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A reestruturação do setor exportador frente à crise da década de

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A FRUTICULTURA NO BRASIL E NO CHILE – TRAJETÓRIAS DIFERENTES

2) Pólos com potencial para expansão

3.2 A tradição da fruticultura chilena: origens e desenvolvimento

3.2.3 A reestruturação do setor exportador frente à crise da década de

Em 1989, 1992 e 1993 o valor nominal das exportações de frutas chilenas foi reduzido. Assim, de acordo com as entrevistas realizadas no Chile, esta situação se deveu a três fatores fundamentais: i) o rápido aumento do valor do peso com relação ao dólar durante esse período; ii) a entrada de novas empresas competidoras nos mercados globais de frutas (especialmente da África do Sul); e iii) um crescente protecionismo das economias desenvolvidas, especialmente nos mercados da maçã da União Européia, onde a competitividade com os produtores locais é acirrada.

Essa tendência deu origem a uma significativa reestruturação das companhias exportadoras, gerando também um impacto negativo (devastador na visão dos entrevistados)

para muitos produtores de frutas, principalmente os de menor escala. Assim, o mercado se estruturou de seguinte forma:

• Num primeiro plano, as pressões do mercado têm propiciado a formação de

companhias exportadoras sem responsabilidades com o sistema produtivo local. Estas empresas não participam do complexo sistema CCC. O seu papel é de atuarem como simples intermediários comprando e vendendo os produtos, geralmente contratando os serviços e a infra-estrutura das empresas maiores para sua atividade de pós-colheita. Desta forma, tais companhias têm reduzido seus riscos podendo explorar mais facilmente os mercados de nichos e retirar-se se necessário. Tendo em vista o fato de que essas empresas requerem produtores independentes em termos de capacidade financeira e tecnológica, os pequenos produtores geralmente não participam do sistema;

• Uma segunda mudança recente, dada a evolução das relações de contrato mais estritas com muitas empresas exportadoras, tem sido o aumento de associações exportadoras de grandes produtores. Segundo um grande produtor e presidente de uma associação de produtores/exportadores de Rancágua, a escala mínima de eficiência deste tipo de empresa é de cerca de 100.000 caixas por ano (cada caixa com 8 Kg, aproximadamente). Este requisito, juntamente com a necessidade dos investimentos pertinentes, tem sido o fator que impede a formação de associações de pequenos produtores;

• Em terceiro lugar, algumas empresas participam na compra de terras que

pertenciam a produtores que abandonaram a sua produção após malogro na sua comercialização.

É importante frisar que esses movimentos então ocorrendo com mais freqüência na periferia do mercado. Na maioria dos casos, o modelo organizacional CCC persiste. Um número de empresas que anteriormente ofereciam preços garantidos tem se voltado para este sistema depois de sofrer severas perdas devido aos erros de cálculos, principalmente após a crise econômica de 1989 e 1992-93, conforme relata Gómez (1996). Não obstante, esta modalidade, e em particular a natureza da negociação e acordos sobre os contratos, tem evoluído consideravelmente. Em uma análise realizada pela CORFO (2005) em 40 contratos de consignação, 20 de 1994 e 20 de 2004, mostra um significativo aumento no rigor das condições contratuais, incluindo-se também pagamentos com altas taxas de juros, comissões e

introdução de várias cláusulas adicionais. Um destaque maior deve ser dado para três cláusulas adicionais:

• Na cláusula “arbitrária” a empresa pré-seleciona um advogado que arbitra

em caso de uma disputa entre as partes. Em muitos casos, a empresa predispõe seriamente o resultado dos procedimentos legais ao selecionar um advogado oficial da companhia;

• Na cláusula “área de jurisdição” a empresa indica em que lugar físico devem-se resolver as disputas. As empresas que funcionam em áreas periféricas do país, via de regra, selecionaram Santiago, uma vez que, assim, a possibilidade de que as reclamações se tornem públicas é muito menor;

• Em terceiro lugar, como uma reação direta do episódio das “uvas

envenenadas”, os contratos incluíram uma cláusula de “catástrofe externa”. Assim, devido a um bloqueio inesperado por guerra, seqüestro ou outro fator, a fruta é devolvida ao produtor, com a obrigação de recolhê-la onde estiver naquele momento. Desta forma, a empresa ao liberar-se da responsabilidade em um momento de crise, pode evitar qualquer pedido de compensação.

No Chile, a natureza deste tipo de contrato é conhecida nos círculos legais como “o contrato leão”. O termo se refere aos contratos desenhados para funcionar quase que exclusivamente em vantagem da parte dominante. Assim, os agricultores que operam sob este sistema estão cada vez mais inseridos em um sistema global onde seus rendimentos são determinados por fatores globais que estão para além do seu controle.

Dessa forma, uma considerável proporção de pequenos produtores de frutas está endividada com as companhias. Cada vez mais os agricultores estão entregando suas terras em pagamento de tais dívidas. Assim, os produtores que ficam sem suas terras, geralmente, recorrem aos empregos de temporada mal pagos ou direcionam-se para atividades informais; muitos deles migram para as cidades. Como conseqüência, verifica-se no setor frutícola chileno a reconcentração de terra, uma vez que as empresas e os maiores produtores obtêm cada vez mais acesso às propriedades que antes pertenciam aos parceleiros. Na tabela 17, verificam-se os níveis médios de endividamento de 10 pequenos agricultores, por município pesquisado da 6ª Região (Codégua, Graneros e Rancágua), entrevistados em janeiro/2007, cuja propriedade da terra já está ameaçada.

Tabela 17: Nível médio de endividamento – 2007

Município Endividamento médio por agricultor (US$) Ano início da dívida

Codégua 32.231 A partir de 2002

Graneros 41.233 A partir de 2000

Rancágua 38.337 A partir de 1999

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A tabela 18 mostra o impacto do endividamento, em termos de concentração de terras, das mesmas localidades citadas anteriormente. De acordo com os entrevistados, outras pesquisas similares realizadas com pequenos produtores de maçã e uva têm revelado que processos parecidos estão acontecendo em outras localidades, principalmente no Vale Central do Chile, cuja região é tradicional exportadora de frutas frescas daquele país. Assim, nas áreas estudadas, a terra tem sido absorvida pelos maiores produtores e empresas exportadoras como forma de pagamento das dívidas dos pequenos.

Tabela 18: Delimitação do tamanho das propriedades na Sexta Região Tamanho 1983 (%) 2004 (%)

< 10 ha 26 10

10 – 20 ha 7 8

20 - 60 ha 4 9

> 60 ha 63 73

Fonte: Ministério da Agricultura do Chile/INDAP, 2007.

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