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A evolução da globalização do complexo de frutas frescas

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A COMPETITIVIDADE DA CADEIA GLOBAL DE FRUTAS E OS IMPACTOS SOBRE O LOCAL

2.4 A evolução da globalização do complexo de frutas frescas

É importante separar o desenvolvimento do sistema produtivo global de fruta em dois períodos diferentes: pré e pós Segunda Guerra Mundial. Estas divisões se unem convenientemente (e não por coincidência) àquelas concebidas para os “regimes alimentares” discutidos anteriormente.

2.4.1 O sistema produtivo de frutas frescas pré-Segunda Guerra Mundial

Até fins da Segunda Guerra Mundial, em geral, o sistema produtivo de fruta fresca operava dentro de uma escala de resolução local e nacional. Esta situação estava em parte determinada tecnologicamente, tendo em vista que a infra-estrutura e as técnicas de transporte internacional de produtos perecíveis em larga escala não estavam bem desenvolvidas. Por outro lado, fatores econômicos e sociais dificultavam o desenvolvimento de um sistema globalizado. No entanto, uma notável exceção ao padrão geral de fornecimento de fruta foi a economia da banana, relativamente não perecível, resistindo a um maior período sendo transportada naturalmente. Esse comércio de exportação tem origem no século XIX, com a exportação da então “exótica” banana das colônias (Sudeste da Ásia, América Central e Caribe) para os principais países colonizadores da Europa. Posteriormente, um número de empresas multinacionais (notadamente Dole, Chiquita e Del Monte) começaram a participar da comercialização de bananas, proporcionando um aumento considerável das exportações para os EUA (FRIEDLAND, 2002).

O sistema de fornecimento de produtos frescos de grande escala foi inaugurado pelos EUA, onde o desenvolvimento das linhas férreas e, em seguida a tecnologia de refrigeração, facilitaram o comércio inter-regional. A provisão de vegetais, tais como alface e tomates, representa os primeiros exemplos da distribuição in natura a longa distância. Este processo se aplicou à fruta dos EUA na década de 1930 (FRIEDLAND et al., 1981).

2.4.2 O sistema produtivo de frutas frescas pós-Segunda Guerra Mundial

O sistema de produção e distribuição fruta do pós-guerra é caracterizado pelo aumento dos complexos agroindustriais e agro-alimentícios dentro do contexto da industrialização da agricultura. Para tanto, a mobilidade das empresas multinacionais tem sido fundamental no processo de desenvolvimento do sistema. Seus principais alvos, além da comercialização, são: a) busca de mão-de-obra barata; b) infra-estrutura de transporte relativamente desenvolvida e c) climas onde são possíveis colheitas da “contra-estação”.

Nas décadas de 1970 e 1980, o processo de globalização foi facilitado e acelerado com a adoção de políticas econômicas, geralmente como meio de ajuste estrutural “recomendado”, numa grande parte dos países em desenvolvimento. A adoção de tais medidas, entre outros impactos, abriu as economias aos investimentos estrangeiros, manteve os baixos custos de mão- de-obra, como também permitiu uma orientação exportadora. Essas condições têm se mostrado ideais para as grandes empresas multinacionais.

Concomitantemente, existe uma carga de mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, relacionadas com o sistema frutícola, que tem possibilitado ainda mais a sua globalização. Destacamos duas tendências sociais: o crescimento da classe média dos países desenvolvidos, depois da Segunda Guerra Mundial, conduziu a um desenvolvimento material variado e importante como, por exemplo, salários notavelmente altos. As mudanças nos estilos de vida da classe média, especialmente aqueles dedicados ao turismo internacional, contribuíram no sentido de aproximar as pessoas a novos tipos de alimentos, aliado ao fato de que nesse setor da sociedade começa-se a tomar consciência de uma dieta saudável. Num segundo plano, o envelhecimento da população proporciona o aumento da demanda por fruta, visto que as pessoas mais velhas têm tempo, especialmente depois de aposentarem-se, de se informar sobre temas concernentes à saúde e à longevidade; via de regra, têm acesso a recursos e viajam gastando boa parte dos seus rendimentos em alimentos (WATMORE, 1995). Dessa forma, o aumento das rendas pessoais no pós-Guerra exerceu uma influência no crescente gasto proporcional com o consumo de frutas.

A mudança tecnológica também tem sido instrumento primordial para o desenvolvimento global da fruticultura. Destacamos o desenvolvimento das cadeias de refrigeração integradas ou “cadeias frias”, em grande parte adaptadas do setor de vegetais frescos dos EUA e aplicadas à fruta na década de 1960, permitindo o transporte de grandes distâncias dos produtos frescos perecíveis (CARTER e TURNER, 1988). Num segundo movimento, o processo de transferência de tecnologia tem exercido um papel fundamental no desenvolvimento do sistema de distribuição de frutas. Nos países cujas rendas são elevadas este aspecto é sempre regulado pelo Estado ou por uma combinação de empresas estatais e privadas. Os países financeiramente limitados se apóiam em empresas multinacionais para a investigação e o desenvolvimento tecnológico, juntamente com a transferência da tecnologia; tal processo tem sido fortalecido pela mobilidade do capital (FRIEDLAND, 2002).

2.4.3 O padrão de interação geográfica do comércio global de fruta

A combinação dos fatores anteriormente mencionados tem criado uma massa de mercado no mundo capitalista avançado, para uma crescente variedade de produtos frutícolas, a qual conta com um sistema global de distribuição capaz de ser relativamente confiável ao longo de todo o ano. Tal circunstância tem dado origem a um padrão de interação geográfica complexo e cada vez mais volumoso entre “Norte e Sul”, existindo uma divisão internacional de funções relativamente claras dentro do sistema de produção de frutas global.

Dessa forma, a maioria da fruta comercializada é consumida na América do Norte, Europa Ocidental e no Japão. Esse padrão tem sido respaldado por um aumento significativo na demanda por frutas frescas nessas sociedades. Como exemplo, nos EUA, entre 1976 e 2003, o consumo de fruta per capita aumentou em 21,6 %, observando-se a mesma tendência para o Reino Unido (FAO, 2006).

A quantidade de países exportadores de frutas é bem mais ampla do que a dos importadores. Os EUA, Holanda, Itália, Espanha, África do Sul e Nova Zelândia fazem parte de um rol importante na distribuição de frutas. No entanto, conforme mencionado anteriormente, o sistema global tem se caracterizado pelas crescentes exportações dos países em desenvolvimento, especificamente do Hemisfério Sul. Nota-se que o Chile, México e Argentina desempenham um papel importante neste contexto. A variedade de países exportadores de frutas se amplia

constantemente, especialmente na América Latina e, em menor escala, África e os países do Pacífico Sul. Também no Hemisfério Norte – principalmente da Ásia – vêm merecendo destaque (Israel, Turquia, China, Índia). No entanto, o crescimento da exportação nestes países não tem sido tão rápido quanto no Hemisfério Sul. Isto se deve ao fato de os produtores do Norte competirem diretamente nos mercados estacionais com produtores locais nos mercados maiores, os quais estão bem protegidos por um muro de barreiras tarifárias e não tarifárias. Em geral, pelo fato das políticas voltadas para a exportação nos países em desenvolvimento, é possível que o aumento no abastecimento do produto ultrapasse a demanda em um futuro próximo, o que implica um aumento nos níveis de qualidade e possível ajuste nos preços para baixo.

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