• Nenhum resultado encontrado

PUBLICADORES Publicador Quantidade

10. Artigo 11 Receita 12 Propaganda

4.5 Origem das Publicações

4.5.1 Entre a produção e a reprodução do conhecimento

Se um dos principais objetivos do projeto TôLigado é a produção de conhecimento e 1/3 dos alunos e professores copiou e colou, que tipo de orientações e medidas devem ser pensadas para a implementação do projeto? Ou melhor: como a escola pode superar esta prática? Para iniciar esta reflexão, que será aprofundada adiante, é importante analisar a realidade da escola pública pode ser um dos fatores que motivam os alunos à prática do copiar e colar. Durante pesquisa de campo na E.E. José Felício Miziara, em observação na

116 Uma sugestão ao projeto TôLigado seria a inclusão de um tópico em que o aluno/professor apresentasse

como chegou àquele resultado final (poderia ser um tópico de descrição da pesquisa desenvolvida), uma maneira de estimular que o aluno busque diferentes fontes e as descreva aos próximos leitores, além de explicitar o caminho de produção daquele texto, o que poderia diminuir o copiar e colar.

sala dos professores, uma das conversas giravam em torno de um aluno do 1° ano do ensino médio que mal sabia ler e escrever. Os professores culpavam a “progressão continuada”, projeto implementado pelo Governo do Estado que possui apenas dois ciclos autoriza a aprovação de todos os alunos do ensino fundamental, independente da nota ou conceito obtido, o que acarreta em alunos ingressantes no ensino médio com uma base escolar muito fraca. Esta informação permite a seguinte reflexão: a falta de estrutura e a fraca base escolar levam alunos a copiarem textos da Internet, pelo fato de estes não se sentirem em condições de elaborar um discurso escrito? Além disso: a prática da reprodução da enciclopédia é um fator que é transferido para projetos de utilização das novas tecnologias? Dentro deste contexto, se dá a condição para que a produção do conhecimento e a inclusão digital de fato aconteçam? Segundo Vigneron & Oliveira (2005, p. 57),

O exercício escolar da cópia foi, durante muitos anos, uma prática cotidiana pela qual eram registrados textos julgados dignos de serem apropriados pelos alunos, eram fixadas normas e condutas disciplinares, ou eram feitos treinos de caligrafia.

Para complementar esta análise, cabe citar uma pesquisa elaborada pela Apple, intitulada ACOT (Apple Classrooms of Tomorrow), a qual analisou o tema das novas tecnologias na educação durante um período de 10 anos – entre 1986 e 1996 - nos Estados Unidos. Este pesquisa envolveu escolas públicas, universidades, agências de pesquisa e um projeto da Apple de inserção de novas tecnologias na sala de aula. A pesquisa demonstrou que a “introdução da tecnologia na sala pode aumentar significativamente o potencial de aprendizagem, especialmente quando esta é utilizada como apoio colaborativo, acesso à informação e expressão e representação dos pensamentos e idéias dos estudantes.” 117

Entre os resultados alcançados, detectou-se que existem cinco fases de apropriação das novas tecnologias pelos alunos e professores na escola: acesso, adoção, adaptação, apropriação e invenção.

1. Acesso: é o primeiro contato. Os professores aprendem o básico da informática usando a nova tecnologia.

2. Adoção: utiliza-se a nova tecnologia como apoio para a educação 3. Adaptação: integram-se as novas tecnologias à prática da sala de aula.

Aqui, o foco está no aumento da produção do aluno por meio de programas de informática, como programas de texto e gráficos.

117 Texto em inglês. Tradução da autora desta dissertação. Fonte:

4. Apropriação: se centra na cooperação, em projetos e no trabalho transdisciplinar, incorporando a tecnologia como uma necessidade e uma das ferramentas pedagógicas do professor.

5. Invenção: Se descobre novos usos para a tecnologia e passa-se a se desenvolver projetos por meio da combinação de múltiplas tecnologias.

Esta pesquisa detectou que existem fases amplas de incorporação das tecnologias (1. sobrevivência; 2. Domínio; e 3. Impacto), sendo que na fase inicial, percebeu-se que parte dos alunos começou a utilizar as novas tecnologias para copiar textos da Internet, com a intenção de poupar o trabalho de produzi-los. Esta foi definida como uma fase inicial de apropriação das ferramentas tecnológicas ao processo de aprendizagem. Abaixo, uma descrição sucinta destas fases:

Estágio 1 – Sobrevivência: neste estágio de introdução da informática à escola, alunos e professores estão aprendendo juntos e passando pelas dificuldades técnicas de adaptação ao instrumento tecnológico. Nesta fase inicial de exposição e contato inicial com o meio, constatou-se que muitos estudantes copiavam e colavam textos da Internet sem se darem ao trabalho de produzirem conhecimento. É a primeira fase de apropriação tecnológica.

Estágio 2 – Domínio: neste estágio, os professores já estão mais adaptados à tecnologia e lidam com mais naturalidade com os problemas técnicos.

Estágio 3 – Impacto: É a fase em que a tecnologia não é mais um “bicho de sete cabeças” e que esta passa a ser utilizada como ferramenta pedagógica pelo professor.

A partir desta linha de pensamento, a reprodução de informações da Internet e disponibilização destas no site do TôLigado pode ser encaixada, assim, como uma das fases de incorporação das novas tecnologias por estes agentes e um caminho para a apropriação deste instrumento pedagógico pelos alunos e professores. O passo seguinte seria a produção de conhecimento a partir dos subsídios oferecidos pela Internet e pelo histórico do indivíduo. No entanto, é importante enfatizar que existe uma barreira a ser superada, que é a da prática histórica do copiar e colar na escola pública, muito anterior ao surgimento da Internet. Esta prática pode ser inserida, novamente, dentro do conceito de

habitus, de Bourdieu: existe uma cultura já estabelecida na escola de copiar conteúdos já

prontos e simplesmente reproduzi-los. Essa prática, já anteriormente existente, está sendo transferida para o meio virtual.