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GRÁFICO 2: EVOLUÇÃO DE FRIGORÍFICOS E CÂMARAS NO CHILE

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CÂMARAS FRIGORÍFICOS

Fonte: Centro de Información de Recursos Naturales (Ciren) e Corporación de Fomento de la Producción (Corfo), 2006.

Conforme pudemos verificar no gráfico 2, o Chile possui um alto nível de desenvolvimento, no que diz respeito à capacidade frigorífica para o manejo posterior à colheita de frutas, alcançando 3 milhões de m3, distribuídos nas principais áreas frutícolas do país.

No transporte das frutas, desde os pomares até as centrais frutícolas e destas para os portos, por exemplo, utilizam-se caminhões frigoríficos com sistemas de proteção, como cobertores de lonas e capas térmicas.

Nos portos chilenos, principalmente no de Santiago, que foi o mais observado no decorrer da pesquisa de campo, foram implementadas algumas inovações que têm permitido

aumentar de forma bastante considerável os rendimentos de carga dos navios e diminuir o tempo de permanência da fruta no porto. Com o objetivo de agilizar os movimentos nos portos americanos, as inspeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) são realizadas nos portos de embarque do Chile. Atualmente, no sentido de agilizar ainda mais todo o processo e descongestionar os portos chilenos, as inspeções, gradualmente, estão se deslocando para as centrais frutícolas.

Talvez as transformações de maior transcendência tenham ocorrido no transporte marítimo. Uma foi a unificação e normalização das caixas de exportação em pallets, que modificaram por completo os sistemas de distribuição de frutas e, também, modificaram consideravelmente sua comercialização nos mercados externos.

Outra importante inovação foi a substituição dos navios de linha por navios arrendados, o que fez diminuir os custos do transporte e o tempo de navegação, aliado ao fato de o exportador poder eleger os portos de desembarque. De fato, tal inovação foi significativa, haja vista que a distribuição começou a realizar-se em função da comercialização e não como ocorria antes, em que a comercialização se fazia em função dos itinerários dos navios.

Por outro lado, a modernização do transporte marítimo tem permitido a exportação de frutas ainda mais sensíveis às mudanças de temperatura. Sendo assim, ao diminuir de forma considerável o custo e o tempo de viagem, a exportação desses tipos de produtos se converteu em uma atividade rentável.

Com o objetivo de melhorar a eficiência da distribuição e comercialização nos mercados externos, alguns grupos de exportadores arrendaram terminais portuários nos EUA e em seguida concentraram suas exportações em tais terminais de forma a alcançar volumes suficientes para a sua especialização. A adaptação dos galpões para receber a fruta, assim como o controle do descarregamento, constitui tão somente alguns dos benefícios desta prática. Outra vantagem deste sistema é que se o terminal estiver bem localizado, fica mais fácil o contato com as redes de distribuidores locais de grande extensão e baixo custo.

É importante ressaltar a diferença entre o Chile e os outros países do Hemisfério Sul, principalmente Nova Zelândia e África do Sul, que têm preferido centralizar suas vendas em grandes consórcios ou juntas de comercialização estatais ou semi-estatais (marketing boards). Verifica-se que cada exportador chileno tem a responsabilidade de vender seus produtos. Como conseqüência, para aqueles que atingem tal desempenho, estabelece-se uma ampla rede de relações comerciais entre os exportadores e os importadores nos mercados de destino. O comprador, por sua vez, tem uma equipe de vendedores que é responsável pela colocação dos produtos. Esta estratégia tem permitido a inserção de volumes crescentes sem maiores

esforços de venda e sem incorrer em gastos excessivos e aproveitar as oportunidades na medida em que se apresentam. Resumindo, utiliza-se um sistema de comercialização flexível, dinâmico, atomizado e bem distribuído nos distintos mercados, que vem contribuindo cada vez mais para sua inserção no mercado internacional, conforme dados da tabela 19.

