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Educação ambiental para sociedades sustentáveis – EASS

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 40-42)

ambiental

de revista brasileira

Introdução

A formação de educadores ambientais ganha a cada dia maior importância em virtude da necessidade de pessoal qualificado para apresentar resolução aos problemas da ação humana em relação ao mundo natural. É visível o aumento significativo da procura e da oferta de formação para esta área. Os cursos de especialização latu senso têm se proliferado e são a possibilidade mais efetiva, neste momento, para a formação de profissionais para atuarem em educação ambiental, uma vez que não há formação específica da graduação e, por sua vez, constata-se a existência de um único programa ao nível da pós-graduação strictu senso1.

Com relação aos programas dos cursos de especialização em EA, que se têm acesso,2 vias de regra apresentam propostas mais centradas no desenvolvimento da grade

curricular e/ou na qualificação do corpo docente. Não é propósito deste texto analisar esses diversos programas, mas apenas situá-los (a partir de uma percepção pontual dos mesmos) uma vez que para a elaboração do referido projeto partiu-se de uma perspectiva em que os aspectos relativos à formação do educador foram centrais.

Manzochi (1994), Sorrentino (1995), Gadotti (1993), entre outros, advogam a favor da formação dos educadores ambientais pautada nos princípios do Tratado da Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (1992). Mais do que disponibilizar conteúdos, prioriza-se a formação de educadores com potencial para a intervenção socioambiental. Portanto, a discussão em torno de uma proposta que assume os princípios do Tratado contribui para se pensar em outras possibilidades para a formação do educador ambiental.

Procura-se focar neste texto a proposta pedagógica do referido programa do curso como das etapas de sua elaboração. O processo de rememoração possibilita refletir sobre uma experiência verdadeiramente social para a atuação de projetos políticos pedagógicos nos vários níveis de formação escolar. Na verdade, propõe-se reproduzir alternativas para novas formas de realizar o processo de formação das pessoas.

Educação ambiental para sociedades sustentáveis – EASS

Antes de discorrer sobre a proposta do curso é necessário apresentar a compreensão que se tem sobre a EA pautada nos princípios do Tratado, ou seja, EA para sociedades sustentáveis – EASS. Segundo Sorrentino (1995), essa vertente tem sua origem no relatório Brundtland, 1987, “Nosso futuro comum” e outros documentos elaborados neste período. A educação ambiental radicaliza com as perspectivas definidas pela proposta do

1 Entre os Programas de Pós-Graduação (PPG) stricto sensu, somente a Fundação Universitária do Rio Grande – FURG/RS oferece o mestrado em educação ambiental recomendado pela Capes, nos demais PPG há linhas de pesquisa ou professores que orientam dissertações e teses na área.

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desenvolvimento sustentável que representa empresários, governantes e uma parcela de ONGs que atuam para a incorporação da questão ambiental no desenvolvimento econômico, sem transformar necessariamente suas perspectivas de atuação. A EASS propõe a construção de “sociedades sustentáveis”, ou seja, aglutina aqueles que priorizam a construção de sociedades justas, igualitárias e ecologicamente equilibradas. Nesse sentido, o respeito à natureza se faz por meio do respeito aos humanos e da oportunidade de propiciar qualidade de vida com sustentabilidade ecológica.

Fundamentada nos princípios gerais do Tratado, a proposta da EASS destaca três conceitos, que segundo Gadotti (1993) são:

a) a educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer lugar ou tempo, em seu modo formal, não formal e informal, a transformação e a construção da sociedade;

b) a educação ambiental é individual e coletiva, sendo o seu propósito formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a auto-determinação dos povos e a soberania das nações;

c) a educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.

O termo educação é compreendido no sentido amplo, ou seja, educação para transformar, uma vez que ela contribui para a formação de valores e de atitudes sociais; e ao termo ambiental é atribuída uma perspectiva fundamentalmente social, que significa contribuir para a transformação das sociedades atuais em modelos sustentáveis e eqüitativos. Educar para formar e transformar o homem e a mulher e educar para a preservação ecológica ‘sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas’. Ou seja, a EASS deve gerar, com urgência, mudanças na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, assim como deveria haver entre os seres humanos e destes para com outras formas de vida (Tratado, 1992, p.2).

O tratado apresenta pressupostos que avançam significativamente o papel da EA, ao transpor para ela o papel da educação geral, que é contribuir para o processo de humanização dos indivíduos no sentido de reequilibrar os processos sociais atuais que têm favorecido a pequenos grupos dominantes um acúmulo de riquezas materiais e culturais em detrimento de uma grande maioria das populações mundiais que vivem na miséria absoluta. Leva-se em conta que esse processo tem de desnudar a “exploração” que se tem praticado nos ambientes culturais e naturais que beneficiam um modelo de desenvolvimento econômico- político-social e ambiental injusto desde a sua origem.

Desse modo, a EASS tem sido considerada como um espaço ou uma área que, ao levar em conta essas críticas aos modos de utilização do conhecimento, em especial o científico, para a exploração do ambiente e das sociedades e as suas conseqüências sobre a vida humana, deve ser reconhecida como um dos instrumentos importantes para promover mudanças nos modos dominantes do pensamento moderno.

Villaverde (1993) nos diz que a transformação filosófica que é proposta a partir da problemática ambiental consiste nesse reajuste global das consciências humanas e de uma nova percepção que o homem atribui em seu próprio benefício no cenário ecológico. Trata-se de construir um novo olhar para a meio ambiente natural (natureza) e para aquele construído (cultura). Não como duas coisas distintas e opostas, mas complementares e em constante

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interação. A conciliação da natureza com a cultura e suas relações constitui um dos principais elementos norteadores da proposta pedagógica para a EASS. A condição de vida dos grupos humanos envolvidos deve se fazer como elemento constituidor do saber ambiental e da compreensão sobre a sua problemática. Desta forma, a EASS se apresenta no vértice das relações entre natureza e cultura. A natureza apresenta significado a partir da consciência que dela é construída pelo pensamento humano. Ou seja, se nas sociedades contemporâneas desenvolvemos uma cultura e uma consciência que nos desvinculou totalmente das leis da natureza, cabe à EASS redimensionar essa relação de forma a estabelecer um “contrato natural” (Serres, 1991) entre sociedade e natureza. A base deste contrato está em o homo

sapiens se perceber como fruto e dependente da natureza, especialmente para constituir-se

como humano.

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 40-42)

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