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3. Enquadramento da Prática Profissional 21

3.1. O Professor e o seu caminho 21

A formação de professores é uma temática que tem sido discutida de for- ma reiterada nos últimos anos, devido às condições precárias que se têm insta- lado no palco da educação. A escola de hoje não é a mesma de há décadas atrás, pois como afirma Formosinho (2002, cit. por Paulo Freire, 2000, p.9), “não é possível defender a visão restrita da escola como um espaço exclusivo de aulas que devem ser dadas e lições que devem ser aprendidas, imune às lutas e aos conflitos que se dão longe dela”.

As mudanças do mundo devem ser percebidas e questionadas pelos alu- nos que precisam estar atentos a cada mudança e compreenderem os fatores motivadores das transformações do mundo moderno. A escola deve ter um papel de aproximação do aluno com a realidade que o cerca de modo a prepa- rá-lo para o mundo do trabalho e para a vida social, a fazê-lo entender o seu papel no mundo e ser um verdadeiro artífice da mudança.Ao professor de hoje pede-se que responda a todas estas solicitações. Pede-se que exerça a sua função com autonomia e responsabilidade. Pede-se que aja de forma pronta e criativa na resolução de problemas. Pede-se que promova o prazer e o gosto da descoberta. Pede-se que atualize constantemente os seus conhecimentos científicos. A profissão docente segundo Esteves (2009) integra-se no conjunto das profissões complexas, denominação atribuída por Le Boterf (1997, p.43), que define estas profissões “como aquelas em que os profissionais devem enfrentar o desconhecido e a mudança permanente”. Para isso, o professor tem que desenvolver um conjunto de competências muito diversificadas que lhe permitam enfrentar e solucionar, não só os problemas que surgem dentro da sala de aula, mas também fora dela.

Para que o professor possa responder a todas as mudanças, conse- guindo depois transmiti-las com rigor e criatividade aos seus alunos é necessá- rio ter desenvolvido um conjunto de competências, ou seja, ser capaz de mobi- lizar os conhecimentos cognitivos necessários para enfrentar a situação (Estre- la, 2002). Deste modo, a formação é um processo fundamental. Os autores

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Walker Drew et al. (1989) referem acerca disto que os conceitos, motivação e atividade, se completam entre si. Ainda nesta linha, Abreu (1998) afirma que “A motivação está na raiz do comportamento. Toda a atividade tem origem numa "energia" geradora de "forças", ou de "dinamismos" que mobilizam ou põem em movimento os protagonistas da atividade”.

Por outro lado a competência é uma construção que resulta da combina- ção pertinente entre diversos recursos (Le Booterf, 1999). Exprime-se em ter- mos de atividades ou da prática profissional e corresponde aos esquemas ou modos de agir de cada pessoa. Implica saber mobilizar, integrar e transferir conhecimentos que se deverão articular com o saber-fazer. Nesse contexto, a competência pode ser definida como, um “saber mobilizar”, em tempo oportuno as capacidades ou conhecimentos que forem adquiridos através da formação. Toda a competência digna desse nome é transferível e adaptável, mas, não se limitando à execução de uma tarefa única e repetitiva. Ser competente significa mais do que ser um bom executante. Logo, a competência pressupõe a exis- tência de capacidades de assimilação e de integração, assim como de fazer evoluir a situação de trabalho e na qual se opera, como cita Le Booterf (1999).

Em Portugal, o sistema de formação de professores enquadra-se numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, no desenvolvimento profissional do professor, incluindo, a FI, a FC e a formação especializada (FE). No decor- rer deste ano letivo, bem como, nos anos anteriores de formação académica, a FI esteve bem patente nas diferentes etapas que, com perseverança e com- promisso, fui ultrapassando. A FI, segundo define Estrela (2002. p.18) é “o iní- cio, institucionalmente enquadrado e formal, de um processo de preparação e desenvolvimento da pessoa, em ordem ao desempenho e realização profissio- nal numa escola ao serviço de uma sociedade historicamente situada”. É, pois, o momento privilegiado para o professor poder desenvolver as competências básicas ao desenvolvimento da sua carreira profissional, devendo ser encarado como uma primeira etapa de um longo percurso de formação que tem que ser aperfeiçoado permanentemente (Formosinho, 2009).

