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OS DANOS AO MEIO AMBIENTE

2.2 A delimitação jurídica do conceito de dano ambiental

2.2.2 A extensão da lesão decorrente do dano ambiental

Estabelecer a amplitude do conceito de dano ambiental , identificando os bens jurídicos tutelados, possibilita uma compreensão mais clara desse fenômeno e facilita a identificação das diversas categorias de interesses133 tutelados134.

Tais elementos, porém, não são suficientes quando se busca conhecer o dano ambiental em toda sua plenitude, com intuito de alcançar meios para sua reparação integral. Por esse motivo, a construção jurídica de um conceito pleno para o dano ambiental, deve considerar também em que medida a lesão decorrente do dano atinge os interesses tutelados, ou seja, qual a extensão dos prejuízos sofridos pelas vítimas desse dano.

clientes em razão dos fortes odores emanados de instalações industriais das imediações, não terá essa perda ressarcida. Já a jurisprudência francesa vem acolhendo os pedidos de ressarcimento das perdas futuras, decorrentes de um dano ambiental, conforme ilustra o caso do lodo vermelho da Sociedade Montedison, no qual os pescadores puderam obter a reparação da perda da probabilidade de pesca. No Direito espanhol, há o reconhecimento de tais perdas, especialmente quando relacionadas com prejuízos aos recursos turísticos (art. 1.1 da Lei 21/1977). Cabe salientar que no âmbito do Direito Internacional, esse direito foi reconhecido às associações de caça e de pesca nos acordos firmados para solucionar o caso Sandoz. Já no âmbito do Direito Comunitário europeu, a proposta de Diretiva sobre responsabilidade civil em matéria de resíduos, estabelece que serão possíveis reclamações por perdas de benefícios ou perdas econômicas, sempre e quando os ordenamentos nacionais reconhecerem tal direito. Por último, frisa-se que no Brasil, esse direito é legalmente reconhecido, emergindo da conjugação do art. 3º, III, letras “a” e “b” e do art. 14, § 1°, ambos da Lei n° 6.938/1981, com os art. 186, 187, 402 e 927 do Código Civil (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002).

132 CATALÁ, 1998, p. 84.

133 Conforme o exposto até o momento, o dano ambiental envolve uma extensa gama de interesses juridicamente tutelados, envolvendo em seu contexto interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

134 LEITE (2003, 96), identifica que o fato de o dano ambiental envolver essa extensa gama de interesses, resulta, teoricamente, em duas formas distintas de reparabilidade. Assim, argumenta que o dano ambiental será de reparabilidade direta quando “diz respeito a interesses próprios individuais e individuais homogêneos e apenas reflexo com o meio ambiente e atinentes ao microbem ambiental”, já que o interessado que sofreu a lesão será diretamente indenizado. Por sua vez, o dano ambiental será de reparabilidade indireta, “quando diz respeito a interesses difusos, coletivos e eventualmente individuais de dimensão coletiva, concernentes à proteção do macrobem ambiental e relativos à proteção do meio ambiente como bem difuso, sendo que a reparabilidade é feita, indireta e preferencialmente, ao bem ambiental de interesse coletivo e não objetivando ressarcir interesses próprios e pessoais”.

Obviamente, o dano ambiental só será integralmente reparado quando, for considerado em toda sua extensão, ou seja, em ambas as suas dimensões: (a) a primeira, uma dimensão material, consistente na perda das características essenciais do sistema ecológico impactado e nos prejuízos sofridos indiretamente pelos indivíduos em seus bens, em sua saúde e em outros interesses de ordem privada e (b) a segunda, uma dimensão imaterial, de caráter extrapatrimonial, que pode ser tanto inerente ao interesse difuso relativo ao macrobem ambiental, como aos interesses individuais, relacionados ao meio ambiente individual e privado.

a) O dano ambiental material

Conforme salienta Steigleder, a dimensão material do dano, tende a aproximar os conceitos de dano jurídico de caráter pessoal e de dano socioambiental135. Tal fato se verifica em razão da materialidade do dano atingir, não só o patrimônio natural e os componentes ambientais humanos mas também aquele dano, que acarreta prejuízos indiretos ao patrimônio e à integridade física das pessoas136.

