• Nenhum resultado encontrado

O COMÉRCIO NO CONTEXTO DAS CIDADES E DA

1.1. A PRODUÇÃO DA CIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES

A década de 1980 assinala profundas mudanças no sistema de produção, de circulação e de consumo de bens e serviços, em diferentes países. Essas transformações, proporcionadas, principalmente, por três grandes revoluções técnicas - a da informática, através dos serviços; a da automação, dentro da produção; e a da engenharia genética- tiveram como aspectos mais relevantes a automação, a concentração e a centralização da produção (onde se presenciam associações, fusões e aquisições empresariais); o crescente conhecimento científico sobre a produção; a diminuição da jornada de trabalho e uma nova divisão do trabalho na qual os países que despontam no sistema produtivo mundial tendem a dedicar-se, principalmente, às atividades geradas pela revolução técnico-científica.

Com a aceleração do tempo, as mercadorias passaram a circular nos mercados globais com uma velocidade muito maior, tornaram-se globalizadas e provocaram importantes mudanças no espaço do comércio, comprimindo espaços e tempos. Para compreender e situar historicamente o surgimento e o desenvolvimento do comércio é preciso entender a dinâmica do capital comercial na economia capitalista e o papel que ele desempenha na troca de produtos, visto que a dimensão do mercado está relacionada à especialização do trabalho social. Ou seja, a quantidade de mercadorias de que uma sociedade dispõe para trocar num dado momento depende do nível de desenvolvimento das suas forças produtivas – principalmente de seus meios de produção – e do nível da divisão social do trabalho.

Na circulação de mercadorias capitalista comercial investe capital – o capital comercial – que, de acordo com Marx (1974), é uma parte do capital total da sociedade. Como componente do processo de reprodução do capital, o capital comercial está inserido, por conseguinte, no processo total de produção, pois participa do lucro sem participar diretamente do processo de produção. Como o capital tem necessidade de se reproduzir e o consumo se concentra nas cidades, há uma tendência à especialização do comércio varejista (como fruto de competição) bem como à centralização e à concentração de empresas, levando à formação de redes de estabelecimentos comerciais. A cidade aparece,

assim, como o lugar da reprodução do capital comercial. Porém, as formas de comércio criam novos espaços no urbano. Organizam, reorganizam, isto é, (des)estruturam as cidades. Nesse sentido, torna-se interessante fazer algumas reflexões sobre as relações e as interações existentes entre a atividade comercial e a cidade.

A sociedade se organiza a partir da apropriação de um determinado território que assegura a materialização das formas de (re)produção vigentes. Portanto, o espaço expressa a forma de organização da sociedade, evidenciando relações ideológicas e de poder. Sob essa perspectiva, o espaço é poder, é ideologia, é representação, sendo de fundamental importância para qualquer interpretação da realidade social. De acordo com Santos (1994), a leitura do capital sobre os territórios não é somente política, é também geopolítica, pois a decisão e a posterior implantação dos objetos técnicos e informacionais carregam em si o controle social mediante o sistema de ações. A crise do padrão de acumulação vivenciado pelo capital após a década de 1970, que suscitou novas formas de regulação via reestruturação produtiva do capital, propiciou a reorganização dos espaços. A necessidade de buscar alternativas para atender o interesse dos grupos transnacionais ensejou o surgimento de diferentes transações comerciais hegemonizadas pelo capital financeiro que necessitava construir espaços globalizados, controlados por redes sediadas nos mais distantes territórios, mas, evidentemente, que fossem integrados, comandados e controlados pelo capital. Baseados em relações globais, os espaços de produção, sem fronteiras definidas, depararam-se com as fronteiras nacionais que tentam impor-se na reprodução do capital imposta pelas empresas globais. Dessa forma, o que se observa é que as fronteiras não podem mais ser rígidas, estabelecidas geograficamente, mas economicamente, de tal forma que diferentes espaços, para manterem as condições de produção e reprodução das formas necessárias à existência do capital, tornaram-se responsáveis pela gestão dos espaços internacionalizados pelo capital. Entende-se que, a globalização expressou a nova formatação espacial do domínio do capital transnacional. Para os países hegemônicos, tal processo pode ser visto de acordo com a organização e a mobilização das classes sociais que, na sua grande maioria, vêem-se satisfeitas com as diferentes espacializações das práticas neo-imperialistas.

