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DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE UBERLÂNDIA (MG), 1900

4.3. A FORMAÇÃO DE UBERLÂNDIA E A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO ATACADISTA

Vários trabalhos realizados por pesquisadores locais, descrevem o processo de ocupação e de desenvolvimento da região do Triângulo Mineiro. (Ver Mapa 6) Para que se possa dar prosseguimento à discussão e enfatizar o papel do comércio local, cabe salientar que o antigo “Sertão da Farinha Podre”, como era denominada essa região, teve sua ocupação efetiva no início do século XIX, quando várias famílias oriundas de diversas regiões do país chegaram e tomaram posse de terras onde hoje se configura o sítio urbano

da cidade de Uberlândia. Antes desses acontecimentos, a região era tida apenas como um ponto de passagem de tropeiros e minerados que buscavam riquezas em Goiás e Mato Grosso. A circulação e a intermediação de produtos nas cidades que hoje compõem a região, transformaram-na num importante entreposto comercial que interligava São Paulo às áreas do Brasil Central. Dessa forma, surgiu o comércio o qual se mantém como um dos mais importantes setores da economia regional.

A criação e o desenvolvimento de infra-estrutura de transporte e de comunicação deram suporte ao desenvolvimento do comércio, principalmente do atacadista que hoje faz com que a cidade de Uberlândia seja reconhecida em todo o território nacional como a “Capital do Atacado”, ou ainda como o maior “Pólo Atacadista da América Latina”. Esse desenvolvimento, regional e local, só foi possível graças à intervenção do poder público que possibilitou a instalação da infra-estrutura necessária para a sua prosperidade. Um exemplo dessa iniciativa foi à instalação da Estrada de Ferro Mogiana. Em 1985, o então Prefeito da cidade, Sr. Coronel José Teófilo Carneiro, ao descobrir que Uberlândia não faria parte do roteiro originalmente traçado pela Cia. Mogiana, idealizou um novo trajeto incluindo a cidade.34

A expansão da rede viária, conforme salientou-se anteriormente, foi de fundamental importância para o desenvolvimento urbano da região, principalmente para Uberlândia que através dessa pode ampliar ainda mais as relações comercias com Goiás, Mato Grosso, Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro e com as cidades da própria região e do estado.

O histórico papel de entreposto comercial agropecuário, as propícias condições naturais, a criação do “Plano de Metas”, a construção de Brasília e, por conseguinte, o desenvolvimento rodoviário – que se fez necessário ao processo de industrialização do país – fortaleceram e consolidaram as relações comerciais praticadas em Uberlândia. Dessta forma,

[...] às velhas estradas de “chão” cederam lugar ao asfalto, impulsionando as atividades comerciais de Uberlândia que, no contexto da divisão territorial do trabalho, era favorecida pela sua posição de entroncamento para o escoamento da produção do Centro-Oeste e fornecedora de produtos pecuários e de cereais ao Sudeste. (CLEPS, 1997, p.121)

É nesse contexto que surgem as primeiras empresas atacadistas em Uberlândia as quais, gradativamente começaram a conquistar o mercado consumidor regional. Desde as

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A respeito da ocupação e da região do Triângulo Mineiro ver os trabalhos de: BRANDÃO (1989), GUIMARÃES (1990), SOARES (1995), CLEPS (1997) e CLEPS Jr. (1998).

décadas de 1930 e 1940 o comércio atacadista da cidade já apresentava indícios de desenvolvimento. Porém, é na de 1950 e 1960 que surgem os grandes atacadistas atuais como o Grupo Martins, o Grupo Arcom, o Grupo Peixoto, entre outros. (CLEPS, 1997, p.121-125)

No início de suas atividades essas empresas localizavam-se na área central da cidade (Setor Central), nas Avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto que, naquela época, concentravam toda a atividade comercial, de serviços e de lazer da cidade (Figuras 8, 9,10 e 11). Na medida em que foram crescendo e expandindo suas atividades essas empresas transferiram-se para o Distrito Industrial da cidade, próximo aos principais entroncamentos rodoviários que passam por Uberlândia.

