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A formação dos sistemas produtivos locais

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Diagrama 4: Agentes do processo de desenvolvimento local

1.3.4 Os espaços produtivos típicos do modelo de desenvolvimento local

1.3.4.2 A formação dos sistemas produtivos locais

As tentativas de identificação de realidades industriais concretas, susceptíveis de serem explicadas através do distrito industrial como sistema local e unidade de análise (em particular para processos de desenvolvimento local), têm propiciado o reconhecimento de uma multiplicidade de casos nesse sentido. Dado o caráter restritivo inerente à categoria de distrito e para dar coerência na análise da cada vez mais ampla e heterogênea gama de experiências de industrialização local que reúne os traços verificados nos distritos industriais marshallianos, a necessária atualização conceitual tem propiciado o uso generalizado do termo sistemas produtivos locais ou sistemas industriais localizados, conforme relatam Granados e Segui (1988).

Segundo Garofoli (1995), a introdução do conceito de sistema produtivo local (SPL) serviu inicialmente para evidenciar tanto a estrita inter-relação entre dinâmicas produtivas e industriais, como entre sistema produtivo e sistema sócio-institucional em um determinado território, para aqueles casos de aglomeração produtiva baseados em MPME. Dessa forma, como sinônimo de sistema territorial de pequena e médias empresas, o SPL denotava a emergência de uma identidade sócio-econômica local, a existência de interesses afins para as empresas e para a coletividade local, bem como a identificação de problemas comuns que faziam oportuna a introdução de formas específicas de regulação social para a área36.

35 O conceito de atmosfera industrial, citado por Marshall (1891) em sua obra Industry and Trade, remete à presença de uma série de fatores que

possuem uma forte incidência na geração de vantagens competitivas de aglomeração (economias de aglomeração) e que estão na base da própria eficiência do distrito.

36 O próprio Garofoli (1995) classifica os SPL com predomínio de MPME em três categorias: a) Áreas de especialização produtiva, caracterizadas

pela predominância de um setor produtivo que não gera uma consistente inter-relação produtiva entre as empresas. A estrutura do sistema produtivo é horizontal, concorrendo todas as empresas sobre o mesmo mercado efetuando o mesmo produto, ou a mesma fase de produção; b) Sistemas produtivos locais, caracterizados pela predominância de pequenas e médias empresas em um mesmo setor e, com freqüência, produzindo a mesma mercadoria. A área é basicamente mono-setorial, com certa concorrência horizontal. É praticamente inexistente a integração produtiva inter-setorial, mas as relações do tipo intra-setoriais são bastante dinâmicas. Têm características semelhantes à anterior, sua insuficiente articulação lhes impede de guiar seu próprio processo de transformação, ainda que, neste caso, existe uma identidade sócio-cultural que possibilita a aplicação de medidas de política econômica local; e c) Áreas sistema. Constituem o tipo de áreas de especialização produtiva mais evoluída e que mais se aproxima à idéia de distrito industrial multi-setorial. Seu perfil fundamental à a acentuada divisão do trabalho entre as empresas, que contribui para diversificar o sistema local. As inter-relações entre empresas são tanto intra como inter-setoriais, podendo permitir, em ocasiões, a complexidade do sistema local, a formação de um setor provedor de bens instrumentais para a produção de mercadorias que tipificam a área. Neste caso, o processo de desenvolvimento da área pode chegar a ser auto-centrado, fundado sobre a utilização de recursos locais, possibilitando ao sistema local conduzir sua própria evolução.

Assim, de acordo com o aporte até aqui consultado, verifica-se que as investigações realizadas sobre a dinâmica produtiva local têm possibilitado o aparecimento de novos conceitos que permitem identificar os fundamentos teóricos das transformações e ajustes da economia e da região. A reelaboração do conceito de “distrito industrial” de Marshall, realizada por Becattini (1979), a noção de entorno inovador, promovida pelas equipes de investigação que compõem o Grupo de Investigação Européia sobre Entornos Inovadores (GREMI), a conceitualização da estratégia de especialização flexível, desenvolvida por Piore e Sabel (1984) e a discussão sobre os clusters realizada por Porter (1990), são alguns dos ingredientes que nos permitem estudar o desenvolvimento econômico, a partir de uma perspectiva local.

A aglomeração em um território de pequenas e médias empresas, especializadas na produção de determinado produto e formando um sistema de empresas, favorece os intercâmbios em múltiplos mercados, permitindo o surgimento de economias de escala externas às empresas, mas, internas ao sistema produtivo local, o que se traduz em redução nos custos de transação (BARQUERO, 1996a). As externalidades a que dá lugar o sistema de empresas geram rendimentos crescentes e, portanto, o crescimento da economia local.

A capacidade empresarial e organizacional fortemente articulada à tradição produtiva de cada região propicia uma forte rivalidade no mercado local, o que é um fator determinante da competitividade interna e externa das empresas locais. Por ele, segundo Barquero (1996a), os sistemas produtivos locais têm mostrado, historicamente, uma disposição especial para a introdução e adoção de inovações e, sobretudo, para a adaptação das tecnologias através de pequenas mudanças e transformações, que permitem às empresas melhorar sua posição competitiva nos mercados.

De acordo com Becattini (1997), o centro do processo de acumulação de capital dos sistemas produtivos locais constitui a organização do sistema produtivo e facilita a formação de externalidades através de uma multiplicidade de mercados internos, nos quais se estabelecem as relações entre as empresas, os fornecedores e os clientes. Desta maneira, a configuração do modelo de produção, mediante uma rede de empresas industriais, é, em última análise, a coluna vertebral dos sistemas produtivos locais.

Para Ottati (1994), as relações dentro da rede permitem o intercâmbio não só de produtos e serviços entre os atores, mas também de conhecimentos tecnológicos. Nos sistemas produtivos locais as relações se baseiam no conhecimento que uns atores têm em relação aos

outros, na confiança mútua que vai se criando paulatinamente, assim como o benefício que o comércio e intercâmbio produzem.

É importante destacar a indicação de Piore e Sabel (1984), cujos autores entendem que os sistemas produtivos locais se compõem de redes internas, nas quais se dão relações de cooperação e de competitividade entre as empresas. Neste sentido, a cooperação no sistema produtivo local se baseia no benefício que proporciona a cada uma das empresas, na combinação de esforços para obter as economias de escala e reduzir os custos de transação.

Para Maillat (1996), o sistema produtivo local é um milieu (entorno) que “integra e domina um conhecimento, regras, normas, valores e um sistema de relações”. Assim, as empresas, as organizações e as instituições locais formam parte dos entornos (milieux) que têm capacidade de conhecer, de aprender e de atuar, o que os converte em uma espécie de “cérebro” da dinâmica de uma economia local.

O conceito de milieu amplia a noção de distrito industrial no sentido em que amplia à rede industrial o sistema de relações entre os atores de um território, fazendo aparecer a importância da dimensão cognitiva dos atores e lhes caracteriza com a capacidade de tomar decisões estratégicas para a região. Amplia também a capacidade de produção e de organização das empresas; a dinâmica de aprendizagem e a capacidade de intervir nos processos de crescimento e; a mudança estrutural das economias locais (BARQUERO, 1996a).

Como sustenta Boisier (1993), o desenvolvimento econômico não se apóia apenas na capacidade de adquirir tecnologia, mas sim na capacidade inovadora do sistema produtivo de cada localidade. As empresas criam e introduzem inovações no sistema como resposta às necessidades e desafios do entorno, o que gera modificações qualitativas no próprio sistema e propicia a dinâmica do distrito.

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