Diante do exposto, discutir-se-ão as principais mudanças que ocorreram no sistema produtivo mundial e que possibilitaram a reprodução do capital, gerando uma nova espacialidade urbana.

O final do século XX consubstanciou-se como um período de grandes transformações. Em âmbito social, econômico, político, científico e cultural, verificou-se um processo de internacionalização que criou novas formas de comércio e de consumo. O início de tal processo aconteceu com a Revolução Industrial. Visando a atender as necessidades do novo mercado consumidor urbano, grande parte da produção foi transferida para as cidades. Esse acontecimento provocou importantes transformações sociais, econômicas e espaciais. A universalização do mercado foi um dos principais acontecimentos resultantes de tal processo. A partir desse momento, os habitantes da cidade passaram a depender quase que totalmente do mercado de bens de consumo. Tal fato implicou em mudanças relacionadas à produção em grande escala, em reformas na política trabalhista e no aparecimento da moda e da publicidade. Para que o objetivo de atingir o maior número possível de consumidores fosse alcançado, foi necessário investir em transportes coletivos, em distribuição de energia, em saneamento básico, em pavimentação das ruas e avenidas, em reordenação dos centros de comércio e de bairros residenciais. Esses investimentos foram realizados tanto pelo poder público quanto pelo capital privado que, com essa iniciativa, esperavam aumentar seus lucros. Assim, a sociedade industrial levou a uma nova organização espacial, sobretudo no espaço interno das cidades.

A ampliação da produção, decorrente da crescente demanda e do estímulo ao consumo, gerou grandes alterações no sistema produtivo, principalmente nos Estados Unidos. Após a década de 1920, com a introdução do sistema fordista de produção, os americanos revolucionaram o mercado de consumo. 2

Anita Kon (2004, p.64), ao analisar o crescimento do setor de serviços e suas implicações sobre a reestruturação das economias, afirma que as estruturas produtivas têm- se transformado rapidamente nos países desenvolvidos desde a crescente industrialização, a partir da década de 1930, com o crescimento do processo de urbanização e a intensificação tecnológica. Com a necessidade de buscar novos mercados para consumir a grande variedade de produtos, aliada à crise econômica mundial originada pela “Quebra da Bolsa de Nova York”, foram adotadas novas estratégias e formas de comercialização,

2

O sistema fordista foi criado por volta de 1914 por Henry Ford quando introduziu seu dia de oito horas e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores da linha automática de montagem de carros que ele estabelecera no ano anterior em Dearbon, Michigan, (HARVEY, 1992, p.121). O sistema fordista de produção criou um conjunto de mudanças nos processos de trabalho que, com a semi-automatização e as linhas de montagem, possibilitou à formação de novas normas de consumo social e de conflitos trabalhistas que passaram a ser resolvidos através da negociação coletiva.

principalmente nos Estados Unidos, onde o “novo” sistema produtivo estava sendo implantado. A necessidade de consumir as mercadorias que estavam sendo produzidas, conjugada às novas formas de comércio que foram introduzidas na época (destaque para o auto-serviço), fez com que o automóvel se tornasse o produto símbolo do sistema produtivo. Além de proporcionar facilidade no deslocamento das pessoas e, conseqüentemente, o aumento no consumo, para a absorção em grande escala desse novo bem, uma nova organização urbana precisou ser planejada. As cidades tiveram que comportar vias de tráfego adequadas ao fluxo de automóveis, reduziram-se os espaços de pedestres, a arquitetura dos prédios e das casas adaptaram-se às novas exigências impostas pelo uso do automóvel. Destinaram-se áreas para construção de garagens e de estacionamentos. Foi preciso planejar e produzir novos espaços urbanos. Porém, para que ocorresse (e ocorra até hoje) o consumo, havia a necessidade de se conhecerem as novas mercadorias. Com a preocupação de divulgar aquilo que se estava produzindo, utilizaram- se novos meios de transmissão de informações (cinema, rádio, jornais e revistas e, mais tarde, a televisão, o marketing e a publicidade) que pudessem contribuir para mudar o comportamento do consumidor. Nesse contexto, o cidadão comum passou a ser alvo diário da propaganda de novas mercadorias e de novos modos de vida. Aos poucos, muitos lares de classe média foram invadidos por uma infinidade de bens de consumo.

