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Inventário de vozes

3. A espera e a fantasia: substratos retóricos

A tarefa do linguista vacila entre acessibilidade e autenticidade, entre dar conta, pela versificação, de narrativas mais atrativas e acessíveis, e isto notadamente para os descendentes dos seus artistas originais, e devolver à literatura norte-ameríndia a “verdadeira forma” que cada cultura daria a suas narrativas. Ela vacila depois entre autenticidade e exemplaridade, entre desvelar a ‘verdadeira forma’ e medir o valor representativo das versões pela sua adequação com ela. As comparações entre diversas versões das mesmas narrativas fazem aparecer primeiro característica sensíveis às performances individuais, a minuciosa verse analysis, um padrão cultural de narrativa,

distinguindo assim, no fluxo da performance, o behavior da cultura (1981:84). Desdobra-se, além de uma persistente cruzada contra o universal encarnado numa leitura de Levi- Strauss, a herança da escola boasiana, entre cultura e indivíduo. Na sua tese a respeito da etnopoética, Pinheiro Dias destaca precisamente esta inscrição dos trabalhos de Hymes, celebrada por Sherzer, no seio de uma tradição que daria relevo à “organização poética e retórica do discurso como expressão e atualização de uma intersecção íntima entre língua e cultura” (Sherzer apud Pinheiro Dias, 2016:117), e sublinha em seguida o quanto o paradigma da autoralidade ou da criação individual não constitui um questionamento principal nos escritos da etnopoética (ibid:147).

Com o fim de continuar a discussão proposta por Pinheiro Dias, lembro os princípios da

verse analysis aqui percorridos, tais como foram resumidos, uma vez mais sob forma de um

inventário, por Hornberg (1992), ao atentar ao estudo de duas versões da história quechua do Condor e da Pastora:

1. Performed oral narratives are organized in terms of lines, and groups of lines (not in terms of sentences and paragraphs).

2. The relations between lines and groups of lines are based on the general principle of poetic organization called equivalence (…new verses are marked in terms of content by such devices as a change of actor, a change in location, a turn at talk, or a time word... in terms of syntactic form, new verses are signaled by the reportative validator, the verse-initial particles, and shifts in tense or aspect)

3. Sequences of equivalent units commonly constitute sets in terms of a few pattern numbers. Sets of two and four are commonly found together, as are sets of three and five.

4. Texts are not ordinarily constituted according to a fixed length or fixed sequence of units. Rather, each performance may differ from another, responsive to context and varying intention.

5. Variations and transformations in narratives appear to involve a small number of dimensions, corresponding to the components of the ethnography of speaking (Hymes, “A note on Ethnopoetics”, ii apud. Hornberg, 1992).

A forma da abordagem de Hymes é de fato ela mesma estruturalmente hierarquizada. A cada nível de variação, encontra-se sua unidade de correspondência: assim, as variações sensíveis à performance podem ser associadas à criação individual e a comparação dos motivos culturais levaria à composição de uma teoria geral da literatura ameríndia (1981:383-384). No seio de uma ‘tradição cultural’, uma matriz é geralmente privilegiada (três e cinco ou quatro e dois), a outra, por contraste, permite intensificar um elemento da história. A estreiteza da correlação que o autor estabelece entre motivos e cultura é tal que o leva a postular que a presença de uma possa assinalar a aculturação ou o empréstimo a uma outra cultura (Hymes, 1992). Sherzer salienta esta correlação entre cultura e linguagem nos trabalhos de Hymes porque se trata principalmente do lugar de encontro

entre a etnopoética e a discourse-centered approach. Para Sherzer, o discurso é o elo da relação linguagem-cultura-sociedade (1987:295). Algumas linhas depois, ele torna-se o elo da relação linguagem-cultura-sociedade-indivíduo (ibid:302). Por ‘discurso’, o etnógrafo entende uma interface vagamente definida que abarcaria “ambas a padronização textual (incluíndo propriedades como a coêrencia e a disjunção) e uma situação da linguagem em contextos naturais de uso” (ibid:296). Se os autores da discourse-centered approach são reconhecidos sobretudo por terem se interessado nessa segunda modalidade de instâncias de discurso, que eles alcunham de ‘naturally occuring speech’ (1983:10), Sherzer considerava os ‘discursos verbalmente artísticos’ como expressão da essência mesma da principal relação da sua abordagem. Nos termos do autor, “I view language, culture, society, and the individual as all providing resources in a creative process which is actualized in discourse” (ibid).

