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A INFLUÊNCIA DE UBERLÂNDIA NO DESENVOLVIMENTO DA REDE URBANA DO TRIÂNGULO MINEIRO

DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL

MESORREGIÃO GEOGRÁFICA TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA

4.2. A INFLUÊNCIA DE UBERLÂNDIA NO DESENVOLVIMENTO DA REDE URBANA DO TRIÂNGULO MINEIRO

Historicamente, o Triângulo Mineiro apresenta-se fortemente caracterizada por práticas regionalistas com determinado modo de produção e representatividade política, com grupos que se unem em defesa de interesses políticos, econômicos e sociais. Um exemplo significativo dessa intervenção foi a constituição da rede viária regional, vista anteriormente, que implicou um processo de reestruturação dos antigos centros e a canalização de recursos financeiros para novos espaços criados pelas políticas de incentivos fiscais voltados à exploração agrícola dos cerrados pelo Estado, a partir dos meados da década de 1970, e que contribuíram para redefinir os movimentos de população e urbanização regional.

A região de influência do Triângulo Mineiro, notadamente de Uberlândia, já podia ser claramente definida no final dos anos de 1970, conforme o estudo do IBGE sobre a

Região de Influência das Cidades31. A análise das relações campo-cidade na região dos cerrados implica associar este processo diretamente à introdução da agricultura moderna na região. Primeiramente, cabe lembrar que, nesta discussão, a urbanização dos cerrados, que pode ser considerada de período recente, teve início com as políticas de “ocupação” agrícola que impulsionaram a região, a partir da década de 1970, atingindo Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, atual estado do Mato Grosso do Sul, o entorno de Brasília (DF) e, mais recentemente, outras áreas como o Oeste Baiano e o Sul dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que o processo de descentralização agroindustrial para os cerrados, juntamente com a dinâmica populacional, provocou um duplo efeito espacial: um movimento de descentralização urbano-demográfico e a criação e a refuncionalização de centros. Ambos os processos, tomados na presente análise, no período que compreende 1980 a 1991, introduziram um novo padrão de crescimento urbano dos cerrados, configurando uma nova hierarquia caracterizada pelas cidades de porte médio.

Conforme salientou Corrêa (1994), o avanço da modernização agrícola nos cerrados brasileiros afetou a urbanização e implicou, de um lado, uma “refuncionalização”

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Para análise da rede urbana regional, recorre-se ao trabalho “Região de Influência das Cidades - 1978: revisão do estudo Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas”, realizado pela Fundação IBGE e publicado em 1987; baseado na Teoria das Localidades Centrais que considera os centros urbanos brasileiros como locais de distribuição varejista e de prestação de serviços para a população fora de seus limites, não sendo considerada as relações que dizem respeito à comercialização da produção rural.

dos centros urbanos pré-existentes e, de outro, a “criação” de novos núcleos urbanos. O primeiro movimento foi notável:

Anteriormente à modernização do campo, particularmente à difusão do cultivo da soja, a rede urbana apresentava-se com pequeno grau de articulação interna, tendo sido estruturada em função da baixa densidade demográfica e econômica, assim como do limitado dinamismo das áreas pastoris. Os centros urbanos, em sua maioria, refletiam nitidamente o nível de ocupação das áreas de cerrado. (CORRÊA, 1994, p. 03)

A “refuncionalização” provocou também novos padrões de interações espaciais, padrões que foram viabilizados pelas redes técnicas implantadas e que acompanharam ou precederam a modernização do campo. Ainda de acordo com o referido autor,

Os novos padrões caracterizam-se pela importância de fluxos de longa distância e às ligações com outros centros urbanos com os quais não mantinham interações no passado. Ao mesmo tempo as interações espaciais, definidas por sua natureza tipicamente hierárquica, permanecem, agora porém com a participação mais efetiva de centros que ascenderam na hierarquia urbana, a exemplo de Barreiras e Rondonópolis”. (CORRÊA, 1994, p. 03)

Na mesma obra, Corrêa salientou também que:

