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CAPÍTULO IV As representações dos professores do 1º Ciclo

1. A escola vista pelos professores do 1º Ciclo

Para percebermos e enquadrarmos as representações de escola, temos que recorrer ao enquadramento social de todos os actores desta instituição, pais professores e alunos, auxiliares e comunidade onde a escola se insere. A forma como cada um destes actores vê o seu papel na sociedade e na escola, influencia a forma como representa a escola e como desempenha a sua função. Assim diz-nos GILLY (1989, p. 364), que a combinação do modo de estar na sociedade com a representação que se tem da escola, pode até influenciar a “comunicação pedagógica, no seio da aula”, e mesmo a “construção dos saberes”.

Assim cada actor do sistema escolar terá a sua representação de escola e irá agir no desempenho do seu papel, de acordo com essa imagem de escola, que poderá ser influenciada por inúmeros factores, mas que é em última análise por si construída. É que a representação de escola “não é uma imagem reflexo da realidade escolar, das funções sociais efectivas, mas uma construção original visando legitimá-las” (ibid, pp.367-368)

Os estudos realizados por GILLY, acerca das representações de escola, levaram- no a concluir que, sobretudo os pais de mais baixos recursos, e alguns professores, ainda não mudaram totalmente a representação que têm de escola selectiva e elitista. Para que essa mudança se desse, a própria instituição escolar teria que implementar mudanças mais profundas, as quais muitas vezes não passam de intenções do legislador, que obrigassem os seus actores a olharem-na por um prisma mais igualitário e democrático. No entanto esta mudança depende de profundas alterações que teriam que acontecer

também na sociedade, diz o mesmo autor que “os sistemas de representações sociais relativas à escola não podem ser consideradas independentemente das suas ligações com outros sistemas gerais de que dependem” (ibid, pp.382-383).

1.1. A escola vista numa dimensão sócio-organizacional

No modo como a escola se pode organizar perante a comunidade que a envolve, destacamos a distinção feita por FORMOSINHO (2000, pp.27-69), entre a escola serviço local do Estado e a escola comunidade educativa:

1.1.1. Escola serviço local do Estado

Segundo este autor, a escola em que os órgãos locais de direcção, apenas servem para cumprir as ordens do ministério, em que os professores e os alunos cumprem escrupulosamente essas ordens e estejam restritamente sujeitos à hierarquia, em que não cabem na escola nem os pais, nem a restante comunidade, e em que o professor é um mero funcionário público que ensina os alunos e cumpre os horários. A escola é vista apenas como um serviço local do Estado, ligado a um modelo centralizado e burocrático de administração.

1.1.2. A escola comunidade educativa

A escola em que os órgãos de gestão têm autonomia e responsabilidade, perante a comunidade e perante o poder central, em que os intervenientes no processo estão legalmente representados, e em que o professor se comporta como um profissional de educação. Esta escola é vista, pelo referido autor, como modelo descentralizado, democrático e profissional de organizar a escola, sendo assim considerada como escola comunidade educativa.

1.2. Modelos de escola na dimensão pedagógica

Os aspectos pedagógicos e didácticos da escola são abordados por SANTIAGO (1993, pp.20-26), que faz a distinção entre a escola transmissiva e a escola construtiva.

1.2.1. A escola transmissiva

As finalidades da escola transmissiva centram-se essencialmente na preparação da criança para a inserção na sociedade, o que se faz através da transmissão de

conhecimentos e de valores morais e culturais. Não há lugar para a opinião individual dos alunos, nem para a criatividade. Tudo está feito e organizado, é o aluno que tem que se adaptar à escola e assimilar o que lhe é transmitido. Nesta escola não cabe a família nem a sua cultura, espera-se que os alunos influenciem os pais com os valores que aprendem na escola. Ao professor cabe transmitir saberes e valores, sem se preocupar com cada aluno, nem com os seus ritmos, nem com os seus problemas psicológicos ou outros.

1.2.2. A escola construtiva

As finalidades da escola construtiva dirigem-se mais para a iniciativa pessoal do aluno e para a aquisição progressiva da sua autonomia. A escola procura adaptar-se a cada um dos seus alunos e aproveita os seus saberes para, partindo deles, atingirem as suas metas de desenvolvimento. Os pais são neste modelo vistos com parceiros e co- decisores, e tidos como indispensáveis para que cada escola atinja os seus objectivos. O professor tem mais a função de fazer diagnósticos e, a partir deles, proporcionar as melhores condições de aprendizagem a cada um dos seus alunos, cabendo-lhe portanto a mediação entre o mundo da criança e a realidade social. Para além de conhecimentos, o professor tem que ter a capacidade de relação com os alunos, pais, e comunidade envolvente.

1.3. Os objectivos da escola contidos na LBSE (Lei 46/86)

As profundas alterações legislativas que a escola portuguesa está a viver, decorrentes das transformações sociais e políticas das últimas três décadas, levam a que se repense o papel da escola e nomeadamente no que se refere aos seus objectivos.

Tendo como base a análise feita por TEIXEIRA (1995, pp.37-39), a escola que se quer construir hoje, pode ter como objectivos principais, instruir, educar e intervir no meio.

1.3.1. A escola serve para instruir

Nesta perspectiva, à escola não basta transmitir conhecimentos, ela deve ainda preocupar-se com a formação intelectual dos alunos. Assim o espaço e equipamentos escolares, bem como todos os profissionais e actores educativos, estão ao serviço do sucesso educativo dos alunos.

1.3.2. A escola serve para educar

Esta forma de ver a escola enquadra-se nas preocupações com a formação integral dos alunos, com o despertar neles do interesse pela realização pessoal e pelo desenvolvimento da criatividade. Pretende-se também que os alunos desenvolvam capacidades de trabalho individual e em grupo, que encontrem nesse trabalho um sentido positivo e que sejam orientados na escolha da sua futura profissão.

1.3.3. A escola serve para intervir no meio

Colocam-se ainda à escola objectivos de intervenção no meio em que se insere. É-lhe pedido que actue directamente na comunidade, promovendo-a, por exemplo através de actividades extracurriculares e outras de carácter cultural. Mas espera-se também que os seus professores prestem um serviço à comunidade, através da formação que dão aos seus alunos e da sua própria acção directa.