A participação cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, gerando o processo de “abandono do lar”, constituiu outro elemento fundamental na mudança de hábitos de consumo. Com menos tempo para dedicar-se às atividades domésticas, cresceu o consumo de eletrodomésticos que facilitam os “afazeres do lar”. Comidas congeladas ou semi-prontas foram ganhando espaço nos refrigerados. Comer “fora” tornou-se um hábito comum aos trabalhadores das grandes cidades. A organização familiar, por sua vez, também passou por importantes mudanças. Como os indivíduos conquistaram o tempo e o espaço de uma vida pessoal, as relações familiares foram, cada vez mais, tornando-se impessoais. A “invasão da privacidade doméstica” pelos novos aparelhos, principalmente os equipamentos de som, imagem e os microcomputadores, criou o isolamento dos indivíduos dentro do próprio lar, em detrimento do uso franco dos espaços públicos e da cordialidade social.

No que concerne às atividades industriais, os avanços tecnológicos no seu interior e a reorganização das formas de trabalho, contribuíram para o crescimento da produtividade. Ao aumentar a produção com o mesmo tempo de trabalho, houve uma diminuição da

jornada de trabalho gerando, por conseguinte, o “tempo do lazer” que, por outro lado, significou também,

[...] um novo sistema de reprodução da força de trabalho caracterizada por uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia [...] um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. (HARVEY, 1989, p.122)

O trabalho assalariado apoiava-se na familiarização, na dedicação de várias horas de atividades rotinizadas que exigiam poucas habilidades manuais tradicionais e concedia ao trabalhador um controle quase inexistente sobre o projeto, o ritmo e a organização do processo produtivo. Aos poucos, os imigrantes, principal mão-de-obra utilizada por Ford em suas indústrias, aprenderam as novas formas de produção. Concomitantemente, os trabalhadores americanos apresentavam-se hostis ao processo. Esses fatos fizeram com que ocorresse uma intensa rotatividade da força de trabalho e incitaram os movimentos operários, principalmente nos Estados Unidos. Assim, no pós-guerra, o Estado teve que assumir novas funções e construir novos poderes institucionais. O trabalho organizado teve de assumir funções relativas ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de produção. As organizações sindicais aos poucos foram perdendo seu poder. Em alguns casos, tiveram que trocar ganhos reais de salário pela cooperação na disciplinação dos trabalhadores, de acordo com o sistema fordista de produção. (HARVEY, 1989, p.129)

Após 1945, o acúmulo de operários nas fábricas representava a ameaça de uma organização trabalhista mais forte e o aumento do poder da classe trabalhadora o que promoveu um verdadeiro ataque político aos elementos mais radicais do movimento operário. Ainda de acordo com Harvey, tal fato fez com que as corporações, mesmo a contragosto, aceitassem o poder sindical, principalmente quando este procurava controlar seus membros para colaborarem com a administração em planos de aumento da produtividade em troca de ganhos de salários que estimulassem a demanda efetiva, originalmente concebida por Henry Ford.

Ainda com relação ao “tempo livre”, criado pela redução na jornada de trabalho, cabe ressaltar que ele ensejou o surgimento de novos locais destinados ao entretenimento os quais se transformaram em mercadorias e passaram a fazer parte do cotidiano dos cidadãos dos centros urbanos. Aos poucos, a nova forma de consumir foi generalizando-se.

Tornou-se um instrumento que atendia às necessidades materiais e imateriais que estavam sendo criadas.

