• Nenhum resultado encontrado

Outros trabalhos de investigação na área da relação Escola-Família

Neste capítulo apresentaremos alguns estudos empíricos realizados no âmbito da relação Escola-Família e que retomaremos quando, mais adiante, procedermos à discussão dos resultados que obtivemos no nosso estudo.

Depois de alguma pesquisa, não tivemos acesso a dissertações de mestrado que abordassem a temática que optámos por estudar, nomeadamente no que se refere à opinião dos professores do 1ºCiclo. Assim, optámos por nos servirmos de estudos realizados no âmbito da relação Escola-Família e que se debruçassem sobre temáticas próximas da que é abordada no presente trabalho.

Começámos por consultar a Dissertação de Mestrado:

Almeida, Fernanda (2004) “A Participação das Famílias na Escola – Entre a Burocracia e a Operacionalização”, Lisboa, Universidade Aberta.

Este estudo centra-se na participação das famílias na escola e tinha como objectivos principais: conhecer as representações e expectativas de pais e professores, de uma escola de 2º e 3º ciclo, de forma a verificar a importância das famílias na escola, como mais valia no processo de formação do aluno; saber que caminhos conduziram à participação das famílias na escola e procurar mostrar que só uma forma de vida democrática baseada na procura de consensos pode trazer resultados felizes nesta relação.

Para atingir estes objectivos de investigação, a autora realizou um estudo de natureza qualitativa, numa Escola de Ensino Básico de 2º e 3º Ciclos situada no meio urbano da área metropolitana de Lisboa, que se baseou na análise de conteúdo dos protocolos de entrevista dos Representantes dos pais, Directora de Turma, Coordenadora dos Directores de Turma e Presidente do Conselho Executivo.

Para chegar ao relatório final a autora analisou: as Representações quanto à definição dos papéis dos actores educativos: os pais e os professores; Representações em relação à operacionalização da participação dos pais; Percepções quanto à participação dos pais; Percepções quanto à operacionalização da participação dos pais na escola em estudo e Expectativas quanto à participação dos pais.

- A articulação de esforços de todos os actores educativos tem um papel importante na escola de hoje, que tem de enfrentar novos desafios e novas responsabilidades, recorrentes das mudanças demográficas e transformações na estrutura das famílias.

- O facto de a legislação já permitir que as famílias participem na escola não traz, por si só, contributos para vencer estes desafios. É necessário garantir a democraticidade dos órgãos e o equilíbrio da representatividade entre os sectores da comunidade educativa.

- É preciso lembrar o princípio do isomorfismo pedagógico “só se aprende a participar participando” e que este também se pode aplicar às famílias, de modo a podermos aplicar modalidades de participação adequadas, que facultem um conhecimento da escola.

- Só operacionalizando a participação das famílias, através da promoção de estratégias de envolvimento e cooperação com os demais actores, motivando-as para a construção dinâmica da escola, poderemos considerá-las como intervenientes no processo de formação do aluno.

Consultámos também a dissertação de mestrado: Cardoso, A., (2004) “Os

Encarregados de Educação e as suas Percepções de participação na Vida Escolar”

Lisboa, Universidade Aberta.

Nesta dissertação, o autor estudou a temática relacionada com a participação dos Pais/Encarregados de Educação nos órgãos de gestão das escolas, como contributo para a reflexão do desenvolvimento de uma “cultura participativa” e na definição de uma política Educativa de Escola. Foi a partir das percepções dos Pais/Encarregados de educação, que o autor analisou e interpretou as vantagens e impedimentos na operacionalização das práticas de participação.

Este estudo assumiu uma abordagem descritiva e exploratória e envolveu 61 Encarregados de Educação do ensino oficial que, no ano lectivo de 2002/03 eram sócios das Associações de Pais e fossem ou tivessem sido membros de órgãos de gestão (Assembleia de Escola ou Conselho Pedagógico), em escolas com 3º Ciclo do Ensino Básico ou com Ensino Secundário de um concelho do distrito de Setúbal.

Na parte teórica o autor apresenta uma perspectiva sobre o tema, abordando a relação Família-Escola conjugada com as imagens que a caracterizam na sua dimensão organizacional e analisa a evolução do conceito de família e da sua participação na vida escolar.

