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A fruta chilena na cadeia de produção global e as empresas multinacionais

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A FRUTICULTURA NO BRASIL E NO CHILE – TRAJETÓRIAS DIFERENTES

2) Pólos com potencial para expansão

3.2 A tradição da fruticultura chilena: origens e desenvolvimento

3.2.2 A fruta chilena na cadeia de produção global e as empresas multinacionais

Utilizando-se o referencial teórico proposto por Gereffi (1994), a cadeia de fruta global, impulsionada pelo comprador, pode ser dividida em quatro partes: o consumo; o marketing e a venda minorista; a distribuição, incluindo o transporte e o armazenamento frigorificado; e a produção. Os laços entre essas quatro funções não se confundem como uma propriedade direta, mas se baseiam em uma “rede” de acordos contratuais. Esses acordos incluem: o contrato informal entre os consumidores e a sua cadeia se supermercados preferidos; os contratos formais que existem entre as cadeias de supermercados e os maiores importadores, por uma parte, e os diferentes tipos de companhias exportadoras de frutas (as transnacionais e os consórcios de agricultores individuais), por outro lado; por último, os contratos entre as empresas exportadoras e os produtores.

Nesse sentido, podemos fazer uma análise objetivando conceitualizar o modelo chileno, a partir de uma perspectiva de comércio minorista e marketing, proposto por Gwynne (1994), no Reino Unido.

Naquele país, os supermercados representam os principais agentes do comércio minorista da cadeia, recebendo cerca de 60% da fruta chilena importada. Os supermercados e os minoristas têm contratos com quatro diferentes tipos de agentes de distribuição responsáveis pelo marketing da fruta chilena. Esses agentes são: empresas frutícolas de maior ou média escala, como Dole, Chiquita, United Trading Company, Unifrutti e Zeus; empresas exportadoras chilenas que incluem David del Curto, Copefrut, Rio Blanco e Frusan; grandes consórcios de agricultores, que usualmente sub-contratam serviços entre o agricultor e o setor de comércio minorista; um grande número de pequenas e médias companhias exportadoras que participam no abastecimento dos mercados especializados (mercados de nicho).

Os laços que existem entre os distribuidores e os produtores (atualmente, em torno de 8.000, trabalhando em 10.000 propriedades, conforme dados da ODEPA, 2005) são de grande importância para o marketing internacional da fruta chilena. É fundamental o fato de que, dados os baixos níveis de regulamentação no setor, as companhias exportadoras provocam significativos impactos nas localidades. A natureza do conjunto dessas empresas

tem três faces: o marketing, adaptação e transferência de tecnologia e a provisão de financiamento para os agricultores.

a) O marketing: as companhias exportadoras são cruciais para a promoção dos produtos frutícolas chilenos de duas maneiras principais. Na primeira, elas provêem os serviços necessários para a preparação, embalagem e armazenamento frigorificado da fruta. Num segundo plano, as empresas reúnem quantidades suficientes de mercadorias para justificar o investimento em tais serviços, obter economias de escala de transporte e gerar um poder negociador de preços nos países recebedores. Isto é de particular importância para os pequenos produtores, os quais não têm que enfrentar barreiras consideráveis ao comercializarem seus produtos independentemente;

b) Adaptação e transferência de tecnologia: conforme nos referimos anteriormente, o Plano de Desenvolvimento Frutícola de Frei, em 1968, formou uma base importante para os avanços tecnológicos no mercado de frutas. No entanto, conforme assinala Jarvis (1992), nos anos pós-golpe, especialmente na década de 1970, o setor ficou a cargo de seus próprios recursos. Assim, as empresas exportadoras tiveram um papel fundamental na identificação, adaptação e na transferência de várias tecnologias frutícolas. Alguns exemplos incluem a adoção, adaptação e transferência da variedade de uva “Californian Thomson Seedlees”, que a companhia chilena exportadora líder, David del Curto, levou para o Chile. No mesmo período, inclui-se também o desenvolvimento de técnicas de armazenamento e controle de qualidade da pós- colheita por uma série de empresas;

c) Provisão de financiamento para os agricultores: pode ser que a tarefa mais importante das empresas de marketing tenha sido a de desenvolver um sistema de financiamento para os agricultores. A empresa David del Curto foi fundamental em estabelecer este modelo de provisão de crédito, no qual as empresas efetivamente atuaram como bancos. Esse sistema foi crucial para o desenvolvimento no setor da pequena agricultura já que muitos bancos não estavam dispostos a financiar os pequenos agricultores. Nesse sistema, o abastecimento da uva de exportação se assegurava por meio de acordos contratuais. No passado, esses acordos eram incluídos através de preços mínimos. No entanto, a forma mais freqüente continua sendo o acordo de consignação de um ano.

Conforme o que se pôde observar, por ocasião da pesquisa de campo, atualmente, oferece-se ao agricultor um crédito com taxa entre 8-12%. Esta antecipação é utilizada, normalmente, para cobrir todos os custos de produção e também para a sua própria

manutenção. Nesse sentido, o financiador espera que o produtor siga um rigoroso programa de aplicação de insumos ao longo da temporada produtiva. Em muitos casos, esses insumos só podem ser fornecidos pela empresa, que envia um profissional, geralmente um agrônomo, para monitorar a operação. Uma vez coletado o produto, o agricultor envia para o serviço de embalagem, em data exigida pela empresa.

A fruta deve cumprir com os requisitos estipulados no contrato, sob pena de não ser aceita. Uma vez embalada, segue para a câmara refrigerada e em seguida é transportada. O pagamento ao produtor é realizado através do sistema de preços em consignação. Assim, o retorno líquido para o agricultor será o equivalente ao preço total recebido pela fruta, menos o total da antecipação mais as taxas, junto com os custos dos insumos e/ou a maquinaria fornecida pela empresa (que, em algumas vezes, inclui a mão-de-obra), mais os encargos pelos serviços do agrônomo. Quando o agricultor se encontrar endividado, nesta transação, também serão incluídas outras taxas sobre o montante da dívida (usualmente, 10%). Isto acontece quando o retorno bruto do produtor não é suficiente para cobrir as suas despesas com a empresa contratada. Normalmente, existe uma cláusula sobre dívidas que estipula que o agricultor deverá entregar toda a sua produção exclusivamente à empresa até que haja pago todos os seus débitos.

Assim, nos anos 1980, todas as companhias exportadoras já utilizavam o sistema de Crédito de Contrato e Consignação (CCC). Dessa forma, nos anos do boom, em meados daquela década, houve uma explosão nos níveis de crédito disponíveis para os produtores. Neste período, muitos pequenos agricultores se incorporaram também ao sistema.

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