar que apareça a ineficiência.

Este ponto do nosso estudo é particularmente importante.

Acabámos neste momento o estudo da procura e oferta,

descrevendo o funcionamento global de um mercado. Podemos resumir o que vimos em duas ideias simples:

a primeira é o truque marginalista: em vez de fazer uma pergunta grande, fazer uma pergunta simples e repeti-la várias

vezes. O truque é olhar para a margem e perguntar: «Será que vale a pena mudar?»

— a segunda é a resposta que sempre encontrámos: o ponto óptimo é aquele em que benefício marginal = custo marginal. Na decisão do consumidor, do produtor, dos mercados, a fórmula encontrada foi sempre deste tipo.

Está realizado o centro essencial da tarefa que nos propusemos. Os resultados que já possuímos nesta altura serão a base de sustentação para a quase totalidade dos temas que se sehuem.