[...] os centros urbanos são submetidos também aos impactos negativos da modernização do campo. Tornam-se também locais de concentração de uma força de trabalho que vive à procura de empregos seja no campo modernizado e por isso mesmo pouco absorvedor de mão-de-obra, seja no urbano que tem sua demanda saturada. (CORRÊA, 1994, p. 03)

Essa forma de urbanização está associada às correntes migratórias da própria modernização agrícola em outras regiões do país. Com o processo de industrialização da agricultura, a partir de 1970, os centros urbanos foram submetidos aos impactos negativos criados pelas correntes migratórias oriundas da própria modernização do campo em outras áreas do país pela própria incapacidade de expansão demográfica da pequena produção regional. Como a modernização é um processo lento, em algumas áreas, a mão-de-obra foi liberada aos poucos, ocorrendo certo sincronismo entre a liberação pelo campo e a absorção pela cidade. Em conseqüência, os pequenos e recentes núcleos urbanos passaram a ser locais de concentração da força de trabalho e de prestação de serviços vinculados à agricultura moderna.

Em seu estudo sobre a cidade de Uberlândia, ao analisar a formação da rede urbana da Região do Triângulo Mineiro, Soares (1997, p.118) escreveu que,

[...] a refuncionalização da rede urbana do Triângulo Mineiro orientou-se principalmente pela modernização do campo, que expulsou uma parcela significativa da população rural; pelo dinamismo de algumas aglomerações; pela intensificação dos fluxos de transportes e comunicações, bem como pela diversificação dos serviços, que possibilitaram uma maior diferenciação entre as cidades.

A migração, que também ocorria em grandes fluxos e seguia os degraus da hierarquia urbana, deu-se cada vez mais em direção aos grandes centros. Acrescente-se a tudo isso a realidade das agroindústrias, atividades modernas sequiosas de tecnologia, de capitais, de informação e de altos lucros e que passaram a se relacionar diretamente com os grandes centros.

O processo de reestruturação espacial a que foram submetidas as extensas áreas do Centro-Oeste, atingiu também o Oeste Mineiro, incluindo vários pólos urbanos, definidos a partir do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – POLOCENTRO.32

Na década de 1980, acentuou-se um processo diferenciado de crescimento da população urbana dos centros com mais de 10 mil habitantes nas Mesorregiões Noroeste e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, principalmente no período compreendido entre 1980 e 1991. Tal acontecimento reforçou a rede urbana desenvolvida por incentivo estatal ao longo das principais rodovias que serviram como estímulo à incorporação dos cerrados, a exemplo dos eixos rodoviários da BR-365 (Uberlândia - Patrocínio - Patos de Minas, para Leste; Uberlândia - Ituiutaba, para o Oeste), da BR-050 (Uberaba - Uberlândia - Araguari - Catalão, em direção ao estado de Goiás); e o Noroeste de Minas, cujos centros urbanos apresentaram grande crescimento nos anos de 1980 (destacando-se Paracatu, Buritis, Unaí, João Pinheiro, entre outros). (Ver Quadro 16)

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O POLOCENTRO foi um programa estabelecido para a região dos cerrados em 1975, dentro das estratégias do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND - 1975/79), que tinha como caráter mais amplo o desenvolvimento produtivo de outras regiões do país, como a Amazônia Legal. O programa foi criado pelo Decreto n°75.320 (de 29/01/75) e objetivava o desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias da região Centro-Oeste e do Oeste de Minas Gerais, mediante a ocupação racional de áreas com características de cerrados e seu aproveitamento em escala empresarial.

Sobre a modernização da agricultura da Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e o desenvolvimento das Agroindústrias Locais e do Brasil, ver CLEPS JR (1998).