Deste estudo o autor conclui que os Pais/Encarregados de Educação reconhecem não existir uma cultura de participação, aliada à dificuldade que as Associações de Pais têm de motivar os seus associados e identificam a falta de conciliação entre o horário da sua actividade profissional com o das reuniões dos órgãos como um dos principais obstáculos a uma efectiva participação. Consideram que a sua participação deverá incidir, no Conselho Pedagógico, na vertente da orientação e acompanhamento dos alunos, enquanto na Assembleia de Escola deverá estar mais ligada aos instrumentos fundamentais do processo de autonomia: o Projecto Educativo, o Regulamento Interno e o Plano Anual de Actividades. Os inquiridos defendem ainda uma maior representatividade nos órgãos de gestão e a existência de um plano de acções de formação com vista à valorização das suas intervenções, as quais, entendem dever ser confiadas a actores de perfil participativo, competente, com capacidades de comunicação e em simultâneo moderadores, capazes de estabelecer boas relações interpessoais.

Fizemos também a revisão da dissertação de mestrado: Monge, A., (2004)

“Expectativas Parentais em relação à Escola Pública e Privada no 1º Ciclo do Ensino Básico”, Lisboa, Universidade Aberta.

Nesta investigação, a autora tinha como objectivo conhecer as expectativas dos pais em relação às escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, públicas e privadas, relativamente a:

- Finalidades e saberes escolares

- Currículo escolar e métodos de ensino-aprendizagem - Corpo docente – características e funções

- Recursos materiais (instalações, equipamento e segurança) e serviços conexos - Relação Escola-Família

A autora realizou a sua recolha de dados no Distrito de Lisboa, em contexto urbano e utilizou as entrevistas exploratórias e o questionário como instrumentos de recolha.

A análise dos dados recolhidos pela autora permitiram-lhe concluir que as maiores expectativas dos pais em relação à escola do 1º Ciclo do Ensino Básico são a segurança e a vigilância dos espaços e acessos escolares. Só depois das questões de segurança, da qualidade das instalações e dos equipamentos é que os pais têm expectativas referentes às características do professor, sobretudo na sua vertente relacional/social.

Por estar mais directamente relacionado com a nossa temática, apresentaremos de seguida as conclusões da autora no que se refere ao factor Relação Escola-Família. Assim a análise dos resultados demonstra que os pais são mais expectantes relativamente à informação prestada pela escola, do que a respeito da sua participação activa na gestão escolar.

Pretendem conhecer o projecto educativo de escola, os objectivos e currículo escolar em cada ano lectivo, as dificuldades e progressos nas disciplinas curriculares, o comportamento dos seus filhos na vida escolar, preferindo a informação sobre o seu educando em particular.

Segundo a autora os pais não são tão expectantes a respeito de uma participação activa na construção do projecto educativo de escola, na adaptação dos currículos escolares a cada grupo-turma, ou na organização de passeios ou visitas de estudo. Em contrapartida, esperam que a escola seja sensível às suas observações e sugestões, enquanto clientes não utilizadores da organização escolar. Trata-se assim de uma pseudo-participação que traduz o interesse em obter informação sistemática sobre a criança na escola, mas que revela uma necessidade claramente inferior de participação na gestão escolar. A autora conclui assim que os pais preferem o envolvimento à participação, por razões que não conseguiu apurar, mas que, segundo ela podem ir desde a falta de tempo, à incapacidade para interferir na escola ou à indisponibilidade da escola para aceitar formas activas de participação das famílias.

Por razões que a autora também não conseguiu apurar neste estudo, são os pais da amostra da escola privada que possuem expectativas estatisticamente mais elevadas do que os da amostra pública, relativamente à informação sobre o projecto educativo de escola, aos objectivos pedagógicos e ao currículo escolar em vigor, à informação sobre o comportamento da criança e ao estabelecimento de contactos personalizados para falar sobre os seus filhos.