Tabela 19: Chile - Exportação de frutas frescas (mil caixas)

PRODUTOS 1994/95 2003/04 2004/05 Var. % 2004/05 2005/06 Var. % 2005/06

Uva de mesa 62.867 91.776 98.075 6,9 105.581 7,7 Kiwis 33.586 14.359 14.527 1,2 15.747 8,4 Maçã vermelha 15.296 33.883 29.162 -13,9 34.329 17,7 Maçã verde 7.275 7.654 7.481 -2,3 7.081 -5,3 Peras 8.665 7.979 7.870 -1,4 7.824 -0,6 Ciruelas 7.820 14.382 13.695 -4,8 11.320 -17,3 Nectarinas 7.243 7.239 8.074 11,5 5.557 -31,2 Duraznos 4.877 6.511 7.065 8,5 5.937 -16 Abacate 1.559 8.999 14.139 57,1 10.043 -29 Peras asiáticas 907 1.412 1.478 4,7 1.294 -12,5 Frambuesas 1.296 2.220 2.487 12 2.200 -11,6 Arándanos 350 5.334 6.305 18,2 8.244 30,7 Limões 395 1.998 2.076 3,9 1.793 -13,7 Clementinas-mandarinas 79 2.097 4.789 128,4 5.614 17,2 Cerejas 940 1.911 2.709 41,8 4.413 62,9 Damascos 421 607 512 -15,7 464 -9,4 Demais 585 1.726 1.942 12,5 2.025 4,3 Total 154.161 210.087 222.386 6,1 229.466 3

Fonte: Oficina de Estudios y Politicas Agrarias – ODEPA, 2007.

Assim, esta reflexão sobre as mudanças tecnológicas nos permite concluir que na experiência chilena há impactos de diferentes níveis. O primeiro, em nível de produção, há registros de mudanças significativas na localização geográfica dos cultivos, na diversidade dos produtos e na variedade de um mesmo produto, assim como melhorias nos rendimentos. Segundo, em nível de processamento e distribuição, como resultado do aperfeiçoamento dos procedimentos de conservação dos produtos; a redução dos tempos entre as etapas anteriores e posteriores à colheita; a maior eficácia dos sistemas de carga que facilitam o manejo de grandes volumes; a modificação completa das modalidades de distribuição nos mercados externos, dando prioridade à ordenação do negócio em função da comercialização propriamente dita e não dos itinerários do transporte, principalmente o marítimo, e a revisão e fiscalização da qualidade e sanidade dos produtos.

Visivelmente, nesta atividade, o produtor toma um conjunto de decisões que afetam suas rendas. Assim, é possível diferenciar estas decisões tendo em conta o seguinte: na etapa de produção das frutas concentra-se a maior capacidade de gerar qualidade nos produtos, uma vez que os esforços que se realizam posteriormente estão mais relacionados com tarefas destinadas a conservar e manter os níveis de qualidade alcançados ou diminuir a aceleração da sua deterioração, visto que o preço é um reflexo dos resultados obtidos em tal sentido.

A partir desta perspectiva e revendo as distintas fases desse processo, ou seja, nas etapas de pré-colheita, colheita e pós-colheita se tem, em primeiro lugar, que o papel do material vegetal empregado, a propriedade da terra e a mão-de-obra marcam uma primeira diferença importante (considerando-se a pré-colheita). Efetivamente, a eleição do clima e dos solos mais apropriados, juntamente com a preparação que se realizam destes últimos, é determinante para se obter os rendimentos esperados. Como a época de plantação pode ser realizada em função do clima e do produto que se deseja obter, torna-se possível antecipar ou lograr uma produção de média estação. Ao mesmo tempo, o uso de variedades mais produtivas e resistentes aos fatores adversos, permitirá aumentar a produtividade e o número de colheitas em um mesmo período de tempo e, por conseguinte, reduzir os custos unitários de produção.