Em busca de novos mercados mundiais para a reprodução do capital desenvolveu- se um processo de internacionalização no qual o sistema capitalista, enquanto modo de produção, mesmo mantendo a sua concentração nos países dominantes, transformou-se. Tornou-se o sistema vigente na maior parte das nações, adquiriu novas possibilidades de expansão, de acumulação e de articulação que provocou importantes transformações na vida do cidadão comum. Ao conquistar novos espaços para a sua reprodução, o sistema capitalista propiciou a mundialização de mercadorias, de pessoas e de idéias. Criou novas formas de vida, de pensar, de agir, de ver o mundo, de sonhar. Conseqüentemente, surgiram outros padrões e valores culturais, novas formas de trabalho que, por sua vez, organizaram e produziram novos espaços.

A partir da década de 1970, o movimento de internacionalização do capital, baseado nas mudanças tecnológicas e nas formas flexíveis de organização do trabalho e dos processos produtivos, começou a procurar economias que oferecessem serviços especializados e mais sofisticados. Nesta nova fase de internacionalização das relações econômicas mundiais, grande parte das nações tornaram-se totalmente subordinadas aos interesses e às exigências de grupos e empresas, sejam eles nacionais ou transnacionais. No que diz respeito ao consumo, de forma um tanto quanto generalizada - haja vista que tal processo incorporou apenas os espaços que eram de interesse do capital - presenciou-se uma intensa transformação social. A internacionalização da produção, a divulgação de novas idéias, o intenso fluxo de pessoas, de costumes e de culturas diferentes, constituíram-se protagonistas de uma nova forma de consumo que, através dos meios de comunicação, chegaram até muitos lares mundiais, invadiram o cotidiano do cidadão conduzindo-o (e induzindo-o) a um novo comportamento, a um novo hábito, a uma nova forma e estilo de vida. Como conseqüência mais imediata, estes acontecimentos permitiram que as trocas e o intercâmbio de mercadorias avançassem as fronteiras políticas, culturais e étnicas e passassem a ter um fluxo maior e mais intenso.

A partir do final da década de 1980, quando o sistema socialista chegou ao fim em um grande número de países, com as mudanças tecnológicas, a automação, a busca de novas linhas de produtos e de novos mercados, a dispersão geográfica das indústrias, as fusões empresariais e as novas formas organizacionais, tem-se um novo ritmo na inovação e na produção de mercadorias. As indústrias passaram a oferecer um número maior e mais

diversificado de produtos possibilitando a ampliação da oferta dos mesmos. Esse processo de mudança produtiva veio acompanhado pela emergência de novos valores sociais que produziram alterações no comportamento dos consumidores e nos produtos por eles consumidos. A produção tornou-se totalmente diferenciada do modelo fordista quando a produção caracterizava-se por ser em série e em grandes volumes de produtos padronizados que levaram a um consumo invariante, onde se presenciou a universalização da produção, da informação e do consumo. Assistiu-se a uma proliferação de marcas, de produtos e de serviços. Hábitos, costumes, gostos e preferências foram alterados, bem como o estilo de vida e a própria visão de mundo de milhões de pessoas. No que concerne à questão do emprego, cabe salientar que essas formas de reorganização da produção reduziram o número de postos de trabalho, especialmente nas indústrias manufatureiras. A intensificação do trabalho, a racionalização da produção e dos investimentos, a mudança e a reestruturação das técnicas, estendeu-se também ao setor de serviços possibilitando o seu desenvolvimento.

A internacionalização do capital, que se elevou com as empresas multinacionais e, posteriormente, com as transnacionais, resultou na mundialização das atividades econômicas. Contudo, sustentadas por serviços sofisticados da construção civil e do planejamento de serviços financeiros internacionais, tal integração só se tornou possível graças ao desenvolvimento dos transportes e das comunicações que possibilitou a instalação da produção das empresas internacionais em diferentes países. No espaço geográfico, essas transformações modificaram o sistema produtivo. Através da presença de novas modalidades de comércio, surgiram diferentes formas de apropriação dos espaços. Na procura por grandes áreas para se estabelecerem, as novas formas comerciais buscaram as margens das rodovias e das principais avenidas dos grandes centros urbanos. Portanto, fez-se necessário repensar o sistema de transportes, de comunicação e de infra-estruturas para viabilizar o desenvolvimento comercial das áreas que estavam sendo incorporadas pelo capital comercial e imobiliário. Tornou-se imprescindível a participação do poder público e do capital privado para planejar, estruturar e apropriar-se destes novos espaços.

