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Desenvolvimento e o efeito de transbordamento

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ANTROPOLOGIA CULTURAL Identidade cultural

1.4 Desenvolvimento e o efeito de transbordamento

Como já havíamos mencionado anteriormente, o conceito de desenvolvimento deve ser considerado para além da presença do crescimento econômico, sem, no entanto, desconsiderar a importância deste. Em um estudo sobre a distribuição de renda no Brasil, Cacciamali (2005, p. 406), faz uma distinção importante entre o crescimento e o desenvolvimento econômico e humano. Segundo a autora, o crescimento econômico é o processo onde se verifica que a renda

per capita de uma determinada sociedade se eleva persistentemente, acompanhado de transformações estruturais quantitativas e qualitativas, destacando-se: i) alteração da estrutura etária da população e da força de trabalho, através da diminuição das taxas brutas de natalidade e de mortalidade; ii) mudanças significativas no sistemas escolar e de saúde; iii) ampliação do acesso aos meios de transportes, comunicação e cultura; iv) maior urbanização das atividades e da força de trabalho em detrimento do setor primário e a favor das atividades de serviços; v) maior integração com a economia mundial; e vi) incremento da produtividade nos diferentes setores da atividade econômica.

Por outro lado, o desenvolvimento, tanto econômico quanto humano, ocorreria paralelamente ao processo de crescimento, onde a maior parte das pessoas dessa sociedade seja a principal beneficiária das mudanças em curso. Assim, ao longo do tempo, devem ocorrer melhorias no padrão de vida material, nas condições de saúde, maior tempo de vida, ampliação no exercício da cidadania e melhores oportunidades de aperfeiçoamento pessoal.

Daí, a importância do presente estudo, no sentido de verificar a evolução de alguns indicadores sócio-econômicos para detectar se de fato o crescimento econômico está atingindo esses objetivos, ou seja, se está efetivamente gerando transbordamentos econômicos e sociais em favor do bem-estar das pessoas nas localidades em análise41.

1.4.1 Efeito de transbordamento e o desenvolvimento rural

A questão do desenvolvimento rural vem ganhando cada vez mais destaque, na medida em que a sociedade também se transforma a passos acelerados, no que diz respeito às mudanças significativas na demanda de bens e serviços e, especialmente, nos hábitos e preferências dos consumidores. Tais mudanças têm criado nichos crescentes de mercado para frutas exóticas, plantas aromáticas e medicinais, frutas e hortaliças orgânicas e matérias primas naturais, entre outros. No entanto, pelo que se observa, os produtores e empresários de pequena escala enfrentam numerosas barreiras para o aproveitamento destas novas oportunidades de mercado. Geralmente, têm pouca experiência de negócio e organização empresarial, falta informação sobre novas tecnologias, mercados e preços. Além disso, os serviços de apoio para o desenvolvimento

41 Podemos dizer que, após a década de 1950, no Brasil, bem como em outros países considerados em desenvolvimento, aconteceram tais

de agro-empresas rurais são oferecidos de forma descoordenada e são pouco efetivos ou incipientes.

No que diz respeito ao efeito transbordamento na área rural, é importante entender o que seja efetivamente o desenvolvimento rural. Fazendo-se uma interseção dos conceitos até então vistos, tem lugar comum o fato de ser um processo localizado de mudança social e desenvolvimento econômico sustentável, que tem por finalidade o progresso permanente da comunidade rural e de cada pessoa a ela integrada. O transbordamento seria entendido, em um sentido básico, como a melhoria das condições de vida dos habitantes dos espaços rurais, implicando no incremento dos níveis de renda, da melhoria nas condições de trabalho e na conservação do meio ambiente (GÓMEZ OREA, 2004).