Na análise de Hornberg, cujo inventário foi aqui trazido, a correlação de Sherzer entre discurso e cultura age como base para estipular que similaridades entre as duas versões apontariam para uma ‘cultura Quechua generalizada’, enquanto suas diferenças seriam atribuíveis à diferença de contexto e intenção do performador. Com Hornberg, tanto a cultura quanto o indivíduo são componentes dos contextos dos quais emergem as performances, onde, conforme a dita tradição (e com o risco de reiterar uma evidência), a cultura se encarrega do mesmo e o indivíduo da diferença . O outro lugar de encontro 48

entre a etnopoética e a discourse-centered approach é também a implicação de uma noção de indivíduo, tão indeterminada quanto aquela de discurso, mas no entanto condicional para a apreensão das narrativas e outras palavras em termos de retórica, pedra de toque da verse

analysis. Como alhures, nesta tradição à qual nos remete Sherzer, o indivíduo permanece

uma pedra angular das interpretações de Hymes. O linguista enfatiza a autoralidade das composições ameríndias e afirma distanciar-se, ao longo da sua obra, de uma abordagem que apresentaria contadores individuais como ‘culture-bearers’ representativos, estendendo esta escolha para os títulos que ele estuda (ex. Louis Simpson’s The Deserted Boy, 1981:144). Para além desta dimensão explícita, o indivíduo é o outro motivo recorrente da obra de Hymes: é a fonte de variação, de licença e de inadequação aos motivos, a diferença em destacar para chegar aos motivos de uma expressão cultural.

Apesar de Urban, no seu livro A discourse-centered approach to culture, assinalar e estudar o fato do que existem

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na Amazônia ideologias metadiscursivas baseadas na diferença, no aparelho teórico do autor a diferença continua sendo delimitada no nível do indivíduo, é a noção de cultura como lugar do mesmo que se encontra redefinida (como lugar da complementaridade) (Urban, 1991).

O reconhecimento do verse conforme Hymes é propiciado por três chaves: as linhas, o princípio de equivalência que se deve determinar para cada caso, e o que ele chama de “arcos de expectativa” (1992:84). Se as linhas e o princípio de equivalência remetem a uma função poética nas narrativas que o autor estuda, a dinâmica ou o funcionamento da forma como arousal of expectation and satisfaction são as componentes de uma teoria da retórica (por vezes chamada também de eloquência) que Hymes toma de empréstimo de Kenneth Burke. A retórica de Burke não está exatamente fundamentada na noção de persuasão, senão sobre uma noção de identificação que permite a afeição e assim a cooperação do auditor. Esta noção de identificação é notável nas análises que Hymes propõe da entrada na performance. Ela é uma chave para desvelar os motivos do narrador e serve também à função de veículo moral das narrativas, versão malinowskiana das razões do mito. Burke propõe que a identificação seja uma forma simbólica de marcar a consubstancialidade e assim de associar-se o auditor. Seguindo Burke, a forma é “a criação de um apetite na mente do auditor e a satisfação adequada deste apetite” (1925). Toda forma para Burke remete a essa noção de retórica ou psicologia da audiência, e eu avançaria aqui que toda forma com Hymes tende, pela hierarquização dos princípios que ele impõe à verse analysis, a remeter-se igualmente a esta mesma noção de retórica. Assim, para Hymes, a sucessão de base numérica não é inócua, ela participa propriamente do funcionamento retórico das narrativas, onde o ritmo funciona como composição de esperas e satisfações.

