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3. NAVEGANDO NO TÔLIGADO

3.5 O método Etnográfico

3.5.1 A etnografia no virtual

O conceito de etnografia virtual surge neste contexto de pesquisas que analisam a Internet e sua rede de interações. Em 2006, ocorreu o III Congresso Observatorio para La Cibersociedad85, on line, no qual foi criado um grupo de trabalho sobre etnografias do digital (etnografias de lo digital). Na apresentação do grupo de trabalho, trazem a seguinte definição:

Por 'etnografías de lo digital' queremos designar las formas de hacer etnográfico en el espacio de interacción que configura Internet y las tecnologías digitales (teléfonos móviles, fotografía digital, redes inalámbricas, etc.). De manera que en el concepto de 'etnografías de lo digital' aglutinamos la etnografía virtual (Hine, 2000), la etnografía del ciberespacio (Hakken, 1999), la etnografía de/en/a través de Internet (Baulieau, 2004), la ciber-etnografía (Escobar, 1994), etc.86

O termo etnografia virtual passou a ser utilizado para designar não só a pesquisa que se faz sobre o meio virtual e seus agentes87, mas os métodos informacionais que podem ser utilizados enquanto instrumentos de pesquisa. DWYER (2004, p. 325-335) enumerou sete metodologias informacionais : (a) publicação, divulgação e ensino por meio da Internet; (b) disponibilidade de bases de dados, bibliotecas virtuais e outras fontes de

83 Original em inglês. A tradução foi feita pela autora desta dissertação. 84 Original em inglês. A tradução foi feita pela autora desta dissertação.

85 Neste Congresso, participei com a comunicação “Inclusão digital na escola pública: inter-relacionando a

comunicação, a tecnologias e a educação”.

86 http://www.uned.es/etnovirtual/

87 Segundo Bourdieu, “cada agente, saiba ele ou não, queira ele ou não, é produtor e reprodutor de sentido

objetivo: porque suas ações e obras são o produto de um modus operandi do qual ele não é o produtor do qual não tem o domínio consciente, elas encerram uma ‘intenção objetiva’, como diz a escolástica, que sempre ultrapassa suas intenções conscientes” (BOURDIEU, 2003, p. 65).

investigação em formato digital; (c) programas de analise estatística; (d) programas de análise qualitativa; (e) programas de geoprocessamento; (f) programas de inteligência artificial; (g) laboratórios sociais virtuais.

Como recurso de análise quantitativa e qualitativa do TôLigado, foi utilizado o software Access, para a criação de um banco de dados. Como já citado anteriormente, foram selecionadas 10% das escolas participantes do projeto TôLigado - entre os anos de 2002 e 200588 -, totalizando 135 escolas, as quais tiveram suas 814 publicações analisadas. Para a análise do site, foi feito um mapeamento dos diferentes elementos que compõem seu hipertexto e sua hipermídia, entendendo-se por hipertexto como a “forma de texto que é mediada pelo computador e contêm ‘links’ autorais que cria associações entre diferentes elementos no hipertexto (DICKS & MASON, 1998)89”; e por hipermídia como “convencionalmente usado para descrever hipertextos que incorporam outras mídias como o vídeo, imagens fotográficas, som, gráficos, entre outros (DICKS & MASON, 1998).”

A etnografia no virtual do projeto TôLigado foi dividida em três procedimentos: 1) Navegação livre e análise dos diferentes elementos do site – interface gráfica, links disponíveis, imagens, sons e recursos disponíveis para a interatividade – esta já elaborada no início do Capítulo 3; 2) Análise da interatividade no site (acessos, chat, fórum, fale conosco, blogs e publicações) e levantamento de 10% das publicações nas atividades de produção do conhecimento, totalizando 814 publicações de 135 escolas que foram tabuladas e organizadas em um de banco de dados criado com auxílio do programa Access90; e 3) Leitura e análise das publicações das escolas pesquisadas, com enfoque

qualitativo.

As publicações foram escolhidas aleatoriamente, levando-se em consideração as escolas que publicaram entre os anos de 2002 a 200591 e foram acessadas no arquivo virtual do site, espaço onde estão armazenadas todas as publicações das atividades de

88 O ano de 2006 não foi escolhido por ter sido o ano em que se interrompeu o projeto, sendo um ano

atípico no processo de envolvimento das escolas.

89 Fonte: http://www.socresonline.org.uk/3/3/3.html. Acessso em: 26 de novembro de 2007. A tradução foi

feita pela autora da pesquisa. O texto original é o seguinte: ““Our working definition of hypertext conceptualises it as a form of text that is computer-mediated and contains authored 'links' that create associations between different elements in the hypertext. The term 'hypermedia' is conventionally used to describe hypertexts which incorporate other media such as video, photographic images, sound, graphics, and so on”.

90 Para este trabalho, foi solicitado o apoio de uma programadora do Software Access.

91 O projeto ocorreu entre os anos de 2001 e 2006. No entanto, foi a partir de 2002 que começou de fato a

ser utilizado na rede de professores. Já, no ano de 2006 deixou de possuir mediação pelo cancelamento provisório do projeto pela Secretaria de Educação, que se formalizou em agosto deste mesmo ano. Assim, esta pesquisa optou por estudar os anos em que o projeto ocorreu de forma regular: de 2002 a 2005.

produção do conhecimento. Foi feita uma pesquisa de publicações postadas no passado, não sendo possível a análise destas no tempo em que estas ocorriam. Os elementos do objeto de estudo para a análise, então, estavam nas próprias publicações, em relatórios da Escola do Futuro ou nas entrevistas feitas nas escolas.

O campo virtual possui a vantagem de ter as informações registradas em sua memória, diferente do campo presencial, no qual as informações devem ser captadas no momento em que estas acontecem; mas também possui a desvantagem de não possibilitar o acompanhamento do processo de desenvolvimento das interações. A presença da investigadora se deu na frente da tela, sem que os participantes do projeto tivessem qualquer contato virtual com suas indagações. O contato com o objeto de estudo se deu na etnografia nas escolas, no entanto, os agentes destas escolas foram observados enquanto professores e ex-participantes do projeto92, pois este já não estava mais acontecendo no

momento da pesquisa de campo na escola estadual, descrita adiante.