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Não se tem a receita para a formação de redes simplesmente por se conhecer os princípios de Redes, assim, acaba-se repetindo uma mesma

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 123-126)

fórmula que nunca constrói uma rede de fato. Não há receitas, em redes

de EA há que se trabalhar com formação de grupos operativos-reflexivos,

com a articulação de grupos sociais, com a problematização de conceitos

e idéias, com a incessante busca por abordagens pedagógicas

apropriadas no trabalho com EA que rompa com estereótipos e mitos

comumente presentes na área de estudo e enfrente as questões sociais,

políticas e estruturais que se inserem no conceito de ambiente e da

questão ambiental, uma abordagem que se distancia da tradição

explicativa das ciências naturais e que assuma a educação ambiental

“como prática interpretativa por excelência” (Carvalho, 2003, p.100).

Creio que um grande salto qualitativo seria haver grupos locais (nós da trama) que funcionariam mais presencialmente e a rede virtual articulando o trabalho destes nós. Um nó (ou grupo local, guarda-chuva, canto, abrigo, local...) deve possibilitar a relação face a face, fundamentada na resolução de problemas, ou seja, a rede tem carne e não apenas osso. Estes nós podem articular-se na produção de conceitos, de metodologias, de projetos, de avaliações e diagnósticos.

Dialogando com Malagodi (2004) formulo duas hipóteses absolutamente inexploradas, prática e teoricamente. A Rupea talvez deva ter duas orientações metodológicas, uma para cada escala, o guarda-chuva local deve constituir-se como comunidade interpretativa.

As comunidades interpretativas internas só são possíveis mediante o reconhecimento de múltiplos curricula em circulação no interior da universidade. Não se trata de oficializar ou de formalizar os curricula informais, mas tão-só de os reconhecer enquanto tais. Um tal reconhecimento obriga a reconceptualizar a identidade dos docentes, dos estudantes e dos funcionários, no seio da universidade. As hierarquias entre elas devem ser estabelecidas num contexto argumentativo (Sousa Santos, 1999, p.225).

Se os guarda-chuvas locais da rede forem pessoas isoladas, conectadas virtualmente, ou outras redes sem materialidade, a rede se torna uma névoa improdutiva e sem face, sem princípios materializados na prática. Não pode existir rede 100% virtual (a não ser a WEB... tão cheia de princípios...), há que se fazer das redes articulações que ganhem sentido no cotidiano, nas quais se respondam questões, nas quais haja solidariedade com as questões de outros.

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A rede como um todo talvez deva saber mais do conceito de Comunidade de Aprendizagem – CA. Coll (2003) identifica quatro grandes tipos de CA a partir dos critérios de contextualização socioinstitucional, e propósitos/finalidades orientadores. Destes, o quarto tipo seriam comunidades virtuais de aprendizagem, onde não há o compartilhamento de espaços físicos ou institucionais. Numa CA deste tipo a falta de cotidianidade como base para sintonia política se torna impossível e sua proficuidade passa a depender de uma comunhão epistemológica coletivamente construída. É o grande guarda-chuva. Por isso, cartas de princípios devem ser uma produção coletiva, pois mesmo que haja inspiração em outras cartas, a carta de princípios produzida coletivamente aglutina, irmana, permite o reconhecimento em uma base ética. O exercício desta produção coletiva pode ser inclusive o início de uma metodologia de produção em rede.

Ao propor uma Geografia das Redes, Santos (1997, p. 211) também acusa a polissemia do vocábulo “redes” que afrouxa seu sentido. As redes não são uma realidade recente; a grande distinção entre as do passado e as de hoje é que atualmente a deliberação na constituição de redes são estratégias de avanço da civilização material. As estratégias e tecnologias desenvolvidas para sustentar um “enredamento” com objetivos capitalísticos podem e devem ser adaptadas para fins humanos. Guattari (1990) considera que a atual redução de custos e o desenvolvimento de tecnologias de comunicação podem facilitar este “contra-feitiço”; eventos ocorridos distantes, cuja relação com a nossa vida, nossas lutas e utopias não perceberíamos e sobre os quais não refletiríamos, podem entrar para nosso cotidiano e fazer vislumbrar a possibilidade de interconexões solidárias. Para Gutierrez (2000), a revolução eletrônica cria um espaço acústico capaz de globalizar os acontecimentos cotidianos e possibilita as interações e percepções que conduzem solidariedade para a vida da Terra. Estas são as bases para uma cidadania ambiental mundial.

A comunicação virtual, além de propiciar um espaço de trocas cotidianas está sendo planejada para constituir um espaço de divulgação das atividades da Rupea e de seus componentes e para viabilizar um espaço virtual para a produção coletiva.

As novas redes de EA podem aprender com as mais antigas; a Rede Paulista e a Rede Brasileira, com as mais novas, a RedeCEA e a Rupea. Elas são redes diferentes que não detêm o monopólio da tecnologia de redes no Brasil.

Outra pista importante a seguir é aprender com redes que enfrentaram o desafio de um país pobre, com baixa inclusão digital, a exemplo do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB que articula a reflexão e ação de mais de um milhão de pessoas. A base? os núcleos de famílias, que reúnem para debate um mínimo de cinco e um máximo de quinze famílias que sofreram, sofrem ou estão na iminência de sofrer conseqüências por problemas em uma barragem. Atualmente eles estão envolvidos no debate das políticas públicas energéticas federais, negociam ressarcimentos por parte de grandes empresas, ajudam na recuperação de famílias atingidas, discutem agroecologia e, na Bahia, são responsáveis pela obstrução de quase uma dezena de barragens na região oeste. Quem participa? um milhão de pessoas articuladas por grupos operativos utilizando correio, telefone e a circulação de técnicos/ voluntários do MAB. É rede? pra mim é, e das boas. Esta mesma estratégia é utilizada pelo movimento de pequenos agricultores – MPA e pela Rede de Associações Comunitárias de

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operacionalização dos encontros podem nos dar aula de redes. Na Bahia há vários, como a Articulação Estadual dos Fundos de Pasto (mais de vinte mil famílias) e o CETA (Movimento que reúne 13.000 famílias de assentados, acampados e quilombolas) que ao perceberem-se em uma proposta identitária (o abrigo de Castells, 1999), constróem seus guarda-chuvas desafiando a noção (elitista e, por vezes, reducionista) de que fazer parte de redes implica em “apenas virtualmente” se comunicar com o mundo... num espaço acústico no qual, geralmente, achamos que nos entendemos... e nunca nos entendemos!

Concluoro...

...que a Rupea explore suas potencialidades, que seus membros se fortaleçam e que para tanto não se furtem aos desafios que sua singularidade e utopia implicam.

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