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O sistema mundial de comércio e os produtos tropicais

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Diagrama 9: Dinâmica da cadeia de frutas no mercado internacional

2.6 Evolução institucional do comércio internacional de frutas

2.6.1 O sistema mundial de comércio e os produtos tropicais

As discussões nos foros multilaterais de comércio, sobre produtos tropicais, têm apresentado uma certa continuidade. Desde a Rodada de Tóquio (1973-1979), o Comitê de Comércio e Desenvolvimento vem lidando com pedidos e concessões sobre alguns casos, na sua maioria relacionados a itens como especiarias, juta, castanhas e frutas tropicais. Essas concessões foram feitas ao longo de três rodadas. Ainda assim, a despeito dos sucessivos ganhos neste setor, segundo estudos da UNCTAD, num mercado de dez países industrializados e num espectro de 27 produtos tropicais, 12 deles não sofreram qualquer mudança nas tarifas de importação, cinco obtiveram redução e dez tiveram suas alíquotas

53 Grosso modo, o dumping é uma prática de comércio condenada que representa a venda em um mercado estrangeiro de um produto a preço

abaixo de seu valor justo, preço considerado geralmente como menor do que o que se cobra pelo produto dentro do país exportador. Fazendo-se uma analogia ao termo “social”, entender-se-ia que os países em desenvolvimento se tornam competitivos apenas porque seus produtos têm preços artificialmente mais baixos pela exploração de sua mão-de-obra barata decorrente da má distribuição de renda de seu país. A mesma coisa para o dumping ecológico, que implica na exportação de bens agrícolas ou até industrializados à custa de desmatamento ou agressão à natureza.

aumentadas, onde encontramos as frutas semi-processadas e processadas. O estudo conclui que, de maneira geral, à medida que um produto avança no seu estágio de processamento, o protecionismo nas fronteiras aumenta.

Apesar de alguns ganhos relativos e de atividade comercial dinâmica com o mundo, os

países em desenvolvimento sempre tiveram dificuldades em vender seus produtos aos países industrializados. Além de estes exercerem o comércio mais intensamente entre si, há o problema da deterioração dos termos de intercâmbio, que está intimamente ligado à elasticidade da demanda dos produtos primários. A Cláusula da Nação-Mais-Favorecida do GATT coloca todos os países, pequenos, grandes, industrializados ou não, em pé de igualdade. Consequentemente, todos estão obrigados a conceder as mesmas vantagens dadas a um país para todos os outros, sem discriminação. A idéia é perfeita e seria mais se todos os países gozassem das mesmas condições, o que não é o caso daqueles que têm suas exportações dependentes do setor primário. Estes não só vêm sofrendo uma retração de mercado, mas concorrem também com os dos países desenvolvidos que lançam bens

primários no mercado mundial com preços subsidiados54.

Portanto, os países periféricos buscaram auxílio e apoio à sua condição e, após muita negociação, criou-se o Sistema Geral de Preferências (SGP), no âmbito da UNCTAD. É um mecanismo através do qual os países em desenvolvimento gozam de preferência tarifária e/ou quotas para importação a tarifa zero, junto aos mercados de países industrializados, quando se trata de exportação de um grande número de produtos semi-manufaturados ou manufaturados. Neste esquema preferencial os produtos tropicais frescos têm pouca ou quase nenhuma aplicação, com exceção daqueles que sofrem agregação de valor num processo agroindustrial.

Ainda nos acertos preferenciais que limitam o escopo para a liberalização do comércio dos produtos tropicais, tem-se o Acordo de Cotonu55, estabelecido entre a União Européia e os países da África, Caribe e Pacífico (Países ACP) que provêm assistência financeira e técnica a seus membros, bem como preferências tarifárias para muitos de seus produtos nos mercados europeus. Os países ACP são, na sua maioria, ex-colônias, aos quais é concedido

54 Referimo-nos especificamente à Política Agrícola Comum da União Européia que subsidia não apenas a produção agrícola nas suas

fronteiras, mas coloca seus excedentes a preços artificialmente mais baixos no mercado internacional em nome da manutenção do nível de renda de sua população rural. Esta política foi o maior foco de conflito entre os principais países produtores e exportadores de bens agrícolas (formalizado no âmbito do GATT pelo Grupo Cairns, do qual fazia parte o Brasil) e a União Européia durante a Rodada do Uruguai e quase provocou um fracasso nos mais de seis anos de negociações.

55

O Acordo de Cotonu, assinado em 23 de Junho de 2000 em Cotonu, no Benim, por um período de 20 anos, tem por objetivo criar um novo quadro para a cooperação entre os membros do grupo de Estados da África, Caribe e do Pacífico (ACP) e a Comunidade Européia. O Acordo de Parceria constitui uma nova fase na cooperação entre os países ACP e a União Européia, iniciada com a assinatura da primeira convenção de cooperação (Convenção de Yaoundé) em 1964 e prosseguida com as quatro Convenções de Lomé, tendo a vigência de última vencido em 29 de Fevereiro de 2000.

quase que um acesso livre de impostos, ou sua redução significativa, para os produtos sustentados pela Política Agrícola Comum da União Européia.

Naturalmente, esses países concorrem, em muito, com as frutas tropicais oriundas do Brasil e não têm qualquer interesse que a União Européia liberalize seus mercados, tanto no nível da OMC, como junto à UNCTAD. Se a União Européia estender esses benefícios a todos os países, os contemplados pelo Acordo de Cotonu perderiam as grandes vantagens que gozam naquele mercado.

Porém, no que se refere ao Brasil, o SGP pouco afeta o setor exportador de frutas frescas, que são, na sua maioria, exportadas in natura, o que consequentemente não se enquadra nos produtos manufaturados ou semi-manufaturados do Sistema.

Outra questão importante, sopesadas as questões concernentes à proteção da indústria nacional, são os preços dos insumos importados comumente utilizados na atividade frutícola, devido às altas taxas de impostos de importação. Considerando-se os países do Hemisfério Sul, o Brasil possui os níveis mais elevados de proteção, conforme dados da Tabela 5.

Tabela 5: Taxação na entrada dos principais insumos e equipamentos (%) - 2007

Item Argentina Austrália Chile Brasil N. Zelândia África do Sul Maquinaria

Tratores 13,0 5,0 7,0 35,0 1,7 41,0

Outros equipamentos (média) 14,0 3,8 7,0 18,0 0,0 2,5

Fertilizantes Uréia 9,0 0,0 7,0 9,0 0,0 0,0 Sulfato de amônia 7,0 0,0 7,0 5,0 0,0 0,0 Nitrato de amônia 3,0 0,0 7,0 3,0 0,0 0,0 Mescla de uréia 7,0 0,0 7,0 7,0 0,0 0,0 Super-fosfatos 9,0 0,0 7,0 9,0 0,0 0,0 Sulfato de potássio 3,0 0,0 7,0 3,0 0,0 0,0 Inseticidas 16,3 2,5 7,0 16,3 0,0 0,0 Fungicidas 16,1 5,0 7.0 16,1 0,0 5,0 Herbicidas 15,5 5,0 7,0 15,6 0,0 9,4 Desinfetantes 15,5 5,0 7,0 15,5 0,0 8,0 Fonte: UNCTAD (2007)

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