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Momento de expansão: 2001 até hoje

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 130-133)

Sobre redes e marés: reconstruindo momentos da história da REARJ

5. Momento de expansão: 2001 até hoje

O novo – e atual – momento de expansão, iniciado em 2001, possui novas feições, se desenvolve com idéias e olhares diferentes dos momentos anteriores. A expansão atual se dá de forma mais objetiva, com foco preciso e maior capacitação para o trabalho em rede. Hoje existe uma percepção aguçada da importância da rede como espaço político e os conflitos, é claro, continuam fortemente presentes.

A Rebea vive, igualmente, um novo momento: da criação e dinamização da lista de comunicação na internet; da idéia renovada sobre o que é rede; da visão de que o fortalecimento da Rebea passa pelo fortalecimento dos elos que são as redes estaduais. E esta é, certamente, uma das grandes forças motrizes da expansão atual da REARJ.

Esta fase de expansão teve grande impulso durante o Encontro de Educação Ambiental da Baixada Fluminense, realizado em 2002 na Universidade do Grande Rio (Unigranrio), município de Duque de Caxias. O processo de organização do Encontro da Baixada reaproximou e aglutinou pessoas em torno da idéia de rederederederederede e pode ser considerado um importante marco na história da REARJ. Durante o encontro constituiu-se um grupo de facilitadores e reafirmou-se a importância do movimento por todo o estado – não foi à toa que o encontro se realizou fora da capital.

Optou-se por buscar a continuidade desta expansão e a viabilização das ações planejadas materializando-as segundo a ótica de projetosprojetosprojetosprojetos. Um conjunto de pequenos projetos desenhados comprojetos foco específico, de modo a facilitar a obtenção de recursos e a sua efetiva implementação. O primeiro projeto, já aprovado, está ligado à sede: a Universidade do estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A UERJ, elo-sede da REARJ foi anfitriã do VII EEAERJ, em setembro de 2003. A ampla participação do público e a presença de personagens históricos da educação ambiental no Rio de Janeiro deram novo fôlego à rearticulação da REARJ.

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Apesar de toda resistência ainda encontrada quanto à utilização das novas tecnologias de informação e comunicação, deve haver um esforço no sentido da criação de uma cultura digital, e não de uma contestação estéril que pode contribuir para acentuar o processo de exclusão digital.

• A importância dos vínculos pessoais.

Os laços pessoais têm grande relevância nos momentos de expansão. Constatamos que eles são capazes de congregar pessoas e resgatar indivíduos que viveram momentos históricos da construção da rede, em sua fase inicial, agregando novamente suas visões e experiências.

• A inserção da REARJ em outros movimentos e redes.

A (re)construção da REARJ tem se dado num clima de permanente integração com outros projetos coletivos, destacando-se hoje a Rebea e a Rede de Centros de Educação Ambiental (Rede- CEAs). A participação nos processos das Conferências Nacionais de Meio Ambiente, em 2003, também se desenha neste espaço de potencialização das articulações.

• A existência de organizações que investem na idéia da rede.

Hoje a REARJ tem entre seus elos organizações que acreditam na idéia de rede, o que confere uma natureza diferenciada a esta fase de expansão: desaparece a polarização ”rede enfraquecida, entidades fortalecidas”, com o entendimento de que sem o fortalecimento das organizações a rede não se fortalece.

A fase que atravessamos pode ser classificada como bastante penosa, porém mais consistente – quiçá, por otimismo nosso – mais duradoura.

Pode pedir a saideira... e a conta!

Vamos já fechar a conta, falta apenas saborear a saideira... mas uma saideira que não encerra a conversa, apenas aguça o paladar e anuncia a próxima rodada. Ou seja, fechamos sem concluir, encerramos abrindo questões sobre as quais ainda temos muito a refletir. São tensões presentes ao longo da trajetória da REARJ, com as quais precisamos aprender a lidar.

Político versus acadêmico.

Nossa história assiste ao (equivocado) embate constante entre sujeitos dos movimentos sociais e sujeitos das universidades. Vale refletir sobre o papel dos educadores do ensino básico neste processo tênue, pendendo ora para um lado, ora para o outro, exclusivamente por conta de afinidades pessoais em determinados contextos.

Indivíduo versus instituição.

De que atores é composta uma rede? Quem pode ser sujeito da rede, pessoas e/ou instituições? Tal questão, que em diversos momentos pareceu equacionada, insiste em aflorar novamente.

• Falta de recursos.

Como existir, como resistir diante da falta de recursos para viabilizar as ações planejadas? Embora difícil, o quadro não pode terminar em desânimo, há que se buscar caminhos para efetivar as ações planejadas.

• Falta de uma proposta efetiva nas áreas de informação e comunicação.

Ainda em 1992 era atribuição do Comitê Pró-Rede criar e manter um sistema de informação e de comunicação. Existe hoje uma lista de comunicação na internet, mas falta desenhar e adotar uma estratégia efetiva de informação e comunicação.

• Distanciamento de outros coletivos e redes.

O momento atual parece sinalizar uma fase animadora a esse respeito. Uma tensão que hoje está – felizmente – bastante minimizada.

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• Falta de compreensão sobre o que seria uma facilitação.

