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2. Enquadramento Biográfico: Do Abstrato à vontade concreta 5

2.1. O farol que me encaminha 5

2.1.3. A Educação: O ponto de partida 10

A escola é uma das mais importantes instituições da sociedade. A maio- ria dos indivíduos passa por um período largo da sua vida e do seu crescimen- to inserido no contexto escolar. A escola representa por isso uma das principais bases para a formação social do indivíduo, além da educação das disciplinas e seus conteúdos, é através dela que são também repassados os valores sociais, morais e éticos. A Educação é, então, uma estratégia para transmissão de informações e valores aos alunos, que se constitui na prática de formar e cultivar espíritos e o caráter dos indivíduos (Setton, 1999). Ela tem, ou pelo menos deveria ter, a função, a responsabilidade e os meios necessários para proporcionar aos indivíduos a sua humanização, a realização da sua verdadei- ra natureza.

No decorrer do meu percurso escolar frequentei escolas muito próximas da minha zona de residência, onde convivi com alunos com características dife- renciadas das minhas. Nomeadamente a entrada na Escola do primeiro ciclo foi a alavanca para esta nova etapa e mudança na minha vida. A entrada pela primeira vez na escola leva possibilidade de fazer face à frustração de forma positiva, de persistir apesar das adversidades, de aceitar as mudanças como desafios, enfim, de resistir. A capacidade de resistência leva a criança a ser forte, otimista, com uma dinâmica criativa face às contrariedades, incorporan- do-as positivamente no seu desenvolvimento (Vasconcelos, 2007).

A entrada no ensino secundário não foi fácil, uma vez que nesta etapa decidi optar pela área que me suscitava mais interesse e que sempre cobicei, o Curso Tecnológico de Desporto. Porém, ao tomar esta decisão fui forçada a afastar-me dos meus colegas de turma, turma esta que sempre me acompa- nhou desde o meu primeiro ano de escolaridade. Como refere Silva e Fagulha (1987, cit. por Pereira, 2002), a criança ao estar com os seus pares realiza a competição socializada, testa as suas próprias ações em confronto com os outros, cria amizades, alarga e substitui alguns laços familiares pelos que cria com os seus pares. No meu caso em concreto a adaptação a uma nova turma

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e a novos amigos foi complicada, uma vez que os amigos que sempre me acompanharam ao longo de todos estes anos não estavam nesta nova etapa da minha vida, mas este afastamento também foi bom porque me fortaleceu enquanto pessoa, e o apoio incondicional de todos eles fez com que este sonho fosse ainda mais real. Porém, no decorrer desses três anos (10º ano ao 12º ano) comecei a aperceber-me que a área da educação me atraía, que me suscitava interesse e que a vontade de ensinar e transmitir conhecimento a outros indivíduos era um caminho pelo qual eu queria seguir. O gosto por ensi- nar, o gosto de ser um exemplo para os meus alunos, o gosto pelo conheci- mento, o gosto pelo desporto uniu-se para dar lugar ao sonho que fui fomenta- do ao longo dos anos, mas que só neste etapa adveio com toda a sua firmeza. A vontade de querer ensinar e transmitir aos outros conhecimentos sobressaiu no decorrer da licenciatura, uma vez que, sou licenciada em Educa- ção Física e Desporto, pelo Instituto Universitário da Maia (ISMAI). No decorrer dos três anos de formação, o ato de ensinar esteve cada vez mais presente, enaltecendo a escolha dos modos de ensinar, pois sabe o professor que os métodos são eficazes somente quando estão, de alguma forma, coordenados com os modos de pensar do aluno, como refere Tacca (2000). Assim, em 2010 entrei na faculdade, para o 1º ano de Licenciatura em EF e Desporto, no ISMAI, e foi aí que completei os três anos. Ao longo destes três anos aprendi muita coisa, apreciei muitas emoções e mais uma vez tive a certeza que este era o meu caminho, que era nesta área que me sentia feliz, realizada e com uma enorme vontade de alcançar ainda mais. As diversas experiências que pude presenciar nos três anos de licenciatura fizeram-me perceber a importân- cia de pequenas coisas no quotidiano de um professor, como por exemplo o trabalho em equipa, a responsabilidade, o empenho e as relações que estabe- lecemos com os outros. Segundo Rocha (2009), o desenvolvimento das rela- ções interpessoais é essencial para se obter boas convivências entre as pes- soas. Pode-se planear esse desenvolvimento para atender os objetivos indivi- duais e grupais.

