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O COMÉRCIO, O CONSUMO E A DISTRIBUIÇÃO: AS RELAÇÕES

2.5. A EXPANSÃO E A DINÂMICA ATUAL DOS HIPERMERCADOS NO BRASIL

Enquanto componente do processo produtivo, a distribuição tem como objetivo fazer com que as mercadorias circulem, interligando produtores e consumidores. Conforme escreveu Marx (1974) a distribuição é um produto da produção. Dessa forma, as mudanças que ocorreram no sistema capitalista (discutidas anteriormente, modificaram as formas de distribuição. Como salientou-se, com a crise econômica de 1929, os comerciantes americanos tiveram que criar novas estratégias para garantir a venda de seus produtos, surgindo, a partir daquele momento, o auto-serviço que, posteriormente, na França, na década de 1960, evoluiu para a forma de hipermercados. Partindo dessa reflexão, neste item do trabalho propõe-se analisar o surgimento e a expansão das grandes superfícies comerciais do varejo alimentício brasileiro.

No Brasil, a evolução da estrutura varejista de comercialização de alimentos também apresentou nítidas e grandes transformações nas últimas décadas. Apesar de na década de 1920 a lojas de departamento Mappin, consideradas como extremamente inovadora no varejo brasileiro, já se terem popularizado entre os paulistanos, o varejo moderno só se instalou no Brasil na virada dos anos de 1950 com a implantação, em 1949, da Sears que contava com duas lojas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro, além da filial

paulista Mesbla, Pirani, Eletroradiobraz e do próprio Mappin. A empresa Sears apresentava importantes características como o auto-serviço, caixas registradoras modernas, assistência técnica da própria loja para os eletrodomésticos que comercializava, estacionamento próprio e um “centro automotivo” que prestava serviço à nova clientela motorizada.

A década de 1950, excepcionalmente a partir da sua segunda metade, foi extremamente importante para o país. Ocorreu um grande crescimento econômico incentivado, principalmente, pelos investimentos estrangeiros e à implantação da indústria automobilística. Coube ao governo criar as condições para que esse desenvolvimento ocorresse.11 Para o mesmo período devemos destacar as mudanças que ocorreram no comportamento da população com relação às compras e ao estilo de vida das mulheres brasileiras que começaram a procurar trabalho remunerado “fora do lar”. Com a redução da disponibilidade de tempo em casa, às mulheres buscaram, gradativamente, maior conveniência, como, alimentos semi-preparados ou preparados, criando um novo mercado para as indústrias alimentícias.

Outro fato importante da referida década e que para nós é de extrema relevância, foi o surgimento dos supermercados brasileiros que muito contribuíram para com a incipiente indústria de bens de consumo não duráveis como a de perfumaria, de artigos de limpeza, de higiene, entre outros.

Conforme afirmou Tavares (1984, p. 53), o primeiro supermercado brasileiro foi implantado pela Tecelagem Parayba, em São Bernardo do Campo, em junho de 1952, quando foi fundada uma cooperativa para os funcionários da empresa. Tal empreendimento utilizava o sistema de auto-serviço, e carrinhos para carregar as compras os quais eram produzidos pela própria tecelagem. A cooperativa foi inaugurada em janeiro de 1953. É interessante mencionarmos aqui que, mesmo inovando na forma de serviço, de acordo com o referido autor, essa cooperativa possuía instalações muito simples, inclusive o piso era de “terra batida”. Ainda em 1953, entrou em funcionamento o Supermercado Americano

Ltda., de propriedade de um imigrante norte-americano. Este é considerado por muitos

estudiosos do comércio como o primeiro estabelecimento do gênero introduzido no Brasil.

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Foi neste contexto que o então Presidente Juscelino Kubtichek de Oliveira, desenvolveu o Plano de Metas ou Programa de Metas (1956-60), que preconizava mudanças estruturais na economia brasileira, através da sua internacionalização. Este plano consistia em 31 metas que tinham como fundamentos: abolir os pontos de estrangulamento da economia, por meio de investimentos infra-estruturais a cargo do Estado; ampliar e instalar as indústrias de base, estimulando investimentos privados nacionais e estrangeiros e, por fim, forçar a interiorização da economia brasileira através da construção da nova sede administrativa do país. (GUIMARÃES, 1990, p. 70)

No início, os supermercados significaram mais uma novidade do que um melhoramento no equipamento comercial. Porém, cabe ressaltar que a experiência com o auto-serviço e o uso da denominação supermercado no ramo de gêneros alimentícios são anteriores à Tecelagem Parayba. Em seu estudo sobre a comercialização de alimentos, Tavares (1984, p.54) salienta que:

No final da década de 40 [...] foi inaugurada uma mercearia com auto-serviço em Belo Horizonte: “As Estâncias Califórnia”. É possível que este nome tenha sido em razão não só dos produtos importados que vendia, como também, de suas características de funcionamento: auto-serviço com roleta e check outs para controlar a entrada e saída de clientes. Boa parte dos produtos eram vendidos a granel, o que implicava em escolha e pesagem, ou seja, na intervenção do caixeiro.

Para a mesma década, nas pesquisas descobriu-se, através do relato de antigos comerciantes, que existem alguns armazéns que passaram a adotar o nome de supermercados, como é o caso do estabelecimento Suco de Copacabana e do Frigorífico

Wilson que implantou uma loja varejista onde os produtos eram vendidos através do auto-

serviço.

Após muitas pesquisas em revistas especializadas no assunto e em vários autores que estudaram o surgimento e a atuação dos supermercados no Brasil, conseguiu-se resgatar os primeiros supermercados que surgiram nos estados brasileiros, conforme demonstra o quadro seguinte.

Os estabelecimentos comerciais relacionados no Quadro 1 são considerados as primeiras unidades de supermercados criados em cada Unidade Federativa do Brasil. Mesmo que alguns representem apenas uma simples tentativa de implantação do auto- serviço, são considerados os pioneiros. Desses, muitos deles fecharam, alguns foram adquiridos por outras empresas, outros apenas mudaram de denominação.12 Dessa forma, podemos dizer que o primeiro supermercado brasileiro foi o Sirva-se que se instalou em São Paulo, em 1953 – na Rua da Consolação, em pleno centro da cidade – e que pertencia à empresa Souza Cruz. Naquele mesmo ano, foi instalada uma outra loja de auto-serviço na Rua Treze de Maio, no bairro do Bixiga. Este se utilizou de um slogan bastante sugestivo para a época: “Para uma supermetrópole, um supermercado”. (SUPERHIPER, 2002, p. 98)

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Infelizmente, não nos foi possível descobrir com precisão a data em que alguns foram inaugurados. Cabe salientar ainda que, para a época, não existiam os estados do Mato Grosso do Sul e Tocantins; e o estado do Rio de Janeiro era Guanabara.

QUADRO 1

Brasil: Primeiros Supermercados Implantados nas Unidades Federativas.

ESTADO SUPERMERCADO

ANO DE