A sucessão das unidades modela a ação de tal forma que seus motivos numéricos compõem ritmos implícitos que compõem a espera do leitor: uma sequência de três implica o onset, ongoing, outcome, pares produzem um ritmo de alternância ou intensificação.

Enquanto os comentários metalinguísticos podem ser relacionados à situação etnográfica e particularmente à relação de participante-informante, as expressões metanarrativas nas histórias participam igualmente dos muitos recursos interpretados como retóricos. Dentro das narrativas, as expressões Luxwan qanCiXbEt (“I do not know when it was”) e Kuxwan qanCix wapul (“I do not know what time of night it was”) participam de uma ênfase na ação ao sair do marco da narrativa. Elas têm para Hymes o efeito de uma definite

indefiniteness, conforme a expressão de Michael Silverstein  (1981:305). As comparações de

versões de Hymes empregam as cinco chaves (ditas ‘pentad’ do dramatismo de Burke: Cena, Agente, Ato, Propósito, Agência) (Hymes, 1981:239; Burke, 1945), a equivalência distribuindo as palavras em linhas é muitas vezes substituída pelo critério dos ratio cena- agente ou cena-ato de Burke de tal forma que a sua retórica se torna, e mais intensamente

ao longo da sua obra, a função dominante de linguagem desdobrada nas narrativas ameríndias. É notável que, com Burke, a retórica é uma função tão essencial da linguagem que se tende a poder encontrá-la em todas as partes : 49

For rhetoric as such is not rooted in any past condition of human society. It is rooted in an essential function of language itself, a function that is wholly realistic, and is continually born anew; the use of language as a symbolic means of inducing cooperation in beings that by nature respond to symbols […] We can place in terms of rhetoric all those statements by anthropologists, ethnologists, individual and social psychologists, and the like, that bear upon the

persuasive aspects of language, the function of language as addressed, as direct or

roundabout appeal to real or ideal audiences, without or within (Burke, 1950:43).

A retórica, assim como a Gramática de Burke, fundamentam-se numa pesquisa dos

motivos [motivations]. Como teoria da comunicação, ela implica indivíduos estratégicos

(humanos) empregando uma linguagem como meio simbólico, e uma audiência feita de indivíduos (humanos) receptivos a estes símbolos. Como Hymes estuda principalmente narrativas, e não cantos (cujas situações de enunciação são tão alambicadas que pareceria difícil manter um tal método, como veremos posteriormente), a retórica de Burke pode aparecer como uma caixa de ferramentas úteis. Parece, no entanto, dificilmente transponível para outros gêneros de palavras, e mais incompatível ainda com os embutimentos formulares entre modos de palavras notados no capítulo precedente. Ainda que, à semelhança de Seeger, ela procure saber por que, seus postulados de início aparecem nos antípodas das descrições etnográficas dos mundos ameríndios. Após meio-século de escritos a respeito da etnopoética, aquilo que é poético nas palavras ameríndias parece mais difícil desvelar sob a égide sistemática da retórica, da qual se armou Hymes. Se Meschonnic (1991) notava, com efeito, que a poética encontrava-se diluída com Burke, reduzida a uma noção vaga de prazer, nota-se que com Hymes a etnopoética não parece hastear de poético mais do que a disposição em linhas, atraente para seus leitores, mas elas mesmas obedecendo e subjugadas ao funcionamento retórico das narrativas.

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Até as ‘palavras mágicas’ aparecem como uma ‘retórica primitiva’: “Originally, the magical use of

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symbolism to affect natural processes by rituals and incantations was a mistaken transference of a proper linguistic function to an area for which it was not fit. The realistic use of addressed language to induce action in

people became the magical use of addressed language to induce motion in things (things by nature/alien to purely

linguistic orders of motivation). But now that we have confronted the term “magic” with the term “rhetoric,” we'd say that one comes closer to the true state of affairs if one treats the socializing aspects of magic as a “primitive rhetoric” than if one sees modern rhetoric simply as a “survival of primitive magic.” (…) “magic” was a faulty derivation from it, “word magic” being an attempt to produce linguistic responses in kinds of beings not accessible to the linguistic motive.” (1950:43).

A good deal of the truth which Zunis see in their fictional narratives derives not from the final etiological elements but from the efforts of the narrator to create the appearance of reality within the body of the story itself. The ability to create this appearance is the most important measure of the individual narrator’s skill, ranking above such considerations as accuracy of memory or size of repertoire (Tedlock,1983:166).

Se a noção de retórica está no cerne como no topo da verse analysis, encontramo-la também, mas de maneira muitas vezes menos recorrente, em outros escritos. Descrevi, no primeiro capítulo, como Tedlock detalhava critérios êmicos de gêneros de narrativas, associando um critério epistêmico implicando um grau de verdade das narrativas com um critério formal, principalmente o enquadramento da narrativa por uma sequência de fórmulas de entrada e saída do universo (caracterizado fictício) dos acontecimentos narrados. Reencontramos aqui o seguimento da discussão quanto à identificação da verdade nas narrativas por seus companheiros Zuni. Tedlock destaca, de fato, que aos seus questionamentos sobre a verdade das narrativas telpnanne, os Zuni afirmavam a verdade da afirmação etiológica pelo que o autor considera ser um paralogismo. Um recurso é operado à definição do grande teórico da retórica, Aristoteles:

Whenever, if A is or happens a consequent, B, is or happens, men’s notion is that, if the B is, the A also is… Just because we know the truth or the consequent, we are in our own minds led on to the erroneous inference of the truth of the antecedent (1983:165)..

Aqui a retórica não é mais aquela de Burke, mas de Aristóteles, e aparece como recurso para introduzir noções de verosimilhança. Tratar-se-ia, conforme Tedlock, através dos recursos desdobrados nas performances, de criar a aparência da realidade e sobretudo a impressão de que “estava realmente nela” ou, segundo o termo chave de Déléage, uma impressão de ostensão (2005), e isto notadamente por ‘moções ou gestos’ que, seguindo o autor — propenso a correspondências — tornam as narrativas zuni “comparáveis ao nosso próprio teatro, e especificamente ao monólogo”. Até a profusão de discursos diretos remeter-se-ia a esta propensão retórica:

A Zuni narrator may devote as much as half of a tale performance to the quotation of tale character rather than to straight descriptions of actions and scenes. Even when he does not change his voice quality for these quotations they contribute to the appearance of reality through their immediacy: Greetings, interjections, and the use of the first and second person are found only in quotations and differentiate them sharply from the rest of the narrative (1983:167).

Preocupado em compor paralelos para as narrativas zuni, o autor faz corresponder a essas características zuni o teatro, e especifica: ‘moderno’. Aqui a comparação elude a

questão de conhecer o lugar e o valor êmico da citação direta nos conceitos de linguagem ameríndios e, mais particularmente, Zuni. Não está detalhado se o uso do discurso indireto encontra-se na linguagem quotidiana ou mais geralmente nas ditas instâncias naturais de discurso. Além de citações extensivas, o enquadramento, a inserção de paralelos temporais (era em tal momento do ano), assinalam para Tedlock a intenção de uma intensificação da relação entre a narrativa zuni e a realidade (1983:168-169). A ideia de uma tensão entre

realidade e fantasia que percorre o artigo do mitógrafo sobre as poéticas da verossimilhança é

provavelmente a pedra de toque da análise de Tedlock em termos de retórica. Escolhendo considerar os recursos poéticos das narrativas Zuni como prática da tensão entre ‘a fantasia e o mundo real’ que corresponde à tensão que percorre nossas próprias formas de expressão ocidental, ou seja, colocando como correspondentes as relações entre fantasia e mundo real nas duas realidades, ocidentais e Zuni, a apreensão da singularidade da realidade Zuni como o que pode, a partir desta realidade, constituir uma fantasia, torna-se difícil. Se o mundo real, e a tensão que o liga constitucionalmente à fantasia, são similares nas duas, torna-se difícil imaginar que uma (suposta) fantasia zuni possa diferir daquela encontrada no Ocidente.

Both the Zunis and ourselves maintain a constant tension between the fantasy and the real world: The Zunis shore up their fantasy with all the devices their particular traditions and experiences provide, drawing upon gesture, quotation, onomatopeia, ethnopsychology, technology, and ritual, together with tale-ending paralogic (1983:177).

Se os recursos diferem na composição do realismo, a relação entre fantasia e mundo real mantém-se intocada, assim como os termos mesmos da relação. Enfim, em vez de encontrar um contraponto Zuni a tais afirmações, Tedlock encontra uma única reserva em Ricoeur, na seguinte nota:

Paul Ricoeur, who sees the distancing of fiction as “a distantiation of the real from itself ” might argue that realism is not so much a means for shoring up fantasy as it is the means by which fantasy opens up new possibilities in real life (1983:176 nota 44).

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Desvelar nas narrativas norte-ameríndias um funcionamento predominante da retórica aparece, ao longo da leitura dos trabalhos de Hymes e Tedlock, como uma escolha de

interpretação carregada de consequências . Uma crítica exaustiva ultrapassaria aqui a 50

ambição deste escrito. O postulado do indivíduo próprio à retórica de Hymes e Burke que implica além disso formas de identificação com, entre outros, as personagens das narrativas, poderia ser uma primeira etapa de tal crítica: uma incursão a respeito do estatuto das personagens míticas propiciaria de fato levantar algumas dúvidas. Outra tenderia à noção de persuasão, de uma política da verossimilhança, do mito como veículo moral (para o qual mitos são meios para outros fins) e da forma pela qual os ameríndios se relacionam com as narrativas. Jacopin recusa, por sua vez, a noção de retórica em diversas instâncias do seu estudo das narrativas Yucuna por razões que parecem atravessar estas (a personagem mítica se confunde com o seu mito, é um operador, a moral não é uma visada da palavra mítica, a lógica da palavra mítica decepciona qualquer espera de uma coerência lógica familiar…). Permito-me reproduzir um pouco estendidamente uma das passagens que ecoa o que foi escrito acima:

Nous ne sommes pas au théâtre de la tragédie: avant comme après le mythe, l’auditeur sait déjà tout; il pourrait tout aussi bien prendre la place du locuteur à n’importe quel moment — ce qu’il fera du reste à la prochaine occasion, lorsque ce sera son tour de raconter, de dire un mythe. Il n’y a vraiment que pour les jeunes enfants que la situation soit différente, lorsqu’ils découvrent l’histoire pour la première fois. Aussi l’auditeur entend-il tout et le locuteur dit-il tout, simplement parce que pour les Yukuna le mythe est tout. Et cela n’a rien à faire avec la rhétorique; que ce soit la rhétorique des images, où le spectateur sait bien que le suspense est le fait du réalisateur et que la caméra cache tout ce qu’elle ne photographie pas; que ce soit la rhétorique les mots, où le lecteur sait bien que les journalistes barguignent un peu trop; que ce soit la rhétorique littéraire où tout est posé téléologiquement par l’auteur. De même qu’il n’y a pas de mythe qui ne soit parole, presque pour les mêmes raisons, il n’y a pas d’écriture sans rhétorique.

De Socrate à Tintin, les héros de la Culture occidentale ne sont en fin de compte que les produits idéalistes et individualistes de l’écriture de leurs auteurs. Kawarimi n’est ni l’un ni l’autre, et si l’on veut absolument qu’il obéisse à un destin, ce ne peut être que celui de la parole mythique; sa fortune se confond totalement avec son mythe: il est la parole mythique de son mythe. Il n’a de personnalité propre que parce qu’il déroule, que parce qu’il décrit — comme une courbe — ou que parce qu’il développe — comme un polygone — une partie de la réalité Yukuna (Jacopin, 1981:201).