De acordo com os dados fornecidos pela Prefeitura Municipal de Uberlândia, em 2002 existiam 563 empresas atacadistas sediadas na cidade. (Quadro 22) Dentre elas pode- se destacar o Grupo Martins, o Arcom, o Peixoto, o União e o Aliança que, no ranking do atacado-distribuidor, realizado em 2004 pela Associação Brasileira do Atacado Distribuidor – ABAD, foram classificados entre as 20 maiores empresas do setor do país: Martins (3º. Colocado), Arcom (4º. posição) e o União (8º. Lugar), conforme quadro seguinte.35

As 235 empresas que participaram do ranking 2004 obtiveram um faturamento bruto de R$17.618.869.965, 34,5% do faturamento total do setor. Desse total, as 20 maiores empresas faturaram 24,4%, R$12.483.537.063. Os dados informam ainda que as empresas que participaram desta classificação possuíam uma área de armazenagem de 1.341.569 m², 134 lojas, 456.501 m² de área de vendas, 38.502 funcionários, 3.407 vendedores diretos (contratados pelas empresas), 18.865 vendedores autônomos, uma frota própria composta por 7.578 veículos e 7.537 veículos terceirizados. (DISTRIBUIÇÃO, n.135, abr./2004, p. 68-72). Mais do que uma simples estatística, os números revelam a concentração existente no setor. Demonstram, também, a importância deste para a economia brasileira, pois, em 2003, o comércio atacadista obteve um faturamento de R$128,5 bilhões, enquanto que, em 2002, esse valor foi R$121,4 bilhões, crescimento de 5,8%. As três empresas atacadistas de Uberlândia que fizeram parte da classificação de 2004 atuam apenas na modalidade de entrega, por isso não possuem lojas. No ano de 2003 elas obtiveram um faturamento bruto de R$ 2.763.963974, aproximadamente 22% do valor obtido pelas 20 maiores e possuíam 5.788 funcionários (25,7% do total).

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QUADRO 21

Brasil: Maiores Empresas do Setor Atacadista, por Faturamento Bruto em 2004.

Faturamento Bruto Modalidade de Operação (%) 2003 2002 EMPRESA UF 2002 2003 Variaç. Real(%) 2002/03 No. de Lojas N. de Funcio- nários Auto- serviço Balcão Entrega 1 2 ATACADÃO DISTR. COM. E IND. LTDA SP 2.258.451.715 3.031.398.592 17,0 23 6.307 100 0 0 2 1 MAKRO ATACADISTA S/A SP 2.818.728.229 2.958.849.038 -8,5 43 3.787 100 0 0 3 3 MARTINS COM. E SERVIÇOS DE DISTR. S/A MG 1.644.448.801 2.010.391.060 6,6 0 3.541 0 0 100 4 4 ARCOM S/A MG 900.337.390 1.014.272.648 -1,8 0 1.700 0 0 100 5 7 TAMBASA – TECIDOS ARM. M. BART. S.A. MG 314.141.778 385.332.113 6,9 1 926 2 0 98 6 8 ZAMBONI DISTRIBUIDORA LTDA. RJ 259.288.119 369.652.478 24,3 0 600 0 0 100

