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A educação ambiental unificadora e transformadora

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 65-68)

Primeiramente não há que se equivocar no sentido de fragmentar “ensinos,” no caso, o ambiente como um sistema biofísico. A EA que aqui falamos coincide com a educação

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no seu mais abrangente termo, uma vez que se associa de forma crucial com todas as complexidades e diversidades de metodologias e disciplinas historicamente alcunhadas na nossa sociedade.

A inserção da EA nos currículos tem sido tema de debate e tem retornado à berlinda para se decidir se deve ou não ser uma disciplina ou se deve ser um tema transversal. Michele Sato (2002) como muitos outros autores defende que a EA deve ser abordada como uma dimensão que permeia todas as atividades escolares, perpassando os mais diversos setores de ação humana.

Outro ponto de debate se deve à abrangência da localidade em que a EA deve se processar e atingir o maior número possível de pessoas. As esferas formal, não formal e informal são repetidamente evidenciadas como espaços específicos de desdobramento das atividades de EA. Enquanto todas as esferas de experiências sociais são importantes é na esfera formal que a EA pode ter um aceleramento de novas condutas, considerando que a escola representa historicamente o locus do saber social e ideologicamente valorizado, e nesse sentido as questões ambientais e ecológicas passam a compor um novo paradigma para a atuação da escola na sua missão de modificar mentes e comportamentos.

As crianças, adolescentes e jovens passam a maior parte do tempo na escola. Ela, portanto, torna-se o local de referência dos valores da e na sociedade. A escola é mediadora de conhecimentos, de consciência crítica e promotora de ações de cidadania. Por isso a escola deve ser um espaço onde o corpo discente e docente estejam envolvidos e comprometidos na construção de um ambiente saudável, harmonioso e equilibrado.

Com base nesses princípios, os participantes da ECO-92 aprovaram a chamada Agenda 21, que é uma série de compromissos que os 170 países traçaram para incorpor em suas políticas públicas de desenvolvimento sustentável no âmbito ambiental, econômico, social e institucional. Mas a agenda ambiental não se limita aos representantes oficiais desses países, é preciso que todas as pessoas, instituições e organizações se comprometam em níveis distintos na implantação e operacionalização de ações que transformem esses compromissos em realidades efetivas.

É um consenso que se começarmos pela escola, estaremos dando um passo muito importante nesse processo de transformação e resgate de valores como os do cuidado e do zelo com o meio ambiente em seu sentido mais amplo possível.

Torna-se cada vez mais urgente que a sociedade reveja as suas relações com o mundo físico-natural e com o mundo social. Esse rever nos remete a um repensar as bases de sustentação do planeta Terra, desde as práticas mais elementares e aparentemente ingênuas do indivíduo, de jogar papel no chão, passando pelas práticas de consumo e indo até a elaboração e execução de políticas públicas e ambientais pautadas em novas éticas.

Acreditando na superação de visões reducionistas e ingênuas da questão, Medina (1994, 2002), entende a EA como um processo que cria possibilidades de formação crítica e participativa relacionadas à correta utilização dos recursos ambientais. Isso, entretanto, não é apenas retórica, uma vez que, segundo Grün (1996) a EA tem pela frente um trabalho de desmistificar os extremismos, tanto do cartesianismo quanto do arcaísmo, para tal há que se

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Incorporar essas dimensões em um trabalho popular com comunidades pressupõe: um processo de identificação e conquista dos atores sociais envolvidos; busca de parcerias e um programa que seja elaborado de acordo com os interesses e perspectivas da população- alvo. Nesse sentido, Guimarães (1995, p.15) argumenta que a EA voltada para a participação ativa dos atores sociais apresenta-se como uma dimensão do processo educativo no qual os envolvidos buscam a construção de um novo paradigma que contemple as aspirações populares de melhor qualidade de vida. Aspectos estes que são intrinsecamente complementares, integrando assim educação ambiental e educação popular como conseqüência da busca da interação e integração dos aspectos sociais, econômicos, políticos, ecológicos e culturais de uma vida melhor e mais sadia para todos.

Verifica-se que o conceito de EA também “evoluiu” de acordo com o tempo. Historicamente esteve ligado aos conceitos ou representações que se atribuíram ao de meio ambiente. Nas últimas décadas vem se consolidando e tornando-se um parâmetro no estabelecimento de pensar a educação no seu conjunto, haja vista o número de publicações, projetos, experiências e pessoas envolvidas com a temática, em todas as esferas, seja na formal, não formal ou na informal.

A EA na sua vertente mais atual se inscreve nos princípios da sustentabilidade, da complexidade e da interdisciplinaridade. Segundo Leff (2001), o pensamento da complexidade deve estar na base da ecologia, da tecnologia e da cultura que constituem uma racionalidade produtiva. A EA requer a construção de novos objetos interdisciplinares de estudo através da problematização dos paradigmas dominantes, da formação dos docentes, da incorporação do saber ambiental emergente em novos programas curriculares e nos programas com as comunidades, sejam urbanas ou rurais.

A despeito de qualquer crítica que se possa fazer da supervalorização dada à EA como um mecanismo poderoso na “mudança de comportamentos” diante do meio ambiente, ou atribuindo a ela o papel de formadora de uma “consciência ambiental”, retirando-se os excessos e a falta de criticidade, a EA também tem um conteúdo mais abrangente, no âmbito filosófico e político.

Nesse sentido, Leff (1996, p.128) argumenta que a EA adquire um sentido estratégico na condução do processo de transição para uma sociedade sustentável, uma vez que se trata de um processo histórico que reclama o compromisso do Estado e da cidadania para elaborar projetos nacionais, regionais e locais. A EA deve se definir por um critério de sustentabilidade, que corresponda ao potencial ecológico e aos valores culturais de cada região.

A EA se faz valer dos mais diversos documentos produzidos no âmbito internacional e tenta, a partir desses pressupostos delinear uma trajetória prática. Prática essa que, dependendo do grupo social que a concebe e a realiza, não é neutra. Assim, EA é ideológica no sentido político, portanto, não é neutra, nem descontextualizada, nem acrítica; a abordagem deve ser a mais ampla e relacional possível, considerando as problemáticas globais, suas inter-relações; deve promover o diálogo e a cooperação entre indivíduos, instituições e culturas; deve considerar as diferenças étnicas, de gênero, de classe social e outras relações que promovam a construção de novas formas de pensar e agir dos cidadãos entre si e com a natureza (Viezzer & Ovalles, 1994).

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Nesse sentido, as pesquisas quanto às ações educativas, pontuais ou processuais, formais ou não formais, em todo o Brasil, indicam que as tendências de concepções e práticas são múltiplas e multifacetadas pois são situadas e contextualizadas local e globalmente. Os resultados desses pensares e saberes dão indicadores do avanço da consciência ecológica, “ecopedagógica” e socioambiental das questões macro e micro do meio ambiente. (Noal et al., 1998; Pedrini, 2001, 2002; Philippi & Focesi, 2000).

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 65-68)

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