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3. NAVEGANDO NO TÔLIGADO

3.1 Uma Contextualização do TôLigado

O TôLigado iniciou suas atividades em outubro de 200157. Encomendado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE)/ Secretaria Estadual de Educação à Escola do Futuro/USP – quem o concebeu – surgiu como uma forma de estimular a utilização das Salas Ambiente de Informática (SAI) instaladas, até então, em 2.931 escolas

54 De acordo com Kenski (2001, p. 53) “a comunidade específica de ‘aprendizagem’ vai além do tempo de

uma disciplina ou curso, ainda que possa surgir de iniciativas nesses momentos de ensino-aprendizagem. Em muitos casos, ela se solidifica após o encerramento destes. Não se constituem também apenas de períodos finitos, previamente estabelecidos pelas instituições ou pelos seus coordenadores e professores. As comunidades de aprendizagem ultrapassam as temporalidades regimentais estabelecidas pela cultura tradicional e vão além. Seu tempo é o tempo em que seus membros se interessam em ali permanecerem em estado de troca, colaboração e aprendizagem.”

55 Em 2005, o projeto foi premiado pelo Instituto Telemar como melhor projeto de inclusão digital –

Categoria Universidades.

56 A Gerência de Informática Pedagógica (GIP) era o principal órgão da Secretaria de Educação para

pensar as inserção nas novas tecnologias na rede estadual de ensino. Silvia Galleta era a principal responsável por este órgão na época de funcionamento do projeto TôLigado.

estaduais. Na época, foi feita uma pesquisa junto aos professores da rede sobre a utilização das SAIs, quando foi colocada a necessidade de cursos e projetos que apresentassem ferramentas pedagógicas de utilização das novas tecnologias, ainda uma novidade na rede estadual. De acordo com Skutscka, a demanda era de um projeto “que fosse levado para dentro da sala de informática, que abordasse os assuntos transversais, que ocupasse os alunos lá dentro e que (...) envolvesse tanto o aluno quanto o professor para poder estar utilizando a sala de informática de uma maneira produtiva.” Como enfatiza Passarelli (2007, p. 70),

O projeto (...) foi concebido e implementado para tentar superar as fragilidades apontadas no cenário da inserção da informática nas escolas brasileiras, constituindo ambiente virtual multimídico para incentivar a prática de pesquisa e de produção do conhecimento entre alunos e professores.

O projeto foi encomendado, então, para a Escola do Futuro/USP, que o concebeu com a intenção de “estimular a produção de conhecimento, a autoria coletiva e a autonomia de seus ‘atores’ e ‘autores’” (PASSARELLI, 2007, p.15), por meio de um site de colaboração com temas do ensino formal. Segundo Skutscka, coordenadora do projeto entre os anos de 2004 e 2006, o objetivo era de “um site que fomentasse a pesquisa (...) e o desejo de conhecer, mas que não tivesse cara de material escolar, que não tivesse cara de livro transformado em educação à distância, era mais uma coisa que fosse lúdica”. Ainda, segundo PASSARELLI (2007, p. 70):

O objetivo nuclear é proporcionar a inserção da tecnologia digital no processo da aprendizagem, buscando um modelo inter, multi e transdisciplinar. Além disso, o projeto foi configurado tendo em vista também atingir objetivos periféricos como promover a criação de uma comunidade virtual de aprendizagem e de prática através do incentivo à construção do conhecimento e da prática de pesquisa nas áreas de humanidades, ciências exatas e biológicas; preparar o aluno para conviver com a idéia de mudança, adaptação e compreensão de realidades pontuadas por conflitos e contradições; incentivar a criatividade e o conhecimento de diferentes tecnologias em sala de aula; promover a troca de experiências entre alunos e professores por meio de fóruns e chats; capacitar os professores na utilização da tecnologia digital para atuar como facilitadores na interação entre tecnologia a aprendizagem; disponibilizar acesso à infoesfera mundial e, desta forma, democratizar o acesso à informação aos alunos, professores e diretores das escolas públicas; estimular o uso das SAI (Sala - Ambiente de Informática) como ambiente privilegiado de aprendizagem, nos três períodos letivos e incrementar a auto-estima de alunos e professores .