Em ambos os casos, para se apurar a materialidade do dano é preciso identificar em concreto as perdas sofridas. Assim, enquanto no dano que afeta os componentes ambientais naturais e humanos, busca-se identificar a perda ou diminuição das características essenciais dos sistemas ecológicos (tais como a interdependência, a capacidade de auto-regulação, capacidade funcional ecológica e a capacidade de uso humano dos bens ambientais, bem como a diminuição da qualidade de vida e do bem-

135 STEIGLEDER, 2003, p. 341.

136 O dano ambiental atinge de forma indireta o patrimônio das pessoas, quando atinge a saúde das mesmas demandando gastos com tratamentos e medicamentos, quando atinge a liberdade de locomoção das mesmas, demandando desvios e alterações na rotina cotidiana, que podem implicar maior custo monetário, ou também, impedindo o exercício de atividades produtivas, como no caso de pessoas que vivem do extrativismo animal e vegetal, bem como do turismo.

estar dos afetados137, no dano individual ambiental) procura-se identificar os prejuízos sofridos pela pessoas em seus interesses patrimoniais, de modo que seja possível restaurá-los integralmente e da maneira mais satisfatória possível.

Leite138 chama o dano ambiental material de dano ambiental patrimonial, salientando que a concepção de patrimônio adotada para qualificar tal dano

Difere da versão clássica de propriedade, pois o bem ambiental, em sua versão de macrobem, é de interesse de toda a coletividade. Entretanto, aplica-se a versão clássica de propriedade quando se tratar do microbem ambiental, pois diz respeito a um interesse individual e a um bem pertencente a este. Observe-se que, nesta última hipótese, o dano ambiental patrimonial está sendo protegido como dano individual ambiental reflexo.

Diante desses fatores, é possível afirmar que o dano ambiental material relaciona-se mais diretamente com a restauração, a recuperação ou a restituição ao

status quo ante das áreas ou com a indenização das perdas sofridas139.

São exemplos da dimensão material do dano ambiental, a contaminação das águas, dos solos ou do ar em todos os seus níveis, o desmatamento, a perda da diversidade biológica, as contaminações radioativas e por substâncias químicas, a destruição das paisagens naturais e os danos causados pelas chuvas ácidas a monumentos e prédios históricos e todos os resultados daí advindos, que causem prejuízos reflexos às pessoas e aos seus bens.

137Inclusive das gerações futuras, em respeito ao que prescreve o princípio 3º, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, adotada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) que estabelece que: “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido, de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e ambientais de gerações presentes e futuras”. O mesmo princípio consta expressamente do art. 10 da Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada na mesma ocasião, bem como no caput do art. 225, da Constituição da República Federativa do Brasil, sendo reconhecido expressamente por diversas outras Nações.

138 LEITE, 2003, p. 97. 139 Idem.

b) O dano ambiental imaterial (dano ambiental extrapatrimonial ou dano moral ambiental)

Segundo Leite, a dimensão imaterial do dano ambiental engloba tudo que diz respeito à sensação de dor experimentada ou conceito equivalente em seu mais amplo significado ou, ainda, todo prejuízo não-patrimonial ocasionado à sociedade ou ao indivíduo, em virtude da lesão do meio ambiente140. Inserem-se, nessa dimensão, toda usurpação ambiental que afete valores de ordem espiritual, ideal ou moral.

Segundo Steigleder, trata-se do dano cujo prejuízo extrapola a concepção meramente econômica da lesão, ou seja, aquele fora da esfera patrimonial141. Portanto, são danos, cujos prejuízos também se inserem na categoria de lesões a direitos da personalidade, como é o caso das lesões do direito à saúde ou à qualidade de vida.

Dessa forma considerado, seria possível aferir-se, a princípio, que o dano moral ambiental incluiria em seu conceito apenas os interesses pessoais juridicamente tutelados. Contudo, conforme salienta Leite, a reparação integral do dano ambiental deve estender-se à possibilidade de reparação dos danos extrapatrimoniais coletivos142. Nesse sentido, esse autor questiona:

Se a personalidade jurídica pode ser suscetível de dano extrapatrimonial, por que a personalidade em sua acepção difusa não pode ser?143

Respondendo à sua própria indagação, conclui que:

