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2. Interpretação dos resultados

2.2. Opinião dos professores sobre o envolvimento dos pais

No presente estudo procurámos conhecer a atitude dos respondentes quanto ao envolvimento dos pais na vida escolar dos seus filhos. Os resultados que obtivemos indicam-nos que os professores respondentes têm mais tendência a considerar os pais como “clientes”, ou seja, de acordo com MOTANDON (2001, p.23),

“os pais são considerados como clientes, que não sabem nada de pedagogia ou de gestão. Consequentemente, a única coisa a fazer é informá-los. A informação prestada é, frequentemente sobre assuntos relativamente pouco importantes. Satisfaz alguns pais, mas deixa outros desapontados.”

do que a considerá-los como “parceiros”, “caução” ou “grupo de pressão”.

A autora refere ainda que este tipo de informação não chega a desencadear um processo de comunicação, apesar dos grandes avanços tecnológicos que se registam nesta área.

Encontramos aqui algumas semelhanças com a designação de “pais consumidores”, referida por VIRGÍNIO SÁ (2004, p.158-159), que confere aos pais o estatuto de “consumidores de bens educativos”, mas que na prática se traduz apenas na

possibilidade, nem sempre concretizada, de escolha da escola21

que os seus filhos iriam frequentar. Neste caso são facultadas aos pais informações sobre as escolas, os resultados em exames nacionais e relatórios de inspecções, mas não lhes são concedidos “direitos similares para influenciar os seus processos internos (da escola) ou para questionar a política educativa.” Os pais, se não concordam com as decisões da escola, podem mudar os filhos para outra escola, mas nada podem fazer para mudar a escola.

Também, ANA MONGE (2004, p.182), na sua dissertação de mestrado, chegou à conclusão de que “os pais são mais expectantes relativamente à informação prestada pela escola, do que a respeito da sua participação activa na gestão escolar”, ou seja se os professores da nossa amostra sentem que a atitude que devem tomar no que diz respeito ao envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos é sobretudo de informá-los, também há pais cujas expectativas se ficam por obter essa informação, não desejando ir mais além.

Os nossos dados permitiram-nos ainda verificar que são os professores que leccionam nas escolas de tipo EB1, que são maioritariamente mais novos e declaram em maioria, ter tido formação na área da relação Escola-Família, aqueles que têm mais tendência para “Consultar os pais e incentivá-los a participar em todas as decisões da escola”.

Tentámos também, conhecer a opinião dos inquiridos acerca de qual o contributo que têm, as diferentes formas de envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, para o sucesso educativo. Os resultados que obtivemos indiciam que, na opinião dos respondentes, é “O envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa”, que maior contributo pode dar para o sucesso educativo dos alunos. Esta categoria pretendia traduzir o “Tipo 4- Envolvimento em actividades de aprendizagem em casa” dos seis tipos de envolvimento que compreende a tipologia de EPSTEIN (1997, citada por VIRGÍNIO SÁ, 2004 p.111 e ss), a que já nos referimos anteriormente. Nesta modalidade de envolvimento, a família é informada e apoiada pela escola de forma a poder “ajudar as crianças, quer na realização dos trabalhos de casa, quer ensinando-lhes determinados conteúdos curriculares.” (ibid, p.125).

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Refira-se ainda que, neste momento, a questão da escolha da escola, ao nível do 1ºCiclo, parece não se colocar em Portugal, uma vez que o processo em curso de encerramento das escolas com reduzido número de alunos, nomeadamente no Concelho de Rio Maior, obriga a que as crianças oriundas de uma escola encerrada, frequentem a respectiva escola de acolhimento, designada pelas autoridades educativas, e não a que reúna as preferências da família.