Uma das componentes da FI de professores, considerada como funda- mental, que tem sido alvo de maior discussão e também de maiores alterações,

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é a PP. Na perspetiva de Garcia (1999, p.103), “as práticas de ensino repre- sentam uma oportunidade privilegiada para aprender a ensinar”, pois, durante esse período, o candidato a professor aprende a compreender a escola como um organismo, aprende a entender os problemas de ensino como problemas curriculares, conhece a prática da planificação curricular, participa e contacta com inovações em desenvolvimento.

O professor passa a ser ele mesmo um ser reflexivo. Neste domínio, o filósofo Dewey (1989) define a ação reflexiva como aquela que envolve consi- deração de qualquer crença ou prática de modo ativo, persistente e cuidadoso. À luz das razões que a apoiam e as consequências a que a mesma conduz, acreditando que a reflexão, não consiste numa série de passos ou procedimen- tos a serem usados pelos professores, antes deve ser entendida como “um modo holístico de conhecer e responder aos problemas, uma maneira de estar como professor”. As práticas reflexivas desenvolvem-se num processo dinâmi- co no tempo, onde a postura e as atitudes dos professores assumem um papel fundamental, pelo facto de impulsionarem as práticas reflexivas a vários níveis, destacando a sua capacidade de refletir enquanto atuam e depois da atuação. No início da minha PP fui incentivada a refletir sobre todos os comportamentos e atitudes existentes no meu dia-a-dia, as minhas aulas, a minha postura e a forma como vejo o ensino. Após um período de reflexão, que para mim define um bom de um mau professor, constatei que apesar da nossa FI ser a base das nossas atitudes e valores no ensino ainda não estava preparada para con- seguir refletir de uma forma detalhada e pormenorizada, sobre os pontos-chave que me ajudariam a melhorar e desenvolver os meus conhecimentos e perspe- tivas, como evidencia o excerto a seguir:

" (...) No que diz respeito ao comportamento da turma, esta manteve um bom comportamento ao longo da aula, porém em alguns momentos foi difícil de os contro- lar, pois nesses momentos estava nas estações do rolamento à retaguarda, elemento que os alunos têm mais dificuldades, o que fez com que alguns alunos se dispersas- sem e se distraíssem da tarefa motora que lhes foi solicitada. Todavia no geral, a tur- ma demonstrou mais empenho e dedicação na aula, ao contrário da aula passada". (DB 09 de dezembro de 2014)

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A dinâmica dos professores participantes nas práticas reflexivas, bem como o seu investimento neste processo, leva-nos a perceber a importância da adoção de posturas profissionais, ou seja, ser crítico, ser empenhado, ser res- ponsável e ser autónomo, por parte do professor, emergindo, deste modo, o nascimento de um professor diferente. Um professor que vai para além do conhecimento da técnica, isto é, que reflita na e sobre a sua prática/ação na sala de aula, proporcionando-lhe tempos e espaços para a construção de novos saberes profissionais e, desta forma, melhorar o ensino na sala de aula e desenvolver-se profissionalmente ao longo da carreira.

Assim, o processo de reflexão realizado tem como principal intuito aper- feiçoar o método de ensino, para que a aprendizagem dos alunos se eleve, vejamos o meu depoimento:

"Penso que referi previamente uma série de questões que tem sido objeto da minha reflexão diária, o que me permite constatar que a evolução e aprendizagem verificada durante este período (1º e 2º Período) têm sido muito mais significativa do que aquela que eu esperava. O tempo de reflexão disponibilizado tem sido decisivo neste crescimento pessoal, pois apenas a atividade refletida e reajustada nos permite evoluir. Sinto que estou melhor hoje do que ontem o que me deixa profundamente satisfeita e que me motiva cada vez para o futuro." (Diário de bordo, 5ºano: Reflexão Final 2º período)

Neste sentido, é importante ressalvar que o professor não se constitui como profissional reflexivo isolado, mas em interação com outras pessoas através do convívio escolar e de outros lugares/ situações. A reflexão é um processo coletivo (Contreras, 2002).