A implementação do projeto ocorreu, então, a partir do ano de 2001, por meio de capacitações junto aos Assistentes Técnicos Pedagógicos (ATPs)58 e Professores

58 Os Assistentes Técnicos Pedagógicos (ATPs) são docentes da rede que atuam como professores

Coordenadores Pedagógicos (PCPs) de diferentes cidades do estado, como parte da oficina

Internet na Educação59, “criada para tentar superar as fragilidades apontadas no cenário da inserção da informática nas escolas públicas estaduais de São Paulo e para apresentar o projeto TôLigado aos professores” (PASSARELLI, 2007, p. 120). A idéia era que estes professores multiplicassem a capacitação em suas próprias Diretorias de Ensino (DEs), um total de 89 no estado60, as quais ficaram responsáveis por capacitar outros professores de sua região por meio destes multiplicadores. De acordo com Silvia Galletta, então Gerente de Informática Pedagógica (GIP), da Secretaria de Educação, nesta oficina,

– o professor fazia a formação para o uso da Internet e ele trabalhava com o ambiente do TôLigado desenvolvendo atividades junto aos alunos. Qual era a nossa intenção? Que o professor que fizesse o curso colocasse em prática o seu conhecimento junto com seus alunos, porque, na verdade, é assim que ele vai se aperfeiçoando e dominando melhor todos os recursos que estão dentro do ambiente de Internet: enviar e receber e-mail, fazer download, anexar um arquivo, publicar materiais dentro do ambiente, postar imagens (...). E por aí vai, a gente usou esta estratégia que era para o professor já sair com uma prática pedagógica e ele ver que a Internet tem um campo de atuação pedagógica bastante forte e que o professor poderia estar fazendo este trabalho dentro da sala de aula com seus alunos.

As capacitações ocorreram entre os anos de 2001 e 2003, nos Núcleos Regionais de Tecnologia Educacional (NRTEs) 61 e nas Diretorias Regionais de Ensino espalhados pelo estado, de maneira presencial (40 horas) e semi-presencial (8 e 16 horas presenciais e 32 e 24 horas a distância) , totalizando 510 profissionais capacitados diretamente pela Escola do Futuro e atingindo 3.226 professores por meio dos multiplicadores (PASSARELLI, 2007, p. 122).

A capacitação funcionou como uma corrente de disseminadores do projeto: em uma ponta estavam os formadores da Escola do Futuro/USP, os quais iniciavam a formação junto aos ATPs e PCPs, que, por sua vez, repassavam o apreendido para outros professores

59 Esta oficina fez parte de um programa de formação de professores com enfoque para as novas

tecnologias e a educação. Implementado pela Secretaria Estadual de Educação, o curso foi dividido em quatro módulos: 1. Informática Básica – iniciação para o uso do computador e introdução das ferramentas disponíveis; 2. Softwares educacionais como recursos pedagógicos para o ensino fundamental; 3. Softwares educacionais como recursos pedagógicos para o ensino médio; 4. Internet na Educação, o qual foi atrelado à capacitação para o projeto TôLigado.

60 Atualmente, são 91 Diretorias de Ensino (DEs) no estado, sendo que cada uma abrange

aproximadamente 60 escolas e possui, em média, 3 Assistentes Técnicos Perdagógicos (ATPs). Na época de implementação do TôLigado, eram 89 DEs.

61 Para facilitar o processo de capacitação em novas tecnologias junto às escolas públicas, foram

implantadas, a partir de 1997, os Núcleos Regionais de Tecnologia Educacional (NRTEs), que passaram a funcionar no próprio espaço físico das DEs. Até o ano 2003, eram 50 NRTEs. Estes núcleos foram implantados na mesma época em que estavam sendo instaladas as Salas Ambiente de Informática (SAI) nas escolas e “tem por finalidade ‘assessorar’ as escolas providas de SAI, tanto pedagógica quanto tecnicamente” (PASSARELLI, 2007, p. 120).

nas DEs, de onde se formavam professores de diferentes escolas que iriam repassar a proposta à ponta final da corrente: professores nos HTPs (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo) e os alunos. Segundo Samantha Skutscka, em entrevista, a metodologia de capacitação ocorria da seguinte maneira:

– A DE manda um PCP, que é um professor coordenador pedagógico. Esse professor volta para a DE e capacita os professores na DE, na própria DE. Então, é um telefone sem fio. Então, a gente nunca tem certeza de quantos professores finais, ou seja, de professores que trabalham realmente com a sala de aula, a gente não tem certeza de quantos deles foram capacitados e quantos deles estão trabalhando com o projeto. Mas, é a única maneira, porque a gente não consegue capacitar o público final porque é muito grande. (...) Quer dizer, é muito falho, porque da gente vai para a DE, da DE vai para o PCP, do PCP vai para o professor, do professor tem que ir para o aluno que é o usuário final.

Para a divulgação inicial do projeto nas escolas, ficava a cargo dos PCPs repassar a proposta aos professores, que aproveitavam as reuniões de HTPCs. Além disso, foram afixados cartazes nas instituições de ensino para divulgar visualmente o TôLigado nas escolas que possuíam Sala Ambiente de Informática, as quais possuíam, em sua maioria, acesso à Internet via conexão discada, viabilizada por meio de parceria com instituições privadas. A partir de 2002, começou a ser implementado o IntraGov62, programa de Governo do Estado de acesso à Internet banda larga em diferentes instituições estaduais, o qual vem sendo instalado até o ano de 2007.

