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A Federação Russa como membro de Organizações Internacionais

Capítulo 2. O Aparelho de Política Externa da Federação Russa e a Tomada de Decisões

2.3. Determinantes da Política Externa de Putin (2000-2017)

2.3.2. Determinantes Externos

2.3.2.3. A Federação Russa como membro de Organizações Internacionais

“A Rússia é membro de várias organizações e fora internacionais: a Comunidade Económica Eurasiática57, a Comunidade dos Estados Independentes, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva58, os BRICS59, as Nações Unidas, a Organização para a

57 Eurasian Economic Community. 58

Colletive Security Treaty Organization. 59

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Cooperação de Xangai (OCX)60, o G20, o G8, entre outras organizações. O facto de a Rússia pertencer a estas organizações faz com que esta observe o direito internacional respeitando os outros estados de modo a fortificar as suas parcerias. Por exemplo, a Rússia e a China cooperam em matérias económicas nos BRICS e na Organização para a Cooperação de Xangai, para além da cooperação bilateral” (Wache, 2014: 142).

Adam apresenta três fatores que motivam a Rússia a acreditar que a cooperação com a China deve superar em larga medida qualquer desejo de tentar conter o país vizinho: i) a essencialidade da China para o objetivo russo de solidificar a multipolaridade sistêmica; ii) o avanço chinês em várias áreas (econômica, militar, político-diplomática e de pesquisa); e iii) a necessidade da ajuda chinesa na projeção de influência russa no Leste e no Sudeste Asiático61. Entretanto, importa realçar que esta parceria estratégica russo-chinesa seria autossustentável caso estivesse balizada somente nas relações bilaterais ou nos interesses regionais de ambos os países. Ainda assim, já seria de extrema importância para a Rússia. O patamar sistêmico, contudo, tem elevado em um degrau tal parceria. Não se pode falar em aliança russo-chinesa, pois as desconfianças mútuas impedem um laço com tamanha profundidade. De toda forma, é inegável que o posicionamento conjunto em temas candentes do sistema internacional e a participação em grupos como o BRICS fortalecem a parceria russo-chinesa (2012: 88- 89). Entretanto, segundo o mesmo Adam, “deve-se lembrar que a defesa da multipolaridade é compartilhada não só pela Rússia e pela China, mas também, por outros países em ascensão no sistema internacional, como Brasil e a Índia [membros dos BR CS]” (2011: 48). Portanto, além da génese da sua formação, os BR CS podem ser usados pela Rússia como um organismo ou plataforma na promoção e defesa dos seus interesses, no presente caso, a multipolaridade, ou de acordo com o novo conceito, a unipolaridade. Contudo, caso Putin insista em prosseguir com o seu objetivo de tornar a ordem mundial unipolar, neste organismo a Rússia irá encontrar fortes objeções, principalmente por parte da China.

“Ao nível político, o facto de a Rússia pertencer ao Conselho de Segurança das Nações Unidas permite que este país mantenha o seu prestígio internacional, mesmo

60 Shangai Cooperation Organization. 61

Logo após se lançar oficialmente como candidato às eleições presidenciais russas de 2012, Putin visitou Pequim entre 11 e 12 de Outubro de 2011, sendo recebido pelo primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, e pelo presidente Hu Jintao. O gesto de escolher a China para sua primeira visita na condição de candidato à presidência é de grande simbolismo e sinaliza que a aproximação com a China continuará sendo uma das prioridades da Rússia no governo Putin iniciado em 2012.

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quando a sua economia e o seu poder militar são relativamente fracos” (Wache, 2014: 142). Diante dessa situação, “o veto russo no Conselho de Segurança tem se tornado mais frequente” (Souza e Machado, 2015: 56). Para Wache, a Rússia usa do seu poder de veto, como um instrumento importante na política externa da Rússia. É o uso do poder de veto que impediu a comunidade internacional de intervir militarmente na Síria, aquando da crise iniciada em 2011, porque a Rússia ameaçou vetar a resolução que autorizaria tal intervenção. Este posicionamento da Rússia sempre contou com o apoio da China (2014: 142-143). Deste modo, na presente sessão, foi possível perceber que a Rússia ao fazer parte de organismos internacionais passa a ser obrigada a respeitar o direito internacional, consequentemente surgem implicações que fazem-se sentir em diversos níveis, nomeadamente: na política externa62, na política de defesa, ou em questões de segurança63, e no papel desempenhado na comunidade internacional64. Entretanto, existem virtudes que assistem a Rússia ao aderir a esses organismos. Por exemplo, embora exista a rivalidade regional entre a Rússia e a China, estas duas nações são parceiras em certos organismos internacionais. Pragmaticamente, estes dois atores cooperam e adoptam posições comuns em defesa dos seus interesses. No caso do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia dispõe do direito de veto que pode e é usado como instrumento da sua política externa na defesa dos seus interesses neste organismo e na promoção e manutenção do seu prestigio na comunidade internacional.

Em tom de conclusão do capítulo, constata-se que a política externa da Rússia apresenta características de uma potência hegemónica. Contudo, a hegemonia da Rússia é real apenas a nível regional (entenda-se a Comunidade dos Estados Independentes), e aspiração a nível sistémico. Pela análise feita, também se constatou que a política externa da Rússia funciona com base nos principais objetivos, princípios, interesses, atores e determinantes. Porém, a política externa da Rússia sob a liderança de Vladimir Putin, seu principal ator, pode ser resumida no anti-americanismo (sem querer com isso

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Em alguns casos, a diplomacia russa pode ter que mudar da perspetiva bilateral para a perspetiva multilateral, algo incomum na política externa da Rússia, pois a Rússia prefere negociar com um estado (bilateralmente) e não com um grupo de estados (multilateralmente).

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Em organismos como a Organização para a Cooperação de Xangai existem matérias da defesa, como por exemplo o terrorismo que são tomadas conjuntamente entre os estados membros da organização. 64 Este ponto, acaba por estar relacionado com o primeiro, contudo, aqui realça-se o facto de, em certos casos a Rússia ao aderir aos organismos internacionais, perder parte da sua influência internacional. Isto aconteceria caso, por exemplo, se a Rússia aderisse a Política Europeia de Vizinhança (ainda que esta não seja uma Organização Internacional) seria forçada a não usar o seu grande instrumento de política externa, que é o fornecimento de energia a União Europeia pois na União Europeia existe o Acquis

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afirmar que este é o único objetivo, pois no quarto capitulo discutir-se-ão vários outros), ou seja, o combate ao imperialismo norte americano, e como principal parceiro neste processo, a Rússia da ênfase a sua vizinha asiática, a China. Não obstante, importa ressalvar que existem outros objetivos, princípios, interesses, atores e determinantes que podem ajudar a perceber o funcionamento e a condução da política externa da Federação da Rússia. Entretanto, a pesquisa aqui apresentada oferece os elementos de análise considerados mais relevantes para compreensão da mesma.

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