QUADRO 16 - Mesorregião Geográfica Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba - Classes de Crescimento da População Urbana dos Municípios com População Urbana Superior a 10 Mil Habitantes: 1980-1991/ 1991-2000

1980-1991 1991-2000

CLASSES DE CRESCIMENTO ( %) CLASSES DE CRESCIMENTO ( %)

Classes de Tamanho

(1000 hab.) 1,0 - 9,9 10,0 - 19,9 20,0 - 49,9 50,0 - 99,9 100 e mais menos 1,0 1,0 - 9,9 10,0 - 19,9 20,0 - 49,9 50,0 - 99,9

Acima de 300 a menos de 400 UBERLÂNDIA UBERLÂNDIA 200 - 299 UBERABA UBERABA 100 - 199 PATOS DE MINAS 50 - 99 ARAGUARI ITUIUTABA ARAXÁ PATOS DE MINAS ITUIUTABA ARAGUARI ARAXÁ PATROCÍNIO 30 - 49

FRUTAL PATROCÍNIO FRUTAL MONTE

CARMELO PRATA 10 - 29 TUPACIGUARA ITURAMA SANTA VITÓRIA CAMPINA VERDE CONCEIÇÃO DAS ALAGOAS CENTRALINA MONTE ALEGRE CAPINÓPOLIS IBIÁ SACRAMENTO COROMANDEL MONTE CARMELO

PRATA CANÁPOLIS CAMPINA

VERDE CAPINÓPOLIS MONTE ALEGRE SANTA VITÓRIA CAMPOS ALTOS CARMO DO PARANAÍBA IBIÁ SACRAMENTO TUPACIGUARA CONCEIÇÃO DAS ALAGOAS COROMANDEL ITURAMA LAGOA FOMOSA SÃO GOTARDO

(*) A análise inclui as Microrregiões Geográficas de Uberlândia, Uberaba, Ituiutaba, Frutal, Araxá, Patrocínio e Patos de Minas, totalizando 64 municípios em 1991. Elaboração: CLEPS, G.D.G., jan.2005.

Como ponto de concentração e redistribuição da força de trabalho que deve estar disponível, móvel e localizada em determinados lugares, o núcleo urbano constitui-se como a base da organização do mercado de trabalho. Nesse sentido, ao analisar-se o crescimento populacional da Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro, de acordo com os dados trabalhados no Quadro 16, notamos que entre 1991 e 2000, alguns municípios da região apresentaram decréscimo da população urbana, como é o caso de Campina Verde e Capinópolis onde este número foi de (-) 1,0%, passando de 13.498 hab. em 1991, para 13.411 hab. em 2000 e, 13.172 hab. para 13.140, respectivamente, enquanto que, para Canápolis, no mesmo período, a redução foi de 10.225 hab. para 9.010 habitantes. No período analisado, os municípios de São Gotardo, Uberlândia, Patrocínio e Prata, apresentaram crescimento da população urbana superior a 30% (54.5%, 36.5%, 33.4, 30.5%, respectivamente). (IBGE – CENSOS DEMOGRÁFICOS, 1991-2000)

Enquanto as menores cidades perderam população, inclusive urbana, as maiores cidades da região passaram a absorver um grande contingente populacional. As cidades da região que apresentavam maior dinamismo econômico foram as que mais atraíram população dos municípios adjacentes, pois,

Quanto menor o núcleo, mais exclusiva a função de circular mão-de-obra, mais precários os equipamentos e menor o tempo de permanência, o que lhes atribui o caráter dominante de espaço de reprodução. A relação do urbano com a mobilidade do trabalho é assim [...] pontos de aglutinação de força do trabalho para centros de mercados e de coleta estrategicamente localizados [...]. (BECKER, B., 1984, p.66)

A modernização da agricultura e a consolidação de um capital de origem regional, aliados à dinâmica de ampliação de infra-estruturas que interiorizaram a economia brasileira, transformaram Uberlândia num centro de polarização regional, pois a cidade passou a centralizar atividades de serviços, de produção industrial, além da atividade comercial. O crescimento populacional apresentado por Uberlândia marca um limiar no processo de urbanização da cidade, aferindo-lhe um caráter dominante de núcleo urbano regional como espaço de circulação e de reprodução da força de trabalho.

Esta centralização regional estabeleceu um novo papel na dinâmica intra-regional, em que Uberlândia começou a adquirir características de cidade média. A partir de então, a cidade assumiu funções mais complexas, transformou-se num centro de dispersão de uma diversidade muito grande de atividades, especialmente as ligadas ao setor terciário.