A resposta é afirmativa, a partir da desvinculação dos valores morais, que passam de sua ligação restrita aos interesses individuais da pessoa física para uma conotação coletiva. Também porque (...) existem novos direitos do homem, tal como o direito ao meio ambiente, que são essenciais à personalidade individual e, ao mesmo tempo, à difusa, como a qualidade de vida. Este direito de personalidade de caráter difuso tem como traço marcante a união 140 Idem, p. 221-222. 141 STEIGLEDER, 2003, p. 223. 142 LEITE, 2003, P. 294. 143 Idem. 170

indeterminada dos sujeitos, trazendo uma certa comunhão de interesses, pois quando há dano, esse atinge toda a coletividade, de forma indiscriminada. Ademais, não há como dissociar o meio ambiente equilibrado da qualidade de vida, posto que o meio ambiente deteriorado, ou não preservado, redunda em diminuição de um valor referente a uma expectativa de vida sadia, causando sensação negativa e perda em seu sentido coletivo da personalidade, consistente num dano extrapatrimonial.144

Assim, tem-se que a admissibilidade do dano moral coletivo funda-se no fato de que a coletividade, como conglomerado de pessoas que vivem em determinado território, unidas por fatores comuns, é norteada por valores (culturais, éticos e morais) os quais resultam da amplificação dos valores dos indivíduos componentes da coletividade. “Assim, como cada indivíduo tem sua carga de valores, também a comunidade, por ser um conjunto de indivíduos, tem a sua dimensão ética”145. Portanto, evidencia-se que os valores coletivos dizem respeito à comunidade em sua integridade, independentemente de suas partes, o que lhes confere um caráter nitidamente indivisível.

Aliás, não é possível negar que “o ser humano sente os efeitos da lesão perpetrada em face do bem ambiental da coletividade”, pois, “quando se lesa o meio ambiente, em sua concepção difusa, atinge-se concomitantemente a pessoa no seu status de indivíduo relativamente à cota-parte de cada um e, de forma mais ampla à toda a coletividade”146.

Conforme salientam Stigliz e Morello, a concepção do dano moral coletivo surge da idéia de que a noção de dano moral está vinculada ao conceito de prejuízo extrapatrimonial ou lesão aos sentimentos pessoais, afeições legítimas ou tranqüilidade anímica, denotando, contudo, uma matiz social, na medida em que nasce das relações de uma pessoa ou grupo de pessoas, com seu ambiente ou qualquer outra circunstância

144 Idem.

145 BITTAR FILHO, 1994, p. 51. 146 LEITE, 2000, p. 298.

físico-temporal. Partindo de tal colocação, conceituam o dano moral coletivo como sendo aquele referente “a um grupo ou categoria que, coletivamente e por uma mesma causa global, se vê afetada em direitos ou interesses de sabida significação vital que, sem dúvida, são tutelados de modo preferencial pela Constituição e pela Lei”147.

Nesse mesmo contexto, o dano moral coletivo é conceituado de forma ampla por Bittar Filho148, como:

a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerada, foi agredido de maneira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial. Tal como se dá na seara do dano moral individual, aqui também não há que se cogitar de prova da culpa, devendo-se responsabilizar o agente pelo simples fato da violação (damnun in re

ipsa).

Paccagnela149, por sua vez, desenvolve o conceito de dano moral ambiental, adotando os mesmos parâmetros acima mencionados, destacando a importância de ter presente a noção de patrimônio ambiental, alheia à visão individualista de valor econômico. Nesse sentido, argumenta que:

O dano ao patrimônio ambiental, ou dano ecológico, é qualquer alteração adversa no equilíbrio ecológico do meio ambiente (...). Por sua vez, o dano moral ambiental não tem repercussão no mundo físico, em contraposição ao dano ao patrimônio ambiental. Esse dano moral ambiental é de cunho subjetivo, à semelhança do dano moral individual. Aqui também se repara o sofrimento, a dor, o desgosto do ser humano. Só que o dano moral ambiental é o sofrimento de diversas pessoas dispersas em uma certa coletividade ou grupo social (dor difusa ou coletiva), em vista de um certo dano ao patrimônio ambiental (...). Exemplificando, se o dano a uma paisagem causar impacto no sentimento da comunidade daquela região, haverá dano moral ambiental. O mesmo se diga da supressão de certas árvores da zona urbana, ou de uma mata próxima ao perímetro urbano, quando tais áreas forem de especial apreço pela coletividade150.