Fator importante, dentro da etapa de pré-colheita, são as atividades denominadas ‘culturais’, como o tipo de irrigação, a preparação e limpeza para manter a terra solta com vistas a controlar as doenças. Nesse sentido, é importante mencionar as tarefas de fertilização, que estão intimamente ligadas à obtenção de bons rendimentos e qualidade, seguindo com outras atividades anuais, como o controle de pragas e enfermidades, que não são as mesmas para todos os produtos e requerem, em muitos casos, a participação de algumas habilidades especiais para a sua boa execução.

As atividades posteriores à colheita estão caracterizadas pelo grau de maturação que os produtos podem alcançar e por suas condições fitossanitárias, assim que são separados da planta.

Há fatores conexos às características do produto que dependem da experiência e qualificação da mão-de-obra empregada na etapa posterior à colheita, quando o objetivo é obter resultados de qualidade. São eles: i) a eliminação de impurezas e materiais estranhos; ii) a ausência de danos provocados por insetos ou danos físicos; iii) a eliminação de enfermidades e pragas, e iv) o cuidado nas formas de apresentação do produto.

No caso da uva, por exemplo, implica em obter uma determinada forma de cacho, um determinado tamanho dos frutos, ausência de cores indesejáveis, etc. Em seguida, o trabalho é vinculado à conservação e armazenagem em condições especiais, em particular, as relacionadas com o esfriamento e o tratamento em atmosferas controladas, cujo objetivo é a conservação dos frutos durante todo o processo. Assim, um eficiente manejo nesta etapa permitirá aumentar a vida útil do produto, conservando suas características físico-químicas e fisiológicas, possibilitando a sua inserção com melhores preços.

Além disso, existe uma relação muito estreita entre a decisão de colheita e pós- colheita, tendo em vista que o fator determinante em tal decisão é o grau de maturação do fruto, já que o objetivo é assegurar a expressão máxima dos atributos de qualidade do produto. Através de indicadores como a cor, firmeza, facilidade de desprendimento do fruto, se procede a colheita. Dessa forma é que o conhecimento da atividade e a experiência acumulada tornam-se essenciais para encontrar finalmente a combinação ótima das atividades de colheita e pós-colheita.

Uma vez cumpridas as etapas anteriores se tem a opção de incorporar valor agregado ao produto, mediante a seleção e limpeza, classificação, embalagem, etc. Via de regra, nas localidades estudadas, essas tarefas são realizadas a nível familiar ou comunitário, com o que se diminui o número de intermediários e aumenta a participação do produtor no preço de venda.

Ao assegurar-se que o produto cumpre com os parâmetros de qualidade adequados, a preocupação se centra nos processos de comercialização propriamente ditos, como os de estabelecer os fluxos de abastecimento aos mercados, em aspectos como os volumes e a periodicidade da recepção. Previamente ao processo de comercialização, os produtores conhecem as normas de qualidade que se impõem nos mercados internacionais e a que o produto deve ajustar-se para ascender com facilidade nesses mercados. Essas normas põem à prova todo o esforço realizado nas etapas anteriores do processo, cujos produtores são os principais protagonistas. Todavia, seu resultado já não depende exclusivamente deles, mas também dos agentes econômicos que intervêm na comercialização final.

Assim, fica evidente que a geração de qualidade nos produtos frutícolas esta associada à incorporação minuciosa de tecnologias muito diversas que se aplicam em cada fase do processo produtivo. São tecnologias, até certo ponto, “simples”; no entanto, cruciais. Curiosamente, a diferença dos investimentos em máquinas e equipamentos, que incorporam tecnologias pesadas e que, por isso mesmo, limitada pelo financiamento, as tecnologias ditas “simples” nem sempre estão associadas a um grande volume de recursos financeiros para sua

implementação, mas sim com o desenvolvimento de capacidades e à acumulação de experiência de produção e gestão (Quadro 8).