Em decorrência do exposto, têm-se novas formas de ocupação, de organização e de reprodução do espaço urbano, visto que as mudanças das estruturas de consumo e dos equipamentos comerciais alteraram-se para atender a uma nova realidade ligada a uma sociedade de consumo que busca outros valores e lugares para apropriar-se e dar prosseguimento à reprodução do capital. Desse modo, o mercado mostra uma realidade

urbana que se produz cotidianamente, gerando novos equipamentos comerciais como os supermercados, os hipermercados e os shopping centers considerados como os mais adequados à sociedade de consumo.

A questão do comércio varejista e, por conseguinte, o segmento dos hipermercados, envolve a problemática das recentes transformações da economia mundial, provocadas pela mundialização do capital, cujos reflexos traduzem-se na crescente internacionalização das grandes redes (por meio de fusões, de aquisições, de joint ventures, etc.), nas estratégias territoriais de distribuição geográfica, na gestão e nas articulações das empresas com o Estado, no papel e no perfil do consumidor, nos avanços tecnológicos do setor e na nova divisão internacional do trabalho. Devido à incorporação dessas estratégias econômicas mundiais, aliadas ao crescente número de automóveis circulando pelas áreas centrais das cidades, causando congestionamentos do trânsito e, principalmente, pela falta de espaço para a construção e ampliação dos estabelecimentos comerciais, o centro tradicional foi aos poucos perdendo o seu valor enquanto área de concentração dos novos espaços do comércio. Nas grandes cidades, as áreas periféricas passaram a ser privilegiadas, pois, além de não apresentarem os problemas das antigas áreas centrais, os imóveis localizados nestes lugares eram oferecidos a preços bem menores. Ao se instalarem nesses locais, os grandes estabelecimentos comerciais, especialmente os

shopping centers, valorizaram o seu entorno e propiciaram a sua ocupação populacional,

principalmente pelas classes média e média-alta.

Ao estudar a estratégia de localização dos shopping centers no Brasil, Pintaudi (1989, p.152), afirma que:

[...] ele não é fruto do prolongamento, da expansão comercial de um lugar, mas fruto de uma ruptura com o virtual destino do lugar. Os shopping centers não são implantados em locais tradicionalmente comerciais, a não ser eventualmente, quando as condições o permitem e esta localização não é condição necessária.

A cidade torna-se, assim, o locus da segregação espacial e das desigualdades sociais, sobretudo pela ocupação diversificada do espaço. Os agentes promotores dessas novas estruturações urbanas - o poder estatal, através dos investimentos em infra- estruturas; o capital privado imobiliário, por intermédio de loteamentos; e as empresas industriais e comerciais, buscando a localização estratégica para a instalação dos empreendimentos - redefiniram os locais de compra e de novos planejamentos urbanos, criando novas realidades urbanas.

No Brasil, a década de 1980, considerada pelos economistas como a “década perdida”, representou para a atividade comercial um importante momento de expansão. Tal período pode ser caracterizado como o da ampliação dos shopping centers, da expansão dos supermercados no interior do país, da consagração das grandes redes de hipermercados, principalmente nas grandes cidades e capitais brasileiras. Foi, também, a década da expansão e do fortalecimento do sistema de franquias, das lojas de conveniência e do comércio virtual. Por outro lado, a crise econômica, o intenso processo de urbanização e o desemprego estrutural e conjuntural causaram, também, o crescimento do comércio informal. Diante do exposto, cabem algumas indagações sobre a produção do espaço geográfico. Para entender tal produção torna-se necessário esclarecer que, imbuída de necessidades (econômicas, sociais, culturais, reais, imaginárias) e de propósitos, a sociedade, através do trabalho e da vida, age sobre o espaço e o produz. Ao analisar a produção do espaço, Santos (1996, p.51), afirma que:

[...] o espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes.

Seguindo o raciocínio do referido autor, essas ações, relações sociais produtivas, recriam objetos que já existiam, dando-lhes uma outra roupagem, uma outra forma, com