147 STIGLIZ e MORELLO, 1997, p. 140. 148 BITTAR FILHO, 1994, p. 55. 149 PACCAGNELLA, 1999, p. 45-46.

150 O autor refere, ainda que no âmbito dos interesses difusos, é impossível a exclusiva consideração do dano material sob o aspecto econômico, situação que tem levado a confusões entre os conceitos de danos morais ambientais e danos ao patrimônio ambiental. Afirma também que a diminuição da qualidade de vida da população, o desequilíbrio ecológico, a lesão de um determinado espaço protegido, os incômodos 172

Tem-se, portanto, que a tutela da moral coletiva, relacionada aos danos ao meio ambiente, visa, sobretudo, à proteção das dimensões culturais, éticas e morais de um determinado grupo ou comunidade, referentes ao valor intrínseco do ambiente, indissociavelmente ligado à qualidade de vida humana e ao bem-estar social a eles correlacionados, vislumbrando preocupações de ordem ecocêntrica e antropocêntrica.

O que se tutela com a imposição da reparação da lesão de caráter moral, decorrente do dano ambiental, é a proteção do próprio direito fundamental, inerente aos indivíduos, de desfrutar de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme lhes é assegurado, sobretudo no princípio 1 da Declaração da Organização das Nações Unidas, sobre meio ambiente humano, adotada pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada na cidade de Estocolmo, em 1972, na legislação ambiental de inúmeros Estados nacionais151 e mais recentemente, no texto da Convenção sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça nas Questões Ambientais, adotada sob os auspícios da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (CENUPE) e assinada por 35 Estados e a Comunidade Européia, na cidade dinamarquesa de Aarhus, em 25 de junho de 1998152.

Constatado um dano ambiental autônomo, que afete os componentes ambientais naturais ou humanos, deve-se considerar que este, nem sempre consistirá físicos ou lesões à saúde se constituem em lesões ao patrimônio ambiental. O dano moral ambiental, por seu turno, vai aparecer quando, além (ou independentemente) dessa repercussão física no patrimônio ambiental, houver ofensa ao sentimento difuso ou coletivo. A ofensa ao sentimento coletivo se caracteriza quando o sofrimento é disperso, atingindo considerável número de integrantes de um grupo social ou comunidade. Nesse sentido ver: PACCAGENLLA (1999, p. 45-46).

151 A título de ilustração, cite-se que tal disposição consta expressamente no art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil, no art. 66, da Constituição da República Portuguesa, no art. 45, da Constituição espanhola, no art. 41, da Constituição da Nação Argentina, no item 8, do art. 19, da Constituição Política da República do Chile, dentre outras.

152 A Convenção, que entrou em vigor em 30 de outubro de 2001 (LEITÃO, 2002), se apoia em textos anteriores, especialmente no Princípio 1 da Declaração de Estocolmo. O Preâmbulo declara que “toda pessoa tem o direito de viver num meio ambiente adequado à sua saúde e bem-estar e o dever, tanto individualmente quanto em associação com outros, de proteger e melhorar o meio ambiente em benefício da geração atual e das gerações futuras”. Vale destacar que, em princípio, ela está aberta à assinatura tão

apenas na lesão desse componente em si considerado, uma vez que sempre haverá a possibilidade de sua repercussão em outros valores precípuos da coletividade a eles ligados, tais como a qualidade de vida e a saúde, o sossego, o senso estético, os valores culturais, históricos ou paisagísticos. Verificada tal hipótese, tem-se que um interesse difuso, próprio da sociedade, estará sendo lesado, com o que se reconhece o caráter imaterial ou extrapatrimonial inerente ao dano ambiental.

Logo, haverá dano ambiental de natureza moral coletiva a ser indenizado nas situações de exposição da população à poluição, nas suas mais diversas formas (ruído, contaminação atmosférica, hídrica, etc.) percebendo-se que a saúde, a tranqüilidade, a qualidade de vida e o bem-estar da coletividade sofre um decréscimo, e, mesmo que reparado o dano na sua materialidade, a reparação não será integral se não considerada esta dimensão imaterial.