Sob o ponto de vista espacial e econômico, a rede de influência de Uberlândia é bastante ampla, estendendo-se para os Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esse papel realiza-se de diversas maneiras, tanto com a atuação direta sobre os municípios localizados no Sul e Sudoeste de Goiás, quanto com a região Sudoeste de Mato Grosso e Nordeste do Mato Grosso do Sul como também com o estado de São Paulo, com os municípios localizados próximos ao Rio Grande. (Ver Mapa 8)

Tal fato deve-se à facilidade de acessibilidade, à distância física, aos equipamentos urbanos que ela oferece, principalmente os relacionados à estrutura de transporte e comunicações, pelos serviços médico-hospitalares – como o Hospital Universitário e o Hospital do Câncer –, pelo sistema educacional – especialmente de ensino superior –, além da atividade comercial visto que é a única cidade da região que possui um hipermercado e um shopping center (de acordo com a classificação da Associação Brasileira dos Shopping

Centers - ABRASCE e a Associação dos Logistas de Shopping Centers - ALSHOP).

Ao desempenhar tais funções a cidade assume a condição de cidade média, especialmente nas últimas décadas do século XX, quando passou a receber um grande fluxo migratório, tanto rural-urbano quanto urbano-urbano. Tal processo promoveu um significativo crescimento populacional, a formação de uma aglomeração e dinamizou as atividades de bens e serviços, ampliando o tecido urbano. Como conseqüência, presenciou- se o surgimento e o incremento de problemas urbanos resultantes do aumento populacional e da urbanização desordenada, a exemplo da periferização da cidade, bem como a formação de novos centros de comércio, de consumo e de lazer. Criou-se, assim, uma nova dinâmica inter e intra-regional que aos poucos foi consolidando a formação da rede urbana local, na qual Uberlândia transformou-se num importante pólo de atração regional totalmente articulado com outros centros regionais e, principalmente, com a metrópole global paulista.

Analisando a extensão do aglomerado organizado no entorno da centralização exercida pela cidade de Uberlândia, Guimarães e Silva (2001), afirmam que este abrange 28 municípios ( Quadro 17 e Mapa 9 ). Segundo eles:

[...] a região de influência de Uberlândia compõem-se de uma área que não se confunde, especificamente, nem com a microrregião de mesmo nome (microrregiões homogêneas do IBGE), nem com a denominada mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (IBGE), estendendo-se pelo sul e sudoeste de Goiás, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudoeste do Mato Grosso e uma franja horizontal da bacia do Rio Grande, no norte do Estado de São Paulo, onde divide a influência econômica com os núcleos de Ribeirão Preto e São Jose do Rio Preto. (GUIMARÃES E SILVA 2001, p.466)

Considerando-se a área de abrangência do setor de serviços, a exemplo do das telecomunicações e do comércio, especialmente o atacadista e as Redes de Associativismos, é notório que a influência, ou mais precisamente, a polarização exercida por Uberlândia compreende uma área muito maior. Tomando como referência as atividades de abastecimento e de prestação de serviços desenvolvidas pelos atacadistas- distribuidores sediados em Uberlândia, constata-se que o espaço de polarização da cidade extrapola os limites regionais, pois abrange todo o território nacional.

Para o IBGE (2000), a cidade de Uberlândia é classificada como uma “Grande Cidade Média”, que polariza “Cidades Médias” e “Grandes Cidades Locais”, conforme demonstra-se nos Mapas 8 e 9. Tomando-se como referencial tal classificação, a hierarquia urbana da Região do Triângulo Mineiro, dada a forte influência hierárquica exercida por Uberlândia, compõem-se de 28 cidades. Destas, quatro podem ser denominadas de “cidades médias” – Araguari, Ituiutaba, Uberaba e Patos de Minas; e quatro denominadas de “grandes cidades locais” – Araxá, Frutal, Monte Carmelo e Patrocínio. Os Mapas 8 e 9 e o Quadro 17 evidenciam esta hierarquização.

QUADRO 17

Hierarquia Urbana do Triângulo Mineiro: Região de Influência de Uberlândia.

M

ARAGUARI

Cidade Média

FRUTAL

Grande Cidade Local