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2. Interpretação dos resultados

2.3. Atitude dos professores perante o não envolvimento dos pais

No presente estudo, procurámos saber até que ponto os professores investiam no envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, para isso tentámos conhecer as suas opiniões e atitudes, perante o não envolvimento dos pais.

Os dados que obtivemos permitiram-nos verificar que os respondentes, maioritariamente, (51,4%), tomam atitudes reveladoras de que, não cabe aos pais deslocarem-se à escola por sua iniciativa, mas, a percentagem dos que acham que essa iniciativa pertence ao professor, é um pouco inferior, (45,9%). Esta divisão dos

resultados pode indiciar que, na nossa amostra, não é frequente ser o professor a tomar a iniciativa de cativar os pais para se envolverem na vida escolar do filho, contrariamente ao que defende SILVA (2003, p.376). Também MARIA JACINTO (2006, p.237) chegou à conclusão de que, na opinião dos Directores de Turma que participaram no seu estudo, “os Encarregados de Educação raramente comparecem na escola por iniciativa própria”. Ora, como vimos anteriormente, é a escola e os professores que têm o poder formal para tomarem a iniciativa da relação com as famílias, mas também porque pertencem à cultura socialmente dominante, à cultura da organização escolar e à cultura dos profissionais da educação, conhecendo melhor do que ninguém o meio escolar, devem potenciar esse conhecimento investindo-o no estabelecimento de relações bem sucedidas com as famílias, até porque também são eles que “detêm (ou deveriam deter) uma competência comunicacional intercultural.” (SILVA, 2003, p.376)

Quanto às razões, apontadas pelos docentes que responderam ao inquérito, para o não envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, encontrámos resultados com algumas semelhanças em relação aos obtidos por VIRGÍNIO SÁ (2004, p.401-402). Lembramos que a questão que utilizámos para recolher os dados relativamente a este item foi adaptada de uma semelhante elaborada e aplicada por este autor na sua tese de doutoramento. Assim, os respondentes mostraram-se maioritariamente discordantes de que as razões do não envolvimento sejam imputáveis à escola e aos próprios professores, mas, já quanto a essa responsabilidade ser imputável, aos pais, não obtivemos uma concordância tão expressiva como o autor acima referido. No entanto, é de salientar que os professores da nossa amostra mostram-se mais concordantes, (44,7% - “Concordo” e 17,3% - “Concordo totalmente”) com o facto do não envolvimento dos pais se dever à sua falta de interesse pela vida escolar dos filhos, do que os docentes que constituíram a amostra do autor (Cerca de um terço dos professores inquiridos). Resultados semelhantes também foram obtidos por MARIA JACINTO (2006, p.234), pois concluiu que, na opinião dos directores de turma que estudou, os pais não revelam interesse pela vida escolar dos filhos.

Ora estes resultados por nós obtidos levam-nos a reflectir na opinião de VINCENT (1996, citado por VIRGÍNIO SÁ, 2004, p.160-166), quando refere que os professores têm a tendência para apelidar de desinteressados os pais que não participam na vida escolar dos filhos, mas que isso não corresponde sempre à realidade, uma vez que esses “pais independentes” podem simplesmente não estar dispostos a aceitar a oferta participativa que lhes é apresentada pela escola, sendo, apesar disso, igualmente

interessados na vida escolar dos filhos. O autor refere ainda os “pais isolados” que separam muito bem o seu papel daquele que devem desempenhar os professores e que se orgulham de nunca ter necessitado de ir à escola, mas que no caso dos docentes da nossa amostra mereceu a discordância de quase metade dos respondentes, de que fosse esse o motivo do não envolvimento dos pais.

Também colocámos aos professores da amostra uma outra questão adaptada do questionário utilizado por VIRGÍNIO SÁ (2004, p.407-408), trata-se de saber em que áreas deveriam os pais ter maior participação, na opinião dos professores da amostra. Os resultados que obtivemos foram semelhantes, já que, também nos nossos dados os professores “Concordam” (78,4%) ou “Concordam totalmente” (14,9%) em que os pais deveriam ter um papel mais participativo em actividades de apoio ao professor, sendo muito inferior a percentagem dos que “Concordam” (39,2%) ou “Concordam totalmente” (1,4%) com essa maior participação na definição das políticas educativas. Até porque, como já vimos anteriormente, os professores da amostra acham que é o envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa, um tipo de apoio ao trabalho do professor, que mais contribui para o sucesso educativo, ao contrário da sua participação na tomada de decisões é a que, na sua opinião, menos contribui para esse objectivo. Assim, e de acordo com a terminologia de STOER e CORTESÃO (2005, p.79), os nossos respondentes preferem que os pais assumam o papel de “pai colaborador”, mostrando-se bastante menos receptivos a que desempenhem o papel de “pai parceiro”. Também VIEIRA (2005, p.144-145) encontrou resultados semelhantes, tendo concluído que os professores em geral acham que os pais devem colaborar com eles, mas “não parecem permitir que o papel dos pais vá muito para além do que a própria participação e ajuda em tarefas consequentes de projectos concebidos e elaborados pelos próprios professores.”

Estes resultados estão em consonância com os que obteve CÉLIA MONTEIRO (2006, p.153) na sua dissertação de mestrado, quando afirma que os pais têm consciência de que “as actividades por si propostas não são bem aceites pela direcção da escola ou pelos professores por estes considerarem que tal atitude demonstra ‘invasão’ do espaço ou tentativa de usurpação de poder.”

Também FERNANDA ALMEIDA (2004, p.108), na sua dissertação de mestrado, conclui que os pais concordam com esta “divisão de territórios”, quando afirma que “os pais se encontram mais preocupados em colaborar nos projectos da

escola (nas actividades) e em ajudar os filhos nas tarefas escolares do que em intrometer-se no trabalho específico dos professores.”