Como partilha Nóvoa (2000, p. 23) “O aprender contínuo é essencial e concentra-se em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como

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o lugar de crescimento profissional permanente”. Para elevar a minha formação académica e lutar pelo sonho de ensinar decidi ingressar no Mestrado em Ensino de EF Ensinos Básico e Secundário, na FADEUP. No final da licenciatu- ra e do 1º ano de mestrado posso evidenciar que me foram facultadas inúme- ras ferramentas fundamentais neste último ano e que foram essenciais na PP e na qual coloquei tudo o que me foi ensinado em prática. Agora dou por mim no último ano, ano de estágio, um ano decisivo e muito importante para a minha formação académica e pessoal e espero poder retirar tudo o que de bom me possa trazer. Como sabiamente afirma Dias (2009. p. 39), educar não pode ser mais um processo de “simples informação que ainda caracteriza o circuito E/A do subsistema escola” é necessária a transformação do processo em “verda- deira comunicação própria de um autêntico sistema educativo”.

Esta minha entrada no mestrado foi precisamente isto, uma transfigura- ção. Nos objetivos de vida, na pessoa que era, na minha firmeza no sonhar e no viver aquilo com que sempre ambicionei e que estava prestes a materializar- se, ser professora de EF.

2.1.3.2.O papel das primeiras experiências em ensino

Como afirma Abraham (1984, p. 11), “o professor não é um meio, uma coisa, mas um sujeito, a quem se dá o seu valor e a dignidade de o ser. Os professores são pessoas e não se tornam naquilo que são, simplesmente, por hábito. O ensino está ligado à sua vida, à sua biografia e ao tipo de pessoas que são". Segundo Vieira (1995, p.130), “As atitudes e comportamentos dos professores são fruto, do peso da disciplina e saberes escolares adquiridos, duma cultura interiorizada que torna cada um portador de conceções diferentes dos outros”. No meu caso, foi o conhecer novos professores com característi- cas e perspetivas em relação ao E/A e ao lidar com as relações humanas tão distintas uns dos outros inspirou-me a encarar a escola com outra atitude, isto foi fundamental por exemplo para que eu durante o estágio profissionalizante durante a frequência no 12º ano tive a oportunidade de estagiar na câmara municipal, do distrito do Porto, e numa instituição particular de solidariedade social, do concelho da Trofa, que me levou a vivenciar inúmeras situações.

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Relativamente às vivências exploradas na câmara municipal tive a oportunida- de de acompanhar os campos de férias organizados pela mesma, no qual tinha a função de acompanhar as crianças inscritas e, no caso do desporto, que estes experimentassem, e deveria ensinar-lhes os principais conteúdos e foi então que a vontade de querer ensinar foi crescendo. Na instituição de apoio a cidadãos com deficiência mental mais uma vez tive a oportunidade de lecionar várias aulas de EF adaptadas às dificuldades da turma.

Como referem Porter et al. (1997), o professor é considerado o elemento chave do processo educativo, uma vez que através do envolvimento deste com a sociedade escolar, consegue caminhar para a construção de escolas mais inclusivas assim como, para a renovação das práticas utilizadas na sala de aula. Identifico-me com estas ideias uma vez que estas aulas desenvolvidas nestas duas instituições ajudaram-me a perceber que o professor tem o papel fundamental na aprendizagem de todos os indivíduos, especialmente aqueles com mais condicionantes. Estas aulas, pelas particularidades, eram pensadas ao pormenor, uma vez que tinham de ser ajustadas às diferentes necessidades de cada aluno. Os exercícios, os materiais, a disposição no espaço desportivo, outros elementos simples, tudo repercutia na criação de situações mais vanta- josas para os indivíduos. Esta experiência despertou-me desde cedo para a necessidade de realizar um planeamento minucioso das atividades, experiência fundamental para os exercícios das minhas funções mais tarde no presente EP. Posso constatar que esta foi a melhor experiência que vivi e foi nesse local que decidi o que queria fazer após o término da escolaridade obrigatória. Que- ria ensinar, principalmente crianças ou adultos que não possuíssem as suas faculdades mentais totais. Pois é reconhecido que a prática AF desportiva é importante para qualquer pessoa no que respeita à prevenção, tratamento ou recuperação de problemas de saúde, entre outros. Para além disso, torna-se muito importante também na vertente social, inclusiva e integradora. Foi por influência destas minhas experiências relacionadas com a exclusão e por ter "sentido na pele" esta dura realidade, que se alimentou ainda mais a minha vontade de aplicar no futuro atividades desportivas que atendessem às neces-

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sidades de todos, independentemente, do seu nível de habilidades. Isso teve influência nas minhas escolhas e conceção de ensino a adotar no presente EP.

2.2. Expetativas em relação ao Estágio Profissional: Da Incerteza à