Compreender dessa forma o dano ambiental de ordem moral coletiva, implica em reconhecer a sua reparabilidade, que se diga, funda-se no fato de que:

A dor psíquica que alicerçou a teoria do dano individual acaba cedendo lugar, no caso do dano moral coletivo, ao sentimento de desapreço e de perda de valores essenciais que afetam negativamente toda uma coletividade (...). Tal intranqüilidade e sentimento de desapreço gerado pelos danos coletivos, justamente por serem indivisíveis, acarreta lesão moral que também deve ser reparada coletivamente153.

Aliás, esse é o mesmo entendimento esboçado por Leite, quando afirma que a “dor”154 vinculada ao dano extrapatrimonial ambiental de ordem coletiva, “é predominantemente objetiva, pois se procura proteger o bem ambiental em si (interesse objetivo) e não o interesse particular subjetivo. Outrossim, refere-se, somente dos membros da CENUPE, mas seu art. 19 permite a adesão de qualquer outro membro da ONU, mediante aprovação pelo Encontro das Partes da Convenção.

153 RAMOS, 1998, p. 83.

154 De acordo com LEITE (2003, p. 294) “a dor, em sua acepção coletiva, é ligada a um valor equiparado ao sentimento moral individual, mas não propriamente este, posto que concernente a um bem ambiental, indivisível, de interesse comum, solidário e relativo a um direito fundamental de toda a coletividade.

concomitantemente, a um interesse comum de uma personalidade em sua caracterização coletiva”155.

Declara-se, ainda, que em razão da dificuldade quanto à prova concreta do dano extrapatrimonial, sua existência é geralmente presumida de acordo com a gravidade da lesão156. Assim, parece inadequada a exigência de prova concreta do dano moral, o que contribui para esvaziar a possibilidade de seu reconhecimento157.

Com relação à reparação do dano moral coletivo, Stigliz adverte que a indenização deve ser acolhida com critérios de razoabilidade e prudência, na medida em que os fatos tenham verdadeiros sofrimentos, incômodos ou alterações ponderáveis de ordem extrapatrimonial, bem como as inevitáveis seqüelas psíquicas e espirituais. Aponta, ainda, a necessidade de isolar deste território aquelas situações não assimiláveis, como são os simples transtornos, as inquietudes, dificuldades ou perturbações que estão no risco próprio das vicissitudes ou contrariedades que se suscitam em qualquer contingência da vida em sociedade158.

Na esteira dos apontamentos feitos em relação ao dano ambiental extrapatrimonial, cumpre ressaltar que as legislações e a jurisprudência de vanguarda vêm gradativamente e, cada vez mais, admitindo o dano moral coletivo. Este é o caso, por exemplo, do Direito brasileiro que tutela expressamente esta categoria de dano. Trata-se de uma lesão que traz desvalorização imaterial ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e concomitantemente a outros valores inter-relacionados como a saúde e a qualidade de vida”.

155 LEITE, 2003, p. 295. 156 RAMOS, 1998, p. 85.

157 No Brasil, contudo, há precedente jurisprudencial exigindo a prova do dano moral. Neste sentido, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro lançou a seguinte ementa: “Civil. Meio ambiente. Responsabilidade civil. Vazamento de óleo da Petrobrás na Baía da Guanabara. Ação de indenização de lucro cessante e dano moral, ajuizada por pescador, julgada procedente. Em tema de dano ecológico, sobre ser objetiva a responsabilidade do poluidor (§ 1°, do art. 14, da Lei n° 6.938/81) dada a sua especial natureza admitem- se presunções, seja quanto a causalidade, seja com respeito à duração do dano, que, de ordinário, não se comporta em rigores de limites temporais. Prova de que o autor, matriculado na Capitania dos Portos e em colônia de pesca no Caju, e de que auferia ganhos mensais de R$ 800,00. Depoimentos de que a paralisação da atividade transcorreu durante três meses. Lucros cessantes nesse período. Dano moral, todavia que não decorre necessariamente do material. Recurso da ré parcialmente provido e do autor, prejudicado” (TJRJ, Apelação Cível n° 2002.001.16035, 7ª Câmara Cível, Rel. Des. Luiz Roldão F. Gomes, j. 01.10.2002, obtido em <www.tj.rj.gov.br>, acessado em 23.11.2003).

No Brasil, a reparação do dano moral é constitucionalmente reconhecida159.