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CAPÍTULO IV As representações dos professores do 1º Ciclo

2. As práticas educativas das famílias

2.1. Envolvimento da família na vida escolar dos filhos

2.1.5. Os trabalhos de casa vistos por diferentes autores

Os trabalhos de casa apesar de serem cada vez mais um tema que não reúne muitos consensos, quer entre os profissionais da educação, quer entre os investigadores desta área, continuam a ser usados por muitos professores e a serem um verdadeiro tormento para muitas famílias. PERRENOUD (1995, p.152) diz mesmo que os trabalhos de casa ao contrário de favorecerem o diálogo escola/família, só servem para mostrar aos pais a pior parte do trabalho escolar, para “enervá-los, culpabilizá-los, deixar-lhes campo livre às angústias, transformá-los em explicadores...colocar muitos pais em situação de incompetência ou de omnipotência.” É claro que tratando-se de famílias de nível socioeconómico mais desfavorecido, é natural que tudo isto aconteça com maior frequência.

No entanto algumas destas dificuldades são atenuadas quando os professores marcam trabalhos de casa adequados ao nível de aprendizagem dos diferentes alunos, e ao mesmo tempo, orientam os pais no sentido de saberem exactamente o tipo de ajuda que devem prestar aos seus filhos. É claro que estando reunidas estas condições, entre outras, dificilmente a comunicação escola/família será prejudicada pelos trabalhos de casa. Aliás FAVRE e STEFFEN (1988, p.196-197) dizem-nos precisamente o quanto os trabalhos de casa são importantes para os pais, através deles a família pode ver com os seus próprios olhos como o filho trabalha, como lida com a vida escolar. Mesmo os pais

menos familiarizados com a escola, é através dos trabalhos de casa e da atitude dos filhos perante eles que ficam descansados, ou não, em relação ao que se passa na escola.

Os referidos autores dizem mesmo que através dos trabalhos de casa as famílias tomam conhecimento dos programas, da evolução dos seus filhos e dos métodos dos professores. Por outro lado também os professores têm um maior conhecimento da família, através da forma como o aluno traz os trabalhos de casa feitos, com maior ou menor cuidado, com ou sem a intervenção dos pais, no fundo fazem também uma avaliação que pode ser útil para ajudar o aluno a progredir. Por esta razão os trabalhos de casa constituem uma ligação privilegiada entre a família e a escola. (ibid, p.187)

Opinião semelhante é apresentada por MARQUES (2001, p.104) que apresenta quatro razões para defender o envolvimento dos pais em actividades educativas em casa: a melhoria dos resultados dos alunos, a melhor compreensão do trabalho dos professores, a aprendizagem de pais e professores de hábitos de entreajuda na educação dos alunos e a melhoria da comunicação entre pais e filhos, com consequências positivas na valorização do trabalho escolar dos filhos.

Perante estas opiniões, situamo-nos mais na perspectiva de FAVRE e STEFFEN e de MARQUES, pois defendemos que os trabalhos de casa, se devidamente utilizados e orientados pelo professor podem constituir uma forma de comunicação entre a escola e a família, que faz os pais sentirem-se úteis e envolve-os na vida escolar dos seus filhos de forma simples e eficaz. É claro que este tipo de atitude exige uma melhor formação inicial e contínua dos professores nesta área, pois reconhecemos que tendo eles sido alunos de uma instituição escolar que tinha ordens claras para afastar os pais da escola, terão que fazer algum esforço para lidarem com os pais dos seus alunos em moldes simplesmente opostos.

No que se refere à formação inicial de professores, na área da relação Escola- Família, e baseando-nos num estudo feito por TERESA SARMENTO (2005, p.65), podemos constatar que “Na pesquisa feita a todas as Universidades bem como às Escolas Superiores de Educação públicas onde se desenvolvem Licenciaturas de Ensino Básico – 1º Ciclo, nenhuma dispõe de uma disciplina centrada nesse objecto de estudo.” Será que a intuição destes profissionais da era da escola aberta às famílias, é suficiente para gerir da forma satisfatória esta nova realidade?

Resumo

Depois desta breve reflexão parece-nos poder concluir que a escola e as famílias continuam ainda longe de um nível desejável de cooperação na formação das gerações mais novas. A escola passou a achar a intervenção dos pais na vida escolar das crianças de extrema importância, só que para concretizar esse objectivo ofereceu-lhes um tipo de intervenção formal e global na organização escolar. Há no entanto, uma dimensão educativa importantíssima que os pais sempre tiveram e continuarão a ter, e que se traduz em actividades de aprendizagem em casa e no envolvimento na vida escolar da sua criança em particular.

Concluímos ainda que cabe à escola tomar a iniciativa de envolver as famílias na vida escolar dos filhos, uma vez que o sucesso educativo de todos é um problema, sobretudo, da escola e este objectivo será mais difícil de alcançar sem a colaboração dos pais. Deve, no entanto, ter-se em conta, que as famílias são diferentes, devendo a escola e os professores estar atentos sobretudo às diferenças culturais, étnicas, de origem social e de níveis de escolaridade, pois nem todos os pais se sentem igualmente à vontade na escola e nem todos estão preparados para se envolverem na escolaridade dos seus filhos.

No que se refere aos trabalhos de casa, eles poderão ser um excelente meio de fazer a ponte entre a escola e os pais. É que as famílias de todas as culturas e condições sociais, são igualmente interessadas no sucesso dos seus filhos e estão disponíveis para realizar a sua preciosa missão de educadores. Para isso basta que os professores lhes mostrem a importância de apoiarem os seus filhos nas tarefas escolares e os orientem de modo a que o façam com sucesso, uma vez que muitos pais carecem de ajuda para passarem da vontade de ajudar a uma efectiva intervenção de apoio aos filhos.

Parece-nos também que a formação inicial e contínua de professores não pode passar ao lado da importância da relação entre a família e a escola. Neste âmbito é necessário que os professores não se sintam sozinhos, desamparados e menos competentes para lidarem com a diversidade étnica, cultural e socioeconómica que se verifica nas famílias dos alunos que frequentam as nossas escolas. É que, o tão desejado sucesso educativo, só se poderá alcançar com uma rede eficaz de apoio entre todos os intervenientes no processo educativo de todos os cidadãos, em todas as etapas das suas vidas.

No capítulo que se segue apresentaremos outros estudos realizados no âmbito da relação Escola-Família e veremos até que ponto as conclusões a que os seus autores chegaram vão de encontro à problemática que nos propusemos estudar.

CAPÍTULO V - Outros trabalhos de investigação