Quadro 8: Tecnologias nas fases produtivas da fruta

Pré-colheita

• Variedades mais produtivas

• Variedades precoces e resistentes

• Aumento do número de colheitas

• Redução dos custos unitários

• Melhor manejo cultural (pragas, fertilização, irrigação etc.)

Colheita • Manejo do grau de maturação do produto (grau de qualidade e tempo

de armazenagem) Pós-colheita

• Trabalho de apresentação do produto (eliminação de impurezas e

produtos danificados; aperfeiçoamento da forma)

• Valor agregado a nível da propriedade (secagem, embalagem etc.)

Comercializaç ão

• Ajuste às normas e graus de tolerância preestabelecidos para que os produtos atinja uma qualificação determinada de qualidade

Fonte: elaboração própria

Em síntese, no contexto das experiências analisadas, o impacto da tecnologia é o resultado de um esforço sistêmico que tem permitido ao Chile obter produtos frutícolas competitivos, cuja presença nos mercados internacionais tem sido estável.

À guisa de conclusão deste capítulo, verificamos que, realmente, Brasil e Chile apresentam trajetórias distintas, na comercialização internacional de frutas de mesa. Todo cuidado deve ser tomado, uma vez que a exaustiva comparação entre os dois países, obviamente, fazendo alusão ao sucesso das exportações chilenas, não deve ser confundida com a possibilidade de transpor aquele modelo para o Brasil. O modelo exportador chileno foi projetado para atender diretamente o mercado internacional, conforme já tinham observado Faveret Filho et al (1999). Por outro lado, não tem um mercado interno capaz de consumir sua produção e muito menos as variedades frutículas aqui existentes.

Ainda assim, são inquestionáveis as vantagens comparativas existentes na fruticultura brasileira, principalmente nos perímetros irrigados, com destaque para os pólos Petrolina/Juazeiro, Norte de Minas e Açu/Mossoró, onde a exportação de frutas tomou impulso nos últimos anos.

No que diz respeito aos efeitos transbordamentos gerados pela exportação de frutas, tanto no Brasil como no Chile, no contexto dos temas de desenvolvimento rural, pode-se claramente apontar para a ausência de políticas que apóiem os pequenos produtores. Poderíamos arriscar um prognóstico, baseado na incapacidade de o Estado enfrentar o setor

das empresas exportadoras e desenhar métodos de incentivos para que estas não atuem de maneira míope. Na ausência de tais medidas, as políticas das grandes empresas exportadoras são decisivas para as localidades, criando grande dependência determinada, em grande parte, pelos interesses criados por elas mesmas, uma vez que esses são os sintomas da exposição local a poderosas forças globais de poder.

Nos dois países, verifica-se que a globalização da fruta de mesa está ampliando significativamente os benefícios, pelo menos em uma macro-escala. No entanto, tal globalização é desigual e contraditória, conforme tínhamos analisado no tópico referente ao Chile. Por meio da criação de uma rede interconectada, o fenômeno marginaliza aqueles locais e grupos que não participam no processo. Entre aquelas instituições que participam, a distribuição dos benefícios não é eqüitativa devido às assimetrias subjacentes ao poder global. No Brasil, essas possibilidades se manifestam espacial, socialmente, uma vez que o crescimento é excludente pela falta de terra entre os pequenos produtores com uma taxa de desemprego rural em ascensão.

Por fim, parafraseando Cavalcanti (1997), as opções de desenvolvimento local devem ser vistas e revistas visando a atender aos objetivos de gerar renda e emprego, reduzir a pobreza e melhorar a condição de vida da população. Assim, conclui a autora: “são escolhas que cabem à sociedade, às organizações sociais e, fundamentalmente, ao Estado, que é requerido para garantir desenvolvimento com eqüidade” (p.287).

CAPÍTULO IV

CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DOS ASPECTOS ECONÔMICOS, PRODUTIVOS

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