7 11 CEREALISTA MARANHÃO LTDA. SP 205.699.469 291.541.471 23,6 0 664 0 2 98

8 10 UNIÃO COM. IMP. E EXP. LTDA. MG 219.177.783 274.971.134 9,4 0 547 0 0 100

9 10 SANTA TEREZINHA DIST. PROD. INDUSTR. MG 175.000.000 258.700.000 28,9 0 360 0 0 100

10 12 3 JC DO BRASIL DIST. LOG. LTDA GO 181.793.495 254.681.312 22,1 0 390 28 28 44

11 13 MERCANTIL NOVA ERA LTDA. AM 172.325.774 201.924.624 2,1 0 330 0 3 97

12 9 PASTIFÍCIO SANTA AMÁLIA LTDA. MG 120.324.060 181.553.844 31,5 0 1.005 0 0 100

13 15 GARCIA.ATACADISTA LTDA RJ 151.105.830 180.003.562 3,8 0 0 0 0 100

14 17 PENNACCHI E CIA.LTDA. PR 141.658.208 176.473.000 8,6 1 357 0 3 97

15 14 ATACADÃO EST. CER. RIO DO PEIXE PB 166.273.060 174.685.317 -8,4 2 678 3 6 91

16 16 RIO VERMELHO DISTRIBUIDORA LTDA. GO 145.000.000 162.000.000 -2,6 1 475 10 12 78

17 18 EMBRASIL EMPRESA BRAS. DIS. LTDA. MG 132.800.243 158.000.000 3,7 1 374 0 1 99

18 19 RWR LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO LTDA. SC 123.038.038 135.887.570 -3,7 0 0 0 1 99

19 21 DISTRIBUIDORA ZANGIROLAMI LTDA. SP 116.465.834 133.732.744 0,1 0 312 0 0 100

20 20 SUCESSORES DE DORIVAL RIBEIRO LTDA. PR 117.167.928 129.486.556 -3,7 0 162 0 0 100

TOTAL 10.363.225.750 12.483.537.063 - 72 22.515 - - -

Elaboração: CLEPS, G.D.G., jan./2005. Fonte: DISTRIBUIÇÃO, n.135, abr./2005.

Ao trabalhar estes dados referentes ao comércio atacadista do Brasil, o propósito é mostrar a importância deste para Uberlândia e fornecer informações sobre os Grupos que atuam na modalidade na cidade para que, mais adiante se possa trabalhar com as novas estratégias comercias e empresarias que eles estão utilizando para poder diversificar seus investimentos e empreendimentos e se manter no mercado.

Com uma área de 4.040km², dos quais 219km² correspondem ao núcleo urbano, o município de Uberlândia, a partir da década de 1970, apresentou um importante desenvolvimento econômico caracterizado pela ampliação e pela diversificação da produção, não só agropecuária e industrial, como também a relacionada ao comércio e aos serviços. Esse desenvolvimento econômico transformou a cidade num importante centro regional, apresentando articulações também com outros estados, principalmente com São Paulo, visto que Uberlândia apresenta-se como um importante nó da rede paulista.

Ao avaliar a importância da posição geográfica como um dos elementos que determinam a importância das cidades médias na hierarquia urbana, Sposito (2001) reforça que estas cidades possuem uma situação geográfica favorável ao consumo a qual dependerá das infra-estruturas, em especial as de circulação, que articulam as cidades e possibilitam que se realize um consumo à distância. Pode-se dizer que Uberlândia é um exemplo onde se aplicam as teorias acima mencionadas, visto que, a partir da década de 1970, a cidade passou por importantes mudanças no setor terciário da sua economia, oriundas da instalação de novas formas comerciais e de serviços, especialmente os praticados pelos atacado-distribuidores, das novas demandas da produção agrícola, da implantação das agroindústrias, da difusão dos supermercados e dos hipermercados, dos

shopping centers, das lojas de conveniência e do comércio virtual. Essa “modernidade”

assinala uma nova fase de urbanização da cidade que, conforme salientou Santos (1985), promove o surgimento de ocupações e empregos de elevado grau de especialização e, consequentemente, uma remuneração mais elevada. Assim surgem, no urbano, novos profissionais e novas rendas, que modificam as características sociais e culturais da cidade. Como exemplo dessas novas profissões podemos citar o aumento da quantidade de trabalho intelectual, impondo novos consumos, uma nova forma de vida e de relações no e com o lugar.

Após estas considerações poder-se-á analisar a produção e a transformação do espaço urbano de Uberlândia, enfatizando-se a importância da atividade comercial que propiciou o surgimento de novas espacialidades.