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Aceitando o conflito como um factor de desenvolvimento teremos que encontrar estratégias para o usar como forma de garantir que os implicados no processo educativo têm o direito, democraticamente consagrado, de expressar as suas ideias mesmo que, aparentemente, incompatíveis com as dos restantes. No caso da escola e especificamente na relação com as famílias, poderá usar-se a negociação, que pode ser informal e estar presente nas relações quotidianas entre pais e professores, ou formal, envolvendo as instituições escola, família e comunidade, num contexto organizacional e onde legitimamente os representantes dos diferentes interesses devem defender os seus pontos de vista. No entanto, segundo KENNEDY et al., (1986) deve ter-se em conta que “a negociação é um processo de resolução de uma situação conflitual entre dois

intervenientes ou grupos opostos, através do qual cada uma das partes transforma as suas exigências até aceitar um compromisso viável para todos.” (citado por GONÇALVES, 2003, p.116)

No caso concreto da relação Escola-Família, parece-nos que o Projecto Educativo da escola, pode contribuir para que se consiga

“o envolvimento activo de equipas integrando vários membros da comunidade educativa, incluindo professores, gestores, alunos, pais, bem como outros profissionais e membros significativos da comunidade em que a escola se insere. A diversidade da equipa é condição para o acesso a perspectivas transversais sobre os problemas identificados potenciando o confronto com pontos de vista diferenciados e a construção de uma síntese compreensiva que reconheça e integre as diferentes visões sobre a realidade” ILLBACK, ZINS, MAHER& GREENBERG, (citado por MENEZES, 2003, p.268)

Se a gestão da escola conseguir a implicação de todos estes actores no Projecto Educativo, será mais fácil resolver os conflitos, que inevitavelmente surgirão, de forma negociada. Esta estratégia permitirá o acolhimento de todas as diferentes opiniões e a implementação de medidas que, depois de sujeitas a cedências e conquistas terão mais probabilidades de obter o empenhamento e a maior satisfação de todos.

Outra estratégia que é defendida pelos autores desta área, é a criação de equipas de mediadores na escola, sobretudo para resolver aqueles conflitos que provocaram uma situação de corte na comunicação entre as partes, ou mesmo de violência, uma vez que, segundo a opinião de GONÇALVES (2003, p.115) “nem todo o conflito é produtor de desenvolvimento” e “existem conflitos que são desencadeadores de forte violência e de desintegração pessoal e comunitária”. Em casos desta natureza, que ocorrem na escola e também entre pais e professores, MENEZES (2003, p.275) defende

“a criação de equipas de mediadores na escola, constituídas por alunos, professores, pessoal não docente e pais, com uma composição rotativa de forma a permitir que vários elementos da comunidade educativa possam ter a oportunidade de experienciar este papel, com vantagem na disseminação de competências de mediação”

É claro que este é um processo complexo que, segundo a mesma autora que cita CASCÓN SORIANO (2002), a mediação tem seis fases que, ou são respeitadas, ou o sucesso da intervenção fica comprometido. No início é necessário recolher o máximo de informações sobre o conflito e estabelecer as regras do processo; segue-se a escuta das partes envolvidas que terão oportunidade de dar a sua versão dos factos e a suas percepções e sentimentos; elabora-se depois uma síntese das problemáticas a resolver, depois de acordada entre todos; na fase seguinte apela-se à criatividade dos

intervenientes a fim de que se desenhem possíveis soluções, ainda sem ter preocupações com a possibilidade de as pôr em prática; haverá então condições para se criar uma proposta de solução que seja aceitável e realista e defina claramente os aspectos concretos da sua aplicação; finalmente é absolutamente necessário avaliar e verificar se o que foi acordado se concretizou na prática.

Pode-se verificar que se trata de um processo complexo, tanto mais que envolve relações pessoais, estando por isso o seu sucesso dependente da formação dos mediadores “que devem desenvolver capacidades de escuta activa, de construção de relações de confiança, de articulação de pontos de vista diferentes de construção de um clima relacional entre as partes favorável à expressão emocional, à criatividade e à negociação” MENEZES (2003, p.276). A mesma autora defende que esta formação tem que ser intensiva e contínua, pois resumindo-se a alguns episódios de curta duração não permitirá a aquisição das competências imprescindíveis a tão nobre missão. (Cfr., ibid, p.277)

A referida autora (Cfr. ibid, pp.271-284) defende ainda, que uma correcta abordagem dos conflitos na escola implica a transformação das práticas pedagógicas, a avaliação e transformação do clima institucional da escola, a implementação da comunidade justa, a abordagem de afecto no currículo e a concretização de projectos de investigação-acção. Consideramos igualmente importantes todas estas estratégias, mas a nossa atenção virou-se mais para a negociação e para a criação de equipas de mediadores, por não nos ser possível aprofundar todas elas no âmbito deste trabalho.

Resumo

No final desta breve “viagem ” desde as teorias organizacionais até à escola de hoje, podemos concluir que:

- A Teoria das Relações Humanas, inspirada no espírito democrático vigente nos Estados Unidos e nos avanços científicos no campo da Psicologia e da Sociologia, deu um valioso contributo ao estudo da administração, ao atribuir uma importância fundamental ao Homem social, o que levou à humanização das instituições.

- Embora não se possa considerar nenhuma das teorias organizacionais como a mais adequada para explicar a organização escolar, podemos aceitar que, tanto a TRH como as teorias micro políticas, podem constituir uma boa perspectiva de observação da realidade da escola actual.

- A escola é uma Arena Política, porque é constituída por diferentes classes sociais, diferentes classes profissionais, diferentes culturas, diferentes etnias, diferentes grupos formais e informais e em que todos os actores envolvidos têm algum tipo de poder, que estão dispostos a usar para satisfazer o que julgam ser os seus interesses em cada momento.

- A escola é um sistema aberto, que sofre influências do meio externo e é por ele influenciada uma vez que também os poderes exteriores à instituição escolar, formais ou informais, pressionam a escola, defendendo o que julgam ser os seus interesses em cada momento.

Finalmente parece-nos pertinente concluir que se torna fundamental que os órgãos de gestão das escolas, de topo e intermédios, bem como os diferentes actores da instituição escolar, tomem consciência dos vários poderes existentes na escola e fora dela. É que só conhecendo essa complexa realidade poderão, por meio da negociação e mediação, perseguir o objectivo do sucesso educativo de todos os alunos e da satisfação de todos os profissionais da educação, bem como das famílias e da sociedade em geral.

Ora, todos estes actores do acto educativo só poderão atingir níveis aceitáveis de satisfação se tiverem uma participação activa nas decisões tomadas na escola. Vejamos no capítulo seguinte se é isso que tem acontecido ao longo dos anos, nomeadamente no que se refere à participação dos pais na vida escolar dos filhos.

CAPÍTULO II – A participação dos pais na escola