Assim como a questão anterior, esta passa hoje por um momento mais positivo, e as tensões estão amenizadas. Porém, imaginamos que a falta de entendimento do fazer em redefazer em redefazer em redefazer em redefazer em rede ainda fará deste um tema recorrente.

• Falta de capacitação para o trabalho em rede.

Vivemos, neste aspecto, uma espécie de aprendizado sob pressão. Erros e acertos, muitos erros, a bem da verdade, que trazem bastante tensão ao processo, é uma carência a ser suprida.

• Ausência da idéia de elos.

A REARJ sempre esteve demasiadamente circunscrita à capital do estado. Hoje enfrentamos esta tensão, estando em pleno processo de fomento à criação de elos regionais.

• Falta de diagnóstico.

Quem somos? quantos somos? o que fazemos e onde estamos? quais as tendências, padrões, abordagens e visões que caracterizam a EA no Rio de Janeiro? A ausência de um diagnóstico tensiona constantemente o processo de expansão.

• Encontros e desencontros.

Os eventos têm funcionado como catalisadores dos momentos de expansão. A questão é que a mobilização vinculada unicamente ao evento dificulta que o momento de expansão se prolongue.

Os encontros, na história da REARJ, são realmente um capítulo à parte. No que se refere à periodicidade, é importante explorar a mobilização que gera sem o desgaste de repetições anuais. No sentido de otimizar esforços e recursos, nossa aposta é na realização, nos anos ímpares, do encontro estadual; nos anos pares, o investimento seria direcionado ao Fórum brasileiro de educação ambiental, através da realização de encontros regionais, em todo o estado, funcionando como pré-fóruns.

Há, porém, outros pontos relevantes a atentar: na nossa experiência, nos encontros ficam ainda mais claras algumas importantes tensões, entre elas a oscilação entre o foco acadêmico e o foco “convenção”. Esta dicotomia, que sempre tendeu para o foco acadêmico, foi trabalhada de forma diferente no VII Encontro, numa tentativa de conciliação destas perspectivas, o que fortaleceu a rede e trouxe ao diálogo novos atores. É preciso destacar a importância ímpar das universidades ao prover infra-estrutura para a realização dos encontros estaduais. Dos sete realizados, somente um teve lugar fora do ambiente acadêmico. Mas é igualmente necessário que os encontros se tornem espaços de convivência, não se restringindo a temáticas e formatos estritamente acadêmicos e, portanto, excludentes.

Fica ainda a questão: as fases de expansão são provocadas pelos encontros ou eles acontecem justamente quando se está em expansão? O primeiro momento de expansão, ao que parece, teve encontros anuais por ser uma fase de expansão. O lapso entre o VI e o VII EEAERJs (de 1999 a 2003), por sua vez, se explicaria por ter sido este o pior momento de retração da REARJ, que acompanhou o movimento geral de retração, na esteira da Rebea. O VII EEAERJ, por sua vez, veio a acontecer num momento de rearticulação da própria Rebea – são movimentos que dialogam entre si. Enfim, há muitos fios a tecer, e estamos bastante abertos a perceber o que o processo tem a nos ensinar. Se isso é garantia de êxito? certamente que não. Mas seguramente é muito

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Este texto é uma tentativa de registro da “história” da Rede Brasileira de Educação Ambiental – Rebea, a partir de um ponto de vista pessoal e sem nenhuma intenção de imparcialidade. Conto aqui a minha experiência como secretária executiva da Rebea no período de 1999 a 2004. As omissões e presenças de pessoas e instituições são indicações de contribuições que devem ser levantadas.

Como são poucos os registros e documentos do período anterior a 1997, procurei reconstruir os anos iniciais da vida da Rebea a partir de depoimentos das pessoas que naquele momento estavam em ação na rede e nos poucos documentos que encontrei. Uma rápida conversa com Larissa Costa, Cristina Guarnieri e Heitor Medeiros e uma consulta superficial aos anais dos fóruns confirmaram o que eu já suspeitava: este período inicial merece um trabalho sistemático de pesquisa para que se recupere a riqueza do processo e das contribuições pessoais.

Assim, peço aos que lerem o reconhecimento de que tenho consciência da parcialidade e insuficiência de meus apontamentos e informações em relação ao período inicial da formação da rede (1992-1997), não se sentindo ofendidos com qualquer omissão ou presença de fato, pessoa ou instituição citados em meu relato.

O que interessa é a evolução do processo de desenvolvimento de um trabalho coletivo que ansiava por experimentar novas formas organizacionais que pudessem manifestar nas relações e estrutura, os princípios e valores tão caros aos educadores ambientais: democracia, participação, autonomia, colaboração. Só me sinto autorizada a contá-lo a partir de minha experiência. Por isso o tom pessoal, a primeira pessoa.

Enquanto escrevia, pensei: poderia ser muito unificador escrever coletivamente a história da Rebea a partir de depoimentos pessoais e mesmo institucionais, como um mosaico de depoimentos nascidos de nossas experiências na rede e, com este pretexto, colocar mais uma vez a dinâmica da rede em ação: autonomia, multiliderança, diversidade. Fica feito o convite.

No documento V.0, N.0 - Edição Impressa (páginas 130-133)

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