Ainda no que se refere à tipologia de envolvimento dos pais, de EPSTEIN (1997), refira-se que os respondentes são de opinião que “A participação (dos pais) na tomada de decisões”, é a que menos contribui para o sucesso educativo dos alunos. Este é o “Tipo 5” de envolvimento dos pais, de acordo com a tipologia de EPSTEIN e,

“abrange as situações em que os pais surgem como representantes nos órgãos de consulta e de decisão no interior da escola, mas também em outros níveis da administração do sistema educativo, nomeadamente em estruturas regionais e nacionais do movimento associativo de pais…” (ibid, p.131-132)

Ou seja, nota-se aqui uma tendência dos respondentes para considerar que é a colaboração dos pais em actividades de aprendizagem em casa que mais pode contribuir para o sucesso educativo e que a participação nos órgãos de decisão será a que menos contribui para esse objectivo.

No presente estudo, também pudemos verificar que, de acordo com os professores da amostra, são os pais de “Nível sociocultural próximo ao da escola” que aí de deslocam com maior frequência e que são os de “Nível sociocultural mais afastado do da escola” que o fazem com menor frequência. Dados semelhantes obteve ALÍPIO CARDOSO (2004, p.145), em relação aos pais que fazem parte dos órgãos das associações de Pais, afirmando que “os Pais/Encarregados de Educação que manifestam maior adesão aos corpos gerentes da associação pertencem a grupos sociais e culturais próximos da cultura letrada.” Estes resultados parecem confirmar alguns estudos referidos por MONTANDON (2001, p.158), nos quais se observou que “os contactos (com os professores) são mais frequentes entre os pais cujo nível de instrução e os recursos socioeconómicos são elevados.” Também SILVA (2002, p.118 e 2003, p.359) afirma que são os pais em continuidade cultural e social com a escola que mais facilmente se relacionam com a instituição e com os professores. O mesmo autor refere, como já vimos atrás, que são os pais de classe média, com profissões liberais e brancos que integram maioritariamente os órgãos das escolas, mesmo onde a comunidade é constituída por pessoas da classe operária e de minorias étnicas. SILVA (2003, p.48)

Ora, foi precisamente sobre a participação dos pais nos órgãos da escola que questionámos os docentes da amostra, e ficámos a saber que, as opiniões se apresentam bastante divididas. Por um lado, a maioria discorda de que essa participação serve para controlar os professores, o que parece levar a concluir que os docentes da amostra não têm a percepção de que o objectivo da maior participação dos pais na escola será o maior controlo, nomeadamente do Estado, sobre os professores, como defendem SILVA

e STOER (2005, p.16). É também maioritária, embora ligeiramente inferior, a percentagem dos que acham que essa participação contribui para a democratização da escola, o que vai de encontro ao que defendem SILVA (2003, p.379) e LIMA (2000, citado por SILVA, 2003, p.378), quando afirmam que a participação dos pais contribui em simultâneo para a democratização da escola e, através desta para a democratização da sociedade. Os docentes da amostra, mas menos de metade, associam ainda a participação dos pais ao sucesso educativo dos alunos, com o faz FINN (1998, citado por VIRGÍNIO SÁ, 2004, p.128) e que defende que é a melhoria dos resultados obtidos pelos alunos em consequência de uma maior articulação entre a escola e a família, que justificam o envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos.

É ainda de destacar que praticamente metade dos respondentes se mostrou indeciso ou sem opinião relativamente às opções de resposta que sugeriam que a participação dos pais em órgão da escola “Não tem qualquer efeito positivo” e que cerca de um quarto dos professores da amostra mostraram-se concordantes com as referidas opções de resposta. Esta percentagem de docentes parece ter opiniões aproximadas dos dados obtidos por AFONSO (1994), que indicavam que muitos professores faziam sentir aos pais que eles apenas deveriam marcar presença na escola se existissem problemas com os filhos, ao nível do aproveitamento, da disciplina ou da assiduidade ou nalgumas ocasiões festivas e que, nas restantes situações, “os encarregados de educação são desencorajados a entrar na escola, por tal se revelar «inútil»” (citado por ÁVILA DE LIMA, 2002, p.160). Também ALÍPIO CARDOSO (2004, p.144) concluiu no seu estudo que os pais têm a percepção de que os professores exercem um “papel de obstrução passiva” à melhoria da qualidade de participação dos pais na vida da escola.

2.3. Atitude dos professores perante o não envolvimento dos