Assim, verifica-se que há certa dificuldade em se conceituar o que seja verdadeiramente desenvolvimento rural. No entanto, quando o desenvolvimento realmente existe, torna-se fácil a sua identificação. Conforme menciona Gómez Orea (2004), acredita-se que o conceito de desenvolvimento rural surgiu na França em torno do ano de 1965 e se baseava nos conceitos de capacidade de aprendizagem e organização, sem desconsiderar os antecedentes norte-americanos. Nesta década, o desenvolvimento convencional, que relegava à população uma condição passiva ou de mera espectadora, se via tomado por uma nova concepção de desenvolvimento: o desenvolvimento comunitário.

A referência mais remota ao desenvolvimento comunitário teve sua origem no programa de promoção do Vale do Tennessee (EUA), iniciado no ano de 1934, conforme proposta do T.V.A (Autoridade do Vale do Tennessee), organismo público criado pelo congresso dos EUA. Com a mediação da T.V.A e, ao longo de dez anos, o Vale alcançou um elevado nível de desenvolvimento. O mais interessante desta iniciativa não se constituiu tanto nos resultados, mas no fato de a população do Vale ter tomado a seu cargo uma parte considerável das ações de desenvolvimento.

Dessa forma, o desenvolvimento rural implica múltiplas dimensões: por um lado potencializar a própria condição humana, crescimento em formação cultural, técnica e organizacional dos agricultores e, por outro, atingir melhorias produtivas, aumento de rendimentos e obtenção de recursos em um mesmo espaço com menores esforços, fixando-se na

exemplo, do leste asiático, que também cresceram de forma acelerada, a evolução dos indicadores sócio-econômicos apresentou resultados bastante tímidos.

conservação do entorno e não uso de técnicas e sistema de produção que respeitem o legado histórico e a própria condição do meio natural (SANCHO COMINS, 2002).

Para efeito da análise dos transbordamentos, os conteúdos de tais dimensões deveriam apresentar os seguintes aspectos:

Qualidade de vida: deve realizar-se sob uma tríplice perspectiva: dotar o mundo rural das infra-estruturas e serviços necessários; dar a coesão econômica e social e procurar a recuperação do prestígio social e dos valores do meio rural ante uma sociedade eminentemente urbana;

Criação de empregos: promover o emprego de jovens, desenvolver uma verdadeira

política de ajuda à mulher e desenvolver planos de formação permanentes;

Diversificação econômica: buscar a plurifuncionalidade dos territórios, gerando diversas ofertas tais como a produção agrária, o turismo, a agroindústria, o artesanato, a valorização ambiental, entre outros;

Sustentabilidade: o desenvolvimento não deve colocar em perigo os recursos para gerações futuras;

Pesquisa e desenvolvimento: de novos produtos, assim como a adaptação do mundo

agrário às novas tecnologias é fundamental para não gerar uma brecha com os entornos urbanos e impedir a marginalização do espaço rural.

Educação: com finalidade de ajudar a crescer como pessoa, a cada um dos indivíduos

que integra a comunidade para que seja um elemento ativo, capaz de participar, organizadamente com outros no que todos consideram um bem comum.

Assim, a ativação de um processo com essas características pode ser alcançado através do plano estratégico de desenvolvimento que, em última instância, deve se traduzir na identificação de ações concretas que implementem os objetivos propostos. Dessa forma, acreditamos que uma análise comparada entre os dois sistemas produtivos de frutas, Petrolina e Juazeiro, no Brasil e a Sexta Região, no Chile, possa contribuir para verificar o nível de desempenho econômico e social e o grau de competitividade dos dois agrupamentos produtivos.

Ainda que não se trate de um novo paradigma, desfeita a concepção unidirecional do desenvolvimento econômico e a existência de qualquer direção hegemônica a respeito, os modelos de desenvolvimento local, conforme analisado neste capítulo, apresentam-se como uma

possibilidade a mais para as localidades das regiões brasileiras menos desenvolvidas, principalmente as do Nordeste, que, como Petrolina e Juazeiro, tentam abrir caminhos no sentido de possibilitar uma melhor qualidade de vida para as pessoas.

CAPÍTULO II

A COMPETITIVIDADE DA CADEIA GLOBAL DE FRUTAS E OS IMPACTOS SOBRE

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