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“A língua dos índios Guató é múrmura: é como se ao dentro de suas palavras

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 114-117)

corresse um rio entre pedras.”

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apenas conversa de quem gosta da educação ambiental, de quem acredita que para ser educador ambiental é preciso fazer muito amor, sentir orgasmo na hora de ensinar, ter capacidade de aprender com as comunidades biorregionais, acreditar que é possível construir um país melhor, independente de governo, e adorar uma transgressão nos campos híbridos da educação ambiental.

Outra coisa que precisa ficar clara é que não queremos explicar nada, apresentaremos apenas idéias de transgressão com recortes de olhares pantaneiros. Isto porque a vida só é dura para quem não tem sorte e é marido de mulher bonita e ciumenta. É neste olhar mesclado entre o feio e o bonito que queremos matutar a nossa caminhada ambiental numa tentativa de rompermos com o “feminismo da sacanagem”, para mostrar que na nossa concepção é preciso construir uma rede de educação ambiental sem medo da infelicidade. E quanto mais conflito houver, melhor será o debate. Não é uma rede de terceiro setor, mas uma rede de possibilidades e impossibilidades. Ou seja, uma rede com gosto da danada pimentinha cuiabana (queima que até c... arde).

Quando dizemos que não temos medo da infelicidade, estamos afirmando que não tivemos medo de ser feliz ao elegermos “Lula”em nome da “classe trabalhadora”. Entretanto, a ‘convocação’ do Primeiro Ministro de Lula, “o Zé Dirceu” não se deu da mesma forma, pois quem o elegeu foram os paulistas, os únicos responsáveis por isso. Agora o Lula-lá é uma responsabilidade de todos: paulistas, cariocas, brasileiros e brasileiras, burgueses, proletários, MST, ambientalistas, rei da soja, estrelas das academias, movimento sindical, entre outros “porra-loucas” que acreditam que outros caminhos são possíveis.

Se você ainda não entendeu onde quero chegar, volte ao começo deste texto ou faça uma leitura da palavra e outra do mundo. Se não gostou da proposta passe para o próximo artigo desta revista. É isto mesmo. Se você não concorda com a minha pseudo- radicalidade política e tem medo da infelicidade, diga sim ao Maluf e acredite que o paulista é o povo soberano sobre o Nordeste brasileiro. Ou acredite que os cariocas são o maior barato porque possuem uma fala mansa com capacidade de dar leite para onça num pires e chamá-la de xaninho.

Mas afinal, o que tudo isso tem a ver com uma rede de educação ambiental? É que achamos que uma rede de educação ambiental, na perspectiva da horizontalidade, é um instrumento para promover mudanças radicais nas estruturas verticais. Isto significa dizer que uma rede de educação ambiental não precisa funcionar como uma tábua plana/uniforme/ única/falando a mesma língua/atuando apenas no marcoinstitucional/alimentando Sibea/ gerando emprego e produto final/ou servindo de apêndice de articulação política de ministérios/ com lista fechada e outra aberta nas articulações virtuais. Rede de educação ambiental precisa ser um espaço de transgressão para alimentar os sonhos utópicos que cada um tem. É um espaço masculino e feminino, e transexual, ou seja, cada um deve fazer aquilo que acha, pensa e gosta.

O que as redes de educação não podem fazer é dar espaço a uns em detrimento de outros. Rede é um campo híbrido para quem tem coragem de ousar contra as injustiças sociais, culturais, econômicas, políticas, espirituais, de gênero, de etnia, entre outras que você achar necessária. Rede de educação ambiental é para quem tem coragem e ousadia de usar todos os chapéus sem “dar chapéu” em quem acreditou que a esperança venceria o

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medo. Ah! tem mais... rede de educação ambiental não pode ser espaço de intolerância para expulsar quem não concorda com as nossas idéias.

Rede de educação ambiental não é para desenvolver abordagens metodológicas sustentadas em pensamento sistêmico, complexo ou holístico. O problema ambiental não precisa ser compreendido apenas em cima de uma análise dos aspectos históricos, sociais, econômicos e ambientais. Rede de educação ambiental é um espaço de articulação política onde as buscas de soluções são tarefas que saem das decisões coletivas, onde o trabalho participativo é construído numa relação de muito diálogo entre os diversos saberes, com respeito às diferenças.

Neste cenário, é preciso compreender a moral do outro e a nossa. Acreditamos que a moral é a mediocridade onde os diferentes caminham dando cotoveladas nas costelas de quem não concorda com as suas idéias. Além disso, são criados galos simétricos no crânio dos moralistas marxistas do ambientalismo brasileiro. Na caminhada da moralidade, as redes de educação ambiental não são para fomentar a moral que serve aos interesses da sociedade neoliberal sustentada no tribalismo da nova classe trabalhadora. Deve ser um espaço para movimentar os desiguais e diferentes na diversidade. Ou seja, queremos ver as redes defendendo o plantio da mandioca, em vez da soja, que só serve de ração animal na China; o óleo de pequi em contraposição ao óleo de girassol; o caldo de piranha pantaneira para eliminar os verdes pastos dos rebanhos de nelore puro-sangue contaminados pela mosca- do-chifre.

Neste contexto anárquico sofremos da moral porque só fazemos coisas inúteis, mas conhecemos a dor de cada árvore que é colocada no chão para o plantio de soja. Neste prisma, a nossa moral prefere as máquinas que não servem para funcionar, pois devemos ter orgulho do imprestável. É melhor entortar a bunda para aqueles que pensam que a educação ambiental é para fazer gestão ambiental e fomentar a paranóia dos biólogos que acreditam que os graves problemas ambientais são questão de plano de manejo. Será que eles sabem que sapos vegetais dão cria em pedra?

Tentando encerrar esse matutar sobre rede de educação ambiental, vamos refletir um pouco mais sobre os graves problemas ambientais do estado e os desafios que a Remtea – Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental tem pela frente. Entre eles encontra-se a soja (transgênica e in natura) no Cerrado e na Amazônia; Blairo Maggi no governo do estado; a criação de RPPN, no Pantanal à revelia das comunidades ribeirinhas e biorregionais; o aumento do uso de fertilizantes; a falta de um programa de educação ambiental; a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema); o desmatamento na Amazônia mato-grossense para pastagens e plantio de soja; a divisão do pantanal entre sul e norte e o povo do Araguaia acreditando que a entrada da soja na região será a redenção dos sonhos acalentados.

Se você acha que é só isso, venha a Mato Grosso e conheça a atual administração do Roberto França que tornou a capital em cidade educadora.

Agora, se você acha que tudo isso é loucura, então deixe de construir rede de educação ambiental e vá militar na TFP – tradição, família e propriedade. Mas, se você acha que isso é possível, venha para o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, em Goiânia,

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Um olhar sobre a Rupea –

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