A autora conclui ainda que são os pais da amostra da escola privada que possuem maiores expectativas quanto aos serviços complementares de apoio às famílias, no que se refere ao alargamento do horário de funcionamento da escola, e à abertura no período de férias lectivas. As expectativas elevadas relativamente a estes aspectos eram previsíveis, segundo a autora, uma vez que a incompatibilidade com horários parentais foi uma das razões enunciadas pelos pais para justificarem a sua opção pelo ensino privado.

Achámos ainda pertinente incluir na nossa revisão da literatura, a Dissertação de Mestrado: Monteiro, C., (2006) «As dinâmicas de uma Associação de Pais:

Participação activa ou “encenação participativa”?» Lisboa, Universidade Aberta.

A autora tinha como principal objectivo estudar as dinâmicas internas de uma Associação de Pais, a sua acção enquanto órgão de parceria, junto do colectivo dos pais e, sobretudo, a sua representação nos órgão de gestão da escola e, consequente poder de decisão.

A autora usou uma metodologia de estudo de caso e fez a recolha de dados através de observação, entrevistas complementares e pesquisa documental, o que lhe permitiu efectuar uma triangulação de dados.

Os resultados obtidos pela autora permitiram-lhe concluir que, no caso que estudou, existe um grande divórcio entre o modelo ideal e o modelo real de participação dos pais na educação escolar das crianças. Verificou também que o novo regime de gestão das escolas públicas, embora legalmente pressuponha um reforço da intervenção parental, na prática não se tem traduzido num aumento efectivo do poder de decisão dos pais. A autora acaba por concluir que, apesar dos esforços efectuados por alguns encarregados de educação bastante activos, a representação parental na escola raramente ultrapassa a esfera da pseudo-participação.

Finalmente consultámos a Dissertação de Mestrado: Jacinto, M.J., (2006) “Dinâmicas do Director de Turma na promoção do Envolvimento da Família na

Escola – Um contributo para a diminuição da Indisciplina” Lisboa, Universidade

Aberta.

Ao realizar este estudo a autora pretendeu contribuir para a análise da problemática do relacionamento entre a escola e a família perante situações de indisciplina no 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, tendo como figura principal o Director de Turma, enquanto mediador das relações entre os diversos actores, nomeadamente, professores, família e alunos, perante situações de indisciplina.

A recolha de dados realizou-se em duas escolas do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, com características diferentes no que diz respeito ao nível socioeconómico e cultural, sendo uma de classe média/alta e outra de classe baixa, ambas situadas na Área Metropolitana de Lisboa. A autora usou como instrumentos de recolha de dados o inquérito por entrevista, que lhe permitiu elaborar o inquérito por questionário e a análise documental dos regulamentos internos das escolas envolvidas. A conjugação dos

três instrumentos de recolha de dados permitiu que a autora realizasse posteriormente a triangulação dos resultados.

Esta investigação permitiu que a autora obtivesse como principais resultados, aplicáveis ao contexto do estudo, que há diferenças significativas a nível das perspectivas dos Directores de Turma das duas escolas. Essas diferenças são relativas, não só ao envolvimento da família na escola, mas também ao nível das estratégias utilizadas por eles para promover esse envolvimento, de forma a prevenir e a intervir em situações de indisciplina. A autora conclui ainda que a principal causa que motiva as diferenças na actuação dos Directores de Turma das duas escolas, se prende com o facto dos meios socioeconómicos e culturais onde as escolas se situam serem também distintos.

Resumo

Pelo que vimos ao longo dos últimos capítulos, a chave para que os alunos consigam obter mais sucesso através de um maior envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos, poderá estar sobretudo nas mãos dos professores. São eles que estão formalmente investidos do poder de o fazer, é a eles que cabe servir de ponte entre as várias diversidades que coabitam na escola e são eles que precisam de se sentir apoiados, por parte dos diferentes níveis de gestão do sistema educativo, para investir com garantias de sucesso numa relação construtiva entre a escola e a família. Será sempre com eles que se poderá contar para ganhar a batalha contra o insucesso educativo, que é de toda uma sociedade.

Achamos por isso oportuno, conhecer a opinião dos professores que inquirimos sobre as questões que se prendem com o envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, cujos resultados apresentamos na Parte B deste trabalho.