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ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS estratégias de Sherlock Holmes:

7) Dificilmente falsificável.

2.3.3. Procura de moeda e mercado financeiro Da nossa discussão anterior das características da moeda, podemos

2.3.3.1. Razões da procura

Como intermediário geral das trocas, a moeda é melhor do que os outros activos, porque é mais líquida, visto que o costume e a lei obrigam a que ela seja aceite por todos. Claro que, quanto mais trocas se fazem, mais se quer moeda e o número de trocas está ligado à actividade produtiva.

A procura de moeda está directamente relacionada com o nível de

actividade económica, por exemplo medido pelo produto ou

rendimento (Y).

A forma mais antiga, e mais simples de referir esta relação é através da chamada equação das trocas ou equação de Fisher. Esta equação é uma relação muito antiga, perdendo-se na história da economia. Irving Fisher estudou-a mais tarde, no seu livro, de 1911, The Purchasing Power of Money, e a equação tomou o seu nome.

IRVING FISHER (1867-1947)

Fisher foi um dos mais brilhantes economistas de todos os tempos. Os seus trabalhos, realizados sobretudo na Universidade de Yale, são vastos, profundos e, sobretudo, clarificadores. O tratamento que fez dos números índices resolveu de uma vez por todas as questões que se levantavam ao estudo de agregados. Na economia monetária, a sua apresentação da célebre equação

das trocas foi de tal modo definitiva que fez com que essa velha relação

passasse a ser conhecida pelo seu nome. Embora o tumulto da revolução keynesiana tenha abafado o brilho dos trabalhos de Fisher nos últimos anos, a elegância e clareza dos seus resultados continuam hoje a ser fonte de orientação.

A ideia da equação é muito simples. Como cada troca tem sempre a moeda como contrapartida, o valor da moeda tem de ser igual ao valor das trocas.

onde M é o montante da moeda em circulação e (PxT) o valor das transacções realizadas num certo período de tempo (um ano, por exemplo). Esse valor pode ser dividido em T, o número de transacções realizadas, e P, o nível geral de preços. Mas, como cada moeda faz mais que uma troca, é possível o conceito de «velocidade de circulação de moeda», o número de transacções que cada moeda faz por ano. Assim a equação fica:

MxV = PxT

e se medirmos o número de transacções pelo produto (Y), alterando correspondentemente V, temos a forma corrente da equação de Fisher:

MxV = PxY

Na verdade, ela indica-nos uma forma de relacionar os preços, a actividade produtiva e o funcionamento do sistema monetário e financeiro (corporizado em V), com esse ente estranho que é a moeda29.

Enquanto intermediário geral das trocas, a moeda manifesta o seu paradoxo de fundo ao aparecer como um bem sem utilidade. Esta é uma contradição nos termos, pois atrás vimos que a definição de «bem económico» se baseava na satisfação de necessidades humanas e, portanto, na utilidade. Não há, pois, bens que não tenham utilidade, pois é a utilidade que define os bens. Mas a moeda é uma entidade que serve para trocar pelos outros bens, apesar de não ter utilidade.

Mas não fica por aqui a natureza paradoxal da moeda. É que ela não é apenas um bem sem utilidade. Ela pode também ser vista de outro modo, para desempenhar uma tarefa completamente diferente, que lhe traz uma nova dimensão. Essa tarefa é a de guardar valor para o futuro, servir como «reserva de valor». Como reserva de valor, a moeda funciona como um activo, um instrumento de acumulação de riqueza. Mas é um activo especial, pois não traz nenhum rendimento. A moeda é a única que mantém sempre o seu valor. Para além de bem sem utilidade, a moeda pode ser vista como activo sem rentabilidade.

Como reserva de valor, a moeda concorre com muitos outros

activos, que podem ser alternativos para os agentes guardarem

valor para o futuro. Acções, obrigações, ouro, terras, jóias, obras de arte, etc., são activos que podem ser comprados e guardados, com o único objectivo de serem um meio de acumular poupanças para, no futuro, serem trocadas por aquilo que se quer consumir. Assim, a moeda é um, entre muitos, meio de reserva de valor. Quais as diferenças que a moeda traz a este serviço? São, essencialmente duas:

i) A primeira grande diferença é a moeda valer sempre o que vale por lei, enquanto os outros activos sobem e descem de valor. Ou seja, através do tempo, e ao contrário dos outros activos, a moeda não tem risco.

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29 Uma das mais conhecidas aplicações desta equação junta à relação as hipóteses de que a V é um

valor estável e Y é determinado pelo potencial produtivo. Se estas duas hipóteses se verificarem, a moeda tem essencialmente efeitos sobre os preços. Esta tese, conhecida como a teoria quantitativa

da moeda, não deve ser confundida com a equação das trocas, sendo um caso particular de uma

ii) Por outro lado, a maior parte dos outros activos dão uma

remuneração, um juro, enquanto a moeda não o dá.

Um agente, ao decidir como guardar as suas poupanças (em linguagem técnica diz-se que o agente está a constituir uma «carteira de activos»), irá escolher entre os vários activos disponíveis, tomando em conta as respectivas remunerações e os seus riscos. Pela regra essencial de não pôr todos os ovos no

mesmo cesto, é normal que o investidor goste de guardar alguma

da sua riqueza em dinheiro, mesmo sabendo que perde o juro dos outros activos. Perante uma maior remuneração, os agentes estão dispostos a arriscar mais.

Assim, a taxa de juro funciona como o custo de oportunidade de ter moeda, pois representa o ganho que se deixa de ter por guardar moeda em vez de depositar a prazo ou comprar acções. Na verdade, quando a taxa de juro sobe, os agentes desejam menos moeda e cada moeda é obrigada a fazer mais trocas:

MxV(i) = PxY

2.3.3.2. A Bolsa

O facto de a moeda, enquanto reserva de valor, ser concorrente e alternativa aos outros activos, torna a moeda estreitamente ligada ao mercado de activos. A taxa de juro é resultante das flutuações no mercado financeiro, que é um parente próximo do mercado monetário de que estamos a falar. Por isso, vale a pena abordar sumariamente alguns aspectos desse mercado financeiro, normalmente conhecido como a bolsa.

A primeira coisa a assinalar é que se trata de um mercado. O seu

preço (o preço dos títulos) sobe e desce, conforme a procura e a

oferta. Esses preços estão fortemente ligados ao valor das empresas, pois os papéis trocados representam, de várias formas, o capital de empresas concretas.

Mas também há movimentos globais nesse mercado. As subidas e as descidas da generalidade dos títulos cotados na bolsa são causadas pela forte interacção que existe no sistema económico. Repare-se que tudo isto se relaciona com expectativas e perspectivas fortemente subjectivas, como é natural. A apreciação das possibilidades futuras de evolução de uma empresa ou de uma economia pode ser racional mas é sempre algo de muito subjectivo e pessoal. Assim, o estado de espírito dos investidores é um determinante essencial da evolução da bolsa. Esse espírito pode ser determinantemente de optimismo ou de cepticismo quanto à evolução da economia30.

Ligado a este facto podem aparecer as bolhas especulativas. Estes fenómenos são situações cumulativas onde um certo estado de espírito afecta a bolsa, e esta, por sua vez, agrava o estado de espírito, criando círculos viciosos não amortecidos, que crescem cada vez mais com a variação.

Frequentemente, quando, por desenvolvimento deste processo, os preços já estão muito altos, alguns agentes, prevendo que eles não ________________________________

30 Na gíria bolsista, estas atitudes são conhecidas pelos termos pitorescos de «touros» (do inglês bulls)

para o optimismo e «ursos» (bears) para o pessimismo. Assim, uma bolsa, em determinado momento, pode ser dominada pelos «touros» ou pelos «ursos», o que determina a evolução geral.

vão subir mais, tentam vender as acções com valores muito inflacionados. Se, mais uma vez, se entra em círculo vicioso, com a atitude (neste caso pessimista) a gerar actuações (vendas) que promovem a própria atitude, a descida será tão rápida e dramática como foi a subida.

É a este processo que se chama «bolha especulativa», que incha e explode em pouco tempo. O mecanismo essencial, como vimos, reside no facto de a previsão (de subida ou de descida) ser autoverificada pela própria decisão (de comprar ou vender) que a previsão motivou.

Embora sejam naturais e, na verdade, pouco frequentes, as bolhas especulativas têm captado a imaginação do público, pois nelas se fazem e desfazem fortunas em pouco tempo. Esta instabilidade do mercado, que, como se disse, é pouco frequente31, não invalida a

aplicação a este dos princípios gerais que estudámos para os outros mercados.

Uma questão muito discutida é a do tipo de agentes que intervêm na bolsa. Será que os muito ricos controlam a bolsa, ou existe um

«capitalismo popular», com grande dispersão de influências por

toda a economia? A situação concreta da maior parte das bolsas (devem excluir-se alguns pequenos mercados anormais) é intermédia: os ricos dominam mas os outros também têm importância. Mais uma consequência directa de, no fundo, a bolsa ser um mercado como outro qualquer.

A relação entre o preço do activo, definido pelo mercado, e a sua taxa de rentabilidade é simples: a taxa (i) é igual ao juro ou dividendo (J), dividido pelo preço do activo (P):

i = J/P

Em termos individuais, uma acção relativa a uma empresa, em dificuldades paga menos dividendos e, por isso, a sua remuneração desce. Como o investidor pretende manter uma taxa de rentabilidade (o custo de oportunidade é a taxa de rentabilidade dos outros activos), vende a acção, o que faz subir a oferta e descer o preço.

Por isso, uma bolsa activa e dinâmica é sinal de um país em progresso. A razão desta opinião tem a ver com o facto de se supor que o preço das acções (P) a subir significa que a procura de acções é alta, porque a rentabilidade das empresas (J) está elevada.

Uma questão que ocupa muitos dos especuladores à volta do mercado financeiro é a busca de uma maneira de ganhar

facilmente na bolsa. A visão popular é que na bolsa há segredos

que podem fazer com que alguém se torne muito rico sem esforço. No entanto, a teoria que, desde há décadas, tem tido maior suporte e maior poder explicativo dos movimentos da bolsa é a chamada

teoria do mercado eficiente. Segundo esta tese, o mercado

incorpora toda a informação relevante no seu preço.

No fundo, isso equivale a dizer que quando a uma empresa acontece algo que lhe sobe as expectativas de ganho futuro (uma ________________________________

31 A Mississipi Buble foi um dos primeiros e mais dramáticos casos. O « crash de 1929» , de que adiante

falaremos, pois deflagrou a «grande depressão», e o recente e relativamente inofensivo «crash de

nova descoberta, apareceu petróleo na cave, ou outra coisa semelhante), a procura das acções dessa empresa sobe

imediatamente e o preço sobe logo, pelo que ninguém tem

garantida a possibilidade de se aproveitar dessa informação. As notícias de ontem são pré-históricas na bolsa. É claro que alguns, os primeiros a perceber isso, tiveram tempo de comprar acções ao preço antigo e vender ao novo e fizeram um ganho. Mas isso foi sorte desta vez, e certamente não têm a possibilidade de tornar a fazer outro ganho parecido. Os mais rápidos ou afortunados ganharam desta vez, mas isso foi a remuneração do esforço ou da sorte, e não era garantido à partida.

Os que esperavam ganhar, comprando barato e vendendo caro, não conseguem fazê-lo de forma sistemática, porque o facto era imprevisível, e se conseguiu desta vez não consegue para a próxima.

Logo, as evoluções dos preços são imprevisíveis. Os génios da

finança, que a imaginação popular tanto cobiça, não existem.

Mas será que esta regra do mercado errático e imprevisível como um jogo de póquer é compatível com a racionalidade? É exactamente devido à racionalidade que este facto se dá. Um mercado a funcionar bem não tem qualquer razão para alterar o preço senão devido a choques e surpresas. Se houvesse uma evolução previsível do mercado é porque não havia racionalidade na fixação do preço inicial.

Mesmo no caso de grandes subidas ou descidas sistemáticas, sem qualquer choque que se veja, não é fácil ganhar. Não se sabe a razão, mas isso também é imprevisível, e por isso não se pode contar com elas. E se a subida dura muito tempo de tal modo que se torne previsível o ganho, é porque espreita a possibilidade de um enorme crash que anule todos os ganhos . O risco está sempre presente e, por isso, o almoço nunca é grátis.

Só é possível ganho sistemático nos casos de burla ou mau funcionamento do mercado, os quais devem ser eliminados. Um empregado do banco que usa informação confidencial para ganhar na bolsa está a cometer uma grave ilegalidade (aí o almoço não é grátis devido à possibilidade de ir para a cadeia).

Então os mais espertos e dinâmicos não ganham mais que os outros? O problema é que há muitos desses espertos em

concorrência e isso anula os ganhos em média.

Os especialistas, bancos e fundos de investimento dizem: «invista connosco, porque nós sabemos». Mas essa sabedoria paga-se e, por isso, o ganho adicional é para pagar o esforço de a obter. O melhor pode ser escolher carteiras diversificadas, com acções e obrigações variadas, para não ganhar muito nem perder muito. Logo, é melhor que se abstenham os amadores.

Claro que quem trabalha e se dedica mais à bolsa e se esforça mais, ganha mais, mas isso é remuneração do esforço , o qual, se calhar, até seria melhor empregue noutra coisa. E quem se arrisca mais ganha mais, isso é remuneração do risco. Assim, os especialistas da bolsa são profissionais como outros quaisquer, com uma remuneração que paga o seu trabalho e investimento. Para ganhar em qualquer actividade, o segredo é o trabalho, a capacidade, a inteligência e a sorte de cada um, pelo que é igual ao resto da economia.