Inicialmente, o projeto foi concebido para ser utilizado por alunos do ensino fundamental (5ª. a 8ª. séries), mas, em 2004, foi ampliado e reformulado para dialogar também com alunos do ensino médio, os quais vinham tendo uma participação constante não prevista pelos proponentes. Nesta reformulação, foi pensada uma adequação a esta ampliação do público-alvo: mudou-se a interface gráfica para uma versão mais infanto- juvenil, a qual foi inspirada na linguagem de quadrinhos; as atividades propostas pelo site foram pensadas para acompanhar transversalmente as matérias de sala de aula, e foram incluídas outras possibilidade de interatividade, como blog e chat (só existia fórum). Além disso, o site passou a ter atualizações mais constantes, com a inserção de novas sessões, como o link “Ligado na Escola”, onde se publicavam dicas e curiosidades, divulgação de eventos e o estímulo ao debate por meio da inclusão de um tema semanal que era discutido - como, por exemplo, o plebiscito do desarmamento e o protocolo de Kioto - sempre

62 O IntraGov “é uma infra-estrutura única de comunicação, em implantação pelo Governo de São Paulo, que

cobrirá todo o Estado, podendo ser compartilhada por diferentes órgãos públicos”. Fonte: http://www.intragov.sp.gov.br/, Acesso em: 17 de setembro de 2007.

acompanhado de uma enquete.A partir de 2004, os moderadores da Escola do Futuro/USP também começaram a criar um mailing com os endereços eletrônicos das DEs e escolas para efetivar uma melhor comunicação. Nestes e-mails, semanalmente eram enviados lembretes sobre o tema de discussão da semana e anunciando a atividade de destaque do mês, com a intenção de estimular a publicação. Segundo Skutscka, a inclusão da mala direta e da mediação com os professores passou a ser um instrumento de diálogo com as escolas, o que não ocorria antes de forma efetiva:

- Com essa comunicação, a gente começou a receber comunicação de volta. Então, por exemplo, a gente começou a receber e-mails pertinentes a outras coisas que a gente não tinha antes. Então, a gente tinha muito e-mail assim: - ah! Eu adoro o site. Ah! Meu professor não quer trabalhar coma a gente na sala. E de repente começou um outro tipo de e-mail, como pedidos de gabarito ENEN, provas antigas do END para estudar. Então, começou a haver um interesse da escola do futuro não só como mediação do TôLigado, mas como mediação do ensino deles. Então, a gente começou a receber e-mail assim: - eu sou aluno da sexta série e nossa professora não deixa a gente usar o SAI. O que a gente pode fazer? A gente ligava para a DE e comunicava e deixava que a DE cutucasse lá.

A mala direta iniciou um contato mais próximo com o professor, possibilitando uma interação entre público-alvo (escola) e mediador (Escola do Futuro). Além das trocas virtuais por e-mail, existiam as ferramentas de interatividade do site: fórum de discussão, publicação de publicações nas atividades oferecidas pelo site (Comunidade Viva, Como funciona?, Central de Patentes, Bio Trilhas, O Repórter é Você!, Quadrinhos Interativos e Webzine) – as quais serão detalhadas adiante -, chats, blogs e os links que ofereciam a possibilidade de navegação. Abaixo, alguns exemplos de mala direta enviadas às DEs e escolas estaduais para incentivar a participação no site.

Figura 1 - Mala di reta enviada às Diretorias de Ensino Fonte: Escola do Futuro (Relatório Situacional 2001-2005)

Figura 2 – Mala direta institucional enviada às escolas Fonte: Escola do Futuro (Relatório Situacional 2001-2005)

No início do primeiro semestre de 2002, foi criada a Gincanas TôLigado, uma maneira de incentivar professores e alunos a visitarem, explorarem e publicarem no site. De acordo com relatório de março de 2003 da Escola do Futuro, “a Gincana foi planejada para premiar alunos e escolas por meio da avaliação de suas publicações no site TôLigado, por meio de critérios qualitativos e quantitativos”63. Ocorreram duas Gincanas durante os anos de 2001 a 2006 e estas eram encerradas na Farra da Informática Educativa – Computer Jamboree, evento lúdico que incluía a premiação das escolas com destaque de participação quantitativa e qualitativa no TôLigado. Durante a duração do projeto, foram duas Gincanas, as quais, segundo Skutscka, mantinham um mínimo de incentivo ao uso do ambiente e aumentavam consideravelmente o número de publicações nos períodos em que ocorriam. Como forma de registro das Gincanas, foram produzidos dois vídeos que se encontram disponíveis no site: o Clip TôLigado e o Repórter TôLigado no Jamboree.

Para descrever o funcionamento do site, foi feita uma leitura dos nós que fazem parte da rede hipertextual do TôLigado. Estes são os elementos oferecidos ao internauta para que navegue no projeto